Uma história da Evolução

Passei o dia hoje experimentando uma ferramenta nova de produção de linhas do tempo para usar em aula. Criei uma sobre a história da teoria evolutiva e seus principais personagens. Como gostei do resultado, disponibilizo o link aqui para quem quiser usar.

Corais Bioconstrutores – A criptozoologia que existe

Há diversos animais fantásticos tão grandes que são capazes de abrigar toda uma população humana sobre si. O que mais me lembro é a Serpente de Midgaard, ou Jormungand, da mitologia nórdica, que cresceu tanto que mordeu seu próprio rabo e circunda toda Midgaard. Além desta, há também a lenda de que a Terra repousa sobre o casco de uma tartaruga cósmica gigante, comum a muitos indígenas norte-americanos.

A despeito disso, nações inteiras podem existir sobre um animal. Ok, não sobre UM animal, mas sobre milhões deles, os recifes de coral. Cada pólipo de um antozoário não mede mais do que alguns milímetros, mas eles são capazes de fixar sais de cálcio da água do mar em seus esqueletos. Ao longo de muitos séculos essa deposição poderá formar uma superfície firme acima da linha d’água. Ilhas inteiras têm essa origem e algumas delas abrigam países no Pacífico Sul. É o caso, por exemplo, de diversos atóis que formam as Ilhas Cook.

Muito do folclore, incluindo os mitos de animais descomunais sobre os quais pessoas vivem, está ameaçado de extinção pelo massacre cultural que vivenciamos na modernidade. Da mesma forma, essas nações que existem sobre os corais Anthozoa estão ameaçadas pelo aumento do nível dos mares e acidificação da água decorrente das mudanças climáticas.

Vivendo sobre

Vivendo sobre “um” animal, o atol Midway abriga toda uma cidade (Imagem: U.S. Fish and Wildlife Service; CC0)

Sacculina-A criptozoologia que existe

Ciclo de vida de um parasita que transforma seus hospedeiros em zumbis. (Imagem: Edward Connolly, CC-BY 2.0)

Ciclo de vida de um parasita que transforma seus hospedeiros em zumbis. (Imagem: Edward Connolly, CC-BY 2.0)

Um apocalipse zumbi é uma das mais comuns fantasias de fim do mundo da contemporaneidade. Mal sabemos que isso não é lá tão ficcional assim. Recentemente a ciência têm demonstrado uma importante atuação dos parasitas na modulação do comportamento de seus hospedeiros. Já durante a graduação um exemplo disso me impressionou muito numa aula de Zoologia do saudoso Prof. Carlos Rocha, as cracas parasitas do gênero Sacculina.

Essas cracas em nada se parecem com aquelas que vemos no costão rochoso, em cascos de navio ou sobre baleias (aliás, as que se assentam sobre baleias são mais uns caroneiros chatos do que parasitas mesmo). Só é possível saber que a Sacculina é uma craca por causa da fase larval. A anatomia do adulto é única entre os crustáceos e se divide num saco reprodutivo externo e um rizoma interno que permeia todo o corpo do hospedeiro, em geral caranguejos ou lagostas.

Ao encontrar um hospedeiro, a larva da Sacculina irá invadir seu corpo através de uma junta do exoesqueleto do hospedeiro. Ali a parasita fêmea se desenvolverá até irradiar por todo o corpo do hospedeiro e produzir um saco reprodutivo externo na região caudal da vítima, o mesmo local onde os ovos deste se desenvolveriam. Paralelamente, a Sacculina irá afetar a fisiologia e a anatomia do hospedeiro, primeiro castrando e depois estimulando a feminilização anatômica e comportamental se o hospedeiro for macho. Ao acasalar, o parasita começa a produzir larvas ao mesmo tempo que estimula no hospedeiro os comportamentos de cuidado aos ovos e dispersão de filhotes que este teria com seus próprios descendentes.

Privado de crescer e se reproduzir pela presença do parasita, o caranguejo devota todo o excedente da energia que consome para nutrir a Sacculina até o fim dos seus dias, tornando-se um zumbi a serviço das cracas. Por mais assombroso que seja, caranguejos zumbis existem e chegam a ser 50% dos indivíduos em algumas regiões mais infestadas. Isso pode ser um problema para a produção de frutos do mar em locais como o Alasca.

