Orçamento Participativo Portugal – O Que Fazem as Pedreiras Quando se Reformam?
Sendo descaradamente auto-promocional:
escrevi e submeti ao Orçamento Participativo Portugal, o Projeto “O Que Fazem as Pedreiras Depois de Se Reformarem”.
Peço a vossa ajuda, por intermédio do voto (instruções abaixo) e da divulgação, neste projeto que pretende aliar a Ciência, o Património Natural e a Cultura algarvias.
Obrigado antecipadamente pela ajuda.
Projeto 222 – O Que Fazem as Pedreiras Depois de se Reformarem?
Tal como as pessoas que após se reformarem têm histórias e percurso a contar, também as pedreiras depois de abandonadas podem revelar muito sobre a economia e a geologia regional.
Este será um inventário descritivo, geológico e das utilizações económicas dos materiais extraídos das pedreiras abandonadas do Algarve. Esta inventariação e estudo com componente fotográfica, permitirá o seu conhecimento e possível utilização turística. Este estudo e inventário será completado com o registo fotográfico e/ou vídeo de antigos pedreiros.
COMO VOTAR no projeto 222
Enviem uma SMS grátis para o número 3838
O formato da mensagem deve ser:
OPP 222 Número de Identificação Civil
O Número de Identificação Civil deve incluir os dígitos de controlo, 4 dígitos adicionais no caso do Cartão de Cidadão ou 1 dígito adicional no caso do Bilhete de Identidade.
Ou ONLINE: https://opp.gov.pt/projetos/todos/222-o-que-fazem-as-pedreiras-depois-de-se-reformarem
SOBRE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO PORTUGAL
“O Orçamento Participativo Portugal (OPP) está já na sua fase decisiva.
Até 10 de Setembro decorre a votação de todos os projectos apresentados ao abrigo nas áreas contempladas no OPP, e que vão ser financiados pelo Governo com 3 milhões de euros.
O OPP é um processo democrático, directo e universal, e a votação está aberta a todos os cidadãos.
A votação pode ser feita directamente em https://opp.gov.pt/ ou através do envio de uma mensagem de telemóvel.”
Geologia e Paleontologia Urbana – livros
Ao fim de alguns anos são agora publicados três livros bilingues, português e inglês, que escrevi em parceria relativos à Geologia e Paleontologia Urbana de três cidades portuguesas, mais concretamente do Algarve – Faro, Lagos e Tavira.
Como sou o autor, parece-me mais adequado transcrever o que foi escrito sobre estes livros em dois jornais.
Entrevista na rádio nacional Antena1 pode ser escutada aqui.
“Um projeto pioneiro, inovador e original» é como Luís Rodrigues, diretor do Centro de Ciência Viva de Lagos (CCVL), define os novos Guias de Geologia e Paleontologia Urbana que, no conjunto, propõem mais de uma centena de descobertas em três cidades algarvias. O primeiro, dedicado a Lagos, vai ser lançado sexta-feira, 29 de janeiro.
Ciência, história e património juntam-se para uma proposta simples – descobrir diferentes tipos de rocha em ambiente urbano, admirando o seu enquadramento e contexto específicos. «A geologia e paleontologia urbana explicam a história das rochas que constroem os nossos equipamentos. A ideia é visitar locais nas cidades, olhando para aquilo que os constrói, os materiais com diferentes origens, percursos e idades. Muitas destas rochas têm vestígios visíveis de seres vivos com milhões de anos», explica Luís Rodrigues, mentor dos novos guias.
A ideia surgiu em 2013, quando coordenava em simultâneo os Centros de Ciência Viva de Faro, Tavira e Lagos. O objetivo era criar um produto (guias) e atividade (visitas), que pudessem de alguma forma unir os três centros algarvios.
«Todas as semanas fazia algo que me dava imenso prazer. Circulava pelas cidades à procura de diferentes rochas. É uma maneira diferente de olhar para as coisas. Isso é também um dos principais objetivos destes guias, ou seja, desafiar as pessoas a modificar um pouco a maneira como olham para as rochas e verem tudo o que normalmente lhes passa despercebido», explica.
