Darwin Tunes
Uma experiência científica, num contexto evolutivo simulado, de evolução cultural.
Na música.
A experiência está a decorrer e pede a participação.
Darwin 150
“Em Novembro o CEM e a Escola Secundária de Francisco Franco celebram o 150º aniversário da publicação da obra de Charles Darwin, “A Origem das Espécies”, com um ciclo de conferências intitulado “Darwin e a Origem das Espécies”, a decorrer entre os dias 23 e 25.”
Sereno’s Crocodilos
Mais uma excelente monografia sobre a vida na Terra.
Do passado dos Crocodylia, mais concretamente sobre o registo fóssil do Cretácico do Saara.
Desta vez Paul Sereno é acompanhado por Hans Larsson na escrita de uma obra que vai ser uma referência futura.
Na imagem o novo género e espécie Kaprosuchus saharicus revela uma morfologia craniana e mandibular muito particulares.
A cereja em cima do bolo é que a monografia é grátis e está repleta de excelentes ilustrações e fotografias.
Aqui o PDF.
Abstract
Cretaceous Crocodyliforms from the Sahara
Paul C. Sereno, Hans C. E. Larsson
“Diverse crocodyliforms have been discovered in recent years in Cretaceous rocks on southern landmasses formerly composing Gondwana. We report here on six species from the Sahara with an array of trophic adaptations that significantly deepen our current understanding of African crocodyliform diversity during the Cretaceous period. We describe two of these species (Anatosuchus minor, Araripesuchus wegeneri) from nearly complete skulls and partial articulated skeletons from the Lower Cretaceous Elrhaz Formation (Aptian-Albian) of Niger. The remaining four species (Araripesuchus rattoides sp. n., Kaprosuchus saharicus gen. n. sp. n., Laganosuchus thaumastos gen. n. sp. n., Laganosuchus maghrebensis gen. n. sp. n.) come from contemporaneous Upper Cretaceous formations (Cenomanian) in Niger and Morocco.”
Referência:
Paul C. Sereno, Hans C.E. Larsson. ZooKeys 28: 1-143 (2009) doi: 10.3897/zookeys.28.325
Imagem:
da referência
A Natureza do Amor
Provavelmente estarão desactualizadas as interpretações psicológicas.
Ainda assim, é uma daquelas experiências que atestam o reservatório de metáforas e analogias com que enriquecemos ou anestesiamos o dia-a-dia.
Em breves palavras: alguns macacos-bebés foram colocados num ambiente experimental, afastados das suas progenitoras. Como substituto existencial daquelas, os macacos tinham à disposição duas mães artificiais:
-uma, feita de rede metálica, que fornece alimento;
-outra, que não alimenta, mas que é quente e tem uma textura suave.
Este estudo clássico revelou que os juvenis passavam a maior parte do tempo junto da mãe suave e quente, deslocando-se apenas para a fria e metálica mãe-substituta para se alimentarem.
Qual o significado existencial para o ser humano?
Não me atrevo a dissertar.
Refiro apenas que me recordei desta experiência quando li um artigo no jornal Público que relatava diversas opiniões de emigrantes que vivem em Portugal.
Um deles dizia ” Em Portugal não há dinheiro, mas há sentimentos.”
Rash Aher Jalal, é a graça do desterrado que declarou o seu amor à jangada de pedra onde habitamos.
“Num hospital de um país grande pedem a identificação e se uma pessoa não tem, não a tratam, mesmo que esteja a morrer.”
Em Portugal não é assim, constatou, depois de ter sido assistido num hospital público português.
Pelos vistos há qualquer coisa que tapa e olvida as muitas que não funcionam no nosso país. Esse indizível será idêntico à opção do macaco, que prefere a mãe-artificial quente e suave à generosa mas metálica concorrente artificial?
Uma vez mais não sei.
Tão pouco tenho a certeza de que a analogia seja apropriada.
Mas que um indizível me fez associá-las, ninguém o pode negar.
P.S. – para além de ser um estudo clássico não posso deixar de referir a beleza, ainda que um pouco pretensiosa, do título do artigo original: “The Nature of Love”.
Referências:
Harlow, Harry. 1958. The Nature of Love. American Psychologist, 13, 673-685.
Público, 8 de Novembro de 2009, p.7.
