Etologia de Alcova – Monogamia
Recém passamos o dia dos namorados e me ocorreu discutir aqui uma das mais bizarras perversões que os animais podem praticar, a monogamia. Muitos chauvinistas por aí sugerem que a monogamia é uma aberração que interessa apenas à mulher e que contraria completamente a natureza masculina, logo veremos que não é bem assim. Mas também veremos que existem motivos para a monogamia evoluir.
Um mito relacionado à monogamia é a quem ela interessa. A natureza biológica de ser macho (um ser que produz muitos gametas pequenos e energeticamente baratos) faz com que seu sucesso reprodutivo aumente à medida que ele consegue mais parceiras. Por outro lado, fêmeas (seres que produzem poucos gametas grandes e energeticamente caros) aumentam seu sucesso reprodutivo à medida que conseguem parceiros melhores. À primeira vista isso corrobora a opinião machista de que é da natureza masculina trair, mas pense que não existem tantos bons maridos por aí. Então, se ele não vai ajudar em nada com os filhos, o melhor para as fêmeas seria acasalarem-se todas com os poucos bons parceiros que existem, deixando dezenas de machos a ver navios. A monogamia só interessa aos machos feios, isso porque ter uma parceira é infinitamente mais do que ter zero, enquanto ter duas parceiras é só duas vezes mais do que ter uma. Garantindo fêmeas monogâmicas os maus parceiros pelo menos terão alguma chance de reproduzir.
Existem diversas espécies realmente monogâmicas entre os animais. Qual seria a razão evolutiva para isso? Existem algumas. Primeiro, se o cuidado aos filhotes for muito trabalhoso a ponto de só um dos pais não dar conta, largar a mãe sozinha para cuidar significa que você jamais deixará descendentes. É essa a explicação para alguns roedores monogâmicos. Outra opção é quando a dificuldade de encontrar outra parceira é menor do que a chance de acasalar de novo com a mesma, o que explica a monogamia num cavalo-marinho. Uma terceira possibilidade é que o casal dependa de um recurso para reproduzir que só os dois parceiros juntos conseguem proteger. alguns peixes limpadores em recifes de coral fazem isso. Também pode ser que uma fêmea que se desloca muito e cuja entrada no cio não possa ser prevista force um macho a estar sempre perto dela e defendê-la de outros pretendentes, como observamos em aves migratórias. Em algumas espécies, como os besouros coveiros, o zelo da fêmea em impedir o macho de arrumar outra á tão grande que o custo de trair é mais alto do que o benefício obtido, inibindo o comportamento. Por fim, é possível que, se você desertar sua parceira, seus filhotes sejam mortos por um macho rival que chegue depois da sua partida. Esse é o caso de vários mamíferos monogâmicos.
Portanto, a monogamia não é um comportamento comum, mas também não é impossível. Diversas histórias de vida favorecem a ligação de longo prazo entre machos e fêmeas, como vimos acima. Também fica claro que, para a fêmea, a monogamia pode ser menos interessante do que imaginávamos, desde que ela não precise dos possíveis cuidados que o macho daria aos filhotes. Quanto aos humanos, temos culturas monogâmicas, pelo menos socialmente, promíscuas, poligínicas (um homem com muitas esposas), e até poliândricas (uma esposa com muitos maridos). Qual das explicações acima você acha que mais se enquadra para explicar a prevalência da monogamia na nossa sociedade?