Dispersei
Já está no ar a nova edição do Dispersando, esta especial sobre o incêndio no Butantan. Você que já conhece os textos deste autor pode agora conhecer sua voz! Acesse http://scienceblogs.com.br/dispersando/2010/05/dispersando_especial_-_butanta.php.
Resultado do concurso fotográfico – O Homem e as águas
Algumas semanas atrás eu lancei um concurso fotográfico com o tema “O Homem e as Águas” para premiar com uma cópia do livro Com Quantas Memórias se faz uma Canoa, da Márcia Denadai e colaboradores, oferecido a mim pelo Instituto Costa Brasilis. Abaixo seguem as fotografias recebidas e seus respectivos autores. No final a foto vencedora. Obrigado a todos os participantes e parabéns pelas belas fotos. Em breve mais sorteios, continuem participando.
Ana Carolina Mascarenhaz
André Cury
André Cury
Augusto Motta
Cecília Nabuco
Cecília Nabuco
Cecília Nabuco
Cristina Brasão
Gustavo Mendes
Isis Diniz
Isis Diniz
Isis Diniz
João Carlos Nunes
João Carlos Nunes
José Renato Leite
Mário Roberto Silva
Mário Roberto Silva
Luciano
Otávio Laccheti
Vânia Wernz
E a grande campeã
Augusto Motta
Augusto, entro em contato contigo por e-mail para pegar o endereço para te enviar o livro. Parabéns!
A escolha de tornar-se biólogo V
5. Quanto em média você está ganhando nos primeiros anos após a sua graduação?
Aí você chegou a um ponto nevrálgico e suspeito que eu vá ter que concordar em parte com os seus amigos. Biologia não é a mais bem paga das profissões. Novamente, é uma formação extremamente ampla e claro que vai haver exceções, mas estamos falando do padrão aqui. Uma bolsa de mestrado do CNPq ou CAPES é de 1200,00, meu primeiro emprego me pagava 1600,00 por já ter mestrado. O mais triste é olhar os editais para contratação de biólogos das grandes universidades que pagam 4000,00 para um doutor com quatro anos de graduação, dois de mestrado e mais quatro de doutorado. Para você ter idéia a bolsa federal para um residente de medicina recém-formado é de quase R$ 2000,00 e há vagas no Catho para advogados recém-formados com OAB oferecendo salários entre R$ 2000,00 e 3000,00 mais benefícios como ticket alimentação, plano de saúde, curso de inglês e ticket combustível. O Conselho Federal de Biologia teve um delírio de piso salarial para biólogo de 4000,00, mas obviamente nunca lutou por isso e este valor é completamente ignorado. É, a vida nem sempre é justa ou divertida. Nos resta nos agarrarmos ao lado divertido, já que ela foi injusta. Pelo menos biólogo não fica atrás de uma pilha de processos empoeirados decorando leis. Afinal, vejo que o dinheiro nos serve em grande parte para financiar nossos prazeres. Comprar uma bela viagem de férias para passear no Pantanal, podermos financiar um hobby. Mas e se este prazer for o nosso trabalho? Se viajarmos a trabalho para o Pantanal ou tivermos por hobby colecionar besouros, o que de fato nos pagam para fazer se formos entomólogos de um museu?
Manchetes comentadas 25 – Incendio no Butantan destroi importante coleção zoológica
Aos colegas Kiko Franco, Antônio Brescovit, Otávio Marques e Giusepe Puorto, entre tantos outros
Todos perdemos, mas só vocês têm a exata medida
O que sobrou de uma das salas
Fonte: folha.com.br
Ontem no final da manhã estava trabalhando e escutando ao longe o som de uma TV ligada, ruido de fundo, nada que eu estivesse tomando consciência, quando escutei a notícia do incêndio no Instituto Butantan, em São Paulo. A energia no prédio das coleções do Butantan foi desligada para reparos elétricos, na manhã seguinte quando foi religada um incêndio começou e destruiu completamente a coleção que contava com mais de 80 mil serpentes e 500 mil artrópodes. Ainda não é claro se a causa do incêndio foi de fato o reparo elétrico, mas isto não importa muito, apontar culpados não irá resolver o problema. Não consigo imaginar a sensação daqueles cujas vidas dependem da coleção, mas as imagens dos rostos conhecidos na matéria que a TV veiculou é completamente eloquente para mim.