Os três primeiros Guias de Geologia e Paleontologia Urbana são dedicados às cidades de Lagos, Faro e Tavira. Os percursos sugerem pontos de interesse variados, desde cafés, muralhas, igrejas, praças, monumentos e conventos, até cemitérios, entre outros.
«Embora existam publicações de caráter científico, este é um projeto pioneiro a nível nacional em termos de livros destinados ao grande público». É uma forma de despertar o interesse e aproximar os residentes, escolas e o turismo da geologia e paleontologia.
Além disso, «provam que o Algarve tem muito mais do que sol e praia para oferecer. Enriquecem ainda mais a oferta turística e cultural no Algarve», sublinha.”
«A nossa missão nos Centros de Ciência Viva é promover a ciência e tecnologia, mas estas não estão isoladas de tudo o resto. A arte, a história, o património estão também aqui presentes.
Desenvolvemos uma estratégia que permitiu integrar várias áreas do conhecimento».
Participaram ainda na concepção dos Guias Rita Manteigas, historiadora e autora responsável pelos textos de complemento histórico, e Margarida Agostinho, professora de Biologia e Geologia e Ciências naturais, em Lagos.
O cemitério da Igreja do Carmo, em Tavira, é um dos pontos de paragem que mais encantou Rodrigues. «Gosto muito desta história. Neste cemitério existe a campa de um soldado. Com o tempo, a erosão fez aparecer amonites. Aos meus olhos, acabam por ser dois seres vivos que lá estão sepultados. Um humano e um outro ser com mais de 100 milhões de anos. Há ali uma partilha entre seres de diferentes espécies e diferentes tempos, e tem, para mim, um simbolismo quase poético», revela.
Outro exemplo é o tampo do balcão de um café. «Entrei apenas para pedir um café. No entanto, comecei a olhar para esta rocha incrível que era o tampo do balcão, com mega cristais e auréolas verdes enormes. Vim a descobrir que é um impressionante granito finlandês. A rocha mais antiga do nosso percurso em Tavira. Os donos não tinham noção. Disseram-me que achavam-no bonito e o tinham aproveitado de um outro café».
“Quem entra numa igreja para a visitar, olha para as pedras dos arcos, pórticos e colunas, mas apenas para apreciar o estilo e a mestria de quem as esculpiu. Mas agora há um guia que quer pôr os visitantes a olhar de outra forma para as pedras, que até contam histórias bem mais antigas que o próprio monumento.
Se já teve a sorte de apanhar aberta e visitar a Igreja de São Sebastião, em Lagos, certamente nunca reparou nos fósseis com 150 milhões de anos que existem na rocha em que é feita a pia batismal. E quem fotografa o D. Sebastião, na baixa da cidade, talvez nunca tenha olhado bem para as quatro diferentes rochas que foram usadas pelo escultor João Cutileiro para fazer a estátua do rei menino.
Amanhã , no âmbito dos festejos do feriado municipal de Lagos e do sétimo aniversário do Centro Ciência Viva da cidade, este CCV vai lançar o «Guia de Geologia e Paleontologia Urbana de Lagos», da autoria de Luís Azevedo Rodrigues e Margarida Agostinho, que pretende, precisamente, dar a conhecer as rochas e os fósseis que fazem parte de igrejas, monumentos e outros edifícios e equipamentos urbanos.
Este é o primeiro de uma série de três guias a ser editados em 2016, sobre as três cidades algarvias com Centros Ciência Viva – Faro, Lagos e Tavira. Os de Faro e Tavira, segundo revelou Luís Azevedo Rodrigues ao Sul Informação, deverão ser lançados durante o próximo mês de Fevereiro.
O diretor do CCV de Lagos, ele próprio doutorado em Paleontologia, conta que a ideia de fazer estes guias surgiu quando era coordenador dos três Centros Ciência Viva existentes no Algarve, numa «tentativa de coordenar a sua intervenção e de os unir num projeto comum». A ideia, explica em entrevista ao nosso jornal, «foi criar um roteiro usado pelos CCV para divulgar a cidade, mas sob o ponto de vista geológico e paleontológico».
