Dinos, satélites e briófitos | Podcast Ciência Viva À Conversa

Três conversas e quatro podcasts do Ciência Viva À Conversa.

Vanda Santos e Luis Azevedo Rodrigues em Vale Meios
– sobre a paleontologia de Dinossauros em Portugal com Vanda Santos do Museu Nacional de História Natural e da Ciência;
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– sobre um grupo de alunos e um professor que vão construir e por em órbita um satélite do tamanho de uma lata. Quem vai por em órbita o satélite é a Agência Espacial Europeia. A Escola é a Secundária de Olhão.

César Garcia briófitos e líquenes

 

 

– sobre os briófitos e líquenes de Portugal e como é o trabalho do botânico César Garcia do Jardim Botânico de Lisboa/Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

 

Imagens: Luís Quinta (primeira) – nesta foto eu e a Vanda Santos em trabalho de campo há uns anos atrás em Vale de Meios.

Luís Azevedo Rodrigues (restantes)

O Velho e o Dino

O VELHO E O DINO

Durante mais de meia hora este septuagenário, em pé e sem nunca afastar os olhos da TV, mirou e remirou os dinossauros.

Sozinho, que para concentração a companhia é demais.

Vá-se lá saber por que mirava.
Ou talvez não.

 

Imagem: Luís Azevedo Rodrigues

Em algum lugar do passado… molecular.

Texto de autoria de um blogger que desconheço e como resultado do intercâmbio de divulgação científica InterCiência.

[Saiba mais e participe em: http://scienceblogs.com.br/raiox/2013/01/interciencia/]

Mammuthus
Os tecidos recuperados de mamutes enterrados em permafrost possibilitam a observação inédita de fragmentos da pré-história molecular.

O mamute lanoso Mammuthus primigenius não é apenas um dos animais pré-históricos mais simpáticos – seus caçadores provavelmente discordam de mim nesse ponto – e de grande reconhecimento popular.
Recentemente, a aplicação de técnicas avançadas aos espécimes recuperados do permafrost talvez tenha feito de mamutes e mastodontes os objetos de estudo mais ricos da Paleontologia.
O permafrost é um solo que nunca descongela ou fica constantemente congelado por milhares de anos. Com esse frio todo, de vez em quando os pesquisadores são presenteados com animais em ótimo nível de preservação.
Desses mamutes congelados podem ser coletadas amostras de tecidos moles como pele e músculos, além de sangue e conteúdo estomacal. E o estudo desse material com técnicas como clonagem, amplificação/sequenciamento de DNA e espectrometria de massas abre uma janela inédita para o seu passado molecular!
Em 2009, uma equipe japonesa aparentemente conseguiu “ressucitar” células de um mamute congelado há 15 mil anos. Por transferência nuclear de célula somática (SCNT, na sigla em Inglês), a mesma abordagem utilizada na clonagem da ovelha Dolly, eles relatam a recuperação do material nuclear de músculo e pele com sucessos de 55% e 67%, respectivamente. Não é nada mau quando lembramos de onde vieram esses núcleos e por quanto tempo ficaram congelados.

Infelizmente não consegui acesso mais detalhado à pesquisa, mas é importante ressaltar que não houve comunicado de avanços desde então. Isso é ao mesmo tempo um sinal ruim e uma grande pena, pois seria fantástico cultivar células de mamute in vitro.
Mesmo sem tecidos moles, hoje os ossos fornecem material para muito mais que estudos morfológicos. Pesquisadores alemães publicaram em 2005 o primeiro sequenciamento completo de um genoma mitocondrial ancestral que usou DNA extraído do osso congelado de mamute lanoso.
Já em 2012 ocorreu a primeira identificação positiva de proteínas desses animais. Do osso de um mamute de 43 mil anos foram extraídas e analisadas por espectrometrial de massas mais de 100 proteínas diferentes. O sequenciamento dessas moléculas revelou semelhanças grandes com os elefantes africano, indiano e também com amostras mais recentes de outra espécie de mamute (Mammuthus columbi).
É claro que estudar biomoléculas separadas por milhares de anos e compará-las ao nosso conhecimento atual já é incrível, mas ao mesmo tempo é impossível não ficar ansioso pelo futuro.
Estamos discutindo a possibilidade – remota, admito – de se recuperar fragmentos celulares funcionais e talvez até reestabelecer essas células mortas há dezenas de milhares de anos.
Tem como pensar nisso e não abrir um sorriso ao perceber que convivemos com situações mais avançadas que muita obra de ficção científica?
***
[Este texto é parte da primeira rodada do InterCiência, o intercâmbio de divulgação científica. Saiba mais e participe em: http://scienceblogs.com.br/raiox/2013/01/interciencia/]