Imagine todos os esforços de uma vida inteira, todo o seu trabalho destruído pelas chamas. Imagine o registro histórico do progresso da zoologia brasileira perdidos para sempre. Imagine o volume de informações depositado numa coleção como esta que em três horas virou fumaça. Imagine um prédio repleto de frascos contendo litros e mais litros de álcool e uma fagulha.
Coleções zoológicas não são o mais compreendido dos ofícios de um biólogo. Eu mesmo me lembro de ficar estarrecido ao acompanhar em campo uma pesquisadora das que perdeu muitos exemplares neste incêndio. A impressão que eu tinha era que ela possuia tantos braços quanto as aranhas que capturava e colocava em frascos de álcool freneticamente. Coleções zoológicas são “conjuntos ordenados de espécimes mortos ou partes corporais destes espécimes, devidamente preservados para estudo” (Segundo o capítulo do Bira, do MZUSP no livro de Taxonomia Zoológica publicado pelo Papavero). Assim, os taxonomistas, estes cientistas que estudam a diversidade da vida, saem a campo coletando animais e os matando para que sua compreensão e descoberta sirvam para salvar a vida de tantos outros da mesma espécie que permanecem na natureza. Um leigo não compreende muito bem isto de matar alguns para preservar os outros, mas é por isso que deixamos aos especialistas cumprirem este papel.
Os animais depositados em uma coleção trazem informações sobre a distribuição das espécies, sua evolução e relação de parentesco, variações entre populações, diversidade faunística de determinadas áreas, habitat, características morfológicas e às vezes até comportamentais. Elas servem de referência a outras coleções e trabalham em uma rede mundial de museus e coleções para permitir o progresso da zoologia. As coleções dependem de um cuidado tremendo com a precisão na coleta de dados e na preservação dos espécimes cujas vidas foram tiradas para servir à ciência e à conservação. Por isso a formação de pessoal para a realização deste trabalho vem sendo incentivada pelo CNPq desde a década de 1970 e ainda há tanto a progredir neste nosso país megadiverso. O maior responsável por estas coleções é o curador, ele é um tipo que lembra a bibliotecária, ciumentíssimo de seu acervo, bravo para fazer cumprir as regras da coleção e muito metódico para manter a ordem naquilo tudo. Por isto ele acaba sendo injustamente criticado: pelo cuidado e carinho que tem por coleções tão ricas em informações como a que se perdeu neste fim de semana. Reside aí o tamanho do buraco que estas três horas de fogo em uma manhã de sábado deixou na ciência brasileira. O volume de informações perdidas nunca mais será retomado, mas fica aqui o apoio deste zoólogo.
A escolha de tornar-se biólogo III
3. Após a sua graduação, você sentiu de imediato a necessidade de fazer outros cursos?
O crescimento profissional se dá de duas formas: com teoria (fazendo novos cursos) e com experiência (trabalhando na área escolhida). É necessário balancear as duas coisas. Durante a graduação todo aluno convive o tempo todo com seus professores e colegas já da pós-graduação. Isto é muito bom, mas tem um perigo inerente. Estas pessoas saberão falar com mais propriedade sobre a atuação de biólogos dentro da academia, que é uma área muito gratificante e promissora, mas não é a única. Como é a área escolhida pelos professores e pós-graduandos, o graduando que está sempre em contato com estes personagens tende a pensar que o único futuro para um biólogo depois de fazer a graduação é continuar estudando na pós. Não é! Pós-graduação é muito importante para quem quer se tornar cientista. Experimentar um pouco da vida profissional antes de seguir estudando é muito importante para o biólogo. Tenho amigos inteligentíssimos que fizeram o curso de graduação, depois o de mestrado, aí o curso de doutorado, um pós-doutorado ou dois e aos 35 anos foram procurar seu primeiro emprego (de carteira assinada, pelo menos). Nunca tinham saído da cúpula protetora da universidade. Eu optei por fazer diferente, fui trabalhar no meu 2º semestre, depois procurei emprego de novo depois do mestrado. Tem quem defenda essa cadeia de cursos, mas eu proponho que experimentar o mercado de trabalho antes é mais legal.
