Etologia de Alcova – brinquedos sexuais

O que causa esse sorriso? Imagem: livejournal.com

 

Quem olha o catálogo de um sex-shop pode ficar surpreso com a diversidade de brinquedinhos para adultos disponíveis, mas saiba que o uso de ferramentas para obter prazer não é exclusividade nossa. Já há algumas décadas que descobrimos que outros primatas são eficientes produtores de ferramentas, mas seu uso para o sexo é mais raramente documentado, mas vamos a alguns exemplos.

Orangotangos selvagens ganharam de um pesquisador um pedaço de pau e logo começaram a usá-lo para friccionar seus genitais. Um orangotango passou a ferramenta para outro pedindo ajuda para usá-la. Até o pesquisador recebeu o bastão de um dos primatas que lhe mostrava onde deveria colocá-lo.

Bonobos eram tidos como péssimos fazedores de ferramentas, mas trabalhos mais recentes com animais de cativeiro mostraram que as ferramentas são mais comumente usadas pelas fêmeas e frequentemente servem a funções sexuais. Um grupo de pesquisadores descreveu a maneira criativa como vagens foram usadas pelos animais para se aliviar. Outros casos incluem chimpanzés machos adolescentes fazendo sexo com uma goiaba bem madura.

Mas não são apenas os primatas. Um vídeo no youtube tornou-se viral ao mostrar um boto num aquário público penetrando  um peixe decaptado. O peixe, que estava ali como alimento, ganhou funções muito mais interessantes. Queria ver como os pais presentes no momento explicaram a cena aos seus filhos.

É difícil julgar, mas o fato é que o uso de ferramentas é bem mais comum do que se pensava, incluindo o uso de ferramentas sexuais.

O golfinho solitário

Para a Joice, enfim cetaceóloga

Naquela manhã, no consultório psicanalítico…

A doutora estava descendo as cataratas num barril. Deslizava suavemente pelo rio, ganhando velocidade, escutava o rugir das águas aumentando, então despencava no vazio até mergulhar fundo no rio que seguia. Tibum! Clap, clap, clap. Acordou, ainda sentindo o friozinho na barriga, mas o barulho de algo caindo na água e os aplausos continuavam mesmo depois de acordada. Anotou num bloco o enredo do sonho para analisar depois seu significado. O que teria Jung a dizer sobre um barril? Cochilara entre uma sessão e outra porque estava exausta de uma viagem a um congresso no exterior. Jet Lag.

Saiu da sala e na recepção entendeu de onde vinha o barulho. A antessala estava lotada dos funcionários das outras salas ao redor. Sua nova secretária fazia saltar e dar cambalhotas no ar o próximo cliente, um golfinho nariz de garrafa. A cada acrobacia a secretária premiava o animal com uma bolacha água e sal, à guisa de sardinha.

Pigarreou. – Por favor, senhor Tursiops, entre e acomode-se. – Convidou o golfinho – Acabou o espetáculo, todos de volta ao trabalho. – Anunciou aos visitantes. – E a senhorita, depois teremos uma conversinha. – Completou para a secretária depois que a recepção estava vazia outra vez.

Dentro do consultório encontrou o golfinho jogado no divã feito uma baleia encalhada. Portava o olhar mais triste que aquela criaturinha fofa poderia produzir com tão poucos músculos faciais. – Em que posso ajudar hoje, senhor Tursiops?

– Doutora, simplesmente não consigo me enturmar. Nós golfinhos precisamos viver em grupo, mas todo o mundo lá na baía onde vivo parece tão desinteressante. Eles também não gostam de mim, eu acho.

– E o que você fez para eles não gostarem de você?

– Nada! É só que a gente não parece ter muito em comum. Quer dizer… Eu, por exemplo, adoro usar uma esponja no nariz para procurar alimento. Revirar o fundo do canal. Você acredita que os manés não fazem isso? Eu até fico por perto, é melhor do que ficar sozinho, mas acho-os um saco.

O golfinho nariz de esponja, uma tática alimentar cultural. Fonte: www.monkeymiadolphins.org e Ewa Krzyszczyk

O golfinho nariz de esponja, uma tática alimentar cultural. Fonte: www.monkeymiadolphins.org e Ewa Krzyszczyk

– E com quem você gostaria de andar? – Perguntou a analista.

– Eu queria andar com outros como eu, doutora. Descolados, espertos. Golfinhos que soubessem usar uma esponja no nariz. Será que é narcisismo?

– Narcisismo? Não. Chama-se homofilia essa vontade de se reunir com seus semelhantes. É comum em espécies inteligentes, sociais e com algum grau de cultura. – Disse a doutora. – E você não conhece ninguém que use essas esponjas como você? Conheço um grupo no Oeste da Austrália que também faz isso.

– Sério, doutora? Seria ótimo conhecê-los. Puxa, poderia me apresentar a eles?

O golfinho deixou o consultório chapinhando de alegria e cheio de planos de viagem na cabeça. Antes de sumir de vista acenou para a doutora com um abanar de cauda.

– Mais um caso resolvido. – Pensou a terapeuta. – Agora tenho que dar um jeito nessa secretária novata.
Janet mann, margaret A. stanton, Eric m. Patterson, Elisa J. Bienenstock, & Lisa o. singh (2012). social networks reveal cultural behaviour
in tool-using using dolphins Nature Communications DOI: 10.1038/ncomms1983