Código de barras
Hoje acordei e tinha um código de barras tatuado.
Ainda que no recanto do meu quarto.
Fui para a sala e no lugar da proibida árvore da Natal estava um enorme monte de branco.
Inodoro, frio e imóvel.
Na cozinha mais branco.
Nem vestígios de sangue, espinhas, ossos ou algo que recordasse vida.
Apenas plástico a embrulhar branco.
Branco por todo o lado e igual a todo o branco.
Excepto o negro do meu código de barras.
Bioformas – Peek-A-Boo
De quem é este embrião, na fase “Peek-A-Boo“?
Curioso o nome dado – “The distal extremities of the forelimbs
overlap, obscuring the face completely and giving this stage its name.”
A recordação que tenho é adolescente e de outro “Peek-A-Boo”…
Quanta Vida por descobrir – Escorpião com mais de 2,5 metros
Um escorpião marinho (Eurypterida) fossilizado com mais de 2,5 m foi descoberto em Prüm, no oeste da Alemanha. Este mega escorpião viveu há 390 milhões, numa época em que os insectos, aranhas e crustáceos tinham tamanhos gigantescos.
O “recém-baptizado” Jaekelopterus rhenaniae apresentava pinças com 46 cm de comprimento, o dobro das maiores até hoje encontradas.
Já se conheciam outros gigantes, como libélulas, baratas e centopeias, mas esta descoberta confirmou que antes dos dinossáurios, existiu outra época de gigantes.
Com base nos fósseis encontrado calculou-se que este escorpião teria pesado 180kg.
Em Portugal há registo de escorpiões marinhos do Ordovícico da Serra do Buçaco – Dithyrocaris longicauda.
Os euripterídeos são artrópodes quelicerados e grupo irmão de Arachnida e os seus parentes mais próximos são os escorpiões e aranhas.
A descoberta foi publicada a 21 de Novembro na revista científica Biology Letters (DOI: 10.1098/rsbl.2007.0491)
Aqui o vídeo da BBC
Conceitos
Dois vídeos.
Dois conceitos.
A mesma forma de os colocar em prática.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=9L4MOHpOLWo]
Quanta vida por descobrir…
Uma nova espécie de pecari foi descoberta e descrita. O baptismo científico concedeu-lhe o nome de Pecari maximus, se bem que é informalmente designado de pecari-gigante.
Igualmente é de saudar que o primeiro autor da descoberta é Marc van Roosmalen, primatólogo holandês naturalizado brasileiro, e que tem tido problemas com a justiça brasileira pela sua acção na defesa da Amazónia. A primeira chamada de atenção que li foi de Palmira F. da Silva, aqui.
Na cultura Tupi, o Pecari maximus é chamado Caitetu Munde, que significa porcos que vivem em pares.
Artigo da descoberta – aqui
Imagens – daqui
P.S. – na imagem superior direita observa-se caçadores que abateram o exemplar tipo.
Planeta Terra…num Museu de História Natural perto de si
“Sessão de lançamento da série da BBC “O Planeta Terra” em DVD”
20 Novembro 2007 18h00
Laboratório Chimico dos Museus da Politécnica R. da Escola Politécnica, 58 Lisboa
“Para além da sessão de lançamento, iniciar-se-á um ciclo de conferências alusivas aos vários episódios da série, que poderão ser visionados no Museu durante os próximos meses.
Biodiversidade
Maria José Costa
A Terra, Planeta Vivo
Fernando J.A.S. Barriga”
Imagens – BBC/DISCOVERY Channel
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=rUBOuNELsiw]
A César o que é de César…menos em Portugal!
Até que ponto devem ser atribuídos os créditos pelas correcções/informações de âmbito profissional que se fazem a uma exposição ou a uma notícia de jornal?
Esta questão por várias vezes tem cruzado a minha atitude profissional perante a divulgação científica.
Explico.
Após ter organizado e produzido uma revisão científica (pois eram mais do que muitos os erros…) da exposição “Monstros Marinhos”, do Oceanário de Lisboa, e de ter enviado a dita aos responsáveis da instituição, recebi, ao fim de mais de 4 meses, um agradecimento “A participação positiva dos nossos visitantes e «amigos» é de facto uma mais valia para o Oceanário de Lisboa e para a manutenção da sua qualidade.”
Igualmente fui informado de que as várias correcções que tinha feito não poderiam ser-me referenciadas, pois o contrato que tinham com a empresa responsável pela montagem da exposição não lhes permitia uma referência externa, i.e., à minha pessoa.
Aproveitavam para me dizer que me iriam enviar um convite para a exposição – a primeira visita paguei-a eu; desta vez ofereci o convite recebido…
Fizeram-no. Obrigado.
Meus caros, se quiserem mais correcções façam-nas vocês, que, apesar de ainda não me ter cansado de trabalhar à borla, o mínimo de creditação, espero-a!
Ontem decidi cair na mesma “patice”.
O Público on-line (aqui em versão cached num outro site, pois a versão errada já não está on-line) publicou, no dia 15 de Novembro, uma notícia referente a novos dados sobre um saurópode.
Como a versão feita pelo Público do artigo publicado pela agência noticiosa AFP apresentava alguns erros, decidi enviar um comentário. Entre os erros contava-se, por exemplo, o facto de o nome da espécie estar errado, para além de cientificamente mal grafado, o nome do paleontólogo que o descobriu estar incorrecto, e, finalmente, afirmar que o animal em questão era bípede, quando é quadrúpede.
