Pensamentos sobre a educação das meninas

Por Sarah Bonfim

Mestranda no Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Estadual de Campinas, com  estágio BEPE/FAPESP na Universidade de Notre Dame (IN, EUA).  Bolsista FAPESP, processo nº 2019/02493-0 – Lattes

PFF – Resenha de “Pensamentos sobre a educação das meninas”, de Mary Wollstonecraft

Wollstonecraft, Mary. Thoughts on the Education of Daughters: with Reflections on Female Conduct in the More Important Duties of Life, Altenmuster: Jazzy Bee, 2018. ISBN: 9783849681012.

Rebelião, resignação, independência e sujeição. Estes são alguns dos temas que figuram nas páginas de Pensamentos sobre a Educação das Meninas: com reflexões sobre a conduta feminina nos mais importantes deveres da vida (sem tradução para o português) lançado pela jovem Mary Wollstonecraft  em 1787, que aos seus 28 anos, enfrentava inquietações profundas e contradições relevantes em relação à sociedade e à sua condição de mulher. 

Autodidata, ela nasceu em 1759 em uma família de classe média do extremo leste de Londres. Consoante com a sua classe social, Mary estudou em uma escola para meninas, onde aprendeu apenas o básico: um pouco de aritmética, geografia, um pouco de francês, música e dança. A maior parte de seu conhecimento veio através das amizades que fez, que possibilitavam acesso a bibliotecas pessoais que fomentaram seu autodidatismo. A sua escrita vem da capacidade de articulação e participação em círculos politizados ingleses, principalmente dos Dissidentes Racionais – que consistia em um grupo de republicanos que apoiavam a igualdade e tinham em pauta a escravidão, as mulheres e a educação (cf. BERGÈS, 2013, p. 5). Como profissão, ela foi tudo que uma mulher poderia ser: professora, acompanhante, tutora e, de modo pioneiro, escritora profissional.  

Pensamentos foi escrito em seis semanas e vendido a dez guinéus (MOORE, 1999, p. 9). O texto inaugurou a carreira da autora de Reivindicação dos Direitos da Mulher (1792). A obra publicada em 1787 é um manual de comportamento feminino, cujo gênero literário é o de conduta, muito difundido na Inglaterra entre 1760-1820 (RODRIGUES, 2010, p. 6). O público-alvo era o de jovens de classe média, principalmente as moças, e seu objetivo era fomentar comportamentos através da apresentação de modelos ideais. 

Os livros de literatura de conduta tratavam de assuntos específicos, do que era socialmente esperado da mulher. Nesse sentido, o livro da jovem Wollstonecraft, dividido em 20 seções, não foge do padrão. Aí estão assuntos como cuidado com as crianças, modos, artes, amor, casamento, tratamento dos empregados, dentre outros pontos que eram considerados de responsabilidade feminina. Como pano de fundo destes livros, havia um modelo da “Proper Lady”, ou melhor dizendo, uma “Senhora Adequada”. De acordo com Mary Poovey (1984), a “Senhora Adequada” consiste em um estereótipo feminino, muito difundido durante os séculos XVII e XVIII, no qual algumas propriedades eram consideradas inerentemente femininas, como a modéstia, a obediência e a de ser dotada de poucos desejos (POOVEY, 1984, p. 3-4). Além do mais, a essa “Senhora” cabia um código de moral e sensibilidade cujo controle estaria nas mãos de seu marido (cf. OLIVEIRA, 2015, p. 76). 

Pensamentos é repleto de recomendações cujo grau de assertividade varia. Em temas que envolvem comportamentos e recomendações acerca do que as crianças deveriam aprender, a filósofa é mais branda e usa termos como “should” [deveria] e “may be” [poderia]: “As primeiras coisas que as crianças deveriam ser encorajadas a observar são uma adesão estrita à verdade, uma submissão adequada aos superiores e condescendência com inferiores” (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 5, grifos meus). 

Por outro lado, em se tratando da aprendizagem e do desenvolvimento do entendimento das mulheres, Wollstonecraft é categórica e suas recomendações são acompanhadas de imperativos como “must to” [deve-se] e “the duty is” [o dever é]: “Melhorias intelectuais, como o crescimento e a formação do corpo, devem ser graduais” (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 5, grifos meus). Tais recomendações são reiteradas em sua obra mais conhecida, Reivindicação dos Direitos da Mulher, de modo repaginado. 