«O que queríamos é que as pessoas fossem, por exemplo, visitar uma igreja ou as muralhas e olhassem também para os materiais geológicos que constroem esses monumentos. Essas rochas têm uma história, uma cronologia, por vezes têm fósseis, outras vezes vieram de muito longe para serem usadas neste ou naquele edifício, fizeram um longo caminho para cá chegar».”
Excerto do jornal Sul Informação
Imagens: do jornal Barlavento e dos Guias de Geologia e Paleontologia Urbana de Lagos, de Faro e de Tavira.
Referências:
Rodrigues, L.A. and Agostinho, M. (2016) Tavira – Guia de Geologia e Paleontologia Urbana – Urban Geology and Paleontology Guide. Lagos Ciência Viva Science Centre Editions, 120pp. ISBN 978-989-99519-0-7.
Rodrigues, L.A. and Agostinho, M. (2016) Lagos – Guia de Geologia e Paleontologia Urbana – Urban Geology and Paleontology Guide. Lagos Ciência Viva Science Centre Editions, 124pp. ISBN 978-989-99519-2-1.
Rodrigues, L.A. and Agostinho, M. (2016) Faro – Guia de Geologia e Paleontologia Urbana Urban Geology and Paleontology Guide. Lagos Ciência Viva Science Centre Editions, 114pp. ISBN 978-989-99519-1-4.
Únicos e Bons: Ciência Viva no Verão
Pelo país fora, são mais de 1100 atividades gratuitas onde a ciência e a tecnologia se cruzam com as tradições ou o património natural, da engenharia da visita à Ponte 25 de Abril ou à geologia das encostas do Douro.
Outras coisas haverá para legitimar o título mas agora escrevo sobre a promoção da ciência e da tecnologia feita em Portugal durante o Verão, mais concretamente da 19.ª edição do Ciência Viva no Verão (CV Verão). E o título é mais do que merecido para este programa.
Salvo erro, este é um programa único e gratuito a nível mundial, onde durante os meses de Verão, a ciência e a tecnologia são as personagens centrais de visitas e passeios, observações e caminhadas. O CV Verão, promovido pela Agência Nacional Ciência Viva, procurou sempre envolver os cientistas e as entidades que se dedicam à investigação e divulgação da ciência com o cidadão comum, particularmente neste caso o que se encontra de férias.
Parece paradoxal que, durante as férias se gaste tempo a aprender ou ver com outros olhos o mundo que nos rodeia, se façam visitas acompanhadas. Mas para além de enriquecedoras, na época chamada de tonta, esta foi e é uma ideia vencedora. Graças à visão de que proporcionar aos veraneantes formas de enriquecer a sua literacia científica e tecnológica, conhecer o património natural do seu país ou mesmo apenas olhar as estrelas, o Ciência Viva no Verão sempre foi considerado um ovo de Colombo da divulgação. Tal como outras simples ideias vencedoras, o CV Verão é reconhecido pela maioria e é dado como adquirido. Mas às vezes só valorizamos quando perdemos o que nos está próximo. Este ano, o CV Verão continua com a mesma filosofia dos anos anteriores apenas com uma diferença: é a Rede Nacional de Centros Ciência Viva a responsável pela coordenação deste programa.
Há momentos únicos nestes 18 anos de CV Verão, momentos que o quase meio milhão de participantes das 25 mil ações puderam vivenciar no passado. Eu não me posso esquecer de dois enquanto dinamizador de visitas às pegadas de dinossauro da Salema. O primeiro é a história do Vasco que queria ser paleontólogo, que me deixou a pensar que não devemos ser condescendentes com os mais pequenos, em especial quando estes estão decididos a seguir uma carreira científica, porque também esta é também uma das qualidades do CV Verão, promover a ciência enquanto carreira. A outra envolveu turistas alemães que me queriam obrigar a receber o dinheiro, porque achavam que este tipo de ações deveria ser paga. A verdade é que o CV Verão é um investimento mas é um investimento ganho pois dar a conhecer a ciência, a tecnologia e o património natural, é um investimento que nunca será um investimento perdido.
