(? – 1310)
por Maria Simone Marinho Nogueira, professora associada
do departamento de Filosofia e professora permanente do Programa de
Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade da Universidade Estadual da Paraíba – Lattes
Vida
Pouco se sabe sobre a vida de Marguerite Porete. Para alguns dados é preciso recorrer a três fontes: os Autos do Processo da Inquisição, onde se lê que ela foi condenada à fogueira como herege, recidiva, relapsa e impenitente (Cf. Fredericq,1889); algumas crônicas da época (Cf. Verdeyen, 1986) e o livro escrito por ela, O espelho das almas simples. Pelos Autos sabe-se que ela foi queimada em 1 de junho de 1310, na Praça de Grève, em Paris. Também que era de Hainaut (na região da Picardia, que hoje encontra-se entre a França e a Bélgica) e o seu nome e sobrenome, embora Sean Field (2012, p. 28) chame atenção sobre isso, uma vez que as Atas se referem a ela como “Marguerite chamada a Porete” e não simplesmente “Marguerite Porete”, o que não indicaria uma afiliação familiar no sentido forte do termo. De qualquer forma, foi assim que ela ficou conhecida.
Pelas Atas da Inquisição, igualmente, tem-se conhecimento de que não se tratava do primeiro processo que ela sofria. O primeiro foi feito pelo Bispo de Cambrai, Guy de Colmieu, que proíbe Porete de divulgar seu livro, o que não ocorre, pois ela não só continua divulgando-o oralmente, como providencia mais cópias e as envia para três autoridades religiosas cujos nomes encontram-se no final do seu livro (Frei John di Querayn, franciscano; Dom Franco, cisterciense, e Goffredo de Fontaines, teólogo da Sorbonne). Já nas Crônicas, vê-se que ela se manteve fiel ao seu ensinamento, conduzindo-se nobremente para o patíbulo, fazendo chorar muitos dos que ali estavam. Pelo seu livro tem-se acesso a algumas informações, inclusive, como anuncia na canção de abertura, que os teólogos e outros clérigos não o entenderão se não procederem com humildade.
Talvez, o livro de Marguerite Porete seja o espelho mais cristalino de sua própria vida, pois tudo parece girar em torno dele, desde as cópias que a própria Porete se encarrega de fazer, passando pelas muitas traduções e difusão que ele teve (mesmo depois de condenado), até as muitas referências autorais nele encontradas. Começando pelas cópias, que não se limitaram às três que enviou para as autoridades acima (pois parece que não foram as únicas feitas), elas revelam a condição financeira que Porete tinha, o que indica que ela ou pertencia à nobreza ou vinha de uma família abastada, se se levar em conta os altos custos para a produção e reprodução de um livro naquela época. Além disso, seu nível de educação também indica seu status social, pois, como escreve Barbara Newman: “Onde quer que ela tenha vivido, deve ter sido uma mulher de posses. Essa conclusão se dá, não somente por sua alfabetização, sua extensa formação teológica e sua familiaridade com o discurso cortês, mas também, materialmente, pelo custo do pergaminho” (2016, p. 616).
Quanto às referências autorais, sabe-se, por exemplo, que ela se dirige, muito consciente da sua escrita, aos seus ouvintes/leitores. Também que, quando reflete sobre os limites da linguagem, o faz, na maioria das vezes, em relação à sua experiência mística. Ainda, no Capítulo 52, quando ela usa a expressão preciouse marguerite, numa fala da personagem Amor, pode, ainda que discretamente, estar assinando a sua obra, ou seja, colocando ali uma marca autoral (Cf. Schwartz, 2008, n. 6, p. 102). Outro aspecto apresentado diz respeito ao nome Autora que Porete coloca em meio às personagens do livro.
Além das marcas autorais que se pode encontrar também por meio de elementos intertextuais, a vida de Porete vai aparecendo aos poucos na sua obra. Por exemplo, quando ela aponta para o seu próprio papel como escritora (no Prólogo e sobretudo na segunda parte de O Espelho). No Prólogo, Marguerite Porete se apresenta como a que escreve o livro (como personagem) e como a autora. Além disso, ao longo da obra, fala que passou por determinados testes, aborda a questão da incompreensão por partes de alguns das palavras que escreve, remete para o conflito entre as duas igrejas (Santa Igreja, a grande e Santa Igreja, a pequena [a Instituição]) e uma série de outros elementos que podem ser lidos como marcas autorais daquela que escreve.