Referências:
Cappellini et al. Proteomic Analysis of a Pleistocene Mammoth Femur Reveals More than One Hundred Ancient Bone Proteins. J. Proteome Res. 2012, 11, 917–926. dx.doi.org/10.1021/pr200721u – Published: 21 November 2011.
Kato et al. Recovery of Cell Nuclei from 15 000-Year-Old Mammoth Tissues and Injection into Mouse Enucleated Matured Oocytes. Reproduction, Fertility and Development. 22 (5305) 189–189 http://dx.doi.org/10.1071/RDv22n1Ab62 – Published online: 08 December 2009
Krause et al. Multiplex amplification of the mammoth mitochondrial genome and the evolution of Elephantidae. Nature, 439, 724-727. doi:10.1038/nature04432 – Published online: 18 December 2005.

O mais antigo dinossauro?

Imagine que descobria fotos antigas e que estas eram de um antepassado seu.

O que pensaria?

Iria procurar semelhanças na fisionomia entre si e a fotografia, seguramente.
Não foram fotos mas fósseis que permitem agora apresentar à grande família dos dinossauros o seu mais antigo familiar (ou muito próximo disso).
O Nyasasaurus parringtoni [1] foi escavado em 1930, no que é hoje a Tanzânia, tendo sido estudado na década de 50, tendo nessa altura permanecido como material inconclusivo. Recentemente uma equipa de paleontólogos americanos e ingleses retomou o estudo deste material e verificou a sua importância. O Nyasasaurus, em homenagem ao lago Niassa, também chamado Malawi, tinha um tamanho de 2 a 3 metros e pesava entre 20 a 60 kgs (parâmetros estimados). Este animal viveu no Triásico médio, há aproximadamente 235 milhões de anos, o que faz dele o mais antigo dinossauro que se conhece.

Dinossauro?

Úmero de Nyasasaurus e estrutura microscópica de secção deste osso (Nesbitt et al. 2012)

A análise morfológica e filogenética dos vestígios de Nyasasaurus (úmero e várias vértebras) permitiram apontar para que este animal seja o mais antigo dinossauro que se conhece ou um representante primitivo de um grupo-irmão dos dinossauros.
A anatomia dos ossos encontrados permitiu identificar a presença de características únicas dos dinossauros, nomeadamente a presença de uma crista deltopeitoral alongada no úmero* [2], zona do osso do membro anterior (braço) onde se inseriam músculos, bem como outras particularidades anatómicas na cintura pélvica.
Para além destas evidências exteriores, a análise microscópica aos tecidos ósseos também permitiu descobrir que este animal apresentava padrões rápidos de crescimento ósseo, típico também dos dinossauros.
Apesar destas evidências, muitas das características anatómicas presentes nos dinossauros, a equipa de paleontólogos que o descreveu ainda não está totalmente segura de posicionar o Nyasasaurus como um verdadeiro dinossauro ou, em alternativa, como pertencendo a um grupo irmão dos dinossauros.

Úmeros de vários sauropodomorfos com algumas estruturas anatómicas destacadas (Rodrigues 2009). Comparar com úmero de Nyasasaurus.

O aparecimento dos dinossauros

Para além de ser mais um elemento para a história da vida na Terra, o Nyasasaurus aumenta o conhecimento do aparecimento e diversificação do grupo de animais de enorme importância ecológica no Mesozóico – os dinossauros. Este animal faz recuar em 15 milhões de anos o surgimento dos dinossauros, caso se verifique ser o Nyasasaurus um verdadeiro dinossauro, como tudo leva a apontar.
Nos últimos anos os paleontólogos que se dedicam aos estudos dos dinossauros têm investido muito quer na prospecção, quer no estudo e descrição de vestígios de vertebrados no Triásico. Este período da história da Terra assistiu ao conjunto de fenómenos biológicos que terá levado à diversificação e proliferação do grupo Dinosauria, grupo que viria a proliferar nos milhões de anos que se seguiram.
Há assim uma enorme vontade científica em descobrir e perceber a origem dos dinossauros.

