Ban Zhao

c.49 -120 (Fufeng 扶風, província de Shaanxi 陝西, China 中國)

Por André Bueno – Prof. Dr. História Oriental da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – Lattes

Retrato Fictício mais antigo de Ban Zhao, produzido por Jin Guliang 金古良 no Wushuang Pu 無雙譜 (Modelos Incomparáveis) em 1690. Link: https://en.wikipedia.org/wiki/Ban_Zhao#/media/File:Ban_Zhao_-_Wushuang_Pu_(pref_1690,_1961).jpg

PDF – Ban Zhao

Ban Zhao, também conhecida pelo nome de cortesia Huiban 惠班 ou pelo nome matrimonial Cao Dagu 曹大家 (曹大姑) foi uma escritora, historiadora e poetisa, e destacou-se como uma importante pensadora da dinastia Han 漢 (203 AEC– 221 EC).[1] As informações biográficas que dispomos sobre essa autora são sucintas, e basicamente estão presentes no Capítulo 82 列女傳 (Lienu Zhuan) do Hou Hanshu 後漢書 de Fan Ye 范曄 (séc. 5 ec). Ban Zhao nasceu em uma família de intelectuais: era sobrinha-neta de Ban Jieyu 班婕妤 (48-2 aec), conselheira imperial, reputada como grande erudita e poeta; seu pai Ban Biao 班彪 (3-54 ec) foi um importante funcionário da corte e letrado respeitado; o irmão mais velho Ban Gu 班固 (32-92ec) era historiador da corte e organizador da História de Han (Qian Hanshu 前漢書), enquanto o outro irmão, Ban Chao 班超 (32-102 ec) serviu a corte como um importante general, que liderou a reconquista das regiões ocidentais do império e assegurou a soberania chinesa sobre a Rota da Seda até a Ásia central.

De acordo com seus dados biográficos, depreende-se que ela teve uma educação completa dentro do cânone literário confucionista. Ela aprendeu a ler e escrever, teve acesso e estudou os tratados clássicos chineses, base da formação do funcionalismo público e da erudição letrada da corte: o Yijing 易經, ou Tratado das Mutações, obra que organizava as principais teorias cosmológicas chinesas; o Shujing 書經, ou Tratado dos Livros, obra que continha as narrativas históricas das primeiras dinastias; o Shijing 詩經, ou Tratado das Poesias, composto por uma coleção de poemas e músicas que traziam imagens da sociedade, costumes e do pensamento chinês; o Liji 禮記, ou Recordações Rituais, enciclopédia sociológica da cultura chinesa; e o Chunqiu 春秋, ou Primaveras e Outonos, crônica histórica escrita por Confúcio, que trazia uma gramática de conceitos e ideias históricas. Ban Zhao ainda teria estudado o Lunyu 論語 (Analectos) de Confúcio 孔夫子 (551-479 aec) e as novas histórias (Shi 史), como o Shiji 史記 de Sima Qian 司馬遷 (145-86 aec).

Ela teria ainda aprendido música (Yue 樂), regras de composição poética, práticas rituais (Li 禮), caligrafia (Shu 書) e matemática (Shu 數). Não há referência de que ela teria aprendido arqueria (She 射) ou cavalaria (Yu 禦), atividades circunscritas aos homens.

Inicialmente, Ban Zhao atendeu as imposições familiares e casou-se, aos quatorze anos, com Cao Shisu 曹世叔, recebendo o nome familiar de Cao Dagu 曹大家 (também grafado como 曹大姑). Contudo, poucos anos depois do casamento, seu marido faleceu (em data desconhecida), e Ban Zhao retomou o nome de solteira e de escritora. Dispunha de grande fama na corte imperial como intelectual e conhecedora dos livros clássicos confucionistas. Quando seu irmão Ban Gu morreu, deixando incompleta a redação da História de Han, Ban Zhao foi pessoalmente convocada para terminar do livro, e tornou-se a bibliotecária imperial, um dos mais importantes cargos da burocracia imperial (Hou Hanshu, 82: 8). Depois, foi chamada pela imperatriz Hexi 和熹皇后 (nome pessoal: Deng Sui 鄧綏, 81-121 ec) para tornar-se professora da corte, sendo responsável pela educação das mulheres e jovens. Um dos pensadores mais famosos da dinastia Han, Ma Rong 馬融 (79-166), era um de seus discípulos diretos, e fez questão de frisar em suas obras de comentários aos clássicos antigos a herança intelectual devida a sua mestra.