Por fim, ao fazer a opção de escrever em vernáculo (seu livro foi escrito em picardo e este texto original se perdeu, restando uma cópia do escrito em médio-francês), Porete afasta-se da instituição marcada pelas hierarquias e realiza o seu percurso de forma livre, alcançando, também, as pessoas que não sabiam latim, mesmo considerando o pequeno número de pessoas que sabiam ler e escrever na Idade Média. Também é importante destacar que, apesar de haver várias cópias de O Espelho, em diferentes línguas, o livro circulou como anônimo até meados do século XX, quando, em 1944, Romana Guarnieri descobre e restitui a sua autoria a Marguerite Porete.
Contexto religioso, intelectual e cultural
O contexto intelectual, cultural e religioso onde se situa Marguerite Porete é fruto do chamado Renascimento que ocorre no século XII e que tem como algumas características o desenvolvimento das cidades, o conhecimento do Oriente em parte favorecido pelas Cruzadas, a profusão de escolas monacais, episcopais e palatinas, assim como o surgimento das universidades e os trovadores e trobairitz com sua literatura cortês. Ademais, para muitas estudiosas e estudiosos, o século XII representa o nascimento do sujeito que ganha força e definição no século XIII, sobretudo com a escrita mística feminina. Como afirma Régnier-Bohler (1990, p. 536), ao falar sobre uma expressão do eu na literatura, é no campo da espiritualidade feminina que a escrita, realmente individualizada, vai surgir, e isso ocorre a partir do século XII, tendo seu ápice nos séculos XIII e XIV.
O século XIII é também o período áureo da Escolástica e todo movimento que ela inclui, seja no que diz respeito ao método, seja no que concerne aos modelos de escrita produzidos pelos professores das escolas e das universidades. Paralelo a essas coisas da escola, ocorrem dois outros acontecimentos igualmente importantes no século XIII: as Ordens Mendicantes, que ganham força, sobretudo a Dominicana e a Franciscana, responsáveis pelas orientações espirituais das Beguinas e dos Begardos, respectivamente, e o movimento das Beguinas. Os dois movimentos estão na esteira do Renascimento do século XII, que faz renascer, também, um clima de espiritualidade mais próximo da vida apostólica e, portanto, fundamentado no ideal de pobreza e de tudo que este ideal apresenta em paralelo com a instituição religiosa.
Interessante destacar, que no Concílio de Viena (1311-1312) foram condenados alguns erros das Beguinas e dos Begardos e o processo contra Marguerite Porete foi amplamente utilizado para esse fim. Importante informar, também, que o livro de Porete foi julgado por uma comissão composta por vinte e um teólogos, dentre os quais se encontravam representantes das Ordens Mendicantes. Aliás, foi um Dominicano, Guglielmo Humbert, chamado de Guglielmo de Paris, o inquisidor responsável pelo processo de Porete.
Apesar disso, é preciso lembrar a importante parceria que houve entre homens e mulheres no século XIII, pois, se as mulheres, por um lado, estavam afastadas dos espaços de poder da igreja, não tendo na maioria das vezes nem mesmo autorização para pregar em público; por outro lado, foi esta mesma igreja, com alguns dos seus religiosos, que possibilitou às mulheres muito da instrução que tiveram, acesso aos livros e, principalmente, um diálogo importante, numa cooperação mútua. Tal relação foi mais complexa do que se pode imaginar, e ilustrações dessa cooperação podem ser vistas no livro de Bernard McGinn (2017), O florescimento da mística: homens e mulheres da nova mística (1200-1350).
