Signs

Nota (6 de Maio, 15h30): O vídeo foi retirado do Vimeo. Desconheço o motivo e qualquer outra fonte alternativa. É pena porque era um belo argumento…
Nota (7 de Maio, 11h25): reencontrei o filme…o prazer do reencontro.

A idade ou a cada vez maior necessidade na contenção da palavra força-me a emoção.
Uma boa história necessita apenas de isto.
Com ou sem final feliz.

Do Fundo

Drifters of the deep from Eugenia Loli-Queru on Vimeo.

Noblella pygmaea

Noblella pygmaea – 11,4 milímetros de vida…

Referência:
A New Species of Minute Noblella (Anura:Strabomantidae) from Southern Peru: The Smallest Frog of the Andes. Copeia, Volume 2009, Issue 1 (February 2009), pp. 148-156.

Imagem
daqui

Paleo talk ou Miragaia longicollum

Logo após a publicação do artigo científico que descrevia um nada usual estegossáurio, enviei um pequeno questionário ao paleontólogo Octávio Mateus.
Pretendia que Mateus, numa linguagem acessível, descrevesse o Miragaia longicollum bem como a importância deste exemplar para a compreensão da vida passada na Terra.

Aqui está a mini-entrevista ou, como prefiro, uma troca de mails entre paleontólogos:

Ciência Ao Natural (CAN): Como apresentaria este novo dinossáurio ao público?
Octávio Mateus (OM): Como todos os dinossauros estegossauros é um quadrúpede herbívoro, com placas no dorso, espinhos na cauda e membros anteriores curtos. Mas ao contrário dos outros estegossauros, este tem um pescoço invulgarmente longo, com 17 vértebras cervicais, o que representa 10 a mais do que a girafa e o maior número entre todos os dinossauros não-avianos.

CAN: Esqueça que participou nesta descoberta. Como classificaria a importância deste fóssil?
OM: Este fóssil é um dos dinossauros portugueses mais completos e o facto de ser um novo taxon vem reforçar a importância de Portugal no cenário da riqueza mundial de dinossauros. A sua inesperada característica de pescoço longo leva-nos a uma série de questões fascinantes sobre a evolução destes dinossauros. Além disso, o Miragaia longicollum demonstra a plasticidade evolutiva dos dinossauros.

CAN: As semelhanças morfológicas, ao nível do esqueleto do pescoço, entre dois grupos de dinossáurios distintos como os saurópodes e o estegossáurios são evidentes nunca antes registadas. Que podemos inferir destas parecenças, ao nível da evolução dos dinossáurios?
OM: As semelhanças mostram que a convergência evolutiva é tão surpreendente como lógica e expectável. Ou seja, se por um lado ninguém esperava ver um estegossauro com 17 vértebras cervicais e superficialmente parecido a um saurópode, por outro lado, a plasticidade evolutiva associada à necessidade de adaptação ao mesmo ambiente dos saurópodes faz da convergência um processo comum e expectável.

CAN: Qual o dinossáurio que gostaria de descobrir em Portugal? Porquê?
OM: Gostaria de descobrir algo que não estivesse à espera de o fazer. Quanto mais inusitado, mais interessante será. Uma descoberta verdadeiramente inesperada levantaria muitas mais questões científicas e tornaria a paleontologia ainda mais cativante.

CAN: Qual o conselho que daria a um jovem português que gostasse de seguir as “pisadas” de Octávio Mateus?
OM: Sem me considerar um modelo, acho que o desejo de aprender mais sobre história natural é a minha grande motivação. Aconselho a interessarem-se pela história natural e nunca perderem a vontade de estudar.

Referência: Mateus, O., Maidment, S.C.R., and N.A. Christiansen. 2009. A new long-necked ‘sauropod-mimic’ stegosaur and the evolution of the plated dinosaurs. Proceedings of the Royal Society B, first online. DOI 10.1098/rspb.2008.1909.
Imagens: do blog Lusodinos

A baleia grávida, a tartaruga no árctico e a que não tentou Eva…

Antes de terem perdido a capacidade de andarem, mas não de fazerem milhares de quilómetros, vogando pelos oceanos.
Antes mesmo, continuavam a engravidar.
E regressavam à telúrica maternidade.
O levanta-te e caminha já não fazia parte dos seus milagres.
Regressavam à terra que haviam deixado.
Para parir.

