Hipácia de Alexandria 

Hipácia de Alexandria 

(? – ca. 415 EC)

por Loraine Oliveira,

professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco – Lattes

e Emílio Negreiros,

professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco – Lattes

 

Hipácia de Alexandria – PDF.docx

 

Judy Chicago. Drawing for Hypatia Illuminated Letter on runner, 1977. Técnica mista sobre papel, aprox 22.9 × 30.5 cm. © Judy Chicago. (Photo: © Donald Woodman). Acervo Brooklyn Museum In: https://www.brooklynmuseum.org/. *

Hipácia (Hipátia; Hypátia – Ὑπατία) viveu em Alexandria, no Egito, onde desenvolveu atividades de pesquisa e ensino ligadas à filosofia e à matemática. Embora não tenha chegado aos dias de hoje nenhum texto estritamente filosófico da sua pluma, e nem sequer títulos, talvez porque ela nada tenha escrito, costuma-se considerá-la neoplatônica. Quanto às matemáticas, chegaram referências a títulos que indicam ter-se dedicado ao estudo da astronomia, da geometria e da aritmética. No início do terceiro livro do Comentário ao Almagesto, de Ptolomeu, escrito por seu pai, Teon, consta que ela o teria revisado. Debate-se a atribuição da autoria deste livro a ela, sem que se consiga comprová-la. Porém admite-se que estudou e colaborou com o pai na edição e comentário de obras fundamentais da matemática alexandrina. Outrossim, pode-se aduzir que os seus estudos de matemática estavam intimamente ligados aos de filosofia. Vale lembrar que a filosofia antiga não se desenvolveu em textos destinados a leitores que fossem especialistas, ou diletantes, como hodiernamente. A filosofia antiga constitui um modo de vida, no qual teoria e prática andam juntas, a teoria fundamentando as ações e o cotidiano validando a teoria, tanto quanto possível. Além disso, a filosofia estava intimamente ligada ao seu ensino oral, de modo que os textos destinavam-se ao ambiente escolar, tanto no que diz respeito à forma, quanto ao conteúdo. Portanto, muitas coisas não foram escritas. No que concerne ao neoplatonismo alexandrino do quarto e do quinto século, pode-se dizer que: 1. a ordem de leitura dos diálogos platônicos já estava bastante sistematizada; 2. elementos religiosos podiam ser empregados nos comentários aos diálogos ou na explicação de conceitos da filosofia platônica; 3. as matemáticas constituíam um caminho, senão um método privilegiado de acesso ao Um. Contemplar o Um era o objetivo da filosofia, tal como o compreendiam os neoplatônicos desde Plotino, no século III EC.

Não se sabe o ano em que nasceu. No Onomatologus, Hesíquio afirma que o ápice da carreira de Hipácia ocorreu durante o reinado de Arcádio. Ora, ele foi proclamado Augusto por volta de 383 e morreu em 408. Diante disso, pode-se considerar que nasceu em 370, e situa-se sua maturidade intelectual por meados do reinado em questão. Não obstante, na Chronographia, Malalas afirma que ela era idosa quando foi assassinada, o que permite sustentar que ela teria nascido por volta de 355 e contaria com sessenta anos no momento de sua morte (ver Dzielska, 2009, pp. 82-83). Hipácia foi brutalmente assassinada durante o episcopado de Cirilo, muito provavelmente no ano de 415 EC.

 

Hipácia em seu contexto histórico 

 

Hipácia viveu em uma das mais importantes metrópoles do Império Romano do Oriente: Alexandria era um importante centro intelectual e era base para o comércio do Mediterrâneo Oriental. 

Da mãe não se conhece o nome. Talvez tivesse irmãos, um chamado Epifânio e outro, Atanásio, mas sobre isso não há unanimidade nos estudos hodiernos e as fontes antigas não são precisas (sobre a família de Hipácia, ver Roques, 1995). Sabe-se com certeza quem era seu pai, o respeitado matemático Teon, que deve ter nascido por volta de 335, em Alexandria, e falecido antes do assassinato de Hipácia. O léxico bizantino do século X conhecido por Suda, informa que era membro do Museu, e é possível que tenha sido seu último matemático. Schiano (2002) põe em dúvida a existência do Museu na época de Teon, haja vista que a datação do fim desta instituição é deveras controversa e ela não é mencionada nas fontes do século IV. Uma hipótese que se pode aventar é que não existisse mais no mesmo lugar, mas funcionasse no Serapeu. De um modo ou de outro, considera-se que com Teon e Hipácia se encerrou a época da escola matemática alexandrina. 

