Bicho Bizarro: Lhama


Essa lã me produziu um casaco bem legal e quentinho
Fonte: http://www.bio.davidson.edu

Imagine um camelo que, além da escassez de água, seja adaptado ao frio. Você deveria estar imaginando uma lhama. Este mamífero aparentado dos camelos e das girafas vive no alto da cordilheira dos Andes alimentando-se de gramíneas e suportando o frio rascante e a falta de oxigênio. Lhamas são peculiares por serem facilmente criadas por humanos, aprenderem truques como um cão aprende, são até usadas para cuidar de rebanhos de carneiros, são excelentes animais de carga (levando até 30% de seu peso, ou seja, 40 kg de carga) e ainda podem ser criadas para produção de lã ou carne. A Lhama pode passar dias sem beber água, resiste bem ao frio graças a sua lã e a um mecanismo de aquecimento do ar inalado que existe em seu nariz, seu sangue possui mais hemoglobina, com maior afinidade pelo oxigênio e capaz de capturar oxigênio a baixas pressões atmosféricas. Como o camelo, a lhama tem o péssimo hábito de cuspir como sinal de superioridade. Diferente destes, sua gordura corporal não está concentrada em corcovas, ajudando a mantê-la aquecida, o que o camelo certamente não quer.

ARKive video - Guanaco herd feeding, juveniles play-fight; guanaco grazes and shelters during a snowstorm
Guanacos, parentes próximos das lhamas.

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Sorteio: um tipo para Homo sapiens


O que a Scarlett Johansson tem a ver com a taxonomia zoológica?
Fonte: www.sjohansson.org

Centenas de espécies novas de animais são descobertas todos os anos. Tratam-se de seres desconhecidos pelos cientistas que nem mesmo receberam um nome científico que os identifique. O processo de descrição de uma espécie nova é trabalhoso e num país megadiverso como o Brasil a carência de cientistas voltados para esta área da zoologia, o taxonomista, é imensa.

Ao coletar um animal diferente de todos os outros daquele grupo o pesquisador primeiramente precisará certificar-se de que é uma espécie nova. Para isso ele precisará compará-lo com as demais espécies conhecidas. Sendo confirmada a novidade da espécie inicia-se o processo de descrição.
Será necessário esmiuçar profundamente as características físicas da espécie nova, enfatizando-se em que ela difere das outras. Descrições de diferenças comportamentais ou genéticas também têm sido comuns. Adiciona-se ainda a área de ocorrência, em alguns casos suas relações de parentesco, seu habitat e a explicação da escolha do nome científico (etimologia). Para tudo isso utiliza-se um exemplar dentre aqueles coletados da espécie nova. Esse exemplar receberá a designação de tipo.
Certamente deriva da filosofia platônica que antagoniza o mundo ideal e o real. Em taxonomia toda espécie deve ter seu exemplar tipo, ou o holótipo, aquele que definirá os padrões do que há de mais puro e perfeito naquela espécie, o parâmetro que guiará outros cientistas. Ao lado do verdadeiro holótipo os outros integrantes daquela espécie não passam de meros parátipos ou lectótipos. O holótipo é protegido nos museus a sete chaves, curadores os tratam com mais zelo do que uma filha virgem ou uma ferrari 0 km. A única espécie no mundo que não possui um holótipo é Homo sapiens.

Assim sendo, está lançada a pergunta:
QUEM DEVE SER O ESPÉCIME TIPO DE Homo sapiens?

Respondam nos comentários até o dia 19 de agosto, quando sortearei o ganhador que receberá em casa um exemplar do livro “O Museu” de Veronique Roy. Para isso não esqueça de deixar junto ao comentário o seu e-mail.

Fonte: www.livrariacultura.com.br

Minha resposta, é claro, está no início desse post.