Esta parceria, aliás, pode ser percebida no outro acontecimento importante que ganha força, sobretudo no século XIII, o surgimento das Beguinas, já que Jacques (ou Tiago) de Vitry (†1240) escreve a vida daquela que pode ser considerada, como afirma McGinn, o arquétipo das primeiras etapas da vida beguina, Marie de Oignies (1176-1213). Quer dizer, a vida dela, escrita por Jacques de Vitry, “era um manifesto em favor da nova forma de vida beguina e de sua piedade mística” (McGinn, 2017, p. 64). Também é em McGinn que se lê: “Sendo mulher, Maria podia pregar só pelo exemplo e pela “palavra de exortação”; em Tiago, ela encontrou seu porta-voz oficial, como dizem que ela afirmou no leito de morte” (Idem, p. 63).
Marie de Oignies nasceu em Nivelles, na diocese de Lìege, na Bélgica, onde exatamente surge o Movimento das Beguinas a partir do final do século XII. Ele se desenvolveu nos Países Baixos (Holanda e Bélgica), mas logo se estendeu para países como França, Itália, Alemanha e Espanha. Trata-se de um movimento inserido no horizonte de renovação da vida religiosa e era feito por mulheres que buscavam novas formas de viver suas espiritualidades.
Essas mulheres eram autossuficientes, pois viviam dos trabalhos feitos nas beguinagens, que as acolhiam independentemente das classes às quais pertenciam, assim como o estado civil que tinham: solteiras, casadas, viúvas. Elas se encontravam unidas em oração, apoio aos mais necessitados (trabalho de caridade), trabalhos manuais, leitura da Bíblia e algumas também exerciam o ensino a outras meninas e mulheres (ler e escrever). No entanto, como esclarece Ceci Mariani, “[…] é um movimento que permanece marginal, fora do controle institucional, pois não obedecia a uma regra aprovada” (2011, p. 59).
A própria Marguerite Porete, uma beguina (Cf. Field, 2012), deixa claro no seu livro, em uma amálgama de autora/escritora/personagem, como ela professa sua religião e obedece às suas regras (Cf. Cap. 137) e, ainda, como se lê no Cap. 85:
Esta Alma tem por herança sua perfeita liberdade, cada uma das partes do seu brasão tem sua plena pureza. Ela não responde a ninguém, se ela não quiser e se não for alguém de sua linhagem. Pois um nobre não deve considerar responder a um vilão, se ele o chama ou o convida ao campo de batalha. E porque não encontra tal Alma quando a chama, seus inimigos não têm dela nenhuma resposta (Porete, 1986, pp. 6-11).
Como se percebe, o contexto em que Marguerite Porete está inserida é o proporcionado pelo Renascimento do século XII, onde ocorre o crescimento das cidades; o surgimento de novas ordens religiosas, a criação de escolas e universidades; a literatura cortês, que exerce sobre ela uma influência importante, como pode ser visto na passagem acima, com os termos herança, brasão, linhagem, nobre, vilão, batalha; e um maior desejo das mulheres por viver uma nova espiritualidade, não necessariamente dentro de uma ordem religiosa aprovada.
Além do mais, como também se pode ler na citação acima, vê-se, sobretudo nos escritos das mulheres do século XIII, como Porete, por exemplo, uma escrita de si, já que dados autobiográficos são encontrados nesses textos e, sobretudo, por ali, na maioria das vezes, encontrar-se a reflexão sobre um percurso místico realizado. Neste percurso os textos místicos se tornam um espaço não apenas para a abordagem de temas religiosos, mas também político-sociais. Não à toa, a afirmação de Peter Dronke de que as mulheres daquele século “[…] falavam em seu próprio nome. Não são profetisas, mas mentes apaixonadas, frequentemente angustiadas. A beleza dos seus escritos está relacionada à sua vulnerabilidade” (Dronke, 1986, p. 278). As afirmações de Dronke podem ser encontradas não só na própria figura de Marguerite Porete, como também na sua obra.