É importante destacar que, como livro de inauguração, Pensamentos seguiu um determinado padrão de escrita, afinal, Wollstonecraft tinha como objetivo lançar seu nome enquanto escritora e gerar algum dinheiro – e com ideias muito progressistas talvez isso não acontecesse. No entanto, é possível observar que Wollstonecraft já estava em conflito com alguns dos parâmetros sociais delegados às mulheres. 

Um exemplo é a seção que, até então, era inédita neste tipo de livro: “Situação infeliz de mulheres que, educadas à moda [são] deixadas sem herança”. Como as mulheres não tinham acesso à propriedade ou à herança, ficavam sujeitas, majoritariamente, ao casamento como modo de sustento. Assim, era importante que fossem consideradas um “bom partido”. Contudo, o matrimônio deveria estar adequado à posição social que incluía o pagamento de um dote ao pretendente. 

Entretanto, Wollstonecraft trata de moças que receberam uma educação acima da média para o seu sexo e, em virtude da falta de um bom dote, não encontram um marido que seja conveniente. A alternativa seria a de encontrar um emprego que as sustentasse, mas, sobre isso, a filósofa diz que para as mulheres, “há poucos modos de ganhar a subsistência e eles são muito humilhantes” (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 17). A essas mulheres, caberia apenas “fazer companhia a um primo mais velho” ou, o que é ainda pior, “viver com estranhos” (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 17). Nesse caso, diz Wollstonecraft:

Acima dos servos, e ainda considerada por eles como espiã, e sempre lembrada sobre a sua inferioridade quando conversa com os seus superiores se ela não pode ser condescendente para bajular, não tem chance de ser uma das favoritas; (…), e [se] por um momento esquece seu estado subordinado, ela certamente será lembrada disso. (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 17)

Outras possibilidades de sustento seriam a profissão de professora ou tutora de meninas. Ambas são desagradáveis, pois, a primeira é a de um “servente qualquer com mais trabalho” e a segunda ocupa-se de lidar com uma mãe ignorante que busca resultados rápidos na educação de seus filhos (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 18). As profissões que cabem às mulheres, portanto, não lhe oferecem o sustento suficiente e, mais importante, são altamente desvalorizadas. O resultado é a falta de status social – negado a uma mulher independente e só parcialmente disponibilizado para a mulher em um bom casamento. 

A religião possui um importante papel neste livro. Na seção “Respeito ao domingo” [“Observance of the Sunday”], Wollstonecraft argumenta sobre a importância de guardar esse dia, com o objetivo de “descansar o corpo” e “acalmar a mente da busca muito ansiosa pelas sombras desta vida, que, receio, muitas vezes obscurecem a perspectiva de futuro e fixam nossos pensamentos na terra” (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 31). Neste sentido, o fato de respeitar o terceiro mandamento cristão não serve apenas como um ritual religioso, mas tem motivos racionais, como é o caso de acalmar a mente e, sobretudo, serenar as paixões que afugentam a alma de pensamentos mais elevados. Uma mente calma e tranquila é importante para se alcançar o aperfeiçoamento racional. 

O tema da educação nos escritos de Wollstonecraft, que é inaugurado em Pensamentos, torna a filósofa uma importante porta-voz dos direitos das mulheres e a instaura em um lugar privilegiado, cuja extensão da obra vai para além dos mares ingleses. Contudo, Wollstonecraft não é a única a escrever sobre educação no século XVIII ou antes disso. O que faz, então, a escrita dela se sobressair? 

De acordo com Jane Moore (1999), Pensamentos é uma obra contextual, isto é, consoante com o seu tempo e marcada por um contexto histórico e social determinado. Além do mais, serve aos membros de uma nova classe social que surge na Inglaterra: comerciantes, advogados, engenheiros e profissionais liberais que são categorias masculinas e que ocupavam o espaço público, deixando em casa suas esposas e filhas. Era preciso, portanto, construir um imaginário sobre os novos atores sociais. Às mulheres, serviria o mito de “bonecas ornamentais” cuja fraqueza física e a beleza deveriam ser o objetivo no âmbito doméstico e, caberia a elas, no âmbito público, a inutilidade (MOORE, 1999, p. 9). Além disso, para que essas mulheres pudessem ter acesso aos materiais de formação, era preciso que elas soubessem ler (RODRIGUES, 2010, p. 4).

