Gatos e gatos

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As semelhanças entre o quadro de Goya e a foto premiada no concurso da National Geographic de 2014 são as que cada encontrar.
Habituado à cópia do quadro dos bichanos, por quem passo todos os dias, fui despertado para a foto dos grandes gatos selvagens e de como se parecem com os do pintor espanhol.
Mas poderei ser só eu a achar a semelhança.
Um bom ano de 2015!

Imagens: daqui e daqui

O mais antigo dinossauro?

Imagine que descobria fotos antigas e que estas eram de um antepassado seu.

O que pensaria?

Iria procurar semelhanças na fisionomia entre si e a fotografia, seguramente.
Não foram fotos mas fósseis que permitem agora apresentar à grande família dos dinossauros o seu mais antigo familiar (ou muito próximo disso).
O Nyasasaurus parringtoni [1] foi escavado em 1930, no que é hoje a Tanzânia, tendo sido estudado na década de 50, tendo nessa altura permanecido como material inconclusivo. Recentemente uma equipa de paleontólogos americanos e ingleses retomou o estudo deste material e verificou a sua importância. O Nyasasaurus, em homenagem ao lago Niassa, também chamado Malawi, tinha um tamanho de 2 a 3 metros e pesava entre 20 a 60 kgs (parâmetros estimados). Este animal viveu no Triásico médio, há aproximadamente 235 milhões de anos, o que faz dele o mais antigo dinossauro que se conhece.

Dinossauro?

Úmero de Nyasasaurus e estrutura microscópica de secção deste osso (Nesbitt et al. 2012)

A análise morfológica e filogenética dos vestígios de Nyasasaurus (úmero e várias vértebras) permitiram apontar para que este animal seja o mais antigo dinossauro que se conhece ou um representante primitivo de um grupo-irmão dos dinossauros.
A anatomia dos ossos encontrados permitiu identificar a presença de características únicas dos dinossauros, nomeadamente a presença de uma crista deltopeitoral alongada no úmero* [2], zona do osso do membro anterior (braço) onde se inseriam músculos, bem como outras particularidades anatómicas na cintura pélvica.
Para além destas evidências exteriores, a análise microscópica aos tecidos ósseos também permitiu descobrir que este animal apresentava padrões rápidos de crescimento ósseo, típico também dos dinossauros.
Apesar destas evidências, muitas das características anatómicas presentes nos dinossauros, a equipa de paleontólogos que o descreveu ainda não está totalmente segura de posicionar o Nyasasaurus como um verdadeiro dinossauro ou, em alternativa, como pertencendo a um grupo irmão dos dinossauros.

Úmeros de vários sauropodomorfos com algumas estruturas anatómicas destacadas (Rodrigues 2009). Comparar com úmero de Nyasasaurus.

O aparecimento dos dinossauros

Para além de ser mais um elemento para a história da vida na Terra, o Nyasasaurus aumenta o conhecimento do aparecimento e diversificação do grupo de animais de enorme importância ecológica no Mesozóico – os dinossauros. Este animal faz recuar em 15 milhões de anos o surgimento dos dinossauros, caso se verifique ser o Nyasasaurus um verdadeiro dinossauro, como tudo leva a apontar.
Nos últimos anos os paleontólogos que se dedicam aos estudos dos dinossauros têm investido muito quer na prospecção, quer no estudo e descrição de vestígios de vertebrados no Triásico. Este período da história da Terra assistiu ao conjunto de fenómenos biológicos que terá levado à diversificação e proliferação do grupo Dinosauria, grupo que viria a proliferar nos milhões de anos que se seguiram.
Há assim uma enorme vontade científica em descobrir e perceber a origem dos dinossauros.

 

Triásico, Tanzânia e Portugal

Além desta tendência de escavação em sedimentos do Triásico, também se tem verificado uma outra vertente da investigação em dinossauros: começar a olhar para as coleções de fósseis escavados no século passado. Há assim uma re-escavação dos sedimentos, sendo que desta vez a prospeção é feita nas caves e depósitos dos Museus de História Natural.
De referir que foram alemães, em particular Werner Janensch, que efetuaram diversas campanhas de escavação na Tanzânia logo a partir de 1909** do século passado. Não é este o caso já que o Nyasasaurus foi escavado por Francis Rex Parrington, paleontólogo inglês da Universidade de Oxford.

Em Portugal existem vários locais com rochas sedimentares de idade triásica sendo os potencialmente mais interessantes, do ponto de vista paleontológico de vertebrados, os localizados no Algarve, num conjunto de sedimentos de ambiente continental que se designam genericamente de Grés de Silves.
Mas do Triásico falaremos um destes dias.
Agora é o momento de comemorar a chegada de um parente antigo dos dinossauros…ou próximo deles.

* compare-se o úmero de Nyasasaurus com os vários úmeros de saurópodes [2] e as respetivas cristas deltopeitorais.

** algum do material procedente da Tanzânia está nas coleções do Museu de História Natural de Londres e no Museu de História Natural de Berlim.