A obra
Pode-se afirmar que Marguerite Porete é autora de um único livro, pelo menos que se tem conhecimento. Trata-se do Mirouer des simples ames/Speculum simplicium animarum [O espelho das almas simples]. Sobre o título mais longo, Le mirouer des simples ames anienties et qui seulement demourent en vouloir et desir d’amour [O espelho das almas simples e aniquiladas e que permanece somente na vontade e no desejo do amor], adotado na tradução que existe em português feita por Sílvia Schwartz, 2008), esclarece Luiza Muraro:
Em 1965, Guarnieri publica uma edição do livro de Marguerite, tendo por base o manuscrito de Chantilly, única cópia francesa que nos chegou (é uma cópia tardia, escrita em torno de dois séculos depois do original), sob o título Le mirouer des simples ames anienties et qui seulement demourent en vouloir et desir d’amour, título que não corresponde nem àquela da versão latina, nem àquela do original, como eu creio ter demonstrado em um artigo da revista do Centro Ruusbroec da Antuérpia (Muraro, 2000, p. 221).
Já a nova versão feita pela própria Guarnieri, juntamente com Verdeyen, de 1986, tem por base não somente o Manuscrito de Chantilly, do século XV, como também alguns manuscritos em latim (a maioria do século XIV, Vaticano, A, B, C, D e um do século XV, Vaticano F) e um manuscrito inglês do século XV, Oxford E (Cf. Verdeyen, 1986, pp. V-XIV). Este manuscrito inglês, por sua vez, está na origem da versão inglesa moderna de 1927 que outra filósofa teve acesso, Simone Weil (1909-1943) e que aparece ainda sem autoria, fazendo com que essa a atribua a um místico francês do século XIV (Cf. Weil, 1950, p. 162).
Apesar de a autoria ter sido atribuída/devolvida tardiamente a Marguerite Porete e de o livro ter sido condenado e queimado — sendo proclamado que todos, que possuíssem uma cópia dele, deveriam entregá-lo ao prior dos dominicanos de Paris sob pena de excomunhão — a difusão do livro foi, como afirma Kurt Ruh (2000, p.356), “absurdamente grande”. As palavras de Ruh fazem todo sentido quando se sabe que do original em picardo quatro traduções foram feitas: uma para o latim, quando Porete ainda estava viva e, logo depois da sua morte, duas para o inglês médio e uma para o francês médio, demonstrando que não só cópias de O Espelho sobreviveram à fogueira da Inquisição, como também que essas cópias tiveram uma ampla divulgação.
Importa notar, em primeiro lugar, que o livro de Marguerite Porete, apesar de complexo na sua estrutura, parece certo, entre os estudos existentes, tratar-se de um Espelho, portanto de um gênero literário bastante difundido na Idade Média. Segundo Bradley (1954, p. 100): “A palavra speculum, ‘espelho’, foi muito popular na Idade Média como um título para diferentes tipos de trabalhos, e seria quase impossível enumerar tudo que foi escrito em diferentes países do século XII ao XVI sob este nome”.
Há, por exemplo, desde os espelhos de instruções, obras sobre os saberes da época, como o Speculum majus de Vincent de Beauvais, passando pelos Specula principis, até os espelhos normativos ou exemplares, como o Speculum virginum, do século XII. Marguerite Porete tinha conhecimento desta tradição de escritos specularis e isso se reflete não apenas no título do seu livro, como também no seu sentido, pois o espelho poretiano, na narrativa mística de sua autora, tem igualmente o objetivo de instruir e, para este fim, reflete-se no mesmo espelho a própria Porete, aspectos religiosos, profanos, políticos e sociais, como se pode ler no seguinte trecho: “Esta Alma professa sua religião e respeita suas regras. Qual é a sua regra? Que ela seja recolocada, pelo aniquilamento, naquele primeiro estado onde Amor a recebeu. Ela própria passou pelo exame de sua provação e venceu a guerra contra todos os poderes”. (Porete, 1986, pp. 1-5).
Apresentado o gênero do livro de Porete e seus múltiplos horizontes, passa-se agora à sua estrutura. Ele possui 140 capítulos, sendo o Cap. 1 um Prólogo, antecedido por uma canção de abertura. O Cap. 140 é uma approbatio que se encontra nas versões em latim e na do inglês médio (Cf. Verdeyen, 1986). O livro se apresenta em prosa e em verso, em forma de diálogos e também em tratados. Na forma dialógica, Marguerite Porete expõe diferentes personagens, sendo as principais a Alma (Ame), a Dama Amor (Dame Amour) e a Razão (Rasoin), que funciona como uma espécie de antagonista às ideias das duas primeiras personagens.