Ainda assim, Pensamentos é uma obra que deve ser considerada nos estudos feministas, uma vez que, apesar da sua forma ser conservadora, seu conteúdo possui elementos que destoam do tradicionalismo esperado. Por exemplo, na seção de “Leitura”, Wollstonecraft afirma que ler é a atividade racional que mais deve ser empregada por aqueles que desejam alimentar o entendimento (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 13). Além do mais, é importante que as mulheres sejam críticas e saibam formar uma opinião por si mesmas – sem ficar apenas repetindo vagos elogios ou opiniões sobre grandes autores. 

Embora a modéstia possa impedir que as pessoas compartilhem, eu gostaria que todos tentassem formar uma opinião por si mesmos sobre um autor. Muitos estão tão ansiosos por terem uma reputação de bom gosto que apenas elogiam os autores cujo mérito é incontestável. Estou farta de ouvir a sublimidade de Milton, a elegância e harmonia de Pope e o gênio original e inexplorado de Shakespeare. Essas observações superficiais são feitas por alguns que nada sabem da natureza e não poderiam sequer entrar no espírito desses autores ou entendê-los. (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 13) 

Pairava no ar a ideia, certo senso comum, de que as mulheres não seriam competentes intelectualmente – que a filósofa rebate. Escritores como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), por exemplo, difundiam preconceitos acerca da razão feminina, afirmando que a natureza haveria estabelecido uma suposta diferença entre homens e mulheres e, deste modo, a razão feminina seria de ordem prática, tendo que se ocupar de assuntos desta categoria (cf. ROUSSEAU, 2014, p. 547). Logo, já em Pensamentos, Wollstonecraft antecipa o que faria extensivamente na Reivindicação: criticar esse tipo de teoria educacional voltada para as meninas, reivindicando uma educação justa, porque completa.

Além de argumentos, há ainda um recurso textual mais sutil para demonstrar a capacidade racional das mulheres: a escrita em primeira pessoa. Jane Moore destaca este fato: enquanto escritores como Jean-Jacques Rousseau e John Gregory (1724-1773) afirmam que as mulheres ou seriam incapazes ou deveriam “performar” essa incapacidade quando em presença de homens, Wollstonecraft quebra esses dois padrões. Não só demonstra eloquência e ironia, como também capacidade intelectual suficiente para construir pensamentos abstratos e raciocinar – tal como um homem. Ao escrever deste modo, Wollstonecraft demonstra rebeldia em sua prosa autodidata (MOORE, 1999, p. 11).

Este testemunho intelectual, em que vida e obra se mesclam no decorrer da narrativa, é marca do trabalho teórico de Wollstonecraft. A sua experiência enquanto mulher, somada ao pensamento filosófico dão um tom polêmico aos seus escritos, mas, mais do que isso, demonstram a materialidade de sua teoria, a urgência de quem vive no próprio corpo os dilemas que teoriza.

Há quem caracterize Pensamentos como uma avaliação racional da vida da filósofa, de sua experiência enquanto mulher (cf. MOORE, 1999, p. 16), sobretudo quando analisado em conjunto com sua biografia. O que não se pode deixar de observar é que Pensamentos é uma obra paradoxal, assim como o curso da vida ordinária. Ao mesmo tempo em que a religião tem um papel importante na obra, ensinando mulheres certo apego aos dogmas religiosos como forma de conforto e esperança, o que ocasionalmente recai em resignação, há também questionamentos e novas colocações que são provocativas ao status quo: seriam as mulheres diferentes dos homens aos olhos de Deus? 

Há ainda um forte apelo, que se inaugura nesta obra, que é o fortalecimento da razão pelas mulheres. Ao passo que uma “Senhora Adequada” deveria estar atenta aos mandos de seus pares masculinos, para Wollstonecraft, seu modelo de “Proper Lady” é o da mulher que possui a capacidade de pensar por si mesma. De acordo com ela, uma mulher racional não fugiria de seu papel social – de esposa, mãe e cuidadora. 

