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Imagem: daqui

Pior que Portugal? (quase) Só o Haiti.

digitalizar0003.jpgPessoa afirmava que Jesus Cristo não percebia nada de finanças.
De mim, posso dizer o mesmo.
E de Sócrates, de mão dada com o Teixeira ministro.
Da leitura matinal e soalheira do periódico El País aprendi hoje bastante.
Nos últimos dez anos, e em 180 países, apenas Itália (179º) e Haiti (180º) fizeram pior do que Portugal em crescimento económico.
Sim, lugar 178º em crescimento económico.
Tudo bem, não serão as Finanças de que Sócrates parece nada saber, mas sim a Economia.
Mas desta, e já lá vão mais de 5 anos de navegação cheia de tretas, também o governo parece desorientado.
10 anos a nada crescer.
Porque não deixa o país em paz, sr. Engenheiro?
Pode ser que o país cresça mais sem a navegação tão entendida quanto a sua.
Ou mesmo sem qualquer navegação.
Citando o El País, sr. Engenheiro, foi uma época perdida.
(clicar na imagem para aumentar)
CRESCIMENTO_ECONOMICO_PORTUGAL_2000_2010 (Large).jpg
Imagens – jornal El País, 24 de Outubro de 2010, a partir de dados do FMI.

Bichinho-de-prata (Lepisma saccharina)

(texto escrito para o “Notícias do Gil”, jornal da Escola Secundária Gil Eanes)
tv300002.jpgQue sabia eu do bichinho-de-prata (Lepisma saccharina), para além das ténues memórias? Memórias que, não sendo de nojo ou repugnância, como as que tenho das baratas, ou mesmo de alegria, como as dos bichos-de-conta, ainda assim existem. Apesar de não impressionantes, as memórias que recordo desses bichos não se foram, estão impregnadas.
Mas por que motivo não olvidei esse bichinho? Pela semi-precisosidade do seu nome comum – bichinho-de-prata? Não me parece. Decidi então procurar nos livros.
Estes animais são aquilo que os biólogos designam por cosmopolitas. Não por irem assistir a passagens de modelos a Nova Iorque, ou jantar a Paris, porque também o fazem, mas antes porque são encontrados em ambientes domésticos um pouco por todo o mundo.
Fujo da luz, porque não me é boa. Há qualquer coisa no sossego da sombra que me faz bem. Discreto e fugidio como sou, é no escuro que me sinto em casa.
Quais ratos-de-biblioteca, abominam a luz, escapando-se para locais escuros mal são descobertos. Os seus olhos compostos são muito reduzidos, valendo-se este animal de outros sentidos para sobreviver.
Os bichinhos-de-prata, insectos da ordem Zygentoma, possuem o abdómen achatado e longas antenas. Esta ordem também inclui outras 470 espécies recentes, sendo encontrado o seu membro mais antigo em rochas que datam do Cretácico inferior do Brasil, com 108 milhões de anos idade.
Julgam que não como os compêndios, não devoro os manuais, não engulo papel, enfim. A verdade é que sou letrado, não pelo estudo, mas pelo estômago.
Literalmente letrados, porque é esse um dos seus ambientes humanos preferidos, entre palavras e letras. Refugiando-se da luz e procurando um ambiente ideal para se alimentarem, os bichinhos-de-prata instalam-se entre páginas de livros. Por aí andam, embora não só de celulose se alimentem, já que poeiras e outros restos orgânicos fazem parte da sua alimentação. Como poucos outros insectos que se alimentem de restos orgânicos, os bichos-de-conta possuem substâncias que transformam a celulose (enzimas), não necessitando de estabelecer parcerias com bactérias para digerir o material de que são feitos os livros.
Sempre que um desses bichos enormes abre os livros onde me escondo, fujo, e se por algum motivo me apanham, as bestas enormes ficam com as suas mãos cobertas de restos das escamas prateadas que revestem todo o meu corpo.
Sem asas e com apenas um centímetro de comprimento, safam-se rapidamente com as suas seis pernas sempre que regressamos a um livro há muito fechado. No último segmento abdominal têm três cerdas que lhes conferem o seu aspecto característico, para além da cor prateada que lhes valeu o nome comum.
E a fama de bicho letrado. Pelo menos para mim.
Apesar de não ser esquisito, há autores que prefiro para os meus repastos: o negrume das páginas de um livro de Saramago deixa-me, por vezes enfastiado; o branco em excesso dum poema da Sophia, apesar de satisfatório, causa-me algum desconforto, pois sinto-me desprotegido. Já a assimetria dos textos do O’Neill me deixa um pouco sem saber para que lado ir.
Imagem: daqui

