Saudável Liberdade

396058018_a754cff31a_z.jpgJosé estava mais do que preparado para o embate que se avizinhava – a entrevista de emprego.
Nos últimos dois anos, para além de inúmeros contactos pessoais e envio de CV’s, tinha-se preparado afincadamente para o momento: cursos, especializações e até umas aulas de mandarim lhe haviam ocupado o tempo sem trabalho.
Sentou-se, carregado da sua competência, formação e atitude.
“O senhor fuma?”, perguntou o inquisidor laboral.
“Já uma pausa?”, pensou José. “Sim, fumo.”, respondeu em tom agradecido.
“Humm…Então parece que a entrevista vai ter que ficar por aqui. Sabe, a nossa empresa tem a política de não contratar fumadores. Escuso já de ver o resto do seu CV.”, debitou monocordicamente o ex-futuro-empregador.
Actualmente nos E.U.A. existe já um número considerável de empresas que negam trabalho a fumadores, chegando a realizar análises sanguíneas para se detectarem eventuais vestígios de nicotina.
Se não se podem negar os malefícios do tabaco, mas esta cruzada da saúde esconde outro tipo de controlos. Agora é o tabaco, amanhã o sal ou o açúcar, e num futuro mais próximo do que antevemos, iremos ter que provar geneticamente se desenvolveremos Alzheimer, quais as probabilidades de contrairmos cancro numa idade precoce, ou mesmo a disposição para votarmos num determinado partido.
No passado, a purificação da raça foi lema de algumas mentes doentes. Hoje, são as mentes da saúde que procuram a pureza dos genes.
Atentar contra a liberdade individual é mais fácil (e mais barato) do que educar os indivíduos para o livre arbítrio.
Relato agora um diálogo que há tempos tive com a minha cardiologista, tinha a Assembleia da República acabado de legislar sobre os teores de sal nos alimentos.
A Liberdade e a Cardiologista
Abandonei o silêncio penitente a que se remetem os pacientes.
Farto da parede muro-das-lamentações que me tapava a vista, falei.
“E o sal, doutora?”.
Não o meu; o da Assembleia da República.
“Legislaram bem. Apesar de não ser original, já que os teores de sal são já controlados em muitos alimentos…Olhe, até nos refrigerantes eles põem sal!”.
Reforçou o argumento espetando-me o peito com maior intensidade.
“Bem…”, ganhei balanço, entre empurrado pelo desconforto do ecocardiógrafo.
“Não se trata só de uma questão de Saúde Pública. É também uma questão de liberdade individual, de escolha pessoal. A seguir vem o quê? A cor dos meus boxers?”.
Agradeci encontrar-me num cardiologista e não num urologista, já que a estética cromática é uma lacuna grave da minha personalidade.
“Liberdade? O senhor sabe o custo para os contribuintes do consumo excessivo de sal? Sabe que o cancro do estômago está relacionado com teores de sal na urina, que por sua vez reflectem o consumo de sal? É caríssimo, não há dinheiro. É preferível cortar essa pequena liberdade!”.
Num instante, o meu miocárdio deve ter posto a língua de fora porque a médica me perguntou:
“Tem andado a sentir-se bem?”.
Maldita tecnologia, pensei. Não dá a mínima hipótese, qual detector de mentiras.
“Claro que tenho, doutora. O meu dealer salino está em promoções!”.
Imagem: daqui

Texto Publicado no jornal barlavento, 24/02/2011

GPS e a Relatividade

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Um vídeo, premiado (menção honrosa) no 2010 International Science & Engineering Visualization Challenge, concurso organizado pela National Science Foundation americana, que tem como objectivo difundir diferentes formas de difusão da Ciência, seja um vídeo, poster ou ilustração.
Neste vídeo, e de uma forma clara, várias ideias são apresentadas, umas utilizadas por quase todos diariamente, como o GPS, e outras que quase ninguém percebe mas que muitos falam, como a Teoria da Relatividade.
Gosto quando conceitos aparentemente afastados e distintos são dissecados revelando a proximidade escondida.
Este vídeo apresenta apenas um pequeno senão (não para mim…): os seus 8 minutos são demasiado longos para jovens que acham que um vídeo do Youtube com 2 minutos é uma seca…

No site do 2010 International Science & Engineering Visualization Challenge todos os premiados.
Aqui fica o vídeo que agrega o trabalho de alguns dos vencedores deste concurso.

Imagem: 2010 International Science & Engineering Visualization Challenge

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…nos comentários.
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Imagem: Alex Andreev

Blogs de Profs

Dois exemplos de blogs de professores
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O primeiro pretende ser um repositório das actividades que o professor Pedro Isidoro desenvolve no seu projecto Bioarte, com alunos da Escola Básica n.º2 de Carregal do Sal / Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal.
Do que me foi dado a observar, este projecto envolve a observação de vários seres vivos, com ajuda de lupas binoculares, e posterior desenho do que se observou.
Uma excelente forma de desenvolver a capacidade de observação, indispensável a qualquer pessoa…
7930704_3zlSO.jpegExcerto do projecto:
“…o fio condutor assenta na combinação de algumas actividades desenvolvidas em dois clubes da escola – Clube dos Cientistas e Clube do Ambiente. Os alunos seleccionados pertencem a turmas do 5º ano de escolaridade que cedo se manifestaram interessados em realizar actividades no âmbito da observação de “coisas” ao microscópio. Afinal o microscópio, apesar do seu aperfeiçoamento, tem sido a mola impulsionadora dos progressos da BIOlogia.
Elaborou-se um plano de acção que abrangesse: a recolha e observação de insectos e plantas com lupas binoculares e microscópios, o registo dos desenhos realizados pelos alunos, registos fotográficos, pesquisa de informação científica detalhada sobre os organismos observados, criação de um livro digital com toda a informação recolhida e, finalmente, divulgação periódica de todas as actividades à comunidade educativa.”
“Bioarte” /
A responsável pelo segundo blog de professores que hoje apresento já foi aqui referida. É a Beatriz Tomás Oliveira.
No blog “Prof Bia a bordo” conta-nos a sua participação, a bordo da Caravela Vera Cruz, na recente Campanha científica EMEPC às Ilhas Selvagens. Foram tempos muito intensos, quer ao nível de experiência profissional e investigativa, que a nível pessoal, relatados na primeira pessoa.

Imagens: dos blogs citados.

Doutores

deolinda (Large).jpgAcordei e entretive o café com mais um bom texto do Rui Tavares(1).
As palavras sarnavam a minha geração, transferindo-as para uma letra dos Deolinda(2).
Depois dei com os vídeos abaixo(3), feitos por gente que estuda, e roubados ao blog do parceiro Átila Iamarino, meu parceiro blogueiro no Science Blogs Brasil.
Não sei que fazer com estes dois blocos de informação.
Triste, pela cada vez maior estufa profissional que gerações de gente qualificada são obrigadas a suportar?
Alegre, pelo manancial de jovens ultra-preparados?
Ou que quando for hora, terão ferramentas e não só boas vontades para mudar o mundo?
Não sei.
Digam-me vocês…

Referências:
1 – artigo de Rui Tavares no Público de 2 de Fevereiro de 2011.
2 – vídeo dos Deolinda, “Parva Que Sou” (na página a letra da música).
3 – blog Rainha Vermelha de Atila Imarino