Nenhum emprego da mente tem desculpa suficiente para negligenciar os deveres domésticos, e não posso conceber que eles sejam incompatíveis. Uma mulher pode se preparar para ser a companheira e amiga de um homem sensato e, ainda, saber como cuidar de sua família. (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 14) 

Outro ponto importante a destacar, certa marca progressista que já se faz visível, é a opinião de Wollstonecraft sobre o casamento. Na seção “Matrimônio”, a filósofa destaca que é importante que as mulheres não se casem muito jovens, pois o casamento precoce é empecilho para o aperfeiçoamento. Ela afirma que, caso as mulheres nascessem apenas para “nutrir, propagar-se e apodrecer” (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 23), tal como os animais, quanto mais cedo a criação acabasse, melhor. No entanto, como as mulheres têm uma alma, esta deve ser alimentada (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 23). Assim, quando uma mulher se casa muito jovem, ela direciona seus esforços para agradar ao seu marido e enfraquece suas possibilidades de desenvolvimento.

Na juventude, uma mulher se esforça para agradar o outro sexo, geralmente, a fim de se casar, e esse esforço invoca todos os seus poderes. Se ela teve uma educação razoável, o fundamento está apenas estabelecido, porque a mente ainda não chegou à maturidade e não deve ser absorvida pelos cuidados domésticos antes que quaisquer hábitos sejam corrigidos. (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 23)

Na visão da inglesa, o matrimônio perde sua aura de instituição sagrada e necessária para as mulheres e se torna um projeto a dois, no qual ambos importam e não apenas a parte masculina, tal como era difundido na época. O casamento também é o espaço de desenvolvimento do orgulho próprio. É importante que esse orgulho seja um apreço por si, ou seja, que a mulher saiba impor suas vontades diante das do seu companheiro, bem como diferenciar uma ofensa de um desacordo e não se ofender por pouco, sabendo dialogar consigo e com o outro (WOLLSTONECRAFT, 2018, p. 24). 

Sobre as contradições presentes no texto de Wollstonecraft, Patrícia Rodrigues (2010) afirma que esta questão é também de ordem contextual, pois é experimentada por boa parte das mulheres do século XVIII. As revoluções que se ambientaram neste período ofertavam liberdade e surgimento de novos costumes. No entanto, essas ofertas eram mais vantajosas e maiores apenas para a parte masculina da sociedade, pois a questão feminina não era negociável. 

Algumas inglesas destemidas atravessaram o Canal e experimentaram, em primeira mão, os eventos e as consequências da Revolução Francesa. Gravando suas impressões em cartas, memórias e prosa publicada, elas desenvolveram, a partir da ideologia inicial da revolução – o grito de guerra de liberté, igualité, fraternité –, uma nova visão tanto do governo ideal quanto da natureza e [do] papel das mulheres. No entanto, a sociedade inglesa, altamente conservadora, não estava muito aberta a negociações sobre a questão feminina. (RODRIGUES, 2010, p. 3) 

 Esta mulher, resultado deste embaraço social do qual surgiam concomitantemente novos direitos e formas de opressão, pairava sobre o imaginário de Wollstonecraft. 

Além do mais, Wollstonecraft não tinha a intenção de nutrir em suas leitoras uma vida imaginária, digna dos contos de fadas. Ao tratar de assuntos como casamento e vida financeira, a filósofa adquiria um tom sincero e direto, cuja franqueza alertava as meninas que em sonhos como o casamento perfeito se escondiam fatos como submissão e decepções amorosas (MOORE, 1999, p. 15). 

Em termos práticos, Pensamentos é um livro obsoleto para os dias atuais. Ainda assim, é uma rica fonte de elementos que constituíam as expectativas acerca do comportamento feminino no século XVIII, cuja extensão pode ser vista até hoje em revistas femininas que apresentam modelos “adequados” de como se comportar em determinadas situações. Além disso, quando comparado no horizonte dos escritos de Wollstonecraft, pode-se enxergar nele o gérmen de uma escritora que adotaria em sua prosa a rebeldia de uma mulher inconformada com o que lhe era oferecido,  embora ainda muito imersa em seu contexto histórico para poder antever mulheres em mais espaços para além do doméstico. Anos mais tarde, ela escreveria na Reivindicação

Posso provocar risadas ao lançar uma insinuação que pretendo desenvolver no futuro, mas eu realmente acredito que as mulheres devem ter representantes, em vez de serem governadas arbitrariamente, sem qualquer participação direta nas deliberações do governo. (WOLLSTONECRAFT, 2016, p. 190) 

Uma das limitações de Pensamentos é a de não oferecer alternativas para a educação das meninas, em meio às críticas e recomendações oferecidas, além de apenas acrescentar elementos e não substituir as únicas funções femininas: a de esposa e mãe (RODRIGUES, 2010, p. 12). Junto com esses papéis, sucede-se uma imagem de mulher como companheira do homem – e não como uma pessoa suficiente por si mesma.