Nemertea-A criptozoologia que existe

Um invertebrado maior que todos os vertebrados do mundo? Pode ser um nemertea (Imagem: Helena Samuelsson CC BY 3.0)

Um invertebrado maior que todos os vertebrados do mundo? Pode ser um nemertea (Imagem: Helena Samuelsson CC BY 3.0)

Pode parecer mentira de 1o de abril, mas aqui nessa coluna todos os animais fantásticos existem de verdade. Os nemertea, por exemplo, são vermes geralmente minúsculos, mas resolvi incluí-los nessa série de posts porque parece que foi desse filo o maior animal da Terra, superior em tamanho a muitos vertebrados, medindo 54 m, bem mais que uma baleia azul. Esse animal, Lineus longissimus, é relativamente comum no Atlântico Norte e cresce bastante mesmo, embora seu diâmetro não supere 20 cm de largura. O problema é que seus corpos são bastante extensíveis, então é fácil que o recorde acima seja forjado. Mesmo assim, é um feito significativo para um invertebrado.

Os nemertea são aparentados dos platelmintos e habitam na sua maioria os fundos oceânicos, por sobre os quais rastejam deslizando sobre um muco frequentemente venenoso e urticante. Quase todos são predadores que injetam veneno em suas presas através de uma espécie de punhal ou uma rede de filamentos pegajosos presentes na ponta de suas probóscides eversíveis. No entanto, há espécies filtradoras e parasitas, algumas delas responsáveis pelo declínio da indústria pesqueira de mexilhões ou caranguejos.

Picnogônida – A criptozoologia que existe

Uma aranha marinha de até 90 centímetros, juro que existe! (Foto: Steve Childs; CC BY 2.0)

Um tipo de aranha marinha de até 90 centímetros, juro que existe! (Foto: Steve Childs; CC BY 2.0)

Já fui mergulhar em vários lugares nos quais ficava aliviado de ir para a água para me livrar de animais terrestres indesejáveis, especialmente mosquitos. Isso não valeria para “aranhas”, já que existem “aranhas” marinhas bem assustadores. É o caso dos picnogônidas, ou pantópodas. A maioria das 1300 espécies desse animal é bastante pequena, mas existem espécies antárticas que podem alcançar 90 cm. Isso mesmo! Uma “aranha” de 90 cm.

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Vestimentífera – A criptozoologia que existe

Esses bizarros vermes marinhos recebem o nome popular de batom do mar, pelo menos numa tradução do Inglês. São vermes tubulares vermelhos que entram e saem de um tubo protetor branco mais ou menos como a ponta de um batom aparece e some quando rodamos a base. Ao contrário de outros animais obscuros dessa série, os vestimentíferos não são minúsculos, eles podem passar dos 70 cm.

Outra esquisitice do grupo está em habitar regiões muito profundas, até cerca de 10 mil metros de profundidade. Ali a luz solar nunca chega devido à filtragem feita pela água, portanto, não temos plantas para produzir energia e servir de alimento aos vestimentíferos. Isso também não é um grande problema, já que nossos personagens de hoje nem boca ou tubo digestório têm. Como eles se nutrem então? Sua energia é derivada de bactérias quimiotróficas que processam sulfeto ou metano derivado de atividade vulcânica, por isso os vestimentíferos sempre ficam próximos a chaminés submarinas chamadas de fontes hidrotermais.

Na época da minha graduação, esses animais me foram apresentados como um filo aparte chamado pogonófora. Hoje, graças a dados moleculares e ao trabalho inestimável dos taxonomistas, os classificamos entre os poliquetos, um grupo de vermes marinhos aparentados às minhocas e sangue-sugas. É bem verdade que os poliquetos ainda precisam de um extenso estudo para confirmarmos se eles têm uma história evolutiva em comum, tendo todos um único ancestral (é bem provável que não). Apesar disso, hoje acredita-se que classificar os vestimentífera como anelídios poliquetos é mais próximo à verdade evolutiva do que agrupá-los num filo aparte.

Aos ignorantes que andam atacando macacos

Os macacos são inocentes, os mosquitos não. (Foto: Davi Santana CC BY-SA)

Os macacos são inocentes, os mosquitos não. (Foto: Davi Santana CC BY-SA)

Acordei essa manhã com alguns vizinhos gritando “Ei, eu estou aqui. Cadê vocês?”. Na verdade eu só sei que estavam dizendo isso porque entendo um pouquinho a língua deles, não falam português. Essa frase acima na língua deles soa como um longo assovio bem agudo que os outros repetem sempre que escutam. Esses vizinhos são micos e, não. Eu não estou com medo deles.

