BATER NO FUNDO
“Realiza-se hoje, dia 28 de Maio, pelas 15 horas, na magnífica Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, a última sessão do ciclo de conferências organizado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia para ampliar a percepção pública do interesse ímpar do Programa Integrado de Sondagens Oceânicas, no qual Portugal figura como membro fundador do ramo europeu, o ECORD (European Consortium for Oceanic Reseach Drilling).”
CLAQUES VIRTUAIS
A propósito desta notícia, já ela imbuída no espírito do Euro 2008, relembro um texto publicado anteriormente, na altura referente ao Mundial 2006.
Mundial de Futebol – cangurus, coalas e extinções?
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 10/06/2006)
O Campeonato do Mundo de futebol que se avizinha será um palco de intensos combates. Ao longo de Junho e parte de Julho assistiremos a confrontos entre intervenientes que terão o mesmo objectivo e jogarão com as mesmas regras.
Dos confrontos que se avizinham sairão sobreviventes e extintos; adaptados e inadaptados; momentos de sorte e azar; e, sobretudo, intervenientes que lograrão atingirem os seus objectivos e outros…que nem por isso.
Acima de tudo será um período em que tudo se decidirá e nada ficará como dantes.
O acontecimento que é o Mundial de futebol, pode apresentar algumas analogias, umas mais lineares que outras, com um dos processos fundamentais na História da Terra e dos seres vivos – a Evolução.
Encarando cada selecção como um organismo perceber-se-á que poderemos corresponder os jogadores aos órgãos ou estruturas dos organismos. Cada jogador é especializado numa determinada função e, no Mundial, teremos os melhores para um papel específico em campo – ou talvez não, já sei que falta o Quaresma…
Assumindo esta comparação poderemos então entrar neste momento “evolutivo” que é o Mundial.
“Mundiais” na História da Terra?
Existem momentos na História da Vida na Terra em que se alteram as condicionantes do meio ambiente (alterações climáticas; vulcanismo; impacto de objectos extraterrestres; etc.) ou mesmo as relações estabelecidas entre os próprios seres vivos.
Genericamente esses momentos conduzem a extinções que, em maior ou menor grau, conduzirão ao desaparecimento de espécies animais e vegetais. Para além do efeito directo sobre aquelas que desaparecem, existe igualmente um efeito sobre as que ficam – podem explorar e ocupar mais nichos ecológicos, inclusive os daquelas que foram extintas.
Um destes exemplos foi o que se passou no final do Cretácico com a extinção de muitas espécies, entre as quais os famosos dinossáurios (pelo menos os não-avianos).
Da mesma forma as equipas de futebol, em especial em momentos como o Mundial, também sofrem pressões do seu meio envolvente – desgaste físico; desgaste psicológico; lesões – e terão que gerir as tensões com as suas “armas” – capacidade técnica; rigor táctico; capacidade de se adaptar ao adversário.
Apesar de tecnicamente muito dotadas (por ex. o Brasil), tecnicamente disciplinadas (por ex. a Alemanha) e mentalmente fortes (aqui é mais difícil…), algumas selecções apresentam, por isso, um tipo de jogo muito especializado, por vezes sem capacidade de adaptação ao adversário e/ou às condições ambientes (apoio dos adeptos; temperatura; pressão dos media).
Normalmente estas equipas saem derrotadas em fases de eliminação pois não têm tempo ou engenho para se adaptarem, para corrigirem o que estava menos bem.
Na História Natural existem equivalentes.
A maioria das pessoas já ouviu falar, pelo menos uma vez, em marsupiais – por exemplo o canguru e o coala.
Este grupo de mamíferos, distingue-se, dos mamíferos placentários, de que nós humanos fazemos parte, por os seus descendentes se desenvolverem externamente, numa bolsa da fêmea – o marsúpio.
Os marsupiais surgiram no mesmo momento em que os mamíferos placentários, competindo com estes por nichos ecológicos semelhantes.
A América do Sul apresentou uma fauna variada e diversificada de marsupiais até ao instante geológico em que o Istmo do Panamá se formou – há cerca de 3 milhões de anos, no Pliocénico.
Esta estrutura geográfica permitiu que os mamíferos placentários do norte, até aí isolados dos “primos” meridionais, migrassem para sul. Deste confronto evolutivo ganharam em larga maioria os placentários tendo a maioria dos marsupiais existentes na América do Sul sido extinta – hoje em dia a larga maioria dos marsupiais existentes é proveniente da Austrália, que funcionou como refúgio para este grupo de animais.
Apesar de altamente especializados, os marsupiais não estavam preparados para o “combate evolutivo” com os placentários do norte.
Da forma semelhante, algumas selecções apresentam um “fio” de jogo bonito, tecnicamente muito desenvolvido mas sem capacidade adaptativa para confrontos com equipas tecnicamente menos desenvolvidas. Umas conseguem adaptar-se e superar o adversário. Outras e por diversos motivos não o conseguem.
Há quatro anos atrás encontrava-me em Madrid quando decorreu o jogo EUA-Portugal. A nossa selecção era tecnicamente mais forte; éramos favoritos. Mas tal como os marsupiais do sul, Portugal foi incapaz de se adaptar à mudança; perdemos porque fomos mais fracos fisicamente; porque menosprezámos o adversário; porque, enfim, não fomos capazes de nos adaptar ao “ambiente”.
