Perito Criminal – Profissão Biólogo
Elias Lopes de Freitas
Sou Perito Criminal, realizando exames periciais em casos de crimes. Trabalho, portanto, na produção de provas em investigações criminais. Sou funcionário do Núcleo de Perícias Criminalísticas de São José do Rio Preto, SP, que pertence ao Instituto de Criminalística, da Superintendência de Polícia Técnico-Científica de nosso Estado.
No Estado de São Paulo e em vários outros, o Biólogo é um dos profissionais de nível superior que podem prestar concurso e ingressar na carreira de perito. Porém, podem atuar em diversas áreas, que não necessariamente a biológica, como, por exemplo, acidentes de trânsito, furtos, análises de documentos, etc. Em alguns Estados e na Polícia Federal, os concursos são específicos para as diferentes formações.
Entre as habilidades que me são exigidas em meu cotidiano profissional estão um bom preparo não só na área biológica, mas também em outras, principalmente exatas, pois muitas perícias envolvem análises físicas e matemáticas. Quando o trabalho é específico para a área biológica, pode envolver análise de DNA, Bioquímica e atualmente, exames com abordagens sistemáticas e ecológicas, nos casos de crimes ambientais. E o esforço pelo bom Português, como em todas as demais áreas, é fundamental. Nossos Laudos Periciais serão utilizados pelos profissionais que decidirão se um crime de fato ocorreu ou não, qual sua gravidade, se há um culpado, qual pena deverá ser aplicada. É muito importante que apresentemos a redação mais clara e correta possível, para evitar erros de interpretação.
Participo da equipe plantonista, conhecida no jargão policial como “clínica geral”. Faço perícias em diversos tipos de casos, como acidentes de trânsito, furtos, roubos, homicídios, suicídios, danos e também em casos de crimes ambientais. Geralmente, realizo os exames periciais nos locais onde ocorrem os crimes. Contudo, sou pós-graduado na área de zoologia e em casos de crimes contra a fauna, realizo perícias em exemplares vítimas de caça, maus tratos e outros, bem como em instrumentos utilizados para a prática desses crimes.
Normalmente, passo por um ou dois plantões semanais, com 24 h de duração cada. Mas, atendemos a 23 Municípios, com um total de 34 delegacias de polícia, quase não sobra tempo para as análises detalhadas e elaboração dos diferentes tipos de laudos periciais durante os plantões. Assim, trabalho em casa ou em nossa sede, utilizando, aproximadamente, 12 h semanais. Esse tempo varia em função da quantidade de casos mais ou menos complexos que surgem durante os plantões. Às vezes, passo dias trabalhando em um único caso, pesquisando, analisando, principalmente quando envolve análises físicas (por exemplo, acidentes de trânsito) ou em casos que envolvam análises mais complexas sobre sistemática e/ou ecologia.
O ambiente onde trabalho envolve muitos compromissos e exigências típicos dos trabalhos no setor policial. Trabalhamos para auxiliar na solução de problemas da população, que muitas vezes envolvem situações dramáticas. Obviamente, acabamos sujeitos ao desconforto consequente desse tipo de tarefa. Como nossa missão é fornecer análises imparciais, técnicas, é fundamental o preparo para evitar interferências subjetivas, que comprometam a qualidade da prova produzida. E, no caso do plantonista, que atua em loco, onde um crime acabou de ocorrer, analisando detalhes recentes daquele fato, esse preparo é fundamental. Como qualquer estudo direto no ambiente, há sempre variáveis que não podemos controlar e que podem interferir no resultado da coleta dos dados e de sua análise final.
Nenhuma preparação foi exigida além da minha graduação em Biologia antes do concurso. A experiência nas disciplinas favoreceu, mas não era uma exigência. Depois do concurso, para nossa preparação profissional, passamos por um curso de formação, principalmente teórica, na Academia de Polícia. Depois, passamos por um período de estágio, sendo acompanhados por peritos já atuantes, em locais e situações reais de crimes. O tempo de academia pode variar de três até vários meses, dependendo da instituição, isso também quanto ao estágio, que pode ocorrer junto à sede central do órgão ou no próprio posto de trabalho onde cada profissional atuará após sua nomeação.
As disciplinas que mais me interessavam durante a graduação eram Anatomia, Fisiologia Humana, Fisiologia Animal Comparada, Zoologia. O comportamento animal, que também gostava e gosto, era incluso nas fisiologias e zoologia. No entanto, atualmente lido frequentemente com disciplinas como Matemática e Física, além da Anatomia e Fisiologia que já me interessavam.
Apesar dos vários problemas de nosso Sistema Judiciário, o trabalho pericial é um dos alicerces para produzir a investigação adequada nos casos de crimes. Isso é fundamental para a análise feita por aqueles que julgarão e decidirão sobre o resultado final de cada fato examinado. Assim, faço parte de uma parcela profissional importante na luta pela garantia da justiça em nosso País, o que me motiva nas horas difíceis da minha profissão.
