Profissão Biólogo – Jogos biológicos
Nurit Bensusan, fundadora da biolúdica
Dizer em que área trabalho é até um pouco difícil, pois minha atuação profissional envolve várias áreas. Uma resposta seria popularização da ciência e conservação da biodiversidade. Isso porque eu venho escrevendo livros, blogs, criando jogos e inventando outras modas para popularizar os temas biológicos, principalmente os ligados à conservação da biodiversidade. Hoje, tenho uma empresa que cria jogos com temas biológicos, mas continuo escrevendo livros, fazendo pesquisas e inventando moda. Eu trabalho na minha própria empresa, a Biolúdica. Nessa área de popularização da ciência tem espaço sim, mas para biólogos que gostam de divulgação científica e valorizam o contato com o público leigo.
No meu caso específico, a habilidade mais necessária é a criatividade. A popularização da ciência bem sucedida precisa ser instigante e deve, se possível, colaborar ampliando as interfaces entre a ciência e a cultura. Assim, conhecimento, mesmo fora da área biológica, é bastante importante também. Em meu trabalho eu escrevo, crio jogos, pesquiso, realizo oficinas para crianças e adultos com os jogos. Trabalho em média umas 8 a 9 horas por dia, de uma forma muito disciplinada, pois tenho um escritório em casa. Nos fins de semana, só trabalho se houver necessidade. Como trabalho no meu escritório em casa, fico muito tempo sozinha, mas tenho contato sempre com profissionais das mais diversas áreas, desde meus pares biólogos, até designers, artistas plásticos, professores, educadores e jornalistas. Esses contatos são muito gratificantes e enriquecedores.
Por opção, eu estudei história e filosofia da ciência, na Universidade Hebraica de Jerusalém, e acho que isso, hoje, me ajuda muito, principalmente na construção da abordagem que eu adoto de popularização da ciência. Fiz, também, um doutorado em educação, abordando museus de ciência. Mas acho que seria possível desenvolver meu trabalho sem essa formação. Eu sempre gostei das disciplinas ligadas à evolução. Eram as mais interessantes e as que permitiam algum espaço de reflexão. Infelizmente, as outras eram apresentadas como técnicas ou como realidades da ciência, sem espaço para entendermos o quanto daquilo que estávamos estudando era resultado de escolhas de abordagens e até mesmo de opções ideológicas. Eu me lembro de disciplinas com professores instigantes. Uma delas era Ecologia do Cerrado, ministrada pelo professor Bráulio Dias, hoje Secretário Executivo da Convenção da Biodiversidade, em Montreal. Ele obrigava os alunos a pensar, ao contrário de muitos outros que se sentiam incomodados com as perguntas e as colocações dos estudantes. Disciplinas que conectavam a biologia a outros conhecimentos eram as minhas favoritas.
Eu comecei minha carreira como bolsista de um programa de biogeografia do Cerrado. Depois, fiz concurso para perita do Ministério Público Federal, onde trabalhei por dois anos. Nessa época, meados da década de 1990, eu estava convencida que era necessário um engajamento na questão das políticas públicas para que conseguíssemos algum resultado em conservação da biodiversidade. Saí do Ministério Público e fui trabalhar no WWF-Brasil, em projetos ligados à implementação da Convenção da Biodiversidade no Brasil. Depois de alguns anos, fui trabalhar numa outra ONG, o Instituto Socioambiental, (ISA) onde coordenei a área de biodiversidade. Depois de uma breve volta ao WWF-Brasil, em meados da década de 2000, fui para uma terceira ONG, o IEB onde trabalhei até 2009. Em 2010, criei a Biolúdica que colocou seus primeiros jogos no mercado no final de 2011.
Além de ser fascinada pela própria biologia, hoje estou convencida da importância da participação e do engajamento do público em geral nos processos de tomada de decisão ligados à agenda de ciência e tecnologia. Nesse caminho, a popularização da ciência desempenha um papel fundamental e isso me motiva sobremaneira. Se a gente pensar nos jogos da Biolúdica, jogos de cartas com temas biológicos para crianças com mais de 7 anos, o maior desafio é o mercado, ou seja, colocar esses produtos no mercado, competindo com o que existe. Minha recomendação para aspirantes a trabalhos como o meu é que a combinação de conhecimento, criatividade e iniciativa é imbatível. Apostando nela, a chance de sucesso é significativa.