Gatos e gatos

290458_1600x1200Riña_de_gatos
As semelhanças entre o quadro de Goya e a foto premiada no concurso da National Geographic de 2014 são as que cada encontrar.
Habituado à cópia do quadro dos bichanos, por quem passo todos os dias, fui despertado para a foto dos grandes gatos selvagens e de como se parecem com os do pintor espanhol.
Mas poderei ser só eu a achar a semelhança.
Um bom ano de 2015!

Imagens: daqui e daqui

Nick Cave e a divulgação de Ciência (?)

NickCave at CERNApenas isto.
Ou Ciência vs. Arte.

 

Imagem: daqui

“Can’t remember anything at all
Flame trees line the streets
Can’t remember anything at all
But I’m driving my car down to Geneva
I been sitting in my basement patio
Aye it was hot up above
Girls walk past, the roses all in bloom
Have you ever heard about the Higgs Boson Blues?
I’m going down to Geneva, baby
Gonna teach it to you
Who cares? Who cares what the future brings?

Black road long and I drove and drove
And came upon a crossroad
The night was hot and black
I see Robert Johnson with a 10-dollar guitar
Strapped to his back looking for a tomb
Well here comes Lucifer with his canon law
And a hundred black babies running from his genocidal jaw
He got the real killer groove
Robert Johnson and the devil, man
Don’t know who is gonna rip off who
Driving my car, flame trees on fire
Sitting and singing the Higgs Boson Blues

I’m tired, I’m looking for a spot to drop
All the clocks have stopped
In Memphis now in the Lorraine Motel
It’s hot, it’s hot – that’s why they call it the Hot Spot
I’ll take a room with a view
Hear a man preaching in a language that’s completely new
Making the hot cocks in the flophouse bleed
While the cleaning ladies sob into their mops
And a bellhop hops and bops
A shot rings out to a spiritual groove
Everybody bleeding to that Higgs Boson Blues

If I die tonight, bury me
In my favorite yellow patent leather shoes
With a mummified cat and a cone-like hat
That the caliphate forced on the Jews
Can you feel my heartbeat?
Can you feel my heartbeat?

Hannah Montana does the African Savannah
As the simulated rainy season begins
She curses the queue at the Zulus
And moves on to Amazonia
And cries with the dolphins
Mau Mau ate the pygmy
The pygmy ate the monkey
The monkey has a gift that he is sending back to you
Look here comes the missionary
With his smallpox and flu
He’s saving them, the savages
With the Higgs Boson Blues
I’m driving my car down to Geneva
I’m driving my car down to Geneva

Oh let the damn day break
The rainy days always make me sad
Miley Cyrus floats in a swimming pool in Toluca Lake
And you’re the best girl I’ve ever had
Can’t remember anything at all”

Manifesto pela Comunicação da Ciência em Portugal

Aproveito para dar a conhecer e relembrar o Manifesto pela Comunicação de Ciência em Portugal.
Na ligação o texto e a possibilidade de assinar.

Congresso SciCom 2013

Apenas algumas linhas antes de rumar a Lisboa para participar no Congresso SciCom 2013.
A minha participação passou pelo (honroso) convite para fazer parte da Comissão Científica, ter avaliado bastantes abstracts, dois pósters (“Das Igrejas Às Calçadas: Geologia e Paleontologia Urbanas no Algarve” e “Um Gravador e Pessoas: divulgar a Ciência na rádio”).

No último dia irei moderar as apresentações e debate “A comunicação visual na comunicação de ciência

O livro de resumos e programa poderão ser descarregados aqui.

Até lá…

scicom-blogue2Congresso de Comunicação de Ciência

SciCom PT 2013

:: Envolver o público
:: Envolver os cientistas
:: Envolver os media

27 e 28 de Maio de 2013 | Pavilhão do Conhecimento, Lisboa

O Congresso de Comunicação de Ciência 2013 pretende ser um ponto de encontro e discussão para todos os que trabalham e se interessam pela comunicação e divulgação da Ciência.
A comunidade de profissionais que se dedicam à investigação, promoção, comunicação e disseminação de ciência em Portugal tem-se desenvolvido consideravelmente nos últimos anos, com o correspondente aumento na quantidade e qualidade do trabalho realizado nestas áreas. Paralelamente a este crescimento, o interesse pelas questões científicas e tecnológicas e a procura de informação científica aumentou de forma sensível nos diferentes sectores do público.