Especificamente em São Paulo, que é onde atuo, apesar dos incrementos e melhorias nas condições de trabalho, ainda necessitamos de mais recursos, tanto humanos, como tecnológicos e de infraestrutura. Afinal, vivemos no Brasil e nossas deficiências, principalmente no setor público em geral, todos nós conhecemos.
O Perito Criminal encontra situações desagradáveis durante seu trabalho; muitas vezes, extremamente dramáticas. Isso exige certo preparo e autodomínio diante dos desafios enfrentados. Assim, para aqueles que pretendam ingressar na carreira, seria muito conveniente uma visita a alguma sede da Polícia Científica, onde poderiam conversar e ter melhor percepção das reais condições de trabalho e desafios que poderão ter pela frente. Outro aspecto que devem ter em mente é a adequação aos métodos utilizados nos trabalhos de cunho legal. A legislação tem um desenvolvimento antropocêntrico e muitas vezes, apenas a argumentação baseada em nossa formação tradicional nas Ciências Biológicas é insuficiente para gerar os resultados esperados. É necessário entender e se expressar na linguagem e argumentação forense. Esses detalhes não devem ser encarados como desanimadores. Apenas refletem o que considero como fato: nenhuma profissão é para todos; nenhuma é para ninguém. O ideal é que cada um procure aquilo que irá lhe satisfazer. O trabalho pericial, certamente, satisfaz e satisfará muita gente.
Analista de meio ambiente – Profissão Biólogo
Allan Crema
Trabalho como analista de meio ambiente no governo federal desde 2006. Sou funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, cuja missão é executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, responsável pela criação, gestão e fiscalização das unidades de conservação instituídas pela União. Há no ICMBio muitas oportunidades profissionais para biólogos, inclusive poderia afirmar que grande parte dos meus colegas de trabalho possuem graduação em biologia. Este campo do conhecimento é fundamental para gerir de forma adequada estas áreas protegidas, assim como, para implementar e supervisionar ações de conservação das espécies ameaçadas, recuperação de áreas degradadas, manejo das florestas nativas, monitoramento do uso sustentável dos recursos naturais renováveis, entre outras diversas atividades. No entanto, para concorrer a uma vaga de analista de meio ambiente basta ter nível superior. Além disso, a carreira de analista de meio ambiente ainda não conta com gratificação por titularidade.
Em meu cotidiano no trabalho é exigido o conhecimento profundo da legislação ambiental, com ênfase na Política Nacional de Meio Ambiente e no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Além disso, noções de ecologia da paisagem e técnicas de geoprocessamento são constantemente requeridas para a criação, planejamento e monitoramento das unidades de conservação. Outra questão fundamental é possuir uma boa base sobre administração pública e gestão de projetos de forma a conseguir ter sucesso na execução dos projetos e gerenciar de maneira responsável os escassos recursos financeiros destinados ao meio ambiente.
Atualmente sou chefe de uma divisão do ICMBio. Meu trabalho é técnico e centrado na temática: “corredores ecológicos e mosaicos de unidades de conservação”, que são instrumentos de ordenamento e gestão territorial para a conservação. Como trabalho na sede de uma instituição responsável por 310 unidades de conservação e 11 centros de pesquisa espalhados por todo o território nacional, meu trabalho é muito focado na articulação interinstitucional, análise de processos, planejamento, pesquisa, supervisão e execução de atividades em campo.
Em conjunto com o MMA, também promovemos capacitações para as equipes técnicas do ICMBio e outras instituições parceiras e auxiliamos a traçar diretrizes e normativas para implementar ações relacionadas aos corredores ecológicos e mosaicos. É bastante trabalho para ser realizado em oito horas diárias e quarenta semanais.
Apesar de trabalhar no escritório em Brasília, viajo com freqüência para participar de reuniões, oficinas, seminários e atividades de campo nas unidades de conservação. Além disso, o Brasil é referência mundial por sua megabiodiversidade e muitos países possuem o interesse de contribuir com o trabalho de conservação deste patrimônio natural. Por isso, surgem algumas valiosas oportunidades de realizar intercâmbios de conhecimento sobre a gestão de áreas protegidas e/ou desenvolver trabalhos técnicos conjuntos com instituições internacionais a partir de projetos bilaterais de cooperação técnica.
Na graduação sempre tive muito interesse nas matérias de Ecologia, Biologia da Conservação, Zoologia e Evolução. Hoje, no trabalho, estou sempre recordando de tudo que aprendi. Enquanto fazia o curso de Biologia, sempre tive muita disposição para fazer estágios. Estagiei na Fundação Zoológico de Brasília, na Área de Relevante Interesse Ecológico do Riacho Fundo, na EMBRAPA e no IBAMA, onde aprendi muito e pude vivenciar o trabalho na prática. Acredito que os estágios ajudam a nos orientar e são fundamentais para descobrir a área que realmente gostamos de trabalhar.