Preciosismos, pensa a maioria das pessoas e, às vezes, quase o penso também eu.
Preenchi o formulário on-line de comentários e esperava vê-lo aparecer publicado. Passadas algumas horas, recebi mail de um jornalista que me agradecia as correcções. Bom, deixa cá ver se aparecem publicadas, pensei eu. Como não apareciam, decidi questionar quem me tinha contactado, por mail, sobre esse facto. A resposta, lacónica e seca, transcrevo-a em parte:
“o ponto 6 dos «Critérios para publicação de comentários dos leitores»:
6 – Por regra devem ser publicados os comentários que criticam a nossa abordagem noticiosa. São excepção os casos em que essa crítica se refere a um aspecto que pode e deve ser corrigido (ex.: um erro ortográfico ou em matéria de facto.) Não teria sentido manter o erro na notícia após a sua detecção e não teria sentido publicar o comentário uma vez a correcção realizada.”
Só faltou dizer: não leu os critérios de publicação? Problema seu!!
Esta atitude de Chico-esperto tem como único resultado que não volte a tentar que o Público seja rigoroso no tratamento que dá aos conteúdos científicos que aborda.
Não pretendo que o meu nome seja referenciado por si só.
Mas porque desejo ver tratados, de forma correcta, assuntos que profissionalmente me dizem respeito, nos órgãos de comunicação social ou em exposições.
A pergunto que deixo: vale a pena perder este tempo?
P.S. o que me deixou satisfeito foi que entre as duas versões da notícia a corrigida está mais detalhada.
Já agora fica aqui a história pela agência Reuters – perdi vontade de a dissecar.
E envolvia o meu orientador.
Imagens – Daqui e daqui
http://www.reuters.com/resources/flash/includevideo.swf?edition=US&videoId=70909
Peixes e tugas
Pela segunda vez num curto espaço de tempo, a nomenclatura zoológica ocupa este espaço, depois de “Chernes e ornitorrincos”.
Explico: num hilariante artigo de Ferreira Fernandes no DN, soube da troca de galhardetes, entre o colunista Tony Parsons, do Daily Mirror e o embaixador português em Londres. Por motivos que aqui não repetirei, o cronista britânico dirigiu-se ao representante luso nos seguintes termos: “Feche a sua estúpida boca de comedor de sardinhas.” Não terá tomado muito chá este Tony Parsons.
O provérbio português afirma que “A mulher e a sardinha nem a maior nem a mais pequenina”, apoiando que o ponto médio da distribuição de tamanhos da sardinha será a melhor em termos gastronómicos. Quanto às mulheres talvez não seja tão verdade como isso. Ao jornalista inglês faltou um pouco de meio-termo, pois ansiava que o embaixador tivesse afastado a brasa da sua sardinha e, já agora se possível, sem a comer…
Peixe não puxa carroça, mas neste caso o cronista Daily Mirror sem dúvida que a puxou …
Estes mimos zoo-gastronómicos acordaram outras memórias da relação cultural dos portugueses com os peixes.
Em visita familiar ao Brasil, e para além de habitual repertório de anedotas sobre lusitanos, foi avisado de que os nossos conterrâneos eram frequentemente chamados de “papa-bacalhau” devido à nossa paixão por aquele peixe.
Há cinco anos atrás, encontrava-me a trabalhar no American Museum of Natural History, quando outra referência ao fiel-amigo e os portugueses, foi-me introduzida por uma zoóloga canadiana. Durante a nossa apresentação, fui brindado com “Ah, vocês comem muito bacalhau, não comem? É que os stocks estão quase a desaparecer por vossa causa!” Depois do aperto-de-bacalhau literal, tentei argumentar que o bacalhau era muito mais do que um mero alimento em Portugal, que o papel deste peixe na vida dos portugueses não se limitava apenas a satisfazer a gula de uma qualquer refeição. Como castigo desta argumentação, pouco tempo depois andava eu, desesperado de desejo, pelos supermercados mexicanos de Brooklyn à procura de uma mísera posta de bacalhau…
Continuando em ambiente ictiológico, sempre que num congresso ou numa revista científica um grande especialista opina, é habitual que os colegas portugueses o designem por truta. Não imagino a origem de tal designação nem o porquê de sermos um povo que apesar de venerar dois peixes de mar – o bacalhau e a sardinha – utilizarmos um peixe de rio como sinónimo de perito.
Paradoxalmente ao que se diz no ambiente académico, aprendi que “A truta e a mentira, quanto maior melhor”. Resta-me apenas continuar a aprender com os trutas da minha área…já agora, de todas as áreas.
Apesar de se poder cair na brejeirice, a alusão piscícola que mais me agrada, é a proferida pela comunidade masculina sempre que se avista uma representante do sexo feminino de bela morfologia: “Mas que faneca!”.
Concluindo só me resta concordar com o dito “ O peixe deve nadar três vezes: em água, em molho e em vinho.”
Imagens:
EGEAC
Pieter Bruegel – “Les gros poissons mangent les petits” (1557)
Prato de bacalhau com grão
Cate Blanchett, actriz de “Little Fish”
Gustave Klimt – “The Blood of Fish” (1898)