A segunda parte desta história (link) descreve o que se passou com material fóssil da Tanzânia e que era…radioativo.

Referências:

[1] Nesbitt SJ, Barrett PM, Werning S, Sidor CA, Charig AJ. 2012 The oldest dinosaur? A Middle Triassic dinosauriform from Tanzania. Biol Lett 9: 20120949. http://dx.doi.org/10.1098/rsbl.2012.0949

[2] Rodrigues, L.A. Sauropodomorpha (Dinosauria, Saurischia) appendicular skeleton disparity: theoretical morphology and Compositional Data Analysis. Ph.D. Thesis. Universidad Autónoma de Madrid, Madrid – Spain, Supervised by Professor Angela Delgado Buscalioni and Co-supervised by Professor Jeffrey A. Wilson, University of Michigan, Ann Arbor. December 2009. ISBN 978-84-693-3839-1.

Imagens:

A – Natural History Museum, London/Mark Witton / SL.

B – Natural History Museum / SL

C – Rodrigues 2009

(PUBLICADO NO JORNAL SUL INFORMAÇÃO)

O Panda Catalão

É uma típica imagem chinesa aquela que agora vem da Catalunha – o panda.

Reconstituição de Kretzoiarctos beatrix ; fonte – SINC

Quase todas as crianças reconhecem este animal e uma parte delas sabe que este mamífero vive actualmente na China. Talvez a maioria dos adultos desconhecerá é que o mais antigo panda gigante viveu há cerca de 11 milhões anos na península ibérica.
Os vestígios fossilizados de um antepassado do panda gigante foram encontrados numa jazida fossilífera de Saragoça, designada Nombrevilla 2.

O Kretzoiarctos beatrix passa a ser o mais antigo representante da subfamília Ailuropodinae, grupo a que pertencem as formas extintas e as formas actuais do panda gigante, tendo os sedimentos onde foi encontrado  a idade de 11.6 milhões de anos.

Restos encontrados de Kretzoiarctos beatrix; fonte – de [1]

Até esta descoberta, o mais antigo antepassado procedia do Miocénico chinês, com uma idades que variavam entre os 7 e os 8 milhões de anos. A descoberta das mandíbulas e dentes fossilizadas, levada a cabo por paleontólogos do Instituto Catalão de Paleontologia, faz recuar assim o retrato da evolução do panda gigante em três milhões de anos, ampliando igualmente a imagem da distribuição geográfica passada deste mais do que emblemático animal actual

O panda gigante (Ailuropoda melanoleuca) constitui há muito motivo de debate científico pois de há muito que se discute a sua origem e a sua relação na família Ursoidea, sendo este posicionamento apoiado por dados moleculares que o remetem como grupo-irmão do ursos.
Esta nova espécie fóssil, o Kretzoiarctos beatrix [1], para além de representar o mais antigo antepassado do panda gigante, constitui também o mais antigo vestígio de um ursídeo na península ibérica.

Sobre a possibilidade deste antepassado ter coloração branca e preta típica dos seus descendentes, os paleontólogos não confirmam dado não haver material fossilizado que o permita inferir [2].

Distribuição actual e do passado recente do panda gigante (Ailuropoda melanoleuca); fonte – WWF

Os paleontólogos que estudaram este material referem ainda que na origem da extinção deste animal terão estados alterações ambientais com impacto direto nos ambientes em que este panda viveria – as florestas densas e húmidas terão sido substituídas por ambiente mais abertos e secos [2].

Há 11 milhões de anos, tal como hoje, o clima a condicionar de sobremaneira a existência das espécies…ainda assim, viva a panda catalão, viva!

(artigo publicado no jornal Sul Informação)

ResearchBlogging.orgReferências:

[1] Abella J, Alba DM, Robles JM, Valenciano A, Rotgers C, Carmona R, Montoya P, & Morales J (2012). Kretzoiarctos gen. nov., the Oldest Member of the Giant Panda Clade. PloS one, 7 (11) PMID: 23155439
[2] http://www.livescience.com/24788-oldest-panda-fossils.html

 

Imagens:
A – reconstituição de Kretzoiarctos beatrix ; daqui – SINC
B – restos encontrados de Kretzoiarctos beatrix; de [1]
C – distribuição actual e do passado recente do panda gigante (Ailuropoda melanoleuca); daqui – WWF

(PUBLICADO NO JORNAL SUL INFORMAÇÃO)

O que Fazer Com Isto?

A questão não deverá ser nova e provavelmente existirão soluções mas que fazer com estas algas que ciclicamente dão à costa em grandes quantidades.

De certeza que poderiam ser aproveitadas para consumo animal ou para adubar os terrenos.

Esta última solução era (é?) ainda utilizada na minha na Ria de Aveiro, sendo o material recolhido na ria denominado de moliço (fundamentalmente plantas aquáticas). Daí o nome moliceiro para o barco onde eram recolhido o moliço que serviria depois para adubar terrenos.

Nestes tempos de utilização, reutilização e poupança, que fazer com as algas ou outros materiais biológicos que dão à costa?