Com esta evolução, também amplificaram as oportunidades e a necessidade de actualização, de debate e de interacção na comunidade de profissionais de comunicação de ciência. O Congresso de Comunicação de Ciência – SciCom PT 2013 pretende ser uma plataforma ao serviço desses objectivos.”


A partir já de amanhã, e antecedendo os dois dias de congresso, começa a (A)Mostra | Filmes e Ciência.

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“Organizada pela Associação Viver a Ciência (VAC) no âmbito do Congresso de Comunicação de Ciência SciCom 2013, apresentará um panorama de trabalhos produzidos nesta área em Portugal nos últimos 10 anos, desde longas-metragens documentais a vídeos educativos e episódios de séries televisivas.

O Velho e o Dino

O VELHO E O DINO

Durante mais de meia hora este septuagenário, em pé e sem nunca afastar os olhos da TV, mirou e remirou os dinossauros.

Sozinho, que para concentração a companhia é demais.

Vá-se lá saber por que mirava.
Ou talvez não.

 

Imagem: Luís Azevedo Rodrigues

Observ@rte 2013

Um bocadinho de auto-promoção descarada.

Observ@rte 2013No próximo dia 23 de Março vou estar no Museu Nacional de Arte Antiga para participar no Observ@rte 2013encontro que “visa estabelecer pontes através de práticas pedagógicas e projetos inovadores, entre a Ciência, a Arte, o Conhecimento, a Escola e os Museus.”

A minha participação será feita na Mesa Redonda:

A Ciência na Arte e a Arte na Ciência | 15h00

Fábrica Centro Ciência Viva | Universidade de Aveiro | Dulce Ferreira 
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto | João Carlos Paiva
Museu de Ciência | Universidade de Coimbra | Miguel Gomes
Centro Ciência Viva de Lagos | Luís Azevedo Rodrigues
Moderação | Clara Pinto Correia
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Darwin e o leite

a3a5163e3a54b8db90074c456115b7af_hEsta terça-feira, dia 12 de Novembro, Charles Darwin faria 204 anos.

Escrever sobre um dos mais importantes homens de Ciência é tão difícil como tentar desvendar a morte de Kennedy: todas as perspectivas e ângulos foram já explorados.

O tema com que lembrarei Darwin faz parte do nosso dia-a-dia: o leite. De tão familiar, nunca parámos para pensar que o seu aparecimento poderia ser visto sob a perspectiva da Biologia Evolutiva.

Como surgiu o leite?

Seria óbvio justificar o aparecimento do leite como estando ligado apenas à alimentação das crias durante a evolução dos mamíferos. Mas os percursos evolutivos nem sempre são os mais lineares.

O leite inclui lisozima, enzima com propriedades anti-bacterianas, e, assim, uma das possibilidades evolutivas para o seu aparecimento é que este fosse um antibiótico natural para os ovos dos antepassados dos mamíferos. Estes seres utilizavam essa secreção para manterem um ambiente incubador desinfectado e húmido, hipótese evolutiva actualmente mais consensual – aumentar as possibilidades de sobrevivência das crias é um trunfo essencial do jogo da Evolução.

Ao longo da história evolutiva dos mamíferos, e seus antepassados, a função higiénica do leite parece ter sido ultrapassada pela nutritiva. Darwin lamentava que o registo fóssil não apresentasse as evidências directas da lactação, mas estudos posteriores dar-lhe-iam razão.

A enorme variabilidade composicional do leite dos vários mamíferos actuais revela ainda diferentes percursos evolutivos, quer ao nível das estratégias de reprodução, quer ao nível das diferentes adaptações ambientais. Entre as espécies actuais de mamíferos a composição varia, por exemplo, entre a quase inexistência de gordura no leite dalgumas espécies de cangurus e os 60%  de gordura no das focas.

As primeiras glândulas mamárias?

Darwin referiu que as glândulas secretoras das bolsas incubadoras de alguns peixes poderiam ser as estruturas primitivas das glândulas mamárias. Antes de gozarem com a ideia pensem nas bolsas com que os cavalos-marinhos macho incubam as crias… Hoje sabemos que as glândulas mamárias evoluíram a partir de glân


Afinal, porque bebem leite os mamíferos?
dulas da pele, mais concretamente glândulas pilosas. Estas glândulas produzem secreções e estiveram na génese do leite primitivo. Darwin já havia referido a glândula mamária do ornitorrinco como forma intermédia do percurso evolutivo das glândulas mamárias – o ornitorrinco alimenta as suas crias a partir de glândulas produtoras de leite, embora estas sejam desprovidas de mamilos.