 

Triásico, Tanzânia e Portugal

Além desta tendência de escavação em sedimentos do Triásico, também se tem verificado uma outra vertente da investigação em dinossauros: começar a olhar para as coleções de fósseis escavados no século passado. Há assim uma re-escavação dos sedimentos, sendo que desta vez a prospeção é feita nas caves e depósitos dos Museus de História Natural.
De referir que foram alemães, em particular Werner Janensch, que efetuaram diversas campanhas de escavação na Tanzânia logo a partir de 1909** do século passado. Não é este o caso já que o Nyasasaurus foi escavado por Francis Rex Parrington, paleontólogo inglês da Universidade de Oxford.

Em Portugal existem vários locais com rochas sedimentares de idade triásica sendo os potencialmente mais interessantes, do ponto de vista paleontológico de vertebrados, os localizados no Algarve, num conjunto de sedimentos de ambiente continental que se designam genericamente de Grés de Silves.
Mas do Triásico falaremos um destes dias.
Agora é o momento de comemorar a chegada de um parente antigo dos dinossauros…ou próximo deles.

* compare-se o úmero de Nyasasaurus com os vários úmeros de saurópodes [2] e as respetivas cristas deltopeitorais.

** algum do material procedente da Tanzânia está nas coleções do Museu de História Natural de Londres e no Museu de História Natural de Berlim.

A segunda parte desta história (link) descreve o que se passou com material fóssil da Tanzânia e que era…radioativo.

Referências:

[1] Nesbitt SJ, Barrett PM, Werning S, Sidor CA, Charig AJ. 2012 The oldest dinosaur? A Middle Triassic dinosauriform from Tanzania. Biol Lett 9: 20120949. http://dx.doi.org/10.1098/rsbl.2012.0949

[2] Rodrigues, L.A. Sauropodomorpha (Dinosauria, Saurischia) appendicular skeleton disparity: theoretical morphology and Compositional Data Analysis. Ph.D. Thesis. Universidad Autónoma de Madrid, Madrid – Spain, Supervised by Professor Angela Delgado Buscalioni and Co-supervised by Professor Jeffrey A. Wilson, University of Michigan, Ann Arbor. December 2009. ISBN 978-84-693-3839-1.

Imagens:

A – Natural History Museum, London/Mark Witton / SL.

B – Natural History Museum / SL

C – Rodrigues 2009

(PUBLICADO NO JORNAL SUL INFORMAÇÃO)

As Maravilhas de S.J. Gould

Dinossauros no Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho

Não tenho tido muito tempo para escrever mas ainda arranjei algum para ir ao Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho.

É na próxima 4ª feira dia 4 de abril em Coimbra.

Apareçam que eu prometo contar mais uma história paleontológica por cada golo que o Benfica marcar…

Dinossauros: Novas Técnicas, Velhos Mitos“, com o Paleontólogo Luís Azevedo Rodrigues.

RESUMO
A primeira parte desta palestra abordará sobretudo questões científicas da Paleobiologia de Dinossauros, com particular atenção às técnicas mais recentes de investigação nesta área do conhecimento.
A segunda parte lidará com o papel dos dinossauros na Cultura Pop, em campos tão distintos como o cinema, a música ou a mitologia.

Entrada Livre
Público-Alvo: Todos os interessados na matéria”

(Não complicar) Ciência

Um exemplo de simplicidade na divulgação de ciência: pequenas coisas; bons exemplos.

Não é preciso complicar.
E sim, sou suspeito. É de um colega paleontólogo…

Continua a luta Vasco

Coscuvilhar Histórias Com Milhões de Anos – NEI2011 CCV de Lagos

Coscuvilhar Histórias Com Milhões de Anos – NEI2011 CCV de Lagos

O registo vídeo da conversa que tive no passado dia 23 de Setembro, durante a Noite Europeia dos Cientistas 2011, no Centro Ciência Viva de Lagos.

Dinossauros: Velhos Mitos (I)

Depois do período de férias, alguns percalços e mudanças a nível profissional (que a seu tempo revelarei), retomo o Ciência Ao Natural com o texto que publiquei ontem no Diário de Coimbra.

Este texto surge como resultado do projecto de António Piedade “Divulgação de Ciência na Imprensa Regional”. A ele e ao Diário de Coimbra o meu obrigado.