Uma possibilidade de pensar as razões de Wollstonecraft não ter ido mais longe em suas proposições é colocada por Nancy Hirschmann e Emily Regier (2019), como uma liberdade de subjetividade [subjectivity freedom] cujo horizonte de possibilidades é “inevitavelmente produzido pelo[s] costume[s], ideologia, lei, linguagem e outras formações sociais” (2019, p. 656). Deste modo, Wollstonecraft não estaria totalmente livre das construções patriarcais.  

Quanto a essas limitações, minha contribuição passa pelo sentido de que mais uma vez as contradições sociais e históricas, somadas às inquietações internas de Wollstonecraft, colaborariam para que ela pudesse ser descompassada em suas afirmações. Há que se considerar ainda que talvez sua juventude a impedisse de enxergar e compreender determinadas incoerências sociais e pessoais. No decorrer de sua carreira, é possível observar que Wollstonecraft não apenas aperfeiçoava seus escritos bem como a si mesma. Assim, é inegável seu compromisso com a sua teoria. Aos seres humanos perfectíveis, inclusive a si mesma, cabe a busca pela perfeição racional e moral.  

 

A recepção de Pensamentos sobre a Educação das Meninas foi moderada, tendo uma reimpressão, apenas uma resenha em um jornal (RODRIGUES, 2010, p. 8) e poucas traduções ou edições de qualidade da obra. A sua tradução para o português seria um importante passo para proporcionar às leitoras e leitores do Brasil, e de outros países de língua portuguesa, a chance de conhecer melhor Mary Wollstonecraft, cuja obra não se limita ao livro Reivindicação dos Direitos da Mulher. No mais, Pensamentos pode ser considerado como um notável começo para o desenvolvimento de uma crítica feminista, além de ser a primeira peça do mosaico da carreira de uma potente filósofa do século XVIII. 

Obras Citadas

Bergès, Sandrine. The Routledge Guidebook to Wollstonecraft’s A Vindication of the Rights of Woman. London & New York: Routledge, 2013.

Brody, Miriam. Mary Wollstonecraft: Mother of women’s rights. Oxford & Nova York: Oxford University Press, 2000.

Hirschmann, Nancy J., e Emily F. Regier. “Mary Wollstonecraft, Social Constructivism, and the Idea of Freedom.” Politics & Gender (15), 2019, pp. 645-670.

Moore, Jane. “Early Rebellion: Thoughts on the Education of Daughters, Mary: A Fiction, and the “The Cave of Fancy”.” In: Moore, J. Mary Wollstonecraft, Liverpool: Liverpool University Press, 1999, pp. 9-23

Oliveira, Débora A. de. “Mary Wollstonecraft: Conformidade e Rebelião em Thoughts on the Education of Daughters.”. Revista Ártemis, jan-julho 2015, pp. 73-81.

Poovey, Mary. The “Proper Lady” and the Woman Writer: Ideology as Style in the Works of Mary Wollstonecraft, Mary Shelley, and Jane Austen. Chicago and London: The University of Chicago Press, 1984.

Rodrigues, Patrícia. “Female Education in the Eighteenth-Century: The Contribution of Mary Wollstonecraft’s “Thoughts on the Education of Daughters”. International Journal of Arts and Sciences (3(16)), 2010, pp. 202-216.

Rousseau, Jean-Jacques. Emílio ou da Educação. 4. Tradução: Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

Wollstonecraft, Mary. Reivindicação dos Direitos da Mulher. São Paulo: Boitempo, 2016.

______.Thoughts on the Education of Daughters: with Reflections on Female Conduct in the More Important Duties of Life, Altenmuster: Jazzy Bee, 2018. ISBN: 9783849681012.