O livro está dividido em duas partes assimétricas. A primeira é composta pelos capítulos de número 1 ao 121, e a segunda parte vai do capítulo 122 até o final do livro (capítulo 140). A primeira parte é narrada em terceira pessoa e se apresenta em forma de diálogo entre as personagens principais, sendo, grosso modo, a Alma a personificação da própria Marguerite Porete, a Razão representa a instituição Igreja, e Amor expressa Deus. Outras personagens também comparecem nesta primeira parte do Mirouer, como a Verdade (Verité), a Nobreza da Unidade da Alma (Noblesse de Unité d’Ame), a Altíssima Donzela da Paz (La Soubzhaulcee Damoyselle de Paix), a Luz da Alma (La Lumiere de l’Ame), o Longeperto (Loingprés).
Há outras personagens além das citadas, mas todas elas são como uma espécie de extensão das três personagens principais. Já no que diz respeito à segunda parte de O Espelho, ela é antecedida pela Canção da Alma (Icy commence l’Alme sa chason), redigida em versos e, com exceção de dois pequenos capítulos, o 133 e o 134, não há mais diálogos nem a presença de personagens. O que há é a fala de Marguerite Porete expressa em primeira pessoa. Mesmo naqueles dois capítulos supracitados as personagens que comparecem são a Alma (Ame), o Amor Divino (Amour Divine), Amor (Amour) e Alma Liberada (Ame Franche).
A canção da Alma, além de ser um louvor ao Amor, é também uma crítica à servidão, à razão, à eloquência, às obras, às virtudes e a tudo que representa a Santa Igreja, a pequena, entendida por Marguerite Porete como a instituição religiosa e, enquanto tal, incapaz de compreender o verdadeiro sentido do amor. Por isso ela questiona o que dirá a gente da religião, incluindo aí padres, clérigos, pregadores, agostinianos, carmelitas, freis menores e até as beguinas, quando ouvirem a excelência da sua divina canção, já que ela escreveu sobre o estado do amor purificado (Cf. Porete, 1986, pp. 94-103).
Terminada a primeira parte da Canção da Alma, Porete faz sete considerações nos sete capítulos seguintes (do 123 ao 129), sendo todas explicitamente referentes à Bíblia, apresentando uma leitura bem própria de quem escreve. Depois dessas considerações seguem os capítulos finais sobre os temas clássicos de O Espelho, como a aniquilação; o voltar a ser o que era antes de ser; a liberdade; as marcas autorais que aparecem de forma muito mais explícita, não apenas pela escrita em primeira pessoa, mas também pelo caráter autobiográfico do texto; assim como a crítica à igreja enquanto instituição, explicitando, assim, o caráter transgressor do livro poretiano.
O Espelho e suas transgressões
O Espelho de Porete deixa transparecer toda a cultura assombrosamente letrada de sua escritora, o que resulta em um texto complexo onde se cruzam vários saberes, como filosofia, literatura e teologia, num feixe de conhecimentos sagrados e profanos. Em meio aos temas ali tratados, um merece destaque por ser o fio condutor de todo o livro: o conceito de aniquilamento ou aniquilação (anientissement). É fato que este conceito não é posto com clareza em o Espelho. Mas, de qualquer maneira, apesar de não aparecerem ao longo do livro de Porete definições do que seja aquele estado, todo o livro se articula do início ao fim na ideia de que as almas podem chegar a ser almas aniquiladas, isto é, almas livres de todo e qualquer intermediário que impeça a livre união do ser humano com Deus.
O aniquilamento, por sua vez, pode ser lido de diferentes ângulos no texto poretiano, desde as três mortes (do pecado, da natureza e do espírito), passando pelos setes graus ou sete estados que a alma deve percorrer, até a “depuração” da própria linguagem por meio das apófases, estando tudo isso relacionado ao mesmo processo de aniquilamento da alma. Este processo, como um percurso, aparece ao longo de O Espelho, mas há alguns capítulos específicos em que esta ideia é apresentada, seja de forma introdutória (Prólogo), seja resumida (Capítulo 61), seja melhor apresentada (Capítulo 118).