Ban Zhao manteria uma relação estreita de amizade e admiração mútua com a soberana Hexi, ao longo do tempo em que ela regeu o país entre 106 e 121 ec. Serviu na função de mestra imperial continuamente, com exceção de um breve período entre 113-114, quando acompanhou um dos filhos, Cao Cheng 曹成, que fora nomeado para o posto de marquês de Guannei (Guannei Hou 關內侯). Ao falecer de causas naturais em 120 ec, foi enterrada com honras imperiais, sendo uma figura extremamente respeitada na corte por seus conhecimentos e por ter sido a mentora de toda uma geração de mulheres cultas e atuantes.

Obras

 

Até onde sabemos, Ban Zhao redigiu textos em mais de seis categorias literárias diferentes, como diálogos, ensaios, exortações, poemas, memoriais e inscrições laudatórias. Como ocorreu a muitas autoras e autores da antiguidade chinesa, a maior parte de sua obra foi perdida em uma das muitas destruições de bibliotecas e arquivos que envolviam as transições dinásticas; mas temos uma lista de seus escritos no capítulo 35 da Relação dos livros e tratados da dinastia Sui (Sui Shujing Jizhi 隋書經籍志) do Livro de Sui (Suishu 隋書, séc. 7 ec), que demonstra uma atividade profícua e relevante. Durante a dinastia Qing 清 (1644-1912), o intelectual Yan Kejun 嚴可均(1762-1843) editou o livro As Três Dinastias Antigas Completas, Qin, Han, Três Reinos e Seis Dinastias (Quan shanggu sandai Qin Han Sanguo Liuchao wen 全上古三代秦漢三國六朝文), recolhendo no capítulo 96 os textos sobreviventes de Ban Zhao. Nessa seção, não estão incluídos os oito tratados e as biografias redigidas para a História de Han. É atribuído ainda a Ban Zhao a inserção de novos capítulos no livro Biografias de Mulheres Notáveis (Lienu zhuan 列女傳) de Liu Xiang 劉向 (77-6 aec), que apresentava modelos de comportamento feminino — notáveis ou reprováveis.

Nesse sentido, a obra principal e mais destacada de Ban Zhao é o livro Lições para Mulheres (Nujie 女誡), cuja versão de que dispomos atualmente integra o já citado cap. 82: 10-18 do Hou Hanshu. Escrito quando a autora tinha em torno de cinquenta anos, o livro congregava uma série de experiências e vivências na corte com teorias das doutrinas confucionistas e observações pessoais da autora. O texto trazia uma série de reflexões e orientações sobre a conduta feminina, colocando-se como o primeiro trabalho específico sobre o tema na China antiga. A estrutura da obra contava com uma breve introdução e sete capítulos que tratavam de diferentes aspectos do comportamento feminino em relação à vida matrimonial e à sociedade.

No primeiro capítulo, ‘Humildade’ (Beiruo 卑弱), Ban Zhao analisa o que seria um comportamento idealmente adequado, em relação às atitudes para com o marido e com outras pessoas; já no segundo, o tema é ‘Marido e Esposa’ (Fufu 夫婦), abordando especificamente os problemas internos da relação do casal; no terceiro, ‘Respeito e Atenção’ (Jingshen 敬慎), o livro traz uma breve análise da relação entre homens e mulheres a partir das concepções cosmológicas vigentes na dinastia Han, inspiradas no Yijing, que associavam as expressões do feminino e do masculino às concepções yin e yang; na sequência, em ‘Qualificações femininas’ (Fuxing 婦行), Ban Zhao propõe uma série de ‘Quatro qualidades fundamentais’ Side 四德 [virtude pessoal (De 德), falar apropriadamente (Yan 言), postura pessoal (Rong 容) e disposição física (Gong 功)] para a construção de uma personalidade feminina ideal; o quinto capítulo, ‘Coração devotado’ (Zhuanxin 專心), defende que a mulher deve evitar novos casamentos e permanecer em sua condição social definida; no sexto, ‘Obediência interna’ (Qucong 曲從), trata das relações de obediência para com os sogros; por fim, no sétimo capítulo, ‘Cunhadagem’ (Shumei 叔妹), trata dos cuidados nas relações intrafamiliares.

Uma radiografia superficial da obra permitiria classificá-la como um manual de boas maneiras para mulheres, inaugurando uma produção literária específica nesse sentido. A doutrina confucionista