O regresso da tipa

bill,brandt,black,white,classic,miners,photography,south,wales-71269b11297e5b74c3e7f0ca3dd876cf_h.jpgA tipa iniciou o seu degredo quando eu ouvi um dia “O Inferno são os outros”.
Exagero, sempre me pareceu, embora com os anos uma patine de verdade lhe tenha assentado. E ela começou a ir-se.
Cada vez a vejo menos. Há dias que se foi de vez, penso.
Bancos, governos corruptos e/ou incompetentes, entre muitas outras inerências à condição humana, originaram que a frase de Sartre se tornasse um mantra para o mundo. Mantra a que resisto, é certo, mas persistente.
A crise gerada por homens que comem homens, outrora apelidados de canibais mas hoje em dia baptismo de especuladores financeiros, lançou o mundo na confusão e no caos. Estados que foram em auxílio da banca, à custa dos seus cidadão, pagam agora aquela ajuda com juros muito superiores.
Como há-de ela voltar?
A tipa tem razão, melhor que não a vejam.
O Inferno são os bancos?
Talvez.
O cinismo existencialista de Sartre não foi, nem é capaz de atrofiar a alegria quando vi o último mineiro chileno sair da cova.
A tipa, cada vez mais solitária nos dias que voam, insiste em regressar-me.
Gosto dela sempre que me visita, mesmo que à saída de uma mina chilena. E ainda que a tentem afastar com Sartrices do tipo “Só se safaram porque as TV’s quiseram” ou “Havia de ser na China que iam ver o que lhes tinha acontecido”, a verdade é que ela voltou-me.
Por quanto tempo?
Não sei.
Há dias em que a tipa me volta a aparecer.
Ainda bem que voltaste, esperança.
Imagem: Bill Brandt – Miners Returning to Daylight, South Wales (1931-35)

Embeiçamentos

01drawin.jpgNo meio de discussões esporádicas (graças a Deus…) que tenho no Twitter com os que designo de PS-boys, saliento a confusão que grassa naquelas cabeças.
Não me importaria um folículo se as ideias arreigadas naquelas vazias cabeças não fossem as mesmas do actual governo.
A questão passa pelo deslumbramento vigente pelas novas tecnologias, vulgo Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s).
Para os iluminados com quem discuto, o futuro do país passa, sem qualquer margem para dúvida, pela generalização massiva entre os jovens de Magalhães e outros derivados. Salientam, ainda, que as excelências desse novo mundo civilizacional só se farão sentir dentro de décadas.
Esta linha de raciocínio carece de sustento racional, revelando antes que estes senhores, e o governo por analogia de pensamento, confundem dois conceitos: Educação e TIC’s.
Enquanto a Educação poderá passar, com dificuldade é certo nos tempos que correm, sem as TIC’s, estas não servirão para nada sem uma formação educativa. Seguro como a gravidade.
Pensar e expressar o que se pensa é garante de que se poderá utilizar minimamente qualquer ferramenta tecnológica. Mais difícil, se não impossível, será quem não amestrou o seu raciocínio ou calcorreou os caminhos da expressão do seu intelecto, fazê-lo apenas com as TIC’s.
Reconheço vantagens nas tecnologia de informação e comunicação num contexto educativo, mas é um erro sobrepô-las às ferramentas básicas: ler, escrever e contar.
Esta inversão de prioridades é análoga à que vigorou há anos, onde o deslumbramento pelas auto-estradas asfaltou outras prioridades. Agora, temos o deslumbramento pelas novas tecnologias.
Ambos os embeiçamentos se esqueceram do essencial, ou seja, para quem se dirigem a Política e as políticas: para as pessoas.
Imagem – Pieter (the Elder) Bruegel “The Ass in the School” , 1556
Pen and Indian ink, 232 x 302 mm
Staatliche Museen, Berlin

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Imagem: Alexey Sukhopar, daqui