No final é só o que resta

tumblr_kopdl3UCJq1qzn7g8o1_500.jpgNo final é só o que resta.
Afinal desde o começo que já cá estava.
Apenas levemente suspensa, pela outra.
Mas sempre presente.
A única companheira.
No arrastar dos dias, tapada entre outras neblinas, é a única certeza.
Ou quase.
Olhamos o céu, o mar, ou espelho, e ei-la.
Julgamo-nos maiores que ela porque a pensamos e reconhecemos.
Maiores que todas as vidas que nos rodeiam e que temporariamente a encobrem.
Sozinhos com ela.
ResearchBlogging.org
“(..) workers of the ant Temnothorax unifasciatus dying from fungal infection, uninfected workers whose life expectancy was reduced by exposure to 95% CO2 and workers dying spontaneously in observation colonies exhibited the same suite of behavior of isolating themselves from their nestmates days or hours before death. Actively leaving the nest and breaking off all social interactions thus occurred regardless of whether individuals were infected or not. Social withdrawal might be a commonly overlooked altruistic trait serving the inclusive fitness interests of dying individuals in social animals.”


«”When Pansy lay down in a nest that one of the other apes had made, the rest gathered around her and began grooming and caressing her. Shortly before she died, all three crouched down and inspected her face very closely. They then began to shake her gently. “It is difficult to avoid thinking that they were checking for signs of life,” said Anderson.
“After a time, it seemed that the chimpanzees arrived at a collective decision that she had gone. Two left immediately, but one, the other adult female, stayed and held her hand,” said Anderson.»

Referências:
Heinze, J., & Walter, B. (2010). Moribund Ants Leave Their Nests to Die in Social Isolation Current Biology, 20 (3), 249-252 DOI: 10.1016/j.cub.2009.12.031
Imagem:
Magdalen of the night light, Georges de La Tour

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… nos comentários.
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Imagem:
Claudine Doury – Silkhon, Kiziljar, KZ, 2003

Nojo por Inês

68095327-9bff570db374e7fd6c999a1411cf0ec5.4bceb3b6-full.jpgLeio agora que à Sr.ª Inês de Medeiros, deputada do PS, irá ser paga uma viagem semanal a Paris, em executiva. Quatro viagens por mês, brilhantemente concluo.
Aquando da sua candidatura à Assembleia da República, a dita Inês apresentou como morada oficial um endereço de Lisboa.
Assim, iremos todos pagar, com voluntário deleite, uma viagem semanal da tribuna à cidade das luzes, uma vez que aquela se deverá encontrar desocupada.
A morada de Lisboa, não a deputada.
Feliz fico por o meu Estado recompensar tanto em viagens a Paris da parlamentar como o que paga a quatro professores, ou a seis bolseiros de investigação científica, ou mesmo a quase dez trabalhadores com o salário mínimo.
Delirante continuo, por o meu país investir em viagens executivas a Paris para uma meritosa Inês de Medeiros que oficialmente reside em Lisboa, mas suspeita ter a sua família em Paris.
Os quatro professores, ou seis bolseiros de investigação científica, ou os salários mínimos, que se calem. O seu valor não é comparável à Sr.ª Medeiros, que tanto tem feito pelo bem-estar de Portugal. Tanto, que necessita purgar-se semanalmente à beira Sena dos afazeres lusitanos.
Nojo.
É o que sinto.
Pelos invejosos quatro professores, seis bolseiros de investigação científica, ou dez trabalhadores com o salário mínimo, que se roem de inveja maledicente das viagens da deputada Inês de Medeiros.
Nojo por Inês.
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P.S. – breve biografia da deputada do PS, Inês de Medeiros – do site da Assembleia da República:
“Habilitações Literárias – Frequência de Licenciatura em Literatura Portuguesa (Universidade Nova de Lisboa), Estudos Teatrais (Sorbonne Paris). Profissão – Autora”

Europa Ocupada

eur66060.gifHá momentos que nos remetem para o passado, como se ele, de tão reconhecível e evidente, nos entrasse de novo pela compreensão adentro.
Tal como na década de 40 do século passado, a Europa encontra-se ocupada. No passado que relembro, um exército expansionista alargava a sua influência territorial, empurrando para as franjas da Europa, quem lhe procurava fugir. A ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial, implicou a movimentação maciça de muitos procuravam novos ares.
Portugal constituía, nos anos 40, uma porta de fuga para um novo mundo, liberto de exércitos e impedimentos, de todos os que eram perseguidos ou apanhados pelos acontecimentos bélicos.
Hoje, um novo exército ocupa os céus da Europa, vindo de norte, fechando à sua passagem os caminhos de ida e regresso de milhares de pessoas. Os pós vulcânicos, tal como antes o havia feito um outro exército, empurram muitos para a Península Ibérica.
dreameu_ani.gifAgora, por mera casualidade, Portugal encontra-se de novo na rota dos que tentam fugir, agora de uma nuvem de pó que ocupa grande parte dos países europeus, nuvem que impede as viagens aéreas.
Como há 70 anos, Portugal apenas os vê passar, gente que contorna obstáculos.
Antes, fugiam da guerra.
Hoje, apenas tentam voar, fugindo de outra nuvem.
Imagens:
daqui
e
daqui.

O céu de Plínio

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Plínio, o Velho, morreu a olhar Pompeia.
Em 79 d.C., este naturalista encontrava-se a bordo de um navio, assistindo à erupção do Vesúvio que viria a destruir as cidades de Pompeia e Herculano.
Durante estes dias, em que os pós da Terra dirigem os céus desertos da Europa, é impossível não me lembrar de Plínio, o Velho.
Tal como há quase dois mil anos atrás, as cinzas mudam vidas, alteram rumos, marcam e desmarcam destinos.
Tal como Plínio, assisto, impotente, aos desígnios telúricos.
Olho para os céus da Europa, incrédulo.
“Nuvem vulcânica cancela 17 mil voos, 147 milhões de prejuízos por dia”

Imagem:
Karl Pavlovich Bryullov, “O Último Dia de Pompeia” (1830-1833)

O Moura dos robôs

bcf2506a60d0478aa708fb698c58a68a_h.jpgImpulsionado pela criatividade do Moura dos robôs, o Jornal de Letras lançou-se num debitar letrado sobre um futurismo.
Não me parece mal.
Eu já havia louvado o dito Moura em palavreado que me deu muito prazer intitulado “O Artista”.
O JL refere que o Moura dos robôs simula não pintores, mas actores.
Explico.
Desta feita, o Moura suga robôs, encena uma peça teatral, interpretada maquinalmente pelos seus escravos.
Embalados por mais esta “Estética do Futuro”, o JL disserta, em várias páginas de referências literárias, sobre um futuro mais pleno do que este presente vazio, à moda do Moura.
De estética nada sei; apenas sinto que, tal como o robótico Moura, o JL deslumbra-se perante o pincel, apaixona-se pela caneta, arde de paixão perante a máquina que regista imagens, e tudo mais que não seja a mera veneração do meio.
Ao Moura dos robôs: como já antes opinei, julgo que nem os terabytes dos robôs se lembrarão desta sua nova façanha.
Imagem:
daqui

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Imagem: Claudine Doury – Le mazar, Shanshan, CN, 2003.

A Natureza dos Números

As pessoas não são números.
A Natureza também não.
Mas eles, os números, estão por todo o lado.
E fazem a Natureza como ela é.

Sugestão de Vitorino Ramos, a partir do seu magnífico blog, num post que também apresenta excelentes sugestões de leitura.