Laureana Wright
(1846-1896)
Teresa Rodríguez,
Instituto de Investigaciones Filosóficas
Universidad Nacional Autónoma de México
Laureana Wright - PDF
Vida e contexto histórico
Laureana Wright, poeta, jornalista, feminista e filósofa da educação, nasceu em 4 de julho de 1846, em Taxco, no estado de Guerrero, México, mas passou sua infância e vida adulta na Cidade do México. Sua mãe era Eulalia González, mexicana de uma família rica. Seu pai, Santiago Wright, um proprietário de mina estadunidense, foi o responsável por sua formação intelectual. De acordo com Alvarado (2005, p. 14), ela recebeu uma cuidadosa educação particular, que consistia em aprender inglês e francês e os “primeiros elementos do Iluminismo” (cf. Bolaños Cacho, em Murguía,1888, p. 314). Por volta de 1865, escreve seus primeiros versos, marcados por seu patriotismo, uma característica que manteve em alguns de seus outros poemas publicados (cf. Poetas Hispanoaméricanos. México. Primeira edição: Bogotá, Casa Editorial de J. J. Pérez, 1889). De acordo com Cristina Devereaux, a poesia era o primeiro passo para a vida intelectual pública no México do século XIX, tanto para homens quanto para mulheres. Em janeiro de 1868, ela se casou com Sebastian Kleinhans, de origem alsaciana. Ela teve uma filha, Margarita. Wright morreu em 22 de setembro de 1896, após uma série de doenças.
Laureana Wright defende filosoficamente a educação como a via fundamental para a emancipação feminina, enfatizando que a igualdade moral e intelectual entre homens e mulheres é indiscutível. Ela argumenta que somente por meio da participação nas esferas educacional e profissional as mulheres poderão alcançar a verdadeira liberdade e a justiça social. E tudo isso durante o Porfiriato, o longo período da presidência de Porfirio Diaz, entre 1876 e 1911.
Durante o Porfiriato, consolidou-se um discurso normativo sobre os papéis de gênero, que atribuía às mulheres um lugar subordinado na ordem social, com base em supostas diferenças naturais, intelectuais e morais em relação aos homens. Esse discurso foi articulado em várias frentes – científica, jurídica, religiosa e pedagógica – e resultou na promoção de um ideal feminino centrado na domesticidade, na obediência conjugal, na maternidade e na moralidade cristã. A figura do “anjo do lar”, disseminada na imprensa, na literatura de costumes e em algumas revistas femininas, tornou-se o modelo de feminilidade socialmente aceito (cf. Speckman 2004 e Devereaux 2015).
O sistema educacional porfiriano, embora promovesse a educação primária para ambos os sexos, diferenciava claramente o conteúdo e os objetivos da educação feminina. As meninas eram preparadas para serem mães, esposas e guardiãs do lar, por meio de matérias práticas como costura, civilidade, religião e trabalho doméstico. As mulheres de classe média, na maioria das vezes, ingressavam na escola normal para se tornarem professoras, uma das poucas profissões reconhecidas como “naturais” para elas, juntamente com a enfermagem e a costura. O trabalho feminino remunerado fora de casa era admitido apenas como uma necessidade econômica e era tolerado desde que não implicasse uma transgressão moral ou uma ameaça à ordem familiar.
Em nível legal, o Código Civil e outras disposições legais refletiam a hierarquia entre os cônjuges. A mulher casada estava sujeita ao marido. Embora o divórcio por motivos graves tenha sido introduzido, o casamento continuou sendo uma instituição desigual. Um exemplo eloquente é a “Epistola de Melchor Ocampo”, leitura obrigatória nas cerimônias de casamento civil, que enunciava a obediência feminina como um dever natural e divino, frente ao dever masculino de proteção (cf. García Peña 2001).
Entretanto, esses discursos normativos foram contestados por vários setores. Nos setores populares, a crescente industrialização atraiu as mulheres para o trabalho nas fábricas, especialmente nas indústrias têxtil e de tabaco. Em algumas fábricas, havia a figura do leitor em voz alta, que permitia algum acesso a leituras formativas e materiais impressos. Esse contexto deu origem a uma incipiente consciência de classe entre as mulheres trabalhadoras, algumas das quais, como Juana Belén Gutiérrez de Mendoza, envolveram-se em lutas sociais a partir de uma perspectiva crítica da ordem patriarcal de dominação (Devereaux, 2015).