Quantas Memórias
Pessoal, só para lembrar que faltam 10 dias para o final do concurso do livro “Com quantas Memórias se faz uma Canoa”. Não se esqueçam de mandar as fotos com o tema O Homem e as Águas. Dei uma mudadinha no tema em prestígio aos colegas aqui do MT que pediram.
Pensamento de Segunda
“A falha de uma teoria deixa o público em geral decepcionado. Já que a ciência prospera se auto-corrigindo, nós que praticamos a mais desafiadora das artes humanas não podemos partilhar desta idéia. Refutações quase sempre trazem lições positivas que sobrepôem-se ao desapontamento, mesmo que nenhuma teoria nova preencha a lacuna.”
Stephen Jay Gould
Feliz aniversário Brasília
Nesse aniversário de 50 anos da minha cidade natal fica meu desejo de dias melhores e minha gratidão por aquela terra que ainda hoje vejo como meu lar. Cresci escutando rock brasiliense, velejando no lago Paranoá, assistindo o sol nascer na esplanada, passeando no parque da Cidade e morando nas super quadras e olhando para o céu mais lindo do país. Parabéns, Brasília e melhores dias nos próximos 50 anos!
Nova série de Posts
Esta semana o Ciência à Bessa inaugura uma nova série de posts. Ela é uma homenagem à Bióloga e excelente divulgadora científica Olivia Judson, ex-aluna de Bill Hamilton e colunista do New York Times. Olivia Judson escreveu em 2004 o “Consultório da Dra. Tatiana para toda a criação”, excelente livro. Também referenciarei todos os posts através do research blogging, já que esta série pretende ser uma revisão do que tem saído de mais novo em etologia, principalmente na Animal Behaviour.
Entrevista com John Alcock
Enfim esse post que eu estava devendo desde o encontro de etologia em Novembro do ano passado. Espero que vocês apreciem a simpatia desta personalidade da etologia. Meus agradecimentos especiais à camera-woman de emergência, Lucélia Nobre Carvalho.
Ciência à Bessa – Prof. Alcock, obrigado por esta oportunidade ótima de se dispor a conversar conosco, assim como por vir produzindo este livro texto maravilhoso há tantos anos e que vem inspirando tantas gerações de etólogos pelo mundo. Então vamos começar perguntando o que te fez escrever este livro? O que te levou a deixar de lado um pouco do seu trabalho no laboratório e investir tanto esforço em um livro para estudantes? E quanto você acha que este livro contribuiu para o ensino da etologia?
John Alcock – Antes de qualquer coisa, eu gostaria de agradecer o seu interesse em traduzir meu livro e o esforço em me trazer para participar deste evento grande e bem sucedido. A respeito da produção do livro, eu vinha ensinando em um curso de comportamento animal, entre outras coisas, e os únicos livros-texto disponíveis para nós eram livros sobre etologia clássica, que não traziam em seu conteúdo os conceitos mais novos da ecologia comportamental. Então, para oferecer aos meus estudantes este material mais novo eu decidi escrever o livro-texto. Naquele momento eu não fazia idéia de quanto trabalho daria, mas à medida que eu trabalhava percebi que se você escrever algumas páginas por dia, eventualmente o trabalho fica pronto. E foi um grande sucesso! O livro foi usado por meus alunos e muitos outros. Na mesma época outro título muito bom foi produzido, de qualquer forma nossos dois livros lançados em 1975 foram os dois primeiros livros a apresentarem o conteúdo novo da ecologia comportamental aos estudantes. Então, olhando para trás, a importância desse trabalho, independente do trabalho que deu, hoje me parece bastante óbvia.
