Faça a legenda

Faça a legenda.
Contextualizada, ou não, pelos tempos que correm.

Imagem – daqui

Manada

Escorria.
Escorria mesmo e parecia água.
O som era inconfundível.
“Pode escorrer água do chão?”
Contra natura.
“Salto?”
O som que lhe entrava pelos ouvidos e lhe confundia a razão, fez agora sentido.
No meio da escuridão intermitente, estava a 20 metros do chão, prestes a saltar para o vazio.
As luzes pirilâmpicas não cessavam.
Não se podia abrigar do lado esquerdo.

Estava atrasado e não entendia como os da meteorologia se enganam cada vez menos – chovia e não parava de chover, tal como haviam repetido na rádio.
Ainda abrandou.
Sempre era uma cortina de granizo que não se abria perante o pára-brisas.
Rodou e rodou.
Tudo parecia mais luminoso nesse final de tarde em que caía granizo.
Rodou e rodou.
Se se encolhesse o bastante, menor seria a probabilidade de algo metálico lhe conhecer o corpo.
A dança mecânica tinha acabado.
O seu lado anti-social, aparentemente, também se revelava com metais.
E agora?
Sair.
Fugir da manada e saltar para lá da barreira.
Do lado esquerdo.
Escapar das involuntárias apresentações automóveis.
E conhecer o vazio.

Tinha migrado para o lado direito e a manada não parava.
Havia que os desviar.
Irracionalizados pelo caminho obrigatório, não findavam a passagem.
Havia que os parar.
Como?

P.S.- qualquer semelhança entre este texto e um despiste na A8 não é pura coincidência.

Imagem – indicações na mesma.

Antes do Don’t worry

Muitos antes mesmo…
Quando o músico, sim porque a voz nele é mais do que canto, comanda tudo no público: para além das emoções, o ritmo, os agudos, tudo…

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=u1mvfzoHm9g]

Pena que a gravação não tenha uma qualidade excelente…mas deu para concretizar as imagens mentais que tinha deste tema…

Bioformas

Excelentes exemplos do conceito de bioforma.

Imagens – Isidro Ferrer asociados, colhidas daqui

Sangue

O sangue que me deste não se tornou eu.
Durante sete dias continuaste a ser tu.
Sete dias.
Tantos como os necessários para a primeira criação.

“Investigators have detected donor DNA after transfusion with a process called polymerase chain reaction (PCR) that amplifies minuscule amounts of genetic material for detection and identification of specific genes. Studies using PCR to amplify male genes in female recipients of transfusions from male donors have demonstrated that donor DNA endures in recipients for up to seven days. And a study of female trauma patients receiving large transfusions showed the presence of donor leukocytes for up to a year and a half.”
Daqui

Imagem – daqui

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Como sempre, à 6ª, o desafio fica feito.
Legende, nos comentários, a imagem.

Imagem – daqui

II O canário do mineiro

(continuação)

O registo paleontológico conta-nos que, após cada evento deste tipo, se dá um rápido desenvolvimento de novas linhagens biológicas. É comummente aceite que o desaparecimento dos dinossáurios terá facilitado o desenvolvimento e diversificação dos mamíferos. Este pequeno exemplo permite constatar que os acontecimentos de extinção de enormes quantidades de seres vivos facilitaram o desenvolvimento de outros grupos biológicos, entre os quais os próprios seres humanos.

Num inquérito recentemente efectuado entre biólogos, paleontólogos e evolucionistas, sete em cada dez afirmam que está a ocorrer mais uma das grandes extinções – a Sexta Extinção em Massa. Esta extinção tem como principal causa um único ser vivo – Homo sapiens – e será provavelmente a mais devastadora das que a precederam.
São referidos números distintos mas é unânime que os números avançados, em 1993, por E.O. Wilson – que cerca de 30 000 espécies desaparecem por ano – se encontram desactualizados, mas por defeito…

Ao contrário das outras cinco, a Sexta Extinção caracteriza-se por enormes transformações da paisagem, sobreexploração das espécies (animais e vegetais), poluição e introdução de espécies estranhas a determinados ecossistemas (por ex. acácias introduzidas em Portugal).

A redução da diversidade biológica regista-se a uma taxa nunca antes testemunhada no nosso planeta – em quantidade e rapidez com que está a ocorrer. A título de exemplo, entre as cerca de 10 000 espécies de aves que actualmente se conhecem cerca de 1200 estão seriamente em risco de extinção.

Porque devemos então preocupar-mo-nos que uma espécie de anfíbio da América do Sul se extinga?

Para além de nos inquietar a redução do património genético e consequente “ataque” à biodiversidade, esse desaparecimento é uma mensagem especial.

Deve fazer-nos lembrar que esse anfíbio pode ser o nosso Canário do Mineiro, que lhe devemos prestar atenção correndo o risco de, se o não fizermos, colocarmos a vida na Terra num futuro mais do que minado…

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro em Outubro de 2004)

Referências
existe vasta bibliografia referente a extinções em massa; recomendo sobretudo os trabalhos de Douglas Erwin, que há mais 15 anos teve a simpatia e modéstia de responder directamente a uma questão trivial de um estudante de licenciatura sobre …o estudante era eu; a questão tenho pudor em a revelar.