Já faz tempo que o verão nos traz notícias de enchentes e desmoronamentos catastróficos. Mas recentemente outra tragédia de verão se tornou rotina, viroses cujos vetores são mosquitos. A cada verão elas se repetem como hits de carnaval. Quando você achava que havíamos chegado ao fundo do poço chega um novo verão e te prova que estava errado. A desse verão é a febre amarela.

Já foram registradas pelo menos oito mortes na região de Teófilo Otoni, Minas Gerais, mas, como sempre, os números parecem ser bem maiores porque muitos casos são suspeitas não confirmadas e há falta de padronização nos dados. A febre amarela é causada por um flavivírus, um vírus de RNA e, ao contrário da dengue e Chikungunya, existe vacina para ela, mas poucas pessoas a tomam com a regularidade necessária até porque epidemis são raras. A doença fica lá, com um pequeno número de casos em humanos ou na natureza, até que ocorra a epidemia.

Os reservatórios desses vírus na natureza são macacos, eles são tão vítimas da doença quanto nós humanos e servem de termômetro para a vigilância sanitária. Macacos mortos podem indicar que uma epidemia está para começar e atingir humanos, portanto são muito importantes. O que acontece é que eventualmente um mosquito pode sugar sangue de um macaco contaminado e em seguida infectar um humano ao picá-lo também. Por isso algumas pessoas estão com medo dos macacos.

Cabe aqui uma explicação. O contágio também pode ser de um humano para um mosquito e então para outro humano, sem passar pelos macacos. Então pela lógica dos agressores também deveríamos apedrejar ou atirar em humanos que se aproximassem. Aliás, eles são bem mais numerosos que os macacos e podem ficar de 3 a 6 dias com o vírus no organismo, sendo transmitido pelos mosquitos, mas sem manifestar os sintomas. O macaco não transmite a febre amarela para humanos sem o mosquito vetor. Também será difícil atacar todo o bando de macacos, no máximo um único indivíduo será afetado e todos os outros nove indivíduos em média.

O mosquito que transmite o vírus entre os primatas é do gênero Haemagogus, mas entre humanos o maior vetor é nosso velho conhecido Aedes aegypti. Assim, poupe suas energias de atacar bugios indefesos e invista em passar e repassar repelente, instalar telas e mosquiteiros e eliminar focos de larvas.

Placozoa – A criptozoologia que existe

Placozoa, o animal mais solitário do mundo (Foto: Hunadam; CC BY-SA 3.0)

Placozoa, o animal mais solitário do mundo (Foto: Hunadam; CC BY-SA 3.0)

Os placozoa são provavelmente os mais solitários animais do universo. Eles são um filo inteiro que só contém uma única espécie: Trichoplax adhaerens. Foram descobertos em 1883 em um aquário marinho na Áustria e desde então foram raramente coletados. Apenas na década de 1970 foram aceitos como um novo filo de animais, mas sua relação de parentesco é obscura. Nenhum dos outros grupos de animais se parece com os placozoa, que podem ter se simplificado de um animal mais complexo ou nunca terem desenvolvido tais novidades evolutivas. Em termos biológicos, isso significa que nenhum dos outros animais assume ser parente próximo dos placozoa, aumentando sua solidão.

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O que o comportamento animal tem a dizer sobre delações?

Conta tudo, mas tudo mesmo, Marcelo! (Foto: Worldsteel; CC BY-SA)

Conta tudo, mas tudo mesmo, Marcelo! (Foto: Worldsteel; CC BY-SA)

Será que o comportamento animal pode nos dizer algo sobre a operação Lava Jato? Outro dia conversava com o colega Ricardo Machado sobre como a Biologia pode nos ajudar a compreender diversos fenômenos. Um exemplo é a delação premiada dos executivos da Odebrecht, que me lembrou um assunto comum no estudo da socialidade, o dilema do prisioneiro.

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Um conto biológico de natal

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Recebi hoje o vídeo da notícia acima por whatsapp. No melhor estilo “você que é biólogo”, me pediram para comentar o assunto, então resolvi fazê-lo no blog. Como num conto de natal, um casal de tico-ticos fez seu ninho na árvore de natal de uma casa e lá alguns filhotinhos nasceram.

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