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O dourado esquizofrênico

ResearchBlogging.org
Naquela manhã, no consultório psicanalítico…
-Doutora, está aqui alguém para vê-la, mas não é o cliente da vez. – Anunciou a secretária novata. A última havia pedido demissão quando descobriru que não havia um adicional por insalubridade mental.
-É ele mesmo, pode pedir que entre.
-Mas este aqui diz ser uma piraputanga. Na agenda consta que o próximo cliente é um dourado. – Protestou.
-Ele é um dourado, apenas não sabe disso. – Cochichou a doutora. – Vamos entrando, dona piraputanga! – Convidou a analista em voz alta.
O peixe esticado sobre o divã, àquela hora tão próxima do meio-dia, fez a doutora imaginá-lo sobre uma tábua de cortar, cercado de cebolas fatiadas, tomates, pimenta e coentro à espera da grelha. A doutora tentou afastar aquele pensamento da cabeça, agora o cliente a olhava com um sorriso ameaçador de um pré-opérculo ao outro. Não era ainda um dourado adulto, mas suas escamas já apresentavam um leve reflexo dourado, no mais tinha a cor das nadadeiras e manchas no corpo que realmente lembravam uma piraputanga. Somente aquele sorriso ameaçador entregava sua natureza predatória que nada remetia às dóceis piraputangas de hábitos vegetarianos.


O dourado e seu sorriso de dentes cônicos, típicos de um piscívoro
Fonte: wdicas.com

-E então, dona pêra, como vai a vida no rio?
-Tudo muito bem, as águas continuam límpidas e frescas. A comida é abundante…
-Hmm, deve ser mesmo muito bom viver nos riachos, ser um piraputanga. – Instigou a doutora ao dourado à sua frente.
-É sim, não trocaria minha vida por nada no mundo. Como sou inofensiva, todos desfrutam minha companhia agradável.
-É mesmo? Mas deve haver desvantagens também, não?
-Que nada, doutora. Sou bem vindo aonde vou, querido por todos.
-Tem comido muitos frutinhos caídos das matas ciliares? – Ao escutar a pergunta o peixe se revirou de leve no divã como se a reacomodação física fosse aliviar o desconforto mental da pergunta.
-Ah… é… quer dizer, até tenho.
-Você não gosta muito de comer frutos, não é mesmo?
-Ah, isso é tão horrível! É como confessar um crime. Doutora, não conte a ninguém, por favor! Mas gosto mesmo é de comer peixinhos menores que eu. – Confessou o dourado.
-É um costume um tanto diferente para uma piraputanga, não acha? Talvez ser outros peixes como um dourado ou uma traíra também tenha lá suas vantagens. – Xeque!
O cliente fez uma careta de peixe morto, mas nada disse.
-Sabe, adimiro muito os dourados. Sua força, sua agilidade. São peixes muito bonitos. Impõem respeito nos rios que vivem. Não são como as traíras que vivem se escondendo em locas, vivendo no obscurantismo, e precisam emboscar suas presas de surpresa ou morrem de fome. Os dourados são veloses, subjugam suas presas numa disputa justa, vencendo-as pelo cansaço. – Jogou a isca a psicóloga.
-E as piranhas, umas covardes, só mesmo em cardume conseguem intimidar suas presas. Os dourados não, são caçadores solitários! – Mordeu o cliente.
-Pois é, só tem um peixe que eu adimiro mais do que vocês piraputangas. São os nobres dourados.
-Doutora, preciso lhe contar um segredo. Não sou uma piraputanga, sou um dourado. – Xeque mate!


Dourados (acima) mimetizam piraputangas (abaixo) para se alimentarem
foto de José Sabino

-Puxa vida, não me diga! – Fingiu-se de surpresa a psicanalista. – Mas e essas nadadeiras avermelhadas? E essa mancha na cauda?
-São um disfarce apenas. Assim me infiltro entre as piraputangas e consigo chegar mais perto das minhas presas sem ser percebido. Fica bem mais fácil me alimentar.
-Uau, que esperto você! Deve se orgulhar de ser um dourado tão astuto, não? Nosso tempo se esgotou, mas por que não volta semana que vem?
O dourado foi até o balcão onde estava a secretária e pediu para agendar uma sessão dali a uma semana. Quando a secretária lhe perguntou em nome de quem marcava a consulta ele respondeu sem vacilar: “Sr. Dourado”.

Bessa, E., Carvalho, L., Sabino, J., & Tomazzelli, P. (2011). Juveniles of the piscivorous dourado Salminus brasiliensis mimic the piraputanga Brycon hilarii as an alternative predation tactic Neotropical Ichthyology, 9 (2), 351-354 DOI: 10.1590/S1679-62252011005000016

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Pensamento de segunda Zoological Series

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Pensamento de Segunda

Ao meu colega Diogo

Há três tipos de mentiras: Mentiras, mentiras cabeludas e estatísticas.

Mark Twain