CAB – Bom, outra coisa sobre a qual você escreveu, além do Comportamento Animal: uma abordagem evolutiva, foi sobre sociobiologia. Quanto tempo faz mesmo que você escreveu?
JA – Eu não me lembro direito, acho que foi em 2003, por aí. Já faz alguns anos que escrevi esse livro.
CAB – Pelo que você acha que a sociobiologia tem passado ultimamente? Quer dizer, as pessoas têm muito interesse nesta área. Será que elas também estão mais tolerantes com a idéia da sociobiologia, o público em geral, digo?
JA – Acho que ainda há resistência entre o público geral e os cientistas sociais sobre as idéias da sociobiologia. Mas são umas idéias meio batidas que foram emprestadas dos críticos da sociobiologia que eram muito veementes no começo deste campo. Veementes, mas incorretos. Então eu escrevi meu livro para tentar, junto com muitos outros, defender a sociobiologia. Eu honestamente acho que, apesar de ser menos discutida nos dias de hoje, ela está sempre em pauta atualmente na forma da ecologia comportamental. Então, todas as pessoas que tem usado os princípios da teoria evolutiva para estudar o comportamento social, que originalmente se intitulavam sociobiólogos, atualmente continuam usando os princípios da teoria evolutiva para estudar o comportamento e se chamam de ecólogos comportamentais. Então o campo de estudo floresceu!
CAB – Um outro termo que foi muito criticado, embora seja uma constante no seu livro, é o programa adaptacionista. Qual parte da teoria evolutiva não é adaptacionista? Já que tudo o que tem inspirado as idéias sobre evolução são adaptações.
JA – Bem, eu acho que tudo na teoria evolutiva, como Darwin nos explicou de forma muito astuta e precisa, é o programa adaptacionista tentando explicar como adaptações complexas e altamente funcionais surgiram. E as afirmações de Darwin, baseadas na teoria evolutiva, eram de serem produtos da seleção natural. Mas havia este outro componente da teoria evolutiva de Darwin que era a descendência com modificação no qual ele argumentava que, ao compreender o histórico de características que encontramos hoje em termos de uma cadeia de pequenas modificações ligando o que havia no passado com o que há no presente. Isto de certa forma é a responsável pelas coisas serem como são. Então eu sinto que a teoria darwinista é de fato dividida em duas partes. Uma parte é adaptacionista e a outra parte é a história evolutiva. É claro que elas estão correlacionadas, mas o programa adaptacionista é a abordagem fundamental baseada na teoria da evolução por seleção natural. Os adaptacionistas são os verdadeiros darwinistas!
CAB – O que te chamou tanto a atenção para o comportamento animal? Por que estudar comportamento?
JA – Hum, eu sou um biólogo essencialmente de campo. Eu comecei minha carreira no campo fazendo observação de aves, eu adoro observação de aves. Então eu comuniquei meus amigos em uma idade bem tenra de que eu seria um observador de aves profissional. De fato eu conheço vários etólogos que muito cedo decidiram que observação de aves, ou algo do gênero, seria a profissão deles…
CAB – Pode me incluir nessa lista, mas com observação de peixes.
JA – Ok, Observação de peixes, observação de aves, o que quer que seja, observação de morcegos. O que quer que tenha levado as pessoas para o campo e tenha lhes dado contato com os animais é muito gratificante, mesmo que para uma minoria. Então, assim que eu descobri que havia uma maneira de me tornar um observador de aves profissional, sim, porque meus primeiros trabalhos foram feitos sobre aves. Assim que eu descobri isso eu me dediquei a tornar-me um professor em comportamento animal.
CAB – Muito obrigado pela atenção.
JA – Obrigado, Eduardo.
Eduardo Bessa de mediador e o tradutor Max em excelente companhia, Bill Hamilton (no slide) e John Alcock