GEOLOGIA MÓRBIDA

Depois de ignorarem as linhas de água como locais ideais para lares anfíbios.
Depois de não evitarem a erosão costeira.

Numa das aulas de geologia de campo foi-me dito, não me recordo por quem, que quando os geólogos tentam descobrir zonas de falha em terrenos menos familiares, normalmente procuram saber onde está o cemitério da vila ou aldeia.
Isto não se deve a uma tendência científico-mórbido deste profissionais. Deve-se antes à observação do conhecimento ancestral do chamado Povo. Esta entidade abstracta, mas com um conhecimento real, sempre soube onde devia fundar os seus cemitérios; e quase sempre o fez em zonas de falha.

As zonas de falha (zonas de descontinuidade dos blocos rochosos) proporcionam uma maior infiltração de águas, bem como uma maior movimentação dos solos.
Estas condicionantes geológicas fomentam a necessária decomposição dos corpos dos entes queridos, o imprescindível deixar da corporalidade para que o luto seja devidamente feito.

Mas os patos-bravos que constroem as nossas cidades não falam com o Povo. Apenas o enterram em terrenos enfastiados…

“Cemitério de Carnide sem capacidade
Terrenos muito argilosos e níveis freáticos elevados atrasam decomposição dos corpos Empreiteiro não aceita assumir responsabilidades
Autarquia pede ao LNEC para estudar solução”

JN, 20/02/2008

Imagem – Ilkka Uimonen,Magnum Photos

7 PECADOS ANIMAIS – LUXÚRIA

Grandes opções….quando o excesso de testosterona leva à morte.

Imagem – University of New England (UNE)

A 4 ASAS?

O documentário da PBS, canal público norte-americano (sim, ele existe), a ser exibido no próximo dia 26 de Fevereiro, vai abordar a questão de como voava o Microraptor.
Este animal, descoberto na China, apresentava cobertura de penas não só nos membros anteriores mas igualmente nos membros posteriores.
Este facto intriga os paleontólogos já que se pode especular se aqueles animais não teriam um voo a 4 asas.
A ver, com duas equipas de paleontólogos (ok, pode parecer um concurso televisivo…) a proporem hipóteses biomecânicas de voo para o Microraptor – túneis de vento, e tudo!

É sempre bom rever Xu Xing, com quem trabalhei no IVPP…

Trailer
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=dLniJ3HFr_U]

Aqui, uma actividade inter-activa em que se podem controlar alguns parâmetros biomecânicos de voo do Microraptor.
Imagens – PBS

COMO É QUE O LEOPARDO OBTEVE AS MANCHAS

O livro de Rudyard Kipling, “Just So Stories for Little Children” de 1902, inclui títulos de pequenas histórias, tais como

How the Whale got his Throat
How the Camel got his Hump

How the Rhinoceros got his Skin

How the Leopard got his Spots

que poderiam ser questões colocadas por um paleontólogo ou investigador que trabalhe em questões evolutivas.

Já outros autores haviam utilizado temas evolutivos…

P.S.- desconheço se existe uma edição portuguesa, mas entretanto pode descarregar aqui o PDF em inglês.

Imagem – daqui

CIÊNCIA, ÉTICA E BLOGS

Três artigos interessantes e relacionados, apesar de distintos nos conteúdos.

Os dois posts de Janet D. Stemwedel, do seu blog Adventures in Ethics and Science, abordam questões éticas como a que recentemente “abalou” a comunidade paleontológica- uma disputa sobre a primazia na descrição de uma nova espécie de Aetosauria

“Doctoral students in the United States and Poland are accusing scientists at the Albuquerque-based New Mexico Museum of Natural History and Science (NMMNHS) of publishing articles that allegedly pilfered their research.”

Aqui o resumo, feito na Nature desta situação concreta.

Utilizando essa situação como ponto de partida, é feita uma sistematização das atitudes a tomar em casos de falta de ética na Ciência.
E o que transmitir ao alunos, potenciais vítimas de atitudes menos éticas no duro ambiente da investigação científica.
E o tema continuou neste post.
Dois bons textos a serem lidos com atenção, pois todos conhecemos situações pouco éticas…

No último número da revista The Scientist é avançado um artigo curioso sobre os blogs científicos poderem funcionar como impulsionadores da pesquisa científica.
Como a maioria sabe, os blogs são ambientes muito promíscuos ao nível das ideias e a Ciência vive de ideias.
1+1=2?

Finalmente, um artigo do The Guardian que pode ser encarado como uma fusão dos anteriores: peer-review, ética e novas formas de comunicação científica.

Fontes – Nature 451, 510 (2008) | doi:10.1038/451510a
The Scientist
The Guardian
Imagens John Eckmire; The Scientist

FONTES…OSTEOLÓGICAS

Eu que pensava que fontes osteológicas eram apenas os museus ou as jazidas por onde andei!
Afinal também existem outras fontes osteológicas

Imagens – Björn Johansson

Nem príncipe nem encantado…Beelzebufo ampinga

70 milhões de anos.
4,5 kg e 40 cm de comprimento.
De Madagáscar.
Não tenho o paper.
Apenas as agências, que ainda fazem jogos de palavras mais parvos que o meu título.
Já agora: chamaram-lhe Beelzebufo ampinga.
Apenas a deixo imagem e que foi descrito no Proceedings of the National Academy of Sciences.

Fonte – daqui
Ilustração –
Luci Betti-Nash/ Dan Klores Communications

OBESIDADE E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Não sei se chore, se ria.
Algumas ideias da conferência da American Association for the Advancement of Science, e sobre Saúde e Nutrição, onde se fala:

…da pegada ecológica originada pelos excessos alimentares…

“Much of the present high calorie density food production has a massive carbon footprint and requires wasteful amounts of energy and water. If we are to feed the world – 8 billion people in just 20 years time – with a healthy diet, we need to deliver a rescue plan for the planet – not just to address global warming, but to ensure we have sufficient healthy food to feed everyone.”

…do ataque à obesidade, com as mesmas armas com que se combate as alterações climáticas…

“Obesity must be tackled in the same way as climate change with world leaders agreeing to vital steps to transform the environment that is making us fat, a leading international nutritional scientist warned today.”

…de que precisamos que nos defendam de nós próprios…

“Blaming individuals for their personal vulnerability to weight gain is no longer acceptable in a world where the majority is already overweight and obesity is rising everywhere. It is naïve of ill-informed politicians and food industry executives to place the onus on individuals making ‘healthier choices’ whilst the environment in which we live is the overwhelming factor amplifying the epidemic.”

…e muito mais…

Não sei se ria, se chore.

A Idade da Saúde e do Branco continua.

Fonte: Daqui
Imagens – link na primeira e da revista “Environmental Health“, a segunda.

Idade da Saúde e do Branco

Na antiga Escola, outros tempos corriam, os alunos escondiam-se, em refúgios mais ou menos recônditos, de serem “apanhados” a fumar.

Essa clandestinidade fazia também parte dos rituais de passagem à idade adulta. Da irreverência.

Hoje, na nova Escola, são os docentes que se abrigam dos olhares inquisidores dos alunos, para poderem desfrutar do seu maléfico vício.

É vê-los fugir do campo visual dos discentes, abrigados em cafés, refugiados no interior dos seus carros, recolhidos na vergonha a que o seu vício obriga.

Faz parte dos rituais da passagem à idade da Saúde e do Branco.

Imagem – Veer

Sem radar? Onychonycteris finneyi

Nancy Simmons, do American Museum of Natural History, e restante equipa que publicou a descoberta na revista Nature, avançam que a nova espécie de morcego- Onychonycteris finneyi – ainda não possuiria a capacidade de eco-localização, ou seja, o típico “radar” dos morcegos.

Esta conclusão provém da ausência, no Onychonycteris finneyi, de estruturas osteológicas (ósseas), no ouvido interno, necessárias à eco-localização. As proporções e anatomia dos membros anteriores permitem inferir uma capacidade de voo semelhante aos actuais morcegos.

Esta descoberta vem apoiar a hipótese que o voo em Chiroptera (a Ordem dos morcegos) é anterior ao desenvolvimento do “radar”. Esta hipótese já havia sido apontada anteriormente já que a combinação de capacidade de voo, capacidade respiratória para o voo e eco-localização deva ser uma novidade evolutiva e, consequentemente, mais recente que qualquer uma daquelas isoladamente.

Com a provecta idade de 52 milhões anos, foi descoberto em 2003 no estado do Wyoming.
Para além de permitir perceber melhor a evolução dos morcegos, representa também o seus mais antigo representante, originando ainda, pelas suas características morfológicas, uma nova Família e Género.

Referências
Simmons, N.B., K.L. Seymour, J. Habersetzer, and G.R. Gunnell. 2008 . Primitive Early Eocene bats from Wyoming and the evolution of flight and echolocation. Nature 451, 8 14 de Fevereiro.

Speakman, J.R. 2001. The evolution of flight and echolocation in bats: another leap in the dark. Mammal Rev. 2001, Volume 31, No. 2, 111–130.

Imagens
Simmons et al. 2008

AMNH photo (nota: foto da investigadora Nancy Simmons com um representante actual de Chiroptera)