No Algarve, os três centros Ciência Viva aqui existentes (Faro, Lagos e Tavira) organizaram 260 atividades gratuitas, dos “Astros e Sons Noturnos na Ria Formosa” onde se alia a observação dos astros com a audição da fauna da ria ou perceber o curso feito “Da Pedra calcária à cal das nossas casas”, uma descoberta da transformação do calcário em cal na Aldeia de Santa Rita ou mesmo uma visita guiada às pegadas de dinossauro da Praia Santa.
Pelo país fora, são mais de 1100 atividades gratuitas onde a ciência e a tecnologia se cruzam com as tradições ou o património natural, da engenharia da visita à Ponte 25 de Abril ou à geologia das encostas do Douro.
Aproveite o Verão com Ciência no Ciência Viva no Verão em Rede 2015!
Inscrições e informações – Ciência Viva no Verão em Rede
Falhas
Descubra as falhas:
a) geológicas;
b) no ordenamento do território.
Imagem: Luís Azevedo Rodrigues (Abril 2013)
Local: Praia da Salema, Vila do Bispo.
Os meus dias já foram mais pequenos
Actualizado com artigo de 2020 em 18 de Fevereiro de 2021.
Aproveito-o agora para para ser publicado aqui e também no jornal Sul Informação).
Quando crianças os dias parecem durar e durar, havendo tempo para (quase) tudo. Há tempo de sobra para brincar, rir e fazer tudo e mais alguma coisa.
À medida que ganhamos rugas e dores nas costas, a divindade do tempo infinito encolhe e parece que o tempo já não é o que era.
Ele não chega para nada, que está cada vez mais curto, que o tempo corre mais que a gente.
Quantas vezes já escutámos “O meu dia deveria ter 25 horas” ou “Só queria mais umas horas por dia”.
As mudanças de percepção que a idade traz à duração dos dias são isso mesmo, mudanças na percepção.
Mas os dias já foram mesmo mais pequenos. Por outras palavras, a Terra já demorou menos tempo a efectuar o seu movimento de rotação.
O nosso planeta já teve dias mais pequenos do que as 24 horas a que estamos habituados.
A responsabilidade pelo aumento dos dias cabe às marés, sendo estas provocadas pela atracão gravitacional da Lua sobre o nosso planeta.
De forma breve: a atracão da Lua sobre a Terra origina acumulação de água do mar no lado que está diante dela (maré alta) e também do lado terrestre oposto*. Simultaneamente existirão locais onde essa água “faltará”, observando-se nestes locais a maré baixa.
Como o sentido da rotação da Terra é o mesmo que o da translação da Lua, mas muito mais rápido, gera-se um efeito de fricção da água do mar com os fundos oceânicos, que, aliado à inércia da própria água, abranda a rotação da Terra.
Um efeito semelhante também é exercido pela Terra sobre a Lua. Como a Terra tem muito mais massa do que o nosso satélite, o nosso planeta já conseguiu deter o seu movimento de rotação, motivo pelo qual vemos sempre a mesma face da Lua.
Não entrarei em maiores detalhes sobre a mecânica celeste deste processo, mas refiro apenas que a Terra sofre actualmente um aumento nos seus dias de cerca de 1.8 milissegundos por século – alguns autores referem 2.3 milissegundos por século.
Obrigado pela ajuda, dirão os mais necessitados de dias maiores, em tom de sarcasmo.
A estes responderei que simulações feitas por computador permitiram deduzir que os dias tinham, quando a Terra estava no seu início, apenas 6 horas. Aquilo que a maior parte de nós passa hoje a dormir era a duração de um dia inteiro há cerca de 4.5 mil milhões de anos.
Mais: a análise do ritmo do crescimento diário de corais fossilizados, por exemplo, permitiu deduzir que a duração dos dias há 400 milhões de anos era de 22 horas.
E agora, caros desejosos-de-dias-maiores, estão satisfeitos com a vossa situação actual? Dias com 24 horas?
Era muito pior há milhões de anos.
