Prendas de Natal do passado…


Nos últimos meses fomos brindados com várias prendas de Natal, de um passado mais ou menos remoto da História da Terra – pelo menos assim as quero entender…mas deve ser do espírito da época!
Com espírito semelhante ao dos reis Magos, também a História da Terra nos ofereceu novidades do seu passado.

OURO

Do Brasil chegaram notícias do dinossáurio mais antigo e primitivo, o ULBRA PVT016 – referência de colecção, pois ainda não foi baptizado. Esta “prenda” natalícia tem 228 milhões de anos (do período Triásico) e foi descoberto por paleontólogos da Universidade Luterana do Brasil.
Era um animal ágil, carnívoro e bípede (tal como todos os dinossáurios primitivos deslocava-se em duas patas) com 1,5 metros de comprimento e doze quilos.
Uma das particularidades deste animal reside na sua cintura pélvica (a bacia) pois, ao contrário de outros dinos primitivos, este apresentava 5 vértebras fundidas, o que lhe dava um maior equilíbrio na locomoção.
Esta característica anatómica até agora só tinha sido observada em dinossáurios mais recentes o que leva os paleontólogos a repensar grande parte da história evolutiva dos dinossáurios primitivos.

INCENSO

Há umas semanas um grupo de investigadores do IVPP (Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Pequim) apresentou mais uma descoberta das fabulosas jazidas chinesas da Mongólia Interior, nada mais, nada menos do que o mais antigo mamífero planador – o Volaticotherium antiquus.
Os restos fossilizados deste animal estavam tão bem preservados que se conseguia identificar a membrana de pele que unia os membros anteriores e posteriores. Era esta membrana que permitia ao Volaticotherium planar, numa época em que as aves ainda não eram capazes de voar – há 125 milhões de anos.
Conhecem-se actualmente diversos grupos de mamíferos planadores, mas a “foto” de família ficou agora mais completa com o seu membro mais antigo.

MIRRA

A terceira oferenda da História da Terra vem de um passado um pouco mais remoto – do período Devónico (entre os 415-360 milhões de anos) – e de um grupo de animais raramente falados – os placodermos.
Os placodermos eram um grupo diversificado de peixes, revestidos de placas, que dominavam os mares num período em que não existiam vertebrados em terra.
Numa época em que o único peixe que ocupa o pensamento (e a mesa) dos portugueses é o bacalhau, falar deste parece um contra-senso, mas recentes estudos sobre a potência das mandíbulas do Dunkleosteus terrelli (assim se chamava este placodermo) revelaram que seriam capazes de uma dentada com força superior à do actual tubarão-branco.
Este enorme peixe seria capaz igualmente de movimentos de mandíbulas muito rápidos que, aliados à potência, o tornariam uma poderosa “máquina” de morder. Normalmente os peixes apresentam ou ma mordida forte ou mordida rápida; as duas características em simultâneo são raras.
Não é uma nova espécie, mas sim um novo conhecimento sobre algo que já se conhecia.

Uma última prenda (vai ser publicada no dia 22 de Dezembro na revista Science) vem da vizinha Espanha e é-me particularmente querida – é do grupo de dinossáurios em que estudo – os Saurópodes.
Os paleontólogos espanhóis “trouxeram” ao mundo uma nova espécie gigante – o saurópode Turiasaurus riodevensis. Este animal, segundo os autores do artigo, é o maior dinossáurio europeu e um dos maiores do mundo. A título de curiosidade o seu úmero (osso que vai do ombro ao cotovelo) tem quase 1,8 metros de comprimento.
Para além de ser um novo animal, as características do Turiasaurus também permitiram que os paleontólogos que o descreveram propusessem uma nova divisão na classificação dos saurópodes – o clado Turiasauria.
Rica prenda!

Tal como o Menino, nas palhinhas deitado, recebemos estas prendas certos de que poderíamos passar bem sem elas; mas que a nossa vida ficou mais rica e completa…pelo menos para mim ficou.
Boas Festas!
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 22/12/2006)