Teon, que talvez hoje seja mais conhecido como pai de Hipácia, na sua época era um célebre astrônomo e professor de matemática. Anne Thion (1978, p. 1), editora do Grande e do Pequeno Comentário às Tabelas Práticas de Ptolomeu, escrito por Teon, situa seu acme em 364, quando observou dois eclipses, um solar, em 16/06, e outro lunar, na passagem de 25 para 26/11. Os cálculos detalhados destes eclipses encontram-se no Comentário ao Almagesto e no Pequeno Comentário. Na altura em que viveu, quando as matemáticas e todo o vasto acervo da erudição helenista se viam sob suspeita e ameaçados, Teon tratou de editar e comentar aqueles que eram considerados textos de autoridade. Assim, por exemplo, tem-se o Comentário ao Almagesto de Ptolomeu, o Grande Comentário às Tabelas Práticas de Ptolomeu e o Pequeno Comentário às Tabelas Práticas de Ptolomeu. De Euclides editou os Elementos e os Dados. O Suda menciona outros quatro títulos, ora perdidos: Comentário sobre o pequeno astrolábio; Sobre os signos e a observação da voz dos pássaros; Sobre o nascer da estrela do Cão (Sirius); Sobre a inundação do Nilo. É interessante notar que os pagãos sentiam a presença divina nas inundações do Nilo, mesmo sendo um acontecimento natural (Chuvin, 1990, pp. 73-74). 

Foi neste ambiente intelectual que viveu Hipácia, tornando-se professora de filosofia e matemática. Suas aulas eram frequentadas por ilustres membros da cidade, tanto pagãos, como cristãos e judeus, e sua fama correu para além das fronteiras alexandrinas, atraindo ouvintes de outras partes do Império. Mantinha boas relações com o prefeito Orestes, que fora seu discípulo e que buscava conselhos com ela em assuntos políticos (ver Sócrates Escolástico, Sinésio e Nikiu). Outro aluno foi Sinésio, que frequentou a escola por dois anos e depois tornou-se bispo de Cirene. O convívio entre pagãos e cristãos na época de Hipácia não era pacífico e pouco a pouco a aristocracia pagã foi se convertendo ao cristianismo. Assim fez Orestes, que, no entanto, não abandonou completamente sua cultura pagã. Hipácia não se converteu, e apesar do cenário político, seus discípulos conviviam fraternalmente uns com os outros, conforme indicam as cartas de Sinésio. Durante sua vida, Hipácia viu a destruição e a transformação dos templos antigos em igrejas. Fato emblemático foi a queda do Serapeu e a destruição da sua biblioteca, que resultou na fuga de muitos intelectuais pagãos. Ora, mais que apenas um templo, o Serapeu possuía alto valor político e cultural. Foi destruído a mando do bispo Teófilo, a partir do édito de Aquileia, de 16 de junho de 391, que interditou os sacrifícios, e na prática, os cultos pagãos. Este édito, que foi enviado para o prefeito e o conde (isto é, o governante militar) de Alexandria, seguia o exemplo de outro, promulgado em Milão, em fevereiro do mesmo ano, que havia sido endereçado ao prefeito de Roma. O bispo de Alexandria obteve então aprovação do imperador Teodósio para destruir o Serapeu e subsequentemente construir no lugar uma igreja. Assim, com o exército, cercou e tomou a edificação. A biblioteca, as paredes com inscrições hieroglíficas e objetos sagrados pagãos, a exemplo da estátua criselefantina de Serapis, foram completamente destruídos. Trabalho refinado de ourivesaria e marfim, cuja estrutura interna era feita em madeira, a escultura havia sido feita pelo célebre ateniense Bryaxis, no século IV AEC. O neoplatônico Olímpio, que havia comandado a defesa do Serapeu, fugiu às escondidas pouco antes da queda. Outros defensores cujos nomes conhecemos, Eládio e Amônio, migraram para Constantinopla, onde seguiram ensinando literatura e exercendo atividades sacerdotais (Chuvin, 1990, p. 70 sq). Não é possível identificar todos os que partiram e os que ficaram. Mas pode-se entrever o clima de ameaça e declínio em que as instituições pagãs se encontravam e as condições que aos poucos se impuseram aos intelectuais. Após o Serapeu, muitos outros templos tiveram o mesmo destino. 