Imagens (dos dois posts e por ordem):
daqui, daqui, daqui, daqui, daqui e, finalmente daqui.

O canário do mineiro I

(recupero um texto publicado em 2004 como consequência da vinda de Niles Eldredge à Gulbenkian, no próximo dia 13 de Fevereiro, para uma palestra integrada na comemoração dos 150 anos da publicação da Origem das espécies de Charles Darwin)

Há cerca de 10 anos, deambulava eu numa livraria de Edimburgo quando encontrei um livro de um dos mais importantes paleontólogos e evolucionistas ainda vivos.

O livro, “The Miner’s Canary. Unravelling the Mysteries of Extinction”, custou-me apenas uma libra e foi escrito por Niles Eldredge.

Este paleontólogo, que em conjunto com Stephen Jay Gould, propôs, na década de 70 do século passado, uma das mais importantes teorias revisionistas da Evolução – o Equilíbrio Pontuado.

O Professor Eldredge trabalha há mais de trinta anos no American Museum of Natural History (AMNH), em Nova Iorque, como Curator de Invertebrados.
Desde o primeiro dia em que cheguei ao AMNH, para desenvolver a minha investigação em dinossáurios, tive o título desse livro a martelar-me na cabeça.

Passava todos os dias pelo corredor onde se localizava o gabinete do Doutor Eldredge e sempre o quis questionar da razão desse esse título…

O título surgiu de uma costume dos mineiros do século XIX e início do século XX. As aves eram transportadas, em gaiolas, para as profundezas da Terra para auxiliarem na detecção de concentrações anormais de gases perigosos (metano, monóxido de carbono, etc.). Quando, devido à actividade mineira, os gases eram libertados, os canários eram os primeiros dar o sinal de alerta, comportando-se de uma forma assustada – deixavam de cantar e ficavam nervosos, chegando mesmo alguns a morrer.

Assim, os mineiros já sabiam que algo de errado se passava com o ambiente de mina, podendo fugir em segurança.

Niles Eldredge utiliza, metaforicamente, essa tradição para nos lembrar que as alterações provocadas na biodiversidade dos actuais ecossistemas pelo Homem têm necessariamente consequências sobre tudo e todos.

Apesar de estarmos familiarizados com a palavra extinção e sermos capazes de identificar as suas causas, extinções e desaparecimentos biológicos em grande escala não são uma novidade na História da Terra.

As Extinções em Massa são acontecimentos em que, num curto espaço de tempo geológico, grande quantidade de formas de vida desaparece a nível planetário.

Fenómenos assim designados foram vários, mas os mais importantes (em quantidade de espécies e número de ecossistema afectados) são cinco:

Ordovícico (440 milhões de anos; desaparecimento de 57% de espécies marinhas, uma vez que a vida em ambientes terrestre ainda não se havia desenvolvido) – a segunda extinção mais devastadora para os ambientes marinhos; um terço de todas as famílias de braquiópodes e briozoários, bem como inúmeras famílias de conodontes, trilobites, graptólitos e corais;

Devónico (370 milhões de anos) Desaparecimento de 75% das espécies marinha entre corais rugosos e várias espécies de trilobites e amonites;

Pérmico/Triásico (250 milhões de anos – 60% de desaparecimento de todas as espécies e 75 a 90% das espécies marinhas). Nesta extinção, por exemplo, desapareceram todas as espécies de trilobites bem como diversos grupos de vertebrados terrestres. Actualmente pensa-se que na sua origem terá estado uma enorme actividade vulcânica. Esta actividade, para além do efeito directo das lavas (cerca de 2000000 km3 (!) em menos de um milhão de anos) terá libertado igualmente uma imensa quantidade de gases para a atmosfera que contribuíram directamente para importantes alterações climáticas. Efeitos indirectos dos gases libertados foram as alterações na composição química, circulação e oxigenação dos oceanos. As mais recentes investigações apontam igualmente para uma possível queda de um meteorito~;

Triásico/Jurássico (200 Milhões de anos – 45% de todas as espécies). Esta extinção é uma das menos conhecidas e terá feito desaparecer, entre outras, grande quantidade de espécies de dinossáurios “primitivos”;
Cretácico/Terciário (65 milhões de anos – 75% de fauna e flora, entre os quais todos os dinossáurios não-avianos e amonites). Esta é uma das extinções melhor estudadas e conhecidas, estando na sua génese o bem conhecido impacto de um meteorito que poderá ter tido como aliados fenómenos de vulcanismo intenso.

(continua 5ª feira dia 22 de Janeiro de 2009)

Greve

Imagem – Life magazine

PS visual

Wordle: Moção PS 2009

A moção do PS – texto daqui – traduzida pelo Wordle.

Outra leitura, pelo Tagcrowd.
Curioso, como em ambas, a palavra “Educação” é tão difícil de encontrar…