Aruba sob risco de empalidecer

Alguns anos atrás estive em Aruba para mergulhar. Foi um dos pontos de mergulho mais ricos que já visitei, então saber que os recifes de lá estão entrando esse ano na zona de branqueamento me deixou chateado. Recifes de coral são ecossistemas apenas comparáveis em termos de diversidade a grandes florestas tropicais. A complexidade desses habitats, cheios de reentrâncias e com ampla diversidade de características físicas, permite a existência de toda uma gama de seres vivos. Além disso, os recifes são formações biológicas muito antigas e gigantescas. Países inteiros no Pacífico Sul se situam sobre ilhas recifais.

Colônia de corais parcialmente branqueada. Fonte: University of Queensland

O fenômeno do branqueamento tem afetado muito os recifes de coral. Muitos corais têm uma simbiose com dinoflagelados fotossintetizantes, as zooxantelas. Os corais oferecem ao dinoflagelado um abrigo e condições ambientais adequadas, em troca recebem parte da energia produzida pela fotossíntese que esses unicelulares clorofilados realizam. Essa convivência, no entanto, pode ficar complicada. Se o processo de fotossíntese for acelerado, os níveis de oxigênio produzido pelas zooxantelas podem se tornar prejudiciais ao coral. Isso porque o oxigênio tem alto potencial oxidativo e começará a destruir o maquinário celular do coral. Antes que isso aconteça o coral expulsa as zooxantelas de casa, empalidecendo por consequência de tornar visível seu esqueleto calcário.

A fotossíntese, aliás, também está relacionada a esse esqueleto calcário. Os corais formam seu esqueleto capturando íons de cálcio e carbonatos dissolvidos na água do mar. Eles também usam aí o oxigênio produzido na fotossíntese e o gás carbônico produzido nesse processo é aproveitado pela zooxantela na fotossíntese, que ocorre de forma mais eficiente quando a zooxantela recebe luz nos comprimentos de onda de 410 a 430 nm e 642 a 662 nm devido aos tipos de clorofila presentes.

Recife em Aruba, menos cores no futuro próximo. Fonte: charterfleet.com

Mas o que pode acelerar a fotossíntese das zooxantelas? A temperatura é um fator chave. Com o aumento da temperatura da água do mar causado pelo aquecimento global, o branqueamento tem se tornado mais e mais comum. As próprias mudanças na temperatura do mar vêm mudando os padrões das correntes marítimas, atingindo agora o sul do Caribe com águas mais quentes e levando ao branqueamento em locais como Aruba. Se o branqueamento durar apenas algumas semanas ou poucos meses, as zooxantelas podem ser reincorporadas e a vida segue no recife de coral, apenas com um retardamento na deposição dos esqueletos calcários dos corais. Se o período for mais prolongado, no entanto, a colônia inteira poderá morrer, levando consigo todos os outros seres vivos que dependem dos corais, e até as economias baseadas em turismo recifal.