Permitir aos mamíferos uma maior independência perante as condições ambientais necessárias à sua reprodução terá sido o impulso evolutivo que conduziu ao aparecimento do leite enquanto substância nutritiva das crias.

Os antepassados dos mamíferos eram hipoteticamente endotérmicos e de pequeno tamanho. Assim, os seus ovos teriam que ter um tamanho reduzido, o que implicaria que as crias se tivessem de desenvolver mais após a eclosão, necessitando então de uma fonte de alimento como o leite.

Estas hipóteses são atestadas pelo registo fóssil de cinodontes, grupo de animais extintos e antepassados dos mamíferos de há cerca de 200 milhões de anos, que apresentavam tamanho reduzido e ovos pequenos, bem como estruturas anatómicas reveladoras de lactação – ossos epipúbicos e um tipo especial de dentição.

Beber leite em adulto?

À medida que os bebés crescem vão perdendo a capacidade de produzirem a enzima que degrada a lactose – o açúcar do leite. Existem populações mais intolerantes à lactose e outras que desenvolveram a capacidade de continuar a produzir aquela enzima ao longo da vida – cerca de 90% dos suecos e dinamarqueses, por exemplo. Esta mudança biológica é explicada em termos evolutivos, pela mutação no gene ligado à tolerância à lactose. Há cerca de 7000 anos, mutações da tolerância à lactose surgiram de forma independente em três populações africanas e, curioso, este processo biológico ocorreu na mesma altura do início da domesticação de gado bovino, parecendo assim ter havido um processo de convergência evolutiva entre cultura e genes.

Brindemos então à saúde de Darwin com um shot de leite!

Embora seja avesso ao culto da personalidade e me interessem mais as ideias, quero partilhar o fascínio que sinto por este homem do século XIX que influenciou o modo como nos vemos e vemos a Natureza de que fazemos parte.

Parabéns!

(texto publicado no P3)

Referências:

1 The Mammary Gland and Its Origin During Synapsid Evolution (PDF gratuito)
2 The origin and evolution of lactation (PDF gratuito)

Imagens:

A   daqui
B   Traduzida e adaptada de 2
C   daqui

Devaneios evolutivos…

394952_530625956958420_24964258_nEsta imagem/post, retirado e mais do que partilhado pela página de Facebook “I fucking love science” é uma excepção às suas excelentes e divertidas imagens-mensagem.

E porquê?

1  “You are the result of 3.8 billion years of evolutionary success”
O aparente topo evolutivo ocupado pelo ser humano, de alguma forma reflectido no texto desta imagem, não é verdadeiro, já que a nossa espécie é um acaso da História Evolutiva da vida na Terra.
Ao contrário do que está implícito, a Evolução da vida não tem o ser humano como o pináculo evolutivo, o seu porto de chegada, o seu mais perfeito representante, o final do caminho da vida sobre a Terra, isto apesar da nossa existência actual ser fruto de um sem número de sucessos intermédios.
Seremos tão pináculo evolutivo da História da Terra como outros seres vivos actuais – representantes no presente de várias linhagens de seres vivos que singraram ao longo do tempo.
2 Outra mensagem que poderá induzir em erro, e subjacente neste texto, é que a Evolução é sinónimo de um cada vez maior aperfeiçoamento e complexidade dos organismos, sendo o representante deste conceito nesta imagem/texto o ser humano.
Isto não é de todo verdade.
Embora existam casos de incremento de complexidade, a Evolução conduz* também a redução de complexidade biológica, à diminuição de estruturas, entre outras alterações morfológicas e/ou fisiológicas.
Evolução biológica não é sinónimo de maior complexidade – pode ou não sê-lo.

3 Ainda outra mensagem subjacente é a de cariz moral/comportamental. Devemos actuar em função do sucesso obtido pelos nossos antepassados, sejam eles mais ou menos distantes.
O que não me agrada nesta mensagem é a mistura entre sucesso evolutivo e a matrizes de comportamento moral/ético. Isto talvez possa justificar parte do sucesso evolutivo recente dos nossos antepassados, mas não justifica a esmagadora maioria do tempo geológico.
O singrar de um organismo e o sucesso de um código de conduta, embora possam estar interligados, são questões distintas, sendo perigoso generalizá-los.
Se nos focarmos no comportamento humano e na diversidade de valores éticos e morais existentes, então estaremos de certeza a misturar alhos com bugalhos quando afirmamos que nos deveremos comportar em função do sucesso biológico de um passado tão longínquo como o de há centenas ou milhares de milhões de anos.