O silêncio das fontes antigas sugere que Hipácia não participou da defesa do Serapeu, e nem foi vista em lugares onde se travavam batalhas entre pagãos e cristãos (Dzielska, 2009, p. 98). Mesmo após a queda do Serapeu, Hipácia continuou ensinando sem que seu círculo de discípulos sofresse ameaças. No entanto, quando Cirilo se tornou bispo de Alexandria, em 412, após a morte de Teófilo, a tensão aumentou na cidade. Primeiro, Cirilo iniciou uma querela pela pureza da fé, voltando-se contra grupos não ortodoxos, a ponto de fechar igrejas, confiscar seus bens e forçar alguns a saírem da cidade. Depois, tratou de acirrar os conflitos entre cristãos e judeus, finalmente expulsando os judeus de Alexandria no ano de 414. As fontes antigas aventam diversos motivos, mas cabe destacar o monopólio do comércio de grãos, que Cirilo queria estender para a igreja e de fato conseguiu em 415. Orestes ouviu as demandas dos judeus e ao defender os interesses deles atraiu a violência do bispo contra si e contra Hipácia (sobre este tema, ver Oliveira, no prelo, e Ronchey, 2014, p. 153 sq.). 

 Dali em diante as contendas entre o prefeito e Cirilo se tornaram cada vez mais ásperas. O bispo buscava aumentar seu poder nos assuntos públicos e, quando queria, se valia de monges do deserto armados, fanáticos e iletrados. Foram eles que destruíram as sinagogas. É bem provável que se tratasse dos parabolanos, os quais inicialmente deviam cuidar dos enfermos, mas se tornaram uma espécie de milícia muitas vezes convocada por Cirilo. Pelo que indicam as fontes antigas, uma turba de cristãos enfurecidos matou Hipácia em torno de 415. No entanto, o cotejo das fontes não permite afirmar peremptoriamente que o mandante do crime foi Cirilo, mas estudando o contexto histórico, percebe-se que ele se beneficiou muito com o assassinato de Hipácia (Oliveira, no prelo). 

 

A matemática e a filosofia 

 

Embora a reputação de Hipácia como filósofa tenha ultrapassado a de matemática, não há nas fontes antigas menção a textos, nem mesmo títulos de obras filosóficas atribuídas a ela. No âmbito do neoplatonismo tardio, a matemática desempenhava um papel bastante importante: era um caminho para a purificação, com o fito de se atingir a contemplação do Um. Ou seja, a matemática não era estudada apenas por si própria, mas apontava para além de si, e isso não é estranho, uma vez que para Platão o estudo das matemáticas era propedêutico ao estudo da dialética, como se pode ler na República VI. 

No campo da matemática, segundo Hesíquio de Mileto, “ela escreveu um comentário sobre Diofanto, <sobre> o Cânone astronômico, um comentário sobre as Cônicas de Apolônio” (Suda, IV, 644, 3-6, tradução de acordo com a versão de Tannery). A passagem se encontra corrompida e a solução de Tannery, que consiste em acrescentar εἰς antes de Cânone astronômico, não é totalmente aceita pelos especialistas hodiernos. Assim, de acordo com a edição e a tradução de Rashed e Houzel (2013, p. 598), que introduzem κατά onde Tannery havia proposto εἰς, tem-se: “ela escreveu uma dissertação sobre Diofanto, de acordo com o cânone astronômico; uma dissertação sobre as Cônicas de Apolônio”. Isto é, dois textos, ao invés de três, e nenhum deles considerado comentário por esses estudiosos, que traduzem ὑπομνήματα por mémoire, a despeito do termo grego referir-se a “comentário filosófico”. Logo, o texto de Hesíquio, longe de conduzir a certezas sobre o trabalho de Hipácia, apresenta problemas para os estudiosos, uma vez que não se sabe ao certo nem sobre que texto ou que tese de Diofanto ela teria escrito, nem mesmo que cânone astronômico, nem quantos e de que tipo seriam os livros de sua autoria. 

Com efeito, Diofanto é considerado fundador de um ramo da matemática atualmente designado em sua honra: a análise diofantina. Tecnicamente é o início da “teoria dos números”, que é um ramo do que hoje se chamaria álgebra (Deakin, 2007, p. 98). Na recente edição da Aritméticas de Diofanto, Rashed e Houzel (2013, p. 2) insistem que a obra diofantina não é nem um livro de álgebra, nem de geometria algébrica, mas sim um livro de aritmética onde são aplicados procedimentos algébricos até então inéditos. No preâmbulo, Diofanto informa que as Aritméticas continham 13 livros. Somente 6 deles foram conservados em grego, e, em 1971, se encontraram 4 livros em árabe, que foram perdidos em grego. Além disso, nos manuscritos bizantinos encontra-se um texto anônimo, que foi transmitido como prolegômeno ao Almagesto, cujo título pode ser traduzido assim: “Métodos úteis para as multiplicações das frações de acordo com o cânone da astronomia”. Discute-se a sobrevivência de excertos do texto hipaciano na edição bizantina anônima. De todo modo, este título sugeriu a interpretação ora apresentada por Rashed e Houzel. Em síntese, eles consideram que havia uma tradição escolar local em Alexandria no contexto da qual se estudava Diofanto. Ocorre que os achados de Diofanto poderiam ser empregados para a solução de problemas alheios ao seu próprio tratado. É o que parece ter feito Teon no Comentário ao livro I do Almagesto: “Para introduzir o cálculo sexagesimal, Teon se apoiou no primeiro capítulo das Aritméticas, que tratava das multiplicações de números inteiros e frações” (Rashed e Houzel, 2013, p. 597). Baseados nisso, contrariando Tannery, eles supõem que Hipácia não tivesse comentado a totalidade das Aritméticas, proposição por proposição, mas sim que houvesse composto uma dissertação em relação com seus interesses por astronomia, mais ou menos semelhante ao que seu pai teria feito na passagem supramencionada, enriquecendo as análises dele (Rashed e Houzel, 2013, p. 599). 

Se o “cânone astronômico” a que se refere Hesíquio fosse de fato o Almagesto, considerando que Teon havia escrito um comentário ao Almagesto em vários livros, e que Hipácia com ele colaborara, não faz muito sentido que ela própria compusesse um novo comentário. Todavia, um texto de outro tipo e com outro propósito, sim. Ademais, cabe lembrar que no livro III do Comentário ao Almagesto, Teon escreveu “edição revista por minha filha Hipácia, a filósofa”. Muita tinta correu sobre a autoria deste livro, e os estudiosos se dividem entre aqueles que atribuem a autoria à Hipácia, munidos de argumentos filológicos e matemáticos, nem sempre tão fortes a ponto de concluírem a questão, e outros que consideram o livro III da lavra de Teon. Deakin (2007, p. 91 sq) oferece um panorama dos argumentos pró e contra a autoria de Hipácia, considerando “plausível que a mão de Hipácia possa ser vista não só no Livro III mas também no Livro IV”. No entanto, não se pode afirmar que o livro em escopo seja de sua autoria. 

O que parece mais interessante investigar a partir do Almagesto é a relação entre matemática e filosofia proposta por Ptolomeu, e que Hipácia devia conhecer. Cláudio Ptolomeu viveu em Alexandria no século II EC, e é lembrado notoriamente por sua obra astronômica, que foi autoridade até os séculos XVI e XVII. À guisa de curiosidade, o título original do que hoje designamos por Almagesto era Mathēmatikḕ sýntaxis, e o livro constituía uma exposição completa de astronomia matemática. Nos séculos VIII e IX, o tratado foi diversas vezes traduzido para o árabe, até que o título se tornou al-mjsṭy, derivado do grego megístē (grande), que talvez tenha substituído sýntaxis. Deste título árabe derivou o latim medieval almagesti, almagestum, até o título moderno, em português Almagesto (ver Toomer, 1998, p. 2). Ptolomeu também escreveu sobre harmonia (isto é, música, entendida como uma parte da matemática), geografia, ótica e astrologia, fazendo da matemática a única parte da filosofia capaz de chegar a conhecimentos verdadeiros. Não se pode afirmar com certeza quais teriam sido as fontes filosóficas nas quais Ptolomeu bebeu, pois não era habitual citar. No entanto, ele menciona Platão nas Hipóteses planetárias e Aristóteles nesse mesmo texto e no Almagesto. Nos séculos I e II EC, se percebe uma prática filosófica na qual se combinavam conceitos e vocabulário de diferentes escolas. Assim, as tradições platônica, aristotélica, estoica e epicurista, juntamente com o repositório religioso egípcio, grego e romano, podiam compor o tecido do pensamento de um filósofo, mesmo que ele se ligasse especialmente a uma ou outra escola. Ptolomeu misturava conceitos das tradições platônica e aristotélica, mas também dos estoicos e epicuristas, ao que parece de modo sem precedentes na filosofia. A despeito disso, sua contribuição para a filosofia acabou sendo eclipsada. 

No começo do Livro I do Almagesto, ele divide a filosofia em prática e teórica, e afirma que a parte teórica da filosofia é mais valiosa do que a prática. A matemática pertence à filosofia teórica, junto com a física e a teologia. Mas somente a matemática permite atingir um conhecimento verdadeiro do seu objeto, e neste ponto Ptolomeu foi inovador e muito controverso. Para ele, a física e a teologia repousam sobre a conjectura, já a matemática chega à sabedoria. Isso se deve à qualidade dos objetos estudados por cada uma. A física é conjectural por causa da falta de estabilidade e clareza da matéria, seu objeto. A teologia tem por objeto o Primeiro Motor, que é invisível e inapreensível. As matemáticas, por sua vez, procedem de acordo com métodos indiscutíveis: a aritmética e a geometria.

Em consonância com a ética platônica, ele considerava que a melhor vida era a virtuosa. Porém, para Ptolomeu, a matemática revelava o objetivo da vida humana e fornecia os meios para o alcançar, diferente de Platão, para quem era preciso dedicar-se à dialética, um campo de estudos posterior e superior ao das matemáticas. No final do Livro I do Almagesto, Ptolomeu afirmou os benefícios da matemática, mormente a astronomia, para a ética: viver bem significa buscar um estado são e bem ordenado, um estado harmonioso da alma. Contemplar os corpos celestes, sua constância, ordem, simetria e beleza, leva a alma a um estado comparável ao do mundo divino. Ademais, os movimentos dos corpos celestes são eternos e imutáveis, por isso o tipo de conhecimento que a astronomia produz é eterno e imutável. Apesar disso, no Livro III, 1, ele nota que o poder de observação humana é limitado, motivo pelo qual certos aspectos das hipóteses astronômicas não podem ser conhecidos em sentido absoluto. Donde a necessidade, tanto para Ptolomeu, como mais tarde para Teon, Hipácia e os astrônomos em geral, de comprovar com cálculos aritméticos e geométricos as suas hipóteses astronômicas (Feke, 2018, p. 20; Feke, 2012). 

O outro escrito atribuído à Hipácia é um comentário sobre as Cônicas de Apolônio. Apolônio de Perga viveu em Alexandria e teria sido contemporâneo dos discípulos de Euclides no Museu. O tratado sobre as seções cônicas era composto por oito livros, dos quais apenas os sete primeiros sobreviveram na sua quase totalidade. Os livros I-IV chegaram até os dias de hoje em grego através de um comentário de Eutócio, matemático ativo no início do século VI. Os livros V-VII chegaram por meio de traduções árabes. Considera-se provável que o comentário de Eutócio tenha incluído apenas os primeiros quatro livros, o que é geralmente sugerido como a razão para a nossa falta de um texto grego completo. Esses quatro livros constituíam uma introdução geral ao tema, que já era conhecido antes de Apolônio. Porém, seu tratado foi considerado superior a tudo o que o precedeu (Deakin, 2007, p. 95). Ele mostrou a importância do método aritmético aplicado à geometria, e hoje ele é considerado fundador da astronomia matemática quantitativa (Beretta, 1993, p. 52). O comentário de Hipácia não sobreviveu e Eutócio não fez nenhuma alusão a ele. 

Duas cartas de Sinésio também constituem fonte para a reconstrução da matemática hipaciana. Menos relevante, mas curiosa, é a carta XV, endereçada a ela, em que Sinésio descreve o hidroscópio que mandou fabricar. Ora, este instrumento media o peso dos líquidos. Na outra carta, que escreveu para um amigo de nome Peônio, Sinésio fala de um presente que mandou fazer pelos melhores ourives para o referido destinatário: um astrolábio. O presente objetiva avivar em Peônio a tendência natural para a filosofia: era instrumento capaz de fornecer ao “observador inteligente” os meios para compreender a realidade para além do artefato. Dito de outro modo, o ponto central do argumento de Sinésio é que a constituição do astrolábio só é compreensível se prestarmos atenção à projeção matemática da esfera (exáplōsis) que está na base da determinação das linhas traçadas nele. Por isso, refletir sobre a projeção dos astros na superfície do instrumento, desenhado com linhas e curvas, e fazer dela um meio concreto para o observador elevar a sua alma acima do mero olhar superficial, era a caraterística original do projeto de Sinésio (ver Bernard, 2010, p. 422). Sinésio diz que idealizou o astrolábio com base no que aprendeu com Hipácia. Descreve o astrolábio, que segundo ele foi aperfeiçoado por Ptolomeu, e explica para que serve: indicar a posição dos astros não com relação ao zodíaco, mas com o Equador. A carta não informa qual a contribuição de Hipácia para este projeto sofisticado. Uma hipótese apontada por Bernard (2010, p. 422) é que o ensino de Hipácia era uma mistura elaborada de ensino técnico e interpretação filosófica e que a sua interpretação do astrolábio foi basicamente seguida por Sinésio. Esta pode ser uma hipótese plausível, uma vez que Hipácia muito provavelmente conhecia bem os aspectos filosóficos da astronomia ptolomaica, além dos aritméticos e geométricos. Que ela de fato tivesse interesse na construção de instrumentos, não passa de uma suposição a partir de ambas as cartas. 

Com respeito à filosofia, a maior parte dos estudos hodiernos sobre Hipácia a considera neoplatônica. Não obstante, Bernard (2010) tentou contestar isso, defendendo que a filosofia de Hipácia fosse ptolomaica, o que parece difícil de aceitar, uma vez que não há nenhuma menção nas fontes antigas a isso. É possível admitir que Hipácia conhecia a filosofia de Ptolomeu, graças à colaboração com seu pai e aos estudos realizados junto a ele, mas não é suficiente para desconsiderar que ela desenvolvesse um tipo de filosofia platônica. Até mesmo porque o neoplatonismo alexandrino do final do IV século e do V associava matemática, o estudo de diálogos de Platão e textos de Aristóteles, os Oráculos Caldaicos, o Orfismo e, com forte probabilidade, a teurgia. Isso sem esquecer comentários a Platão e Aristóteles, textos de filósofos oriundos de outras escolas e os poemas de Homero e Hesíodo. O traço comum aos filósofos neoplatônicos, seja de Atenas, Alexandria ou outras partes do império, do III ao V século, era o de perseguirem um modo de vida baseado nos ensinamentos de Platão, que segundo eles, objetivava a contemplação do Um ou Bem. Tudo o que estudavam e as práticas religiosas que vários dentre eles mantiveram, tinha este escopo e se situava sob a autoridade dos textos de Platão. Por outro lado, Saffrey (2000) considera que o platonismo de Hipácia seguia as exegeses de Jâmblico, que as ilustrava com citações dos Oráculos Caldaicos. Ele baseia essa hipótese na presença dos Oráculos nos Hinos de Sinésio e também na hipótese muito difundida de que, no século IV, o ensino da filosofia no Oriente foi assegurado pelos sucessores de Jâmblico. No entanto, nenhuma fonte antiga menciona explicitamente qualquer interesse de Hipácia por práticas religiosas, ao passo em que Teon, sim, teria cultivado tais interesses. Ainda que se permaneça em non liquet por falta de textos da mão de Hipácia, podem-se comentar três fontes antigas que orientam a tentativa de compreensão da sua filosofia: A História Eclesiástica, de Sócrates Escolástico, as cartas de Sinésio e a História filosófica, de Damáscio. 

Sócrates Escolástico diz que: 1. Hipácia desenvolveu seus estudos e ultrapassou os filósofos do seu tempo; 2. Recebeu a sucessão da escola platônica derivada de Plotino; 3. Ensinava filosofia para quem quisesse ouvir, de modo que chegavam até ela pessoas de todos os lugares (Hist. Eclesiástica, 7, 15). Segundo seu relato, Hipácia foi uma grande professora e filósofa, e isso não causa embaraço para os intérpretes, como o ponto 2 causa. Com efeito, Plotino foi para Alexandria aos 28 anos, com o fito de frequentar as aulas de Amônio Sacas e lá permaneceu por onze anos. Fundou uma escola em Roma, aos 40 anos, e de lá não retornou à Alexandria. Portanto, não havia uma sucessão institucional possível. A este propósito, cabe observar que a diferença existente entre a escola platônica de Atenas e a de Alexandria é institucional: em Atenas tem-se uma escola permanente, privada, com uma sucessão ininterrupta de diádocos (escolarcas). Em Alexandria não se sabe se os filósofos platônicos ensinavam na mesma instituição, fosse pública ou privada, se recebiam salário do governo, ou se recebiam algum pagamento dos alunos. Talvez, como os retores, alguns filósofos possuíssem sua própria escola. “Se continuamos falando de uma ‘escola neoplatônica de Alexandria’, o fazemos empregando a palavra ‘escola’ no sentido mais amplo de comunidade de espírito e de doutrina, e não no sentido de uma instituição permanente” (Hadot, 1978, p. 12). Poderia então se tratar de uma sucessão intelectual? Segundo Goulet-Cazé (1982, p. 249), Plotino era visto como o promotor de uma profunda renovação do platonismo, e por esse motivo nos séculos IV e V, em Atenas, como em Apameia, Sardes e Alexandria, se proclamava fidelidade ao platonismo, declarando-se discípulo ou sucessor de Plotino. 

Inferir das cartas de Sinésio o conteúdo do ensino de Hipácia não é um procedimento historiograficamente seguro, embora amplamente usado. Daí vem a hipótese de que se ele e um colega conheciam Plotino, ela também o conhecia. Na Carta 139, endereçada a Herculiano, Sinésio recomenda: “seja filósofo, e ‘eleve o elemento divino que está em ti até o divino primeiro engendrado”‘, palavras estas que ele atribui a Plotino. Herculiano parece ter sido o mais próximo amigo de Sinésio na escola de Hipácia. Nenhum dos dois era natural de Alexandria, e em ambos Hipácia causou uma impressão extraordinária (Carta 137). A propósito, assim como o excerto de Sócrates, esta carta também indica que estrangeiros vinham assistir aos cursos de Hipácia. Mais do que aspectos filosóficos, as cartas permitem conhecer um pouco do ambiente em torno à professora: ela e seus discípulos formavam uma comunidade, na qual os condiscípulos se sentiam unidos por laços profundos. Na Carta 16 ele usa altos títulos para se dirigir à Hipácia: mãe, irmã, mestra e por isso, sua benfeitora. Ele a considera uma guia autêntica nos mistérios da filosofia e diz que revelava aos alunos o sentido sagrado da pesquisa filosófica. Finalmente, envia dois textos inéditos para submeter à sua avaliação; serão publicados caso ela aprove (Carta 154).

A notícia de Damáscio (Histoire philosophique, ed Athanassiadi, 43), enfim, informa que: 1. Hipácia explicava as teorias de Platão e Aristóteles e outros filósofos. Esta, como já sabemos, era uma prática comum no neoplatonismo. 

  1. Ela ensinava publicamente (demosía), envergando o manto dos filósofos. O termo demosía permite considerar que ou ela ensinava às expensas do estado, ou em um espaço público, quiçá na rua mesmo (ver Oliveira, 2016, p. 10). Por outro lado, na mesma notícia, Damáscio também sugere que Hipácia recebia alunos em casa: passando em frente à casa de Hipácia, Cirilo viu uma grande quantidade de homens e cavalos. Perguntou o que aquelas pessoas ali faziam, e soube que esperavam para ouvir Hipácia. É mister observar que, seja no espaço doméstico ou num espaço institucional, as escolas filosóficas na Antiguidade transgridem a divisão entre interior e exterior. Elas têm, de certo modo, a exterioridade da vida pública, mas se constróem em torno de uma economia doméstica quase familiar, uma vez que supõem uma vida quotidiana comum com refeições comuns e eventualmente uma moradia comum, mas sobretudo, um tipo de relação de amizade e familiaridade entre mestre e discípulos. Deste modo, as escolas escapam da grande divisão gendrada que estrutura as sociedades antigas, entre público e privado. A escola filosófica constitui, portanto, um espaço em que as mulheres podiam ocupar um lugar equivalente ao dos homens, e mesmo desempenhar o principal papel (Koch, 2017, pp. 78-79). 
  2. Era justa e prudente e manteve-se virgem por toda a vida. A castidade ligava-se à notória prática das virtudes que Hipácia pareceu ter fixado para si. A filosofia neoplatônica considera que a prática das virtudes leva à purificação da alma, que por sua vez consiste neste duplo movimento, de desligamento do sensível, por um lado, e elevação em direção ao inteligível, isto é, ao mundo das formas ou ideias de Platão. Voltar-se para o inteligível é o caminho para a contemplação do Um. Neste caso, percebe-se como o estudo das matemáticas estaria afinado com a prática das virtudes de Hipácia. Damáscio conta ainda uma anedota, segundo a qual Hipácia era bela e graciosa e por isso um dos seus alunos se apaixonou por ela. Para refrear a paixão do moçoilo e, assim curá-lo, eis que ela lhe mostrou “o signo da sua natureza suja”, um pano manchado do sangue da menstruação. Então, ela indagou: “Tu amas isso, jovem? Isso não é belo”. De modo que o aluno ficou envergonhado e perdido, sua alma se perturbou e ele assumiu uma atitude mais sensata. Ora, a atitude de Hipácia coloca em perspectiva um elemento feio, e que, portanto, não pode elevar a alma: o sangue, o dejeto do corpo físico e o amor, que se for verdadeiro, não deve se dirigir ao corpo, ao feio, ao mortal. 

Pensando a partir do excerto de Damáscio, no que diz respeito ao amor, a atitude de Hipácia só poderia seguir o ensinamento de Platão. Para os platônicos do final da antiguidade, o ensinamento do Banquete consistia em um caminho de ascensão da alma através do amor. O verdadeiro amor é o desejo de possuir o bem para sempre. Implica, pois, em um modo de vida virtuoso, e em uma atividade específica, a produção do belo, de obras belas, de belas palavras. Quem segue este caminho do amor, compreende que a beleza das almas é mais preciosa que a beleza dos corpos. Que a beleza dos conhecimentos é mais preciosa que a das ocupações e das leis. O amante que contempla a beleza superior dos conhecimentos está como que mergulhado no oceano sem fim da beleza. Ele dá à luz uma imensidão de belos discursos, e de belos pensamentos. Então avista de súbito o belo em si, que não aparece sob a forma de nenhuma coisa existente, nem corpos, nem palavras, nem conhecimentos, nem pensamentos. O belo surge como uma forma eterna e única, da qual todas as coisas belas participam. Neste contexto, a virgindade é um símbolo de pureza e virtude que caracteriza o ideal de vida platônico.

 

* Ao longo da história das artes visuais, Hipácia foi representada de maneiras muito diversas, todas imaginárias, uma vez que desconhecemos o rosto e o corpo de Hipácia: não há retratos da época, nem sequer descrições textuais. Deste modo, escolher uma imagem que a represente é, antes de mais nada, uma decisão política. Por esta razão, trazemos aqui o desenho de Judy Chicago para a instalação The Dinner Party (1974 – 79), considerada um icone da arte feminista do século vinte. Judy Chicago representou 1038 mulheres, sendo que 39 ocupam um lugar em uma mesa triangular, e as outras 999 têm seus nomes inscritos em ouro no piso de ladrilho sobre o qual se situa a mesa. Hipácia ocupa uma das mesas. A instalação está em exibição permanente, no Centro para a arte feminista Elizabeth Sackler (Elizabeth A. Sackler Center for Feminist Art, estabelecido pela Fundação Elizabeth A. Sackler, no Brooklyn Museum em Nova Iorque. 

 

Referências Bibliográficas

Referências das Fontes antigas

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