“Reuters – Fossils from two early whales — a male and a rare pregnant female — shed light on how these ancestors to modern whales made the leap from walking on land to ruling the sea.
The fetal remains, found with the 47.5 million-year-old pregnant female, were positioned head down, suggesting these creatures gave birth on land, while spending much of the rest of their time in the water.
Initially, the tiny fetal teeth stumped University of Michigan paleontologist Philip Gingerich, whose team discovered the fossils in Pakistan in 2000 and 2004.”

Os cálidos ambientes já não faziam parte do seu dia-a-dia.
Tinha mesmo abandonado um qualquer dia-a-dia há 90 milhões de anos.
Acordou pétrea, rodeada de branco gélido.
Fria.
Nunca o tinha sentido.
Estava longe.
Em temperatura, tempo e distância.

“LiveScience.com Sun Feb 1, 1:46 pm ET
The last place scientists expected to find the fossil of a freshwater, tropical turtle was in the Arctic. But they did. The discovery, detailed today in the journal Geology, suggests animals migrated from Asia to North America not around Alaska, as once thought, but directly across a freshwater sea floating atop the warm, salty Arctic Ocean. It also provides additional evidence that a rapid influx of carbon dioxide some 90 million years ago was the likely cause of a super-greenhouse effect that created extraordinary heat in the polar region.”

Podia haver tentado Eva apenas com a lonjura.
Não o fez.
Apenas alongou a sua existência não-viperina.

“The Reptipage – The other major discovery came out today in Nature. Researcher Jason Head, and colleagues have discovered the world’s largest snake. The new snake has been dubbed: Titanoboa cerrejonensis, and it has been estimated to grow to a whopping 13 meters in length (43ft) and could have weighed as much as 1,135kg (2,500lbs). The fact that this immense animal even existed, is amazing enough, but the researchers took their find a little further.”


Referências

1 – Gingerich PD, ul-Haq M, von Koenigswald W, Sanders WJ, Smith BH, et al. 2009 New Protocetid Whale from the Middle Eocene of Pakistan: Birth on Land, Precocial Development, and Sexual Dimorphism. PLoS ONE 4(2): e4366. doi:10.1371/journal.pone.0004366

2 – Vandermark, D., Tarduno, J.A., Brinkman, D.B., Cottrell, R.D., Mason, S. 2009. New Late Cretaceous Macrobaenid Turtle with Asian affinities from the High Canadian Arctic: Dispersal via Ice-Free Polar Routes.Stephanie Mason. Geology, Vol 37.

3 – Head, J.J.,Bloch, J.I., Hastings, A.K., Bourque, J.R., Cadena, E.A., Herrera, F.A., Polly, D.P., Jaramillo, C.A. 2009. Giant Boid Snake from the Palaeocene Neotropics Reveals Hotter Past Equatorial Temperatures. Nature. Vol 457 :715-717 doi:10.1038/nature07671

Imagens – de 1, de 2 e de Kenneth Krysko/University of Florida/AP Photo.

Anjos voyeurs

Não pude deixar de os associar.
Uma das cenas em que o anjo Damiel, ansiando ser mortal, se ocupa em escutar os pensamentos dos mortais passageiros…

…e esta aplicação que agrega, em tempo real, posts do Twitter e que incluam as palavras “love”, “hate”, “I think”, “I wish”, entre outras.

Momentaneamente.
Anjos voyeurs.

Referências:
Der himmel uber Berlin (As asas do desejo) – de Wim Wenders
twistori

Quer conhecer NY?

…num monólogo genial de Brogan (Edward Norton), carregado de desespero mais do que ódio, leva-nos à nova Roma.

A descrição da Metrópole feita por quem irá passar os próximos anos no cárcere.
Mais do que o desprezo, é uma longa declaração de amor às tribos que habitam a mais europeia das cidades norte-americanas.
Uma despedida de quem podia mas não foi.