O Espelho, como já explicitado, é um livro de estilo exemplar, logo, a condução de seus leitores/ouvintes é importante para sua autora. Assim, mesmo se tratando de um experienciar próprio e subjetivo, o texto não deixa de ser um tratado mistagógico, portanto, que conduz (ou ensina) outras pessoas. Sendo assim, logo no Prólogo, as palavras iniciais são: “Uma Alma tocada por Deus, e despojada do pecado no primeiro estado da graça, é elevada pelas graças divinas ao sétimo estado da graça. Neste estado a Alma tem a plenitude da sua perfeição por meio da fruição divina no país da vida” (Idem, pp. 2-5, Prólogo).
Ainda no Prólogo, mas agora o encerrando, encontramos a “meta” de O Espelho que ajuda a entender melhor o seu início: “Há sete estados de nobre existência, pelos quais a criatura recebe o ser, se ela se dispõe a passar por todos eles, antes de chegar ao estado perfeito. Vos direi como, antes que este livro termine.” (Idem, pp. 49-52, Prólogo). Posto isto, Marguerite Porete vai narrando e conduzindo o/a leitor(a)/ouvinte na sua narrativa que traz muitas reflexões (Cf. Nogueira, 2020). Dentre estas, destaca-se aqui as que podem ser relacionadas às transgressões.
Aniquilamento: tal conceito passa, necessariamente, por três mortes e por sete estágios, onde aos poucos a alma vai se desprendendo de uma série de coisas até se esvaziar completamente da sua vontade ou do seu eu. Para que o processo de aniquilamento se realize na sua completude é preciso abrir mão de determinadas coisas que a instituição igreja considera importante, como missas, sermões, jejuns, orações (Cf. Porete, 1986, pp. 20-21) e que Marguerite Porete considera como empecilhos para se unir a Deus, pois se trata, para ela, de uma união sem intermediários (sine medio). Essa é uma Ideia que diminui o poder da igreja enquanto mediadora entre os seres humanos e Deus.
Santa igreja, a grande e Santa igreja, a pequena: Marguerite Porete insiste na ideia de que a instituição (Santa igreja, a pequena) não tem condições para guiar as almas, pois ela age de acordo com os preceitos da Razão. Esta, por sua vez, tem a visão de um só olho, e isto acontece a ela e a todos que são nutridos na sua doutrina, ou seja, enxergam as coisas diante dos olhos, mas sem compreendê-las (Cf. Porete, 1986, pp. 24-27). Como afirma Porete, são pessoas com boca sem palavras, olhos sem claridade, ouvidos sem audição, razão sem razão, corpos sem vida e coração sem entendimento (Cf. Idem, pp. 6-12). Essa é uma visão que demonstra a submissão da instituição igreja às Almas aniquiladas e como isso deve ser a regra a ser seguida por quem deseja uma união autêntica com Deus.
O Longeperto: este parece ser o único personagem sem fala em O Espelho. Ele aparece de diferentes formas, como centelha, movimento de abertura, Trindade, como o único capaz de quebrar a clausura secreta da mais elevada pureza da Alma. Porém, cabe ouvir o que escreve Porete no Cap. 84 (pp. 13-14), quando aborda a queda da Alma aniquilada no abismo “que se nomeia ‘nada pensar do Longeperto’, que é o seu mais próximo”.
Quer dizer, o termo Longeperto, além de demonstrar o conhecimento da literatura cortês e o seu uso por parte de Porete para expressar o mais perfeito amor divino, indica, também, que ele faz parte do percurso místico poretiano, sendo ele próprio um novo nome para Deus que, como analisa McGinn (Op. Cit., p. 380), trata-se de dois adjetivos que sugerem ser Deus não uma coisa, mas uma “relação”. Dialeticamente distante (longe) por sua infinitude e, ao mesmo tempo, próximo (perto) pela força do desejo e pela origem (divina) do humano. (Cf., Nogueira, 2019). O uso do Longeperto termina por apresentar uma visão de Deus não tão definida, não tão limitada, nem tampouco enquadrada num determinado modo de pensar que Porete critica.