Depois me dediquei ao mestrado. Sempre gostei muito de trabalhar em campo com animais, por isso optei em desenvolver minha pesquisa na área de herpetologia, junto ao Departamento de Biologia Animal da UnB. Enquanto fazia mestrado, prestei alguns concursos públicos e consegui passar no IBAMA. Terminar o mestrado trabalhando foi um desafio enorme, mas com certeza, valeu a pena. Após a divisão do IBAMA em 2007 decidi permanecer no ICMBio, uma vez que meu interesse sempre foi trabalhar com unidades de conservação.
Eu tenho enorme fascínio e muito respeito pela natureza. Aprendo todos os dias coisas incríveis sobre ela. Isso me deixa motivado para trabalhar pela preservação da biodiversidade. No entanto, trabalhar com a conservação da natureza, na prática significa gerenciar conflitos, por isso, são muitos os desafios para quem pretende seguir esta profissão, como por exemplo: 1) escassos recursos humanos e orçamentários, 2) falta de interesse político para dotar as unidades de conservação de estrutura necessária, 3) dificuldade em conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação da natureza, 4) carência de apoio para desenvolver alternativas econômicas sustentáveis.
Quem pretende seguir uma carreira como a minha deveria se dedicar aos estudos, estar sempre atualizado e buscar estágios em diferentes áreas.
Genética Clínica – Profissão Biólogo
Tania Matsumoto
Sou bióloga molecular na área de genética humana. Trabalho na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Acho que a maioria das pessoas na minha área de atuação são ou biólogos ou biomédicos. Portanto, sim, há muitas oportunidades de emprego para biólogos em áreas similares à minha.
No meu dia-a-dia profissional é importante ter experiência em laboratório de biologia molecular e conhecimentos de genética geral e humana. Faço diagnósticos de doenças genéticas, em especial doenças neuromusculares, para os pacientes do hospital. Existe uma rotina ditada pela demanda de exames, mas sempre estamos padronizando novos exames e tentado aprimorar os existentes. Trabalho 40 horas por semana e 8 horas por dia, uma carga horária normal. O laboratório em que trabalho é bem equipado e as pessoas muito bem qualificadas, tanto os biólogos quanto os técnicos de nível médio.
Para o meu cargo não foi necessária nenhuma formação extra após a graduação, mas ter realizado estágios em laboratórios a partir do terceiro ano de graduação me ajudou a ter mais visão da área. As disciplinas com as quais mais me identificava na graduação são as mesmas que mais me vêm à mente na minha rotina profissional: Genética e evolução. O ingresso profissional no Sarah Kubitschek é por concurso público, então prestei o concurso e fiquei em quarto lugar. Após um ano de espera me chamaram e aceitei a vaga.
A genética clínica é uma área da qual sempre gostei e acho que ter o diagnóstico de uma doença ajuda tanto no aspecto prático (tratamento, prognóstico) quanto no psicológico (sabendo-se qual o problema, ele pode ser melhor encarado) dos pacientes. E eu gosto do trabalho de bancada, pipetar DNAs, fazer reações de PCR. Nesta área necessita-se muita atenção a detalhes e cautela, pois estamos lidando com o diagnóstico de doenças de pacientes, então temos controles para garantir a exatidão dos resultados. Esse é o maior desafio. Para aqueles que gostariam de seguir a mesma carreira que eu recomendaria fazer estágios em biologia molecular para adquirir experiência prática e manter-se atualizado com relação à evolução das técnicas e conhecimentos sobre as doenças com as quais se trabalha.
Profissão Biólogo
Esse ano publicarei uma série de posts sobre a profissão do biólogo. A cada mês apresentarei um caso de sucesso profissional de um biólogo em áreas bem diversas. Quero aproveitar a série para destruir dois mitos sobre minha profissão.
O primeiro é que a sina profissional do biólogo é dar aulas. Não me entendam mal, não há demérito nenhum em dar aulas. Eu dou aulas na universidade e gosto muito disso, mas acho que só quem gosta de lecionar e está disposto a fazê-lo com dedicação é que deveria dar aulas. Ensinar ciências não é seguro desemprego, é vocação. Se dar aula não é o seu projeto de vida deixe-se inspirar pelos meus entrevistados e veja a miríade de outras opções que você tem.
O segundo mito é que o caminho natural para um biólogo após formado é fazer um mestrado. Por ficarem expostos por quatro anos a acadêmicos cuja carreira (aí sim) depende de um mestrado e um doutorado, os estudantes de biologia criam a ilusão (nutrida pelos programas de pós) de que só existe vida após o mestrado. Bobagem! Não se deixem seduzir por nós acadeêmicos que necessitamos de pós-graduação. Isso inclusive fará bem aos programas de pós, que terão apenas alunos qualificados e mais decididos. Nem todo biólogo vai em direção à torre de marfim da academia e essa série irá demonstrar isso.
Já tenho algum material em preparação, mas seria muito legal ter sugestões dos leitores sobre áreas de interesse de vocês e possíveis entrevistados. Amanhã sai a primeira entrevista com a Gesivânia Pires, analista de qualidade microbiológica de um frigorífico.