Imagens:
Daqui
Força, Força, companheiro Vasco
“Psicólogo?”, perguntou sem levantar os olhos do papel que preenchia.
“Não. Paleontólogo”, retorquiu de forma lenta.
“Sociólogo?”, perguntou, desta vez já com os olhos na criança.
“Não”, de forma seca e decidida. “P-a-l-e-o-n-t-ó-l-o-g-o”, disse pausadamente e como se soubesse soletrar.
A ignorância percorreu a enfermeira. “Que raio era aquele tólogo que o catraio lhe insistia em atirar à cara?”, deve ter pensado.
“Então é isso que queres ser quando fores grande?”
“Sim. Ir descobrir dinossauros.”
Assim respondeu Vasco, há dois anos, à enfermeira que o tratava num hospital.
São histórias destas que por vezes se escutam quando fazemos acções de divulgação do património paleontológico português. Esta foi-me contada pela mãe, logo depois de o Vasco se me ter apresentado da seguinte forma:
“Olá. Eu sou o Vasco, tenho seis anos e quero ser paleontólogo.”
A apresentação foi feita enquanto caminhávamos com o resto do grupo numa ação gratuita do Ciência Viva no Verão pela praia da Salema. Eu e ele falámos uns minutos, sobre dinossauros e as pegadas que estávamos a ver.
Após a breve conversa, dirigi-me à mãe de Vasco e disse-lhe:
“O Vasco é um miúdo esperto e despachado mas quer ser paleontólogo. Não lhe põe juízo na cabeça?”, gracejei eu, convencido que tinha piada.
Foi então que a mãe me contou a história da enfermeira que não sabia o que era um paleontólogo, e do antigo desejo de Vasco, que ainda com 4 anos de idade já queria ser paleontólogo.
Corei de vergonha.
Já há pelo menos dois anos que o Vasco quer descobrir e estudar dinossauros.
Um terço da sua vida.
Quem sou eu para brincar com os desejos de alguém que, proporcionalmente, deseja há mais tempo que eu ser paleontólogo?
Imagem:
Caderno de campo do Vasco, 6 anos. Desenho feito logo após a visita que guiei às pegadas de dinossauro da Salema. 7 de Novembro de 2009.
Grandes
Já há tempos que estas imagens me regressavam constantemente à cabeça.
O post que o Carlos Hotta apresentou uma aplicação que nos dá uma ideia dos tamanhos reduzidos que muitos seres ou estruturas biológicas podem atingir.
Isto foi o suficiente para me decidir a publicar imagens opostas: as da vastidão de escalas que a Natureza pode abarcar.
Dois exemplos:
1 – a primeira imagem ilustra a disparidade de tamanhos que o grupo Aves pode ter – um exemplar adulto de um beija-flor (género Trochiliformes) é comparado com o fémur de uma ave-elefante (género Aepyornis), já extinta;
2 – neste caso um ser humano é comparado com o úmero do dinossauro Brachiosaurus.
Imagens:
1- Thomas A. McMahon and John Tyler Bonner. 1983. On Size and Life. New York,
W.H. Freeman and Company. p. 118.
2- Luís Azevedo Rodrigues, 2006.
Som da Frente
Quando um professor se vai, ficam as suas lições.
Essas não fogem, não se vão.
A António Sérgio, um divulgador que não o querendo ser, foi um professor.
1950-2009
“Sérgio era o homem que de voz gravíssima passava os discos mais espantosos à hora do lobo na Rádio Comercial, depois na XFM e Radar. O John Peel português, que nos trazia tudo o que escapava aos holofotes nas décadas de 1980/1990. Nos meus tempos da faculdade, sobretudo em época de exames, ouvia sempre o programa dele, à noitinha, anotava nomes, entusiasmava-me com uma linha de baixo ou um refrão impiedoso. Gostava da paixão sereníssima daquela voz, daquela selecção irrepreensível, emocionava-me e aprendia. Recentemente encontrava-o às vezes no Snob, ao balcão, e por timidez não lhe agradecia, nunca lhe agradeci, e agora é tarde, ou talvez não seja.”
Pedro Mexia, aqui
Aqui, uma lista de 500 músicas passadas no Som da Frente, memórias de um passado orientado pelo António Sérgio.
Imagem:
daqui