Evitando virar almoço 10 – ocelos e cabeças falsas
Como vimos semana passada, predadores que atacam a cauda de um animal acabam comendo só a cauda. Um ataque mais eficiente em geral é direto na cabeça. Por isso muitos animais usam manchas parecidas com olhos ou estruturas que se pareçam com suas cabeças na outra ponta do corpo. Assim, se um predador atacar o lado errado, fica mais fácil fugir ou pelo menos sobreviver ao ataque.
Muitos peixes ciclídios têm ocelos que podem enganar os predadores. Lembre-se que numa foto assim estática é fácil ver qual o olho certo, mas num riacho turvo, sombreado de mata ciliar, cheio de galhos e plantas e com o peixe em movimento a coisa complica. A borboleta abaixo também é um bom exemplo de cabeça falsa.
Pensamento de Segunda
A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são.
Fernando Pessoa
Evitando virar almoço 9 – autotomia
Se o ataque é inevitável, talvez valha a pena deixar o predador se deliciando apenas com um pedacinho seu enquanto o que realmente importa escapa. Mas o que é que realmente importa? O que realmente importa em termos evolutivos, meu caro, são seus testículos. E o que então pode ser dado ao predador? A maioria dos animais dá o rabo.
Quero dizer, a autotomia caudal é muito comum em lagartixas, salamandras e até em ratos. Na maioria dos casos essa cauda se regenera. Pepinos do mar fazem autotomia da cloaca e parte do intestino. Alguns artrópodes das pernas. Mesmo perdendo uma parte do corpo, as presas sobrevivem e podem se reproduzir, o que justifica o comportamento.
Pensamento de Segunda
A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar.
Sigmund Freud
Evitando virar almoço 8 – Mimetismo batesiano
Lembra que na semana passada falamos que vários animais venenosos têm a mesma coloração para passar a mesma mensagem? Chamamos essa mensagem de uma sinalização honesta (é verdade, os animais são venenosos), e esse padrão de mimetismo mülleriano. No entanto, existem casos em que presas perfeitamente comestíveis e saborosas enganam seus predadores se fazendo passar por venenosas. Essa é uma sinalização desonesta e chamamos esse padrão de mimetismo batesiano.
Nesse caso, animais palatáveis imitam os padrões de cor de animais venenosos. É o caso das falsas corais, por exemplo. É também o caso dessa mosca (direita), que imita com perfeição essa vespa do lado esquerdo. Perceba que, para a mentira continuar colando, alguém precisa confirmar a história de que aquela cor significa perigo. Ou seja, é preciso haver mais modelos (corais verdadeiras e vespas) do que mímicos (corais falsas e moscas).
Pensamento de Segunda
Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.
Confúcio
Evitando virar almoço 7 – Coloração de advertência
Até agora falamos de formas da presa não ser visível, mas alguns animais estão longe disso. Muitas vezes isso tem a ver com a seleção sexual (pense num tiê-sangue), mas algumas vezes essas cores berrantes, aposemáticas é o termo técnico, são um aviso de que predar aquele animal não seja uma boa ideia.
Esse é o caso da coral verdadeira, de alguns maribondos (sempre parece que falta um M nessa palavra) e sapos veneno de flecha. Repare em como o vermelho o amarelo e o preto são comuns nesses animais. Isso acabou se tornando meio que um padrão na natureza. Assim os predadores aprendem (formam uma imagem mental como no caso da semana passada) que aquelas cores devem ser evitadas. É o que os especialistas chamam de mimetismo mülleriano. Semana que vem falaremos mais sobre mimetismos.
Sorteio do Livro Um Mundo, uma Escola
Eu e a Cristina estamos sorteando o livro “Um mundo, uma escola” no Cientista S/A. Recebi esse excelente livro, editado pela editora Intrínseca e escrito pelo fenômeno da revolução educacional Salman Khan, para resenhar. Veja as regras para concorrer no Post do Cientista S/A.
Evitando virar almoço 6 – Polimorfismo
O polimorfismo para mim é um dos modos mais espertos de evitar ser comido. Você é um predador no supermercado, está caçando seu biscoito preferido e nada de encontrá-lo. Cansado, pergunta a um funcionário do mercado se acabou o produto naquela semana. Ele responde que não e em 3 segundos te aponta o biscoito num ponto da prateleira que você tinha olhado dez vezes. O mesmo biscoito, mas o pacote está completamente diferente. Outra cor. E no rótulo diz: “Agora em nova embalagem!” Por que você não encontrava o biscoito?
Predadores formam na cabeça uma imagem daquilo que estão procurando, como você fez com seu biscoito. Mesmo que ele passe os olhos por uma presa, se ela não se encaixar no padrão que ele está procurando, é como se o cérebro não registrasse. Se o seu biscoito não quisesse ser comido ele poderia vir cada hora numa embalagem. Você não conseguiria formar uma imagem de busca mental e demoraria para encontra-lo. É isso que acontece com os animais polimórficos, eles têm cores diferentes de outros da sua mesma espécie.