Sim, porque, ao contrário de nós à medida que envelhecemos, os dias da Terra vão ficando cada vez maiores. Literalmente.
* por motivos de simplificação para o caso que se descreve omite-se o efeito do Sol.
Referências:
Williams, George E. (2000). Geological constraints on the Precambrian history of Earth’s rotation and the Moon’s orbit. Reviews of Geophysics, 38 (1) pages 37–59.
Imagens:
1 – La Voyage dans la Lune de Georges Méliès
2 – Daqui
3 – Daqui
4 – atualização com artigo de 2020 e informação paleontológica.
5 – artigo de divulgação que resume o artigo 4.
(Este texto foi escrito como a minha colaboração para a ação interCiência, em que eram trocados de forma anónima textos entre blogs. Este texto foi a minha “oferta” para o blog Curioso Realista, onde foi publicado originalmente.
A Amonite e o Mamífero
Os companheiros de uma vida escolhem-se, por vezes.
Os companheiros para toda a vida, por vezes, esbarram um no outro e acabam por compartir um comum e eterno caminho de tempo e de espaço.
Acasos, dizem.
Dois seres vivos que apenas partilham um ancestral de há centenas de milhões de anos, partilham agora um descanso em conjunto.
Do mamífero, apenas se sabe o nome e a profissão – militar, dos finais do dezanove, em linguagem de historiadores.
A amonite, de tempos jurássicos, repousou sem vida em fundos marinhos. Da campa rochosa de origem marinha, os humanos deram-lhe uso para outra laje, a do mamífero militar.
Jazem juntos, agora, lá para os lados de Tavira.
O mamífero e a amonite.
P.S. várias amonites numa campa junto à Igreja do Carmo, Tavira.
Uma das várias paragens da visita de Geologia e Paleontologia urbanas “Do Museu Ao Convento”.
Grand Canyon e a Arte
É socialmente reprovável cometer um deslize na História ou Literatura; mas é desculpável se se afirmar que no Marão existem pegadas de dinossáurio. Ou que o Jurássico é um título de um filme.
É lugar comum em conversas de café discutir-se pintura, música, literatura ou história.
Emitem-se opiniões e confrontam-se gostos. Não se confundem tendências artísticas nem épocas históricas; arrumam-se os vários artistas nos movimentos e séculos respectivos. Beethoven foi influenciado na sua obra pelo papel histórico e social de Napoleão Bonaparte e não por Átila, o Huno. Picasso, apesar de o poder ter feito (como seria?), não pintou o tecto da Capela Sistina. Os Medici não patrocinaram a obra literária de Samuel Beckett.
São exemplos, que roçando o absurdo, ilustram que a literacia artística e a histórica tem um papel nos actos sociais.
GEOLOGIA MÓRBIDA
Depois de ignorarem as linhas de água como locais ideais para lares anfíbios.
Depois de não evitarem a erosão costeira.
Numa das aulas de geologia de campo foi-me dito, não me recordo por quem, que quando os geólogos tentam descobrir zonas de falha em terrenos menos familiares, normalmente procuram saber onde está o cemitério da vila ou aldeia.
Isto não se deve a uma tendência científico-mórbido deste profissionais. Deve-se antes à observação do conhecimento ancestral do chamado Povo. Esta entidade abstracta, mas com um conhecimento real, sempre soube onde devia fundar os seus cemitérios; e quase sempre o fez em zonas de falha.
As zonas de falha (zonas de descontinuidade dos blocos rochosos) proporcionam uma maior infiltração de águas, bem como uma maior movimentação dos solos.
Estas condicionantes geológicas fomentam a necessária decomposição dos corpos dos entes queridos, o imprescindível deixar da corporalidade para que o luto seja devidamente feito.
Mas os patos-bravos que constroem as nossas cidades não falam com o Povo. Apenas o enterram em terrenos enfastiados…
“Cemitério de Carnide sem capacidade Terrenos muito argilosos e níveis freáticos elevados atrasam decomposição dos corpos Empreiteiro não aceita assumir responsabilidades Autarquia pede ao LNEC para estudar solução” |
Imagem – Ilkka Uimonen,Magnum Photos