A crítica à Razão: Com o termo Longeperto Porete foge, portanto, de uma “substantivação” de Deus, pois esta é típica do modo de pensar da Santa igreja, a grande, movida pela Razão. A razão poretiana e a das Almas aniquiladas raciocinam de outro modo e, por isso, ao criticar o modo estreito, limitado e finito da Razão, usando palavras como lesma, entediante, pequena, rude, bestas, asnos (Cf. Porete, Cap. 35 e 69), Marguerite Porete pode afirmar: “Tais pessoas, que eu chamo de asnos, procuram Deus nas criaturas, nos mosteiros quando rezam, nos paraísos criados, nas palavras dos homens e nas Escrituras […] Acreditam que Deus esteja sujeito aos seus sacramentos e às suas obras” (Porete, 1986, pp. 35-37 e 42-43).
Quando perguntada pela Razão onde ela encontra Deus, a Alma responde que “O encontra em todos os lugares, pois Deus é tudo em todos os lugares” (Idem, pp. 52-53). Não se trata de uma crítica à faculdade da razão, pois se assim o fosse, nem mesmo o texto poretiano teria sentido algum. Porete não é contra a faculdade da razão, aliás, ela a usa muito bem. Ela apenas se posiciona de modo crítico ao que a personagem Razão, criada por ela, representa, ou seja, a instituição igreja com todo o seu poder de reprimir, por exemplo, uma espiritualidade como a de Marguerite Porete, enraizada no amor e na liberdade, e a sua incapacidade (da Razão) de alargar os seus horizontes de compreensão.
Com a crítica à Razão, Marguerite Porete parece antecipar a crítica contemporânea que foi feita à égide da bandeira iluminista; abre caminho para uma teologia feminista, já que age sempre de forma bastante consciente em relação à sua escrita e ao direito que pensa ter para divulgá-la; defende o direito de viver a sua espiritualidade de forma livre, uma vez que a Razão (e tudo que representa) impõe modelos e limites a esta vivência; e critica, ainda que indiretamente, o fazer filosófico dos escolásticos, enraizado na Razão, e que defende em grande parte que uma mulher não deve pregar ou ensinar em público.
A escrita do Espelho. Consciência e resistência: O livro poretiano, diferente do de outras beguinas, não é um livro confessional, como A luz que flui da divindade (Fließendes Licht der Gottheit), de Matilde von Magdeburg, nem um livro visionário, como as Visões (Visionem) de Hadewijch da Antuérpia (Cf. Ruh, 2000). Também, se se compara com outras filósofas medievais, como Hildegard von Bingen, por exemplo, Marguerite Porete jamais se utiliza da fórmula de humildade.
Além dessas diferenças, O Espelho de Porete inaugura uma mística especulativa (Cf. Garí, 2005). Quer dizer, embora mantenha a forte influência exercida pelo amor cortês, trata-se de uma experiência do pensamento amplamente apoiada na teologia negativa que reconhece os limites da linguagem quando se trata de escrever sobre o que ultrapassa qualquer limite, como se pode ler no Cap. 97:
Todavia, diz esta Alma que escreveu este livro, eu era tão tola no tempo que eu o fiz, ou melhor, que Amor o fez por mim e a meu pedido, que eu coloquei em risco coisas que não se podem fazer nem pensar, como aquele que quisesse conter o mar em seu olho, e carregar o mundo na ponta de um junco, e iluminar o sol com uma lanterna ou com uma tocha. Eu era mais tola do que seria aquele que quisesse fazer isso,
Quando eu estimei algo que não se pode dizer
e me vi presa pela escuta dessas palavras.
mas assim tomei meu curso,
para vir em meu socorro,
ter minha mais elevada coroa,
do estado que falamos
que é o da perfeição.
Quando a Alma permanece no puro nada, sem pensamento; e não antes disso
(Porete, 1986, pp. 30-47).