P.S. – a Última Hora, de Spike Lee, de onde este monólogo foi retirado, com som de fundo de Terence Blanchard.

Patas para que vos quero!

ResearchBlogging.org A propósito do aparecimento dos primeiros tetrápodes e do Tiktaalik, republico um post e artigo de jornal que publiquei em 2007.

“Tira daí as patas!”, grita um qualquer mamífero de forma semi-agressiva.

Mas e se fosse um peixe?
“Dois belos pés!” afirma o comentador desportivo, numa tarde de futebol.
Nós temos. Os peixes não.
A “simples” diferença na forma do esqueleto, como ter “mãos” e “pés” ou autópodes, carrega uma importante história evolutiva desde os peixes até aos animais como nós.
Ao segurar um jornal, o leitor está, em termos evolutivos, a utilizar uma barbatana muito complexa e evoluída, e pertence a um grupo de vertebrados chamados tetrápodes, animais com quatro membros, que incluem animais como os mamíferos, aves, répteis e anfíbios.

O aparecimento dos ossos dos dedos em alguns anfíbios deveria ser resultado de nova “maquinaria” genética, pois todas as estruturas orgânicas são o resultado da informação que está contida nos genes. Será assim?


Um estudo publicado, a 24 de Maio (de 2007), na revista Nature, refere que os genes necessários à formação dos dedos das “mãos” e “pés” dos tetrápodes têm uma história que remonta há 360 milhões de anos ou seja antes de os animais terem feito a “invasão” da terra. O estudo molecular dos genes HoxD (genes reguladores do desenvolvimento em diferentes organismos e áreas do corpo, concretamente no desenvolvimento do esqueleto apendicular, i.e., dos membros) vem mostrar que o património genético necessário já estava presente em peixes primitivos como o actual peixe actinopterígeo Polyodon spathula, considerado um autêntico fóssil vivo.
A análise genética deste animal permitiu afinar as informações paleontológicas com as da biologia do desenvolvimento, possibilitando que estas analisassem dados genéticos de peixes menos “evoluídos” – os actinopterígeos – e os comparassem com os dos tetrápodes. Tradicionalmente, estas análises eram efectuadas em peixes mais “evoluídos”, os teleósteos.

Os estudos paleontológicos em exemplares de transição morfológica entre peixes e animais com verdadeiros membros locomotores deixavam em aberto a possibilidade daquela “revolução” evolutiva se ter dado de uma forma rápida em termos de tempo geológico mas o Polyodon revelou que o património genético que permitiu o aparecimento de verdadeiras patas é mais antigo do que se suponha.
Fundamental para se compreender esta “novela” científica é o conhecimento dos fósseis de transição deste trajecto evolutivo.
Os “fotogramas” que permitem visualizar as alterações morfológicas entre as barbatanas e verdadeiros membros locomotores são vários. Conhecia-se já há algum tempo a parte mais inicial do “filme” – os peixes
Eusthenopteron e Panderichthys – e a mais avançada – os anfíbios do Devónico superior como Acanthostega e Ichthyostega. Recentemente foi descoberto mais um “fotograma” – o peixe Tiktaalik; este, apresenta um mosaico de características morfológicas antigas e modernas, no trajecto evolutivo para o aparecimento de verdadeiros autópodes.

Algumas curiosidades morfológicas destes “primos” afastados: Ichtyostega possuía sete dedos em cada pata; o Acanthostega, oito.
Desculpem mas não resisto a dizer: “vão-se as barbatanas mas fiquem os dedos!”.
Da próxima vez que um qualquer criacionista falar em falta de fósseis de transição nada como descrever estes belos nomes –
Eusthenopteron, Panderichthys, Acanthostega, Tiktaalik e Ichthyostega!