P.S. – fotos da Praia da Rocha, 30 de Setembro de 2012. Luís Azevedo Rodrigues.

Perspectiva do Cão

Tal como muito da vida, as coisas devem ser perspectivadas de vários ângulos, com o risco de nos enganarmos, fazermos algo maior ou mais pequeno do que realmente é.
A escala e a perspectiva andam de mãos dadas (?).

Imagem de Daniel Rodrigues – ” Vouga na pedreira”.

A Formiga e a Europa

ResearchBlogging.org(Publicado no jornal Barlavento, 28 de Julho de 2011)
Os tempos mudaram.
O que se dizia de Esquerda e viu o país afundar, afastou-se.
Por cá e, verdade seja dita, um pouco por toda a Europa, os sinais da crise económica e de valores são cada vez mais ensurdecedores.
A Europa afunda-se?
Talvez. Porque é cada um por si e, pensamos nós erradamente, a Comissão Europeia por todos.
Falta-nos um verdadeiro esforço conjunto, uma causa que nos cimente, que nos una.
A solução para o dilúvio existencial e económico que se aproxima passa por aprendermos não com os gurus da Economia, os visionários da Tecnologia ou outros quaisquer bruxos, mas com… uma formiga, mais concretamente a Solenopsis invicta.

Apesar do seu nome comum ser formiga-de-fogo, há muito que um comportamento deste animal na água desperta a curiosidade dos biólogos. Originária da América do Sul, embora esteja distribuída um pouco por todo o mundo, esta formiga reage a inundações formando pequenas jangadas cujos constituintes são as próprias formigas.
Um estudo recente da Universidade de Geórgia Tech revelou que, de uma forma absurdamente simples, as formigas da espécie Solenopsis invicta em momentos de inundação conseguem sobreviver graças à sua união.
Se individualmente as formigas apresentam uma capacidade hidrofóbica razoável, sendo capazes de flutuar, essa capacidade é muito maior se se unirem.
Nos momentos em que as águas tudo invadem, e esses momentos são frequentes nas florestas tropicais, as formigas unem-se literalmente às suas companheiras, cravando as suas mandíbulas e exercendo forças 400 vezes superiores ao seu peso corporal, formando assim uma verdadeira jangada.
Esta jangada, revela o estudo, é uma massa viscosa e elástica formada por “moléculas” que são as próprias formigas. A estrutura flutua graças à sua capacidade para repelir as moléculas da água, muito maior quando as formigas-de-fogo se unem às suas irmãs.
Desta forma, a sobrevivência deste animal passa pelo colectivo e não pelo individual. Este comportamento foi quantificado e modelado pelos investigadores, que foram assim capazes de comprovar as vantagens evolutivas das jangadas de formigas-de-fogo.
O modo invejável como a Solenopsis invicta faz frente aos dilúvios poderá servir para a velha Europa e para Portugal.
Tudo o que recentemente se passou de momento não interessa.
O que agora interessa é não nos afundarmos mais ainda com a inundação não prevista, não tratada, enfim… não cuidada.
O que a Europa desconhece ou não quer ver é que a salvação individual passa pela salvação colectiva.
Que abdicar de alguma parte do grupo, ou de um país, não é a solução, antes o apressar do fim.
Somos apenas quando fazemos parte, quando o somos em grupo, apesar e com a nossa individualidade, seja da pessoa, seja do país.
Sozinhos aguentamos, até cairmos por fim.
Em grupo venceremos.

Referência Mlot, N., Tovey, C., & Hu, D. (2011). Fire ants self-assemble into waterproof rafts to survive floods Proceedings of the National Academy of Sciences, 108 (19), 7669-7673 DOI: 10.1073/pnas.1016658108
Imagem: adaptada do artigo. Esquerda – o carácter moderadamente hidrofóbico de um indivíduo de Solenopsis invicta. Direita – a jangada submersa pelos investigadores revelando bolsa de ar.
Vídeo – material suplementar do artigo.

Vida de cão

…ou melhor fotos de cães, pelo fotógrafo William Wegman.
O que me chamou a atenção para o seu trabalho foi ter visto esta foto:
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A metáfora evolutiva é possível mas fica a cargo de cada um…
Apenas mais uma imagem que me ficou no feitio canino:
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Aqui uma breve apresentação do seu trabalho com cães.
Há quem não ache piada nenhuma; eu limito-me a sorrir com os focinhos que me miram…

Um pouco mais de informação sobre este fotógrafo pode ser encontrada aqui.
P.S. – À memória do meu amigo durante 15 anos, o Vouga.
Imagens: William Wegman Untitled (1987) e Pile Up (1998)

Rock Colours, Algarve

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Imagens – Luís Azevedo Rodrigues

Da Graça e da Natureza

sh_130_slide_1.jpgDa graça e da natureza, mais uma achega.
Um vídeo terrivelmente belo.

Loom

7 dias na Terra

Algumas fotos dos últimos sete dias, na Terra..
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Imagens: Luís Azevedo Rodrigues