Para além das marcas autorais encontradas em O Espelho e que são reveladoras de um eu que se reconhece como tal e que vê no seu livro algo de importante, ao ponto de literalmente morrer por ele, a escrita poretiana também contribuiu para o desenvolvimento das literaturas vernáculas, como os livros de tantas outras mulheres medievais contribuíram. Ainda, quando se lê o livro poretiano, nele se reconhece sua autora e escritora, não somente porque muitas vezes ela fala em primeira pessoa, mas também, ou principalmente, porque revela a sua subjetividade (Cf. Forcades, 2011; Dronke, 1986).
Por fim, Marguerite Porete é um ser consciente e reflexivo da instância do seu discurso, e veicula seu nome ao seu texto e seu texto ao seu auditório (ela várias vezes chama a atenção para os “ouvintes do seu livro”). O eu de Porete tem um valor referencial sobre o plano do seu discurso, tanto que ela foi condenada à morte exatamente pelo discurso que fazia e este mesmo discurso/texto serviu para outras condenações de outros sujeitos na Idade Média. Apesar da condenação, seu Espelho vive, e com ele as reflexões de uma mulher que conscientemente resistiu para que suas ideias sobrevivessem e para que se pudesse pensar, quiçá, que há outras formas de se fazer filosofia/teologia, ou seja, aquela em que a Razão seja conduzida por Amor.
Referências Bibliográficas
Bibliografia primária
Edição em francês médio e latim (com inserções em inglês médio)
Porete, M. (1986). Le mirouer des simples ames. Edição de Romana Guarnieri (francês médio) e Paul Verdeyen (latim). Turnhout: Brepols (Corpus Christianorum, Continuatio Medievalis LXIX).
Traduções em línguas modernas
Porete, M. (1993). The Mirror of Simple Souls. Tradução de Ellen Babinsky. New Jersey: Paulist Press.
Porete, M. (1997). Le miroir des âmes simples et anéanties et qui seleument demeurent en vouloir et désir d’amour. Introdução, tradução e notas de Max Hout de Longchamp. Paris: A. Michel.
Porete. M. (2005). El espejo de las almas simples. Tradução, introdução e notas de Blanca Garí. Madri: Ediciones Siruela.
Porete, M. (2008). O espelho das almas simples e aniquiladas e que permanecem somente na vontade e no desejo do Amor. Tradução e notas de Sílvia Schwartz. Petrópolis: Vozes.
Porete, M. (2011). Der Spiegel der einfachen Seelen. Tradução de Bruno Kern. Alemanha: Marixverlag GmbH.
Porete, M. (2018). Lo specchio delle anime semplici. Tradução de Giovanna Fozzer. Firenze: Le lettere.
Para outras edições e estudos: https://www.arlima.net/mp/marguerite_porete.html
Bibliografia secundária
Barton, R. (1922). A History of the Inquisition in the Middle Age. NewYork: Macmillan.
Bradley, R. (1954). Backgrounds of the Title Speculum in Mediaeval Literature. Speculum 29 (1), pp. 100-115.
Recuperado de: https://www.jstor.org/stable/2853870
Acesso em 22 out. 2022.
Cirlot, V. e Garí, B. (1999). La mirada interior. Escritoras místicas y visionarias en la edad media. Barcelona: Ediciones Martínez Roca.
Diniz, J. O. (2022). O espelho de si. Espiritualidade e autonomia feminina na literatura mística de Marguerite Porete. (Dissertação de Mestrado) – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande.
Recuperado de: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/4304
Acesso em 09 dez. 2022.
Dronke, P. (1986). Donne e culture nel Medioevo. Scrittrici medievali dal II al XIV secolo. Tradução de Eugenio Randi. Milano: Il Saggiatore.
Fredericq, P. (1889). Corpus documentorum inquisitionis. Haereticas pravitatis neerlandicae. Parte I (1025-1520). Gante, Bélgica e Haia, Holanda: J. Vuylsteke e Martinus Nijhoff.
Muraro, L. (2000). Un livre et ses présents: Corps et paroles de femmes dans la théologie occidentale. Clio, (12), Le genre de la nation, pp. 209-224.
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