Esperemos que a espécie “Selecção”, neste Mundial, consiga superar o momento de intensa pressão “evolutiva” a que estará sujeita, e que, após a “extinção” que se avizinha, possa transmitir a sua herança aos descendentes…
Referências:
Erwin, D.H. 2001 Lessons from the past: Biotic recoveries from mass extinctions. PNAS vol. 98 no. 10 5399-5403
Imagens – Veer
BICHO-DE-CONTA
“Meu pobre bicho-de-conta
Que te enrolaste de vez
Já não vives nos jardins
Já não sentes, já não vês
Só sei, meu bicho-de-conta,
que te enrolaste de vez
Já não sentes, já não vês
Só sei, meu bicho-de-conta,
que te enrolaste de vez
Minha alma, se te matei
Perdoa por esta vez
Fiz-te aspirar tão acima
Que desceste onde hoje vês
A seres um bicho-de-conta
que te enrolaste de vez
Que desceste onde hoje vês
A seres um bicho-de-conta
que te enrolaste de vez
Não deixes o desespero
Ferir-te onde tu não vês
Há mais coisas nesta vida
Mais prazeres que não vês
Que essa dor que te atingiu
E que te enrolou de vez
Mais prazeres que não vês
Que essa dor que te atingiu
E que te enrolou de vez
Meu pobre bicho-de-conta
Que te enrolaste de vez”
Camané, letra de Luís de Macedo
Imagens – daqui
Parabéns atrasados
Antes atrasados que não dados; conheci-o durante esta acção e, para além de lindo, é funcional e bem organizado.
Museu de Ciência da Universidade de Coimbra
“O Museu de Ciência da Universidade de Coimbra foi galardoado ontem em Dublin, Irlanda, com o Prémio Micheletti de melhor museu europeu do ano na categoria de ciência e tecnologia, pelo Fórum Europeu dos Museus, divulgou fonte da Associação Portuguesa de Museologia.
O presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, revelou que o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra foi galardoado com o Prémio Micheletti entre cerca de 50 museus europeus. “Isto significa que, apesar de todas as dificuldades e do desinvestimento nos museus, as instituições europeias reconheceram o mérito da museologia e o melhor do que se faz em Portugal”.
O presidente da APOM sublinhou a importância do prémio e afirmou que “as pessoas ficaram surpreendidas com a apresentação dos vários conceitos científicos” pelo museu.
Já em Novembro, o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra foi galardoado com o Prémio de Melhor Museu Português pela APOM. “
SCI NY
Não me importava de regressar a NY para o “World Science Festival”e para algumas das palestras, como:
The Brain and Bourne: Neuroscience in the Bourne Trilogy,
Bioart in the Age of Terrorism,
90 is the New 50: The Science of Longevity ,
Your Biological Biography: Genes and Identity
ou ainda mesmo, para discussões mais acaloradas como algumas pessoas que conheço, a palestra com o título mais conseguido e ao mesmo tempo a introdução de um conceito:
“Greengenuity”
Imagens – do site do festival
GOULD MEMORIAL
Hoje, 20 de Maio, decorrem 6 anos que desapareceu Stephen Jay Gould.
Ainda hoje se me aperta na garganta a pergunta que não lhe fiz, aquando do curso que deu na Universidade Lusófona, há uns anos atrás:
“O que deve ter um bom paleontólogo?”
Fiquei-me pelo pedido a que me autografasse os livros que levei de casa.
Enquanto me os autografava, comentou que estavam muito usados.
Respondi, corando, que sim, que os lia e relia.
“É para isso que eles servem. Para serem lidos e relidos.”, respondeu-me.
A ele, um dos dois principais responsáveis pela vida profissional que levo.
Leituras – Um ensaio sobre a importância de Gould também como historiador de Ciência
–Obituário do New York Times (2002)
Imagem – capa da revista do American Museum of Natural History “Natural History”, onde Gould escreveu durante muitos anos.
hYbrid: Science and Art
“O hYbrid reúne uma vez por ano artistas, cientistas, sociólogos e filósofos de todo o mundo para partilharem ideias sobre as fronteiras entre arte e ciência. Num evento aberto à comunidade discute-se algumas das correntes mais inovadoras e polémicas da arte contemporânea.
hYbrid: Reflections on Science and Art é a segunda edição deste evento organizado pelo IBMC.INEB em colaboração com o projecto Ectopia. Este ano a discussão irá focar-se nas questões éticas inerentes a esta relação entre arte e ciência, com especial destaque para as ciências da vida. O encontro será no Museu Soares dos Reis (MNSR) a 31 de Maio.
Inscrições em www.ibmc.up.pt/hybrid.
O trabalho de alguns dos artistas convidados estará exposto no MNSR de 29 de Maio a 4 de Junho. Uma exposição comissariada pela artista Marta de Menezes e produzida pelo IBMC.INEB.
Toda a informação sobre o programa, a exposição e os convidados está em www.ibmc.up.pt/hybrid.”
Informação recebida de Anabela Antunes