Um outro estudo, de 2006 e desta vez embriológico, levado a cabo em Barcelona, permitiu analisar o processo de formação e disposição de dois ossos do pé em embriões humanos – o calcâneo (osso que constitui o nosso calcanhar) e o astrágalo, ambos ossos do pé.
Foram descritas semelhanças morfológicas entre um embrião humano de 33 dias, nas extremidades inferiores, com barbatanas; aos 54 dias o calcâneo e o astrágalo estão localizados no mesmo preciso local que em Bauria cynops, um réptil mamaliforme que viveu há 260 milhões de anos. As semelhanças anatómicas de posicionamento às 8 semanas e meia dos ossos referidos são enormes entre o embrião humano e a espécie fóssil Diademodon, que viveu há 230 milhões de anos.
Os autores afirmam que, nesta fase, o posicionamento, e respectivas consequências ao nível da locomoção, dos ossos analisados estão a meio “caminho” entre répteis e mamíferos. Este tipo de análises incr
ementa o conhecimento morfológico efectuado por vários autores no séc. XIX, mesmo antes de Darwin publicar a sua obra magna, como Karl Ernst von Baer (1792-1876), que notou semelhanças morfológicas entre embriões de grupos diferentes.
Conta a “tradição”, que von Baer, trabalhava no seu gabinete, e encontrou dois frascos com embriões de aves e lagartos; sem rótulos, não os pôde distinguir à primeira vista…

Von Baer propôs que estádios embrionário iniciais conservavam padrões morfológicos comuns a vária espécies sendo os estádios mais avançados reveladores de divergência morfológica – as similitudes observadas entre embriões humanos e espécies do passado comprovam que anda bem que os frascos de von Baer deveriam ter os rótulos!
Resumindo: espécies que divergem morfologicamente em estádios mais iniciais irão ser morfologicamente mais distintas em estádios adultos.

Von Baer foi pioneiro nas propostas que fez ao nível do desenvolvimento embrionário sendo o seu trabalho basilar numa das áreas mais importantes das Biologia actual – a evolução e o desenvolvimento, Evo-Devo.
De tudo o que vimos só me resta afirmar que a as teorias evolutivas que explicam o nosso trajecto na história da Terra têm cada vez mais “pés para andar…!”
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 31/5/2007)

BIBLIOGRAFIA
Carroll, R.L., Irwin J. & Green, D.M. 2005. Thermal physiology and the origin of terrestriality in vertebrates. Zool. J. Linn. Soc. 143: 345-358.

Carroll, S. B. 2005. Endless Forms Most Beautiful: The New Science of Evo Devo and the Making of the Animal Kingdom, W. W. Norton & Company.

Davis MC, Dahn RD, & Shubin NH (2007). An autopodial-like pattern of Hox expression in the fins of a basal actinopterygian fish. Nature, 447 (7143), 473-6 PMID: 17522683

Evo-Devo – http://www.pnas.org/cgi/content/full/97/9/4424

Goodwin, B. 1994. How the Leopard Changed its Spots, Phoenix Giants.

Isidro, A. & Vazquez, M.T. 2006. Phylogenetic and ontogenetic parallelisms on talo-calcaneal superposition. The Foot 16, 1-15.

FIGURAS
Carroll, R.L., Irwin J. & Green, D.M. 2005. Thermal physiology and the origin of terrestriality in vertebrates. Zool. J. Linn. Soc. 143: 345-358.

Clack, J. 2002. An early tetrapod from Romer’s Gap, Nature 418, 72 – 76.
Horder, T.J
. 2006. Gavin Rylands de Beer: how embryology foreshadowed the dilemmas of the genome. Nat Rev Genet. 7(11):892-8.

Nada se olvida

“>Nada se olvida

todo se guarda en paquetitos de memoria

todo es historia

lo que recuerdas y lo que tienes oculto.

Luciana Carlevaro, o nome oculto por detrás da cantora, sediada em Barcelona mas porteña, Nubla.
A ver se não me esqueço do que diz…e já agora dela também.

Fonte – descobri-a na campanha Try life in another language do Channel4.com.

Para ouvir estes belos olhos – aqui.

AGRICULTOR DE BALCÃO

Não sei se era o apelo telúrico.
Ou a crise que impele à acção o agricultor citadino recalcado.
Ou ainda um mero passatempo.

A verdade é que se discutiam e comparavam sementes de coentros e de salsa.
Trocavam-se argumentos quanto ao calcamento da terra.
Adubavam-se conselhos hídricos.
E tudo ao balcão de um café em pleno centro de Lisboa, junto ao Príncipe Real.

Imagens – daqui