Em outros setores sociais, como as classes média e alta, algumas mulheres tinham acesso a seus próprios meios de expressão, como revistas escritas por elas e para elas. Violetas del Anáhuac, dirigida por Laureana Wright, é o exemplo mais notável desse esforço de expressão. Wright também deu início a uma genealogia de mulheres mexicanas ilustres em sua obra Mujeres notables mexicanas [Mulheres notáveis mexicanas], como uma estratégia para legitimar a presença feminina na história nacional, e defendeu a educação das mulheres, sua capacidade intelectual e seu direito de participar da vida pública.
Obra
1. Literatura, jornalismo e história
Apreciada pelos mais renomados círculos culturais e literários do México do século XIX, Wright foi membro ou membro honorário das sociedades “Netzahualcoyotl”, “El Provenir”, “Liceo Hidalgo” e “Liceo Altamirano”. Isso supunha uma reconhecimento público como escritora de prosa e verso, de acordo com Bolaño. Seus artigos foram publicados na maioria dos jornais do México. Seu semanário feminista Violetas del Anáhuac se destaca entre as publicações da época. Ele foi editado por Wright e, posteriormente, por Mateana Murguía. Violetas del Anáhuac começou a ser publicado em dezembro de 1887, mas foi em janeiro de 1888 que apareceu com esse nome (antes era intitulado Las Hijas del Anáhuac [As filhas do Anáhuac]). Era um jornal literário, “escrito por senhoras”, no qual Laureana Wright atuava como diretora literária, publicado todos os domingos. Foi subsidiado pelo governo. De acordo com Alvarado, o semanário “manteve a posição ambivalente de seus predecessores, sempre oscilando entre preservar ou transformar o estereótipo feminino, manteve uma linha editorial muito mais coerente e progressista do que outras publicações relacionadas” (Alvarado, 2005, p. 20). Por meio de seus vários artigos, o semanário questionava “o modus vivendi das mulheres mexicanas, propondo, quase obsessivamente, a educação feminina como o único veículo para a transformação desejada” (Idem, p. 20).
De acordo com Bolaño (seu contemporâneo e biógrafo), “Laureana se distingue em seus escritos por suas ideias altamente progressistas e liberais, por suas características muito ousadas e por suas conclusões filosóficas; qualidades que, se em um homem são plausíveis, em uma mulher são suficientes para torná-la grande” (Bolaños Cacho, em Murguía 1888, p. 314). Além de sua atividade literária e jornalística, ela esteve envolvida nos movimentos maçônico e espírita no México do século XIX. Seu trabalho também se estendeu à história das mulheres. Laureana Wright trabalhou em uma série de biografias de mulheres mexicanas intitulada Mujeres notables mexicanas. Algumas foram publicadas em seu semanário Violetas del Anáhuac. Outras foram escritas especificamente para o livro publicado postumamente em 1910. Um total de 116 mulheres está listado em quatro títulos que correspondem mais ou menos à ordem cronológica (distribuídos da seguinte forma: 30 mulheres pré-hispânicas, 27 do período colonial, 17 do período da independência e 42 contemporâneas a Wright). Entre elas, Sor Juana Inés é um dos poucos nomes reconhecidos. Outra é Carmen Romero Rubio de Díaz, esposa do então presidente do México, Porfirio Díaz.
O objetivo da obra, de acordo com Wright, é o seguinte: “fiéis ao nosso programa de tornar todas as mulheres mexicanas contemporâneas notáveis conhecidas por nossos compatriotas, para que se possa honrar e imitar seu glorioso exemplo, sentimos a necessidade de usar o direito que nossa qualidade de cronistas nos confere” (em Monges, 1997, p. 358). Graciela Monges afirma: “isso torna explícito que a obra foi escrita por uma mulher para outras mulheres, com o objetivo de ‘honrar e imitar’ esses exemplos e mostrar o que as mulheres podem alcançar” (Idem, p.358). De acordo com Devereaux, ao escrever as biografias, Wright pretendia neutralizar a desigualdade de gênero que ela via na história do México escrita por seus contemporâneos, na qual as mulheres não estavam presentes. Para tanto, ela não hesitou em realizar pesquisas de arquivo que lhe permitiriam combater o apagamento histórico das mulheres:
Se, a fim de alcançar nosso objetivo de exaltar nosso sexo por seus feitos, tivéssemos nos limitado às crônicas oficiais nesta, como em outras épocas, não teríamos obtido nada; pois, infelizmente, a história de nossa pátria, às vezes omitida, às vezes negligenciada, e mais geralmente tornada superficial e resumida, especialmente quando se trata dos feitos cívicos que as mulheres, embora privadas do direito de cidadania, realizaram; nossa história, dizemos, quase como regra geral, mal menciona tais feitos, se não os silencia completamente (Wright, 1910, p. 273).