Apenas alguns devaneios evolutivos…já há muito debatidos e analisados por outros muito melhores do que eu.

* a utilização deste vocábulo é exagerada, sendo aqui utilizada por simplificação na leitura.

Podcast Ciência Viva À Conversa 2013

CIENCIA VIVA A CONVERSA LOGOÉ o regresso do espaço de rádio e podcast Ciência Viva À Conversa.

Depois dos 23 programas que gravei, com a excelente e indispensável edição do Director de antena da Rádio Universitária do Algarve, Pedro Duarte, retomamos este programa semanal.

Para além da difusão na Rádio Universitária do Algarve à 5ª feira (8h15, 12h15 e 15h15), o programa pode ser ouvido e descarregado nos sites dos Centros Ciência Viva no Algarve (Faro, Lagos e Tavira), no site do jornal Sul Informação, no site da RUA e e também no sítio de arquivo, para além deste blog (na barra lateral).

 

ADELINO CANARIOO primeiro programa Ciência Viva À Conversa de 2013 é com Adelino Canário do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e que será concluído na próxima 5ª feira.

 

Beatas no Ninho

Embora o título possa parecer um pouco reles, o teor deste texto é tudo menos provocador.
Bem, talvez o seja para alguns seres vivos.
As beatas de que falamos são as pontas dos cigarros depois de fumados ou, em português do Brasil, as bitucas ou guimbas de cigarro.
animals,nature-214cf02b3e5291e0ec0b6c33eea85cad_hMas porquê falar da terminologia de um produto tão nocivo à saúde e, pior, misturá-lo com ninhos?
É que por vezes a natureza dá voltas por onde menos se espera. Neste caso, verificou-se que algumas aves da cidade do México utilizam as beatas de cigarros na construção dos seus ninhos.
O comportamento foi observado e avaliado por investigadores da Universidad Nacional Autónoma de México, que utilizaram um procedimento experimental para comprovarem a influência das guimbas de cigarro sobre parasitas que atacam as crias de aves.

Os cientistas verificaram que ninhos com pontas de cigarros fumados apresentavam menos parasitas externos do que aqueles construídos com pontas de cigarros não fumados.
Bem, nada de especial, escarnecerão os mais radicais, acrescentando que o tabaco é tão mau que nem os parasitas o aguentam.
cigarette-butt-bird_Víctor ArgaezOs investigadores verificaram que as aves que utilizam as beatas nos seus ninhos, pardais (Passer domesticus) e a espécie de tentilhão Carpodacus mexicanus, o poderão fazer como recurso a um insecticida natural, já que as pontas dos cigarros preservam quantidades de nicotina e outras substâncias químicas.
Um amigo meu inglês já me havia descrito que infusões frias de beatas de cigarros quando vertidas nos vasos de plantas ornamentais as tornam mais saudáveis. Ou assim diz ele.
Estes investigadores não descartaram a hipótese de que as aves utilizem as beatas como um revestimento térmico para os ninhos, uma vez que estas têm celulose. Tão pouco afastam que as vantagens de as aves utilizarem a nicotina como desparasitante sejam anuladas pelos efeitos tóxicos dos químicos tabágicos.
art-016Ainda que não totalmente esclarecidos, os autores propõem duas hipóteses para o comportamento das aves: as substâncias químicas presentes nas pontas de cigarro poderão estimular o sistema imunitário das crias e, assim, favorecer as suas hipóteses de sobrevivência. A segunda hipótese aponta para que os químicos presentes nas bitucas de cigarros possam ter um papel mais directo, evidente e já referido: as beatas seriam um insecticida natural, que desinfectaria os ninhos de parasitas externos.

Esquecendo as infusões de nicotina e desejando que as hipóteses levantadas sejam testadas, o que as aves urbanas parecem ter descoberto é a reutilização do arsenal químico dos cigarros a favor das suas crias.
Ao contrário do que escreveu Tchekov, estas aves mexicanas descobriram os benefícios do tabaco.

Aparentemente.

 

ResearchBlogging.orgReferências:

Suárez-Rodríguez M, López-Rull I, & Macías Garcia C (2012). Incorporation of cigarette butts into nests reduces nest ectoparasite load in urban birds: new ingredients for an old recipe? Biology letters, 9 (1) PMID: 23221874

Imagens:

1 – daqui

2 – de Vitor Argaez – daqui

3 – daqui

 (PUBLICADO NO JORNAL SUL INFORMAÇÃO)