2. Teoria da educação
O ímpeto pela educação encontrado em Violetas é consistente com dois outros ensaios de Wright: La emancipación de la mujer por medio del estúdio (A emancipação da mulher pelo estudo) e Educación errónea de la mujer y medios prácticos paa corregirla (A educação errônea da mulher e os meios práticos de corrigi-la). O primeiro foi publicado em 1891 (Imprenta Nueva) e o segundo, um ano depois. De acordo com Alvarado, ela pode ser considerada, com base nesses ensaios, como uma teórica da educação feminina. Os ensaios são “os primeiros do gênero escritos por uma mexicana” (Alvarado 2005, p. 22). Neles, ela argumenta que homens e mulheres possuem a mesma capacidade intelectual e que, portanto, as mulheres podem estudar e exercer qualquer profissão.
A seguir, concentro-me em seus trabalhos publicados que refletem sua posição sobre a educação da mulher mexicana. Nesse sentido, suas ideias sobre a igualdade entre os sexos e a educação das mulheres constituem um campo pioneiro na reflexão filosófica mexicana que só recentemente foi reconhecido e está começando a ser estudado.
2.1. A emancipação da mulher por meio do estudo
Em seu ensaio La emancipación de la mujer por medio del estudio, Laureana Wright analisa a situação histórica das mulheres e propõe a educação como o caminho para sua emancipação. Na primeira parte, ela descreve como a opressão das mulheres existe desde a antiguidade, apoiada tanto em mitologias quanto na interpretação de textos religiosos:
Depois que o homem encontrou maneiras de transmitir seu pensamento à posteridade, todas as tradições dos povos atribuem à mulher uma origem inferior ou derivada da do homem. Sem ir muito longe, temos duas das mais conhecidas: a mitologia, que dominou a civilização antiga, e a Bíblia, que dominou a civilização moderna. A primeira, depois de apresentar Pandora criada pelos deuses de segunda ordem, faz recair sobre ela a culpa de todos os males disseminados sobre a terra, porque ela teve a curiosidade fatal de abrir a caixa traiçoeira que lhe foi dada por Júpiter. A segunda dá à mulher uma origem mais grosseira e humilhante, negando-lhe até mesmo a terra, a mãe comum de todos os produtos animados ou inanimados do globo; fazendo-a brotar do próprio corpo do homem que ela deveria criar, de quem deveria ser mãe e que, sem ela, não poderia existir de forma alguma no futuro (Wright, 2005, p. 38).
Wright nega qualquer base legítima para essa dominação, argumentando que não há diferença moral ou intelectual entre homens e mulheres, mas uma imposição baseada na força e na negação de direitos. Essa situação foi perpetuada pela falta de acesso à educação, que condenou as mulheres a uma vida de obediência ao pai ou ao marido.
Destaca-se a influência dos intelectuais franceses no pensamento de Wright, como Michelet, Girardin e Pelletan, que, segundo ela, defendem a igualdade da mulher. Ela argumenta que a emancipação não busca ocupar espaços masculinos, como o militar, mas obter acesso à esfera intelectual. Ela rejeita a ideia de que diferenças anatômicas impliquem desigualdade intelectual. Para sustentar seu argumento, menciona exemplos de mulheres notáveis, como Sor Juana Inés de la Cruz, Safo e Teresa de Jesus, e destaca o papel das mulheres no poder, como Isabela de Castela, demonstrando que, em igualdade de condições, elas não são inferiores aos homens. Ela também destaca a participação das mulheres em lutas sociais, como a Revolução Francesa, para demonstrar seu compromisso com a justiça.
Na segunda parte, Wright refuta três objeções comuns levantadas pelos homens contra a emancipação das mulheres. A primeira é que a mulher, como o pilar da família, deve viver sob a vigilância do homem para garantir a moralidade e a ordem “porque suas falhas são de graves consequências no lar, já que ela pode levar sua traição tão longe a ponto de fazer com que o marido enganado dê seu nome a um estranho e coloque o beijo paterno na testa da criança espúria, simbolizando sua desonra” (Idem, p. 51). Wright argumenta que a conduta feminina deve ser regida por sua própria educação, o que lhe dará dignidade e autonomia moral:
A isso responderemos que, se o homem de hoje pode se contentar em desempenhar o papel de carcereiro no casamento, se ele se satisfaz com a posse de um corpo autômato e uma inteligência morta, e se ele julga a mulher incapaz de guardar e preservar sua honra ilesa, ele fez mal em abolir o sistema de trancas e grades, pois com elas ele poderia evitar uma tarefa tão dolorosa e degradante. Se, ao contrário, ele aspira possuir uma alma que o compreenda e um coração que o ame, deve considerar que a tutela da mulher não é melhor desempenhada por ninguém além dela mesma; que sua conduta depende da educação que lhe é dada e da dignidade, do conhecimento e da moral que lhe são incutidos; que nunca seria a opressão e a ignorância que lhe mostrariam o caminho para sua própria perfectibilidade (Idem).
A segunda objeção é o medo de que as mulheres percam seu charme ou pareçam ridículas em profissões consideradas masculinas, como medicina ou direito. Wright afirma que essa percepção é algo passageiro e que, com o tempo, a presença das mulheres nesses campos será aceita como normal, assim como outros avanços que foram inicialmente rejeitados. A terceira objeção argumenta que as mulheres não querem a emancipação, o que Wright compara à resistência inicial dos homens aos movimentos de independência e liberdade na Europa e na América. Ela argumenta que o desejo de emancipação surge do acesso à educação e da vontade de superar os obstáculos impostos pela sociedade.
Para concluir, Wright comemora os avanços no México, destacando mulheres como Matilde Montoya e Lucía Tagle, que romperam barreiras ao ingressar na Faculdade de Medicina e na Escola de Comércio, respectivamente. Ela argumenta que somente por meio do acesso à educação e da participação na esfera profissional as mulheres podem alcançar a igualdade e a justiça social, reivindicando assim seus direitos e sua dignidade:
[…] somente quando a mulher estiver em pé de igualdade com o homem em termos de conhecimento é que ela poderá erguer sua voz, até hoje desautorizada, e dizer a ele: “Eu exijo de você minha reivindicação social e civil; eu exijo de você meus direitos naturais de cuidar de mim mesma e de meus principais deveres, que são os da família, de cuja educação, dirigida por mim, depende a sólida cultura das gerações futuras. Conheço o lugar que devo ocupar; não sou a escrava, mas sim a liderança da humanidade. Em suma, como pai, você deve dar a mim a mesma educação que a meus irmãos; como marido, a igualdade de poder que, em todos os aspectos, me corresponde” (Idem, p. 59).
2.2. Educação errônea das mulheres e meios práticos para corrigi-la
O ensaio é dividido em 22 capítulos nos quais Wright apresenta, como Eugène Pelletan em sua obra La madre [A mãe] (publicada na França em 1865 e traduzida para o espanhol em 1875 por Mariano Blanch em Barcelona), vários modelos de mulheres. No primeiro capítulo, intitulado “La mujer contemporánea” [A mulher contemporânea], ele relata os avanços que o século XIX proporcionou às mulheres, mas estabelece que a única maneira de alcançar a verdadeira igualdade com os homens é por meio da educação, à qual elas têm direito. Um direito que deve ser exigido. As acusações às mulheres de que são incapazes do esclarecimento ou são retrógradas não se devem à sua natureza intelectual, mas a vícios em sua educação, que Wright descreve nos doze capítulos seguintes. Ali, ela apresenta uma série de pequenas histórias que adaptam a obra de Pelletan e retratam mulheres infelizes por causa de uma educação ausente ou deficiente: a mulher ignorante, indolente, atrabiliária, contraproducente, inexperiente, fanática, indulgente, presunçosa, frívola, namoradeira ou tímida é contrastada com a mulher esclarecida, doméstica, digna, a esposa, a mãe, a artista e artesã, a cientista e, finalmente, a mulher perfeita. Este ensaio termina com dois capítulos dedicados à leitura e aos livros, as chaves para a emancipação da mulher. De acordo com Wright:
Está reservado à mulher contemporânea provar que nosso sexo não é, como comumente se acredita, nem incapaz de receber o esclarecimento que lhe é transmitido nem refratário ao progresso, mas sofre de uma infinidade de vícios de educação, que tentarei analisar na medida do possível em outros capítulos, e que são apenas a prole do pouco cultivo que até agora foi concedido à sua inteligência. As instituições democráticas libertaram ostensivamente as mulheres; na prática, elas só podem ser libertadas pelas instituições íntimas do lar (Wright, 2005, p. 63).
Na concepção de Laureana Wright, a emancipação das mulheres anda de mãos dadas com seu propósito ou missão na sociedade. Com relação a essa posição, é possível traçar um vínculo com o romantismo social que surgiu na França anos antes. O romantismo social é uma corrente caracterizada pela visão de que a igualdade entre os dois sexos deve ser completa, entretanto isso anda de mãos dadas com a concepção do papel das mulheres como redentoras da humanidade por meio de suas inclinações sentimentais. Por exemplo, Saint-Simon e seus seguidores reconhecem a mulher em todos os cargos e dignidades, idealizando-a como figura-chave na transformação moral, especificamente como “Mãe”. Autores como Pelletan mostram uma contradição: embora se admita a igualdade entre homens e mulheres, considera-se que a educação feminina deve se concentrar no fortalecimento dessas funções familiares e na garantia de sua independência econômica em casos de abandono ou viuvez.
Em “La mujer atrabiliaria” [A mulher atrabiliária] Wright retorna a essa contradição entre natureza e educação, que ela parece herdar do romantismo social. Por um lado, não há uma diferença anatômica que justifique a distinção entre as capacidades de homens e mulheres; por outro lado, Wright afirma que
a mulher, mais do que o homem, tem em si as faculdades de sutileza, perseverança e abnegação, que lhe dão a propensão de levar suas paixões e sentimentos ao máximo. É por isso que tão frequentemente a vemos quase exagerar em qualquer caminho que siga, e por isso acalentamos a firme esperança de que, no dia em que ela for emancipada do obscurantismo em que geralmente vegeta, no dia em que receber uma educação perfeita, ela levará ao exagero o que é benéfico em todos os sentidos, como até agora levou ao exagero o que é prejudicial (Idem, p. 71).
Para remediar essa situação, Wright propõe, em primeiro lugar, uma educação baseada na razão que a liberte de sua condição de serva e a eleve “ao posto de soberana na missão comum de esposa e mãe que a natureza lhe atribuiu” (Idem, p. 95). Com isso, ela estaria no mesmo nível de educação e liberdade que o homem com quem estabeleceria “a igualdade e a harmonia no casamento” (Idem). Além disso, a educação a capacitará a exercer qualquer profissão para que ela possa ser economicamente independente “sem a necessidade de apelar para o casamento como único meio de subsistência” (Idem).
Embora existam várias explicações para a chamada “ontologia contraditória” de Wright (a posição de que a mulher é igual ao homem, mas ao mesmo tempo seu papel principal é o de esposa e mãe), por exemplo, Devereaux se refere à sua condição intermediária como mestiça – sempre entre dois mundos, o da Europa e o do México, o da conquista espanhola e o dos astecas, o da intelectual pública e o da dona de casa – é possível explicar suas contradições por meio de uma rede de interlocução filosófica próxima ao romantismo social francês. Isso implica que Wright adere a uma ampla rede teórica com a qual ela tenta refutar seus contemporâneos que se opõem à emancipação feminina.
Em suma, Laureana Wright foi uma importante escritora e jornalista mexicana do século XIX, cuja obra reflete uma postura filosófica progressista para sua época e local de residência. Sua participação em círculos culturais e literários reconhecidos, bem como em publicações, demonstra seu compromisso com a emancipação e a educação das mulheres. Em seus textos, ela defendeu a igualdade intelectual entre homens e mulheres e argumentou que a opressão feminina era resultado de uma educação deficiente, e não de uma incapacidade natural.
Seu jornal semanal “Violetas del Anáhuac”, dirigido em colaboração com outras mulheres, promoveu a educação das mulheres como uma ferramenta fundamental para a transformação social. Wright abordou o papel das mulheres na sociedade e a necessidade de uma educação racional para sua emancipação, inspirada pelo “romantismo social” europeu, especialmente pela obra de Eugène Pelletan.
Wright se posicionou como uma teórica da educação feminina, argumentando que a liberação das mulheres deveria se basear em seu desenvolvimento intelectual e no reconhecimento de sua igualdade quanto às capacidades. Ela defendeu um equilíbrio entre a vida doméstica e a independência profissional, buscando uma transformação social na qual as mulheres seriam as protagonistas de seu próprio destino.
Referências
Obras:
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Literatura secundaria:
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Infante Vargas, L. (2001). “Igualdad intelectual y género en Violetas del Anáhuac. Periódico literario redactado por señoras, 1887-1889” en Cano G. y G. José Valenzuela, coords. Cuatro estudios de género en el México urbano del siglo XIX. México: Universidad Nacional Autónoma de México, Programa Universitario de Estudios de Género-Miguel Ángel Porrúa.
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Monges, G. (1997). “El género biográfico en Mujeres notables mexicanas de Laureana Wright de Kleinhans”. En Las voces olvidadas: antología crítica de narradoras mexicanas nacidas en el siglo XIX. Edited by Domenella, Ana Rosa, y Nora Pasternac, 357-78. México: El Colegio de México, 1997. https://muse.jhu.edu/pub/320/oa_edited_volume/chapter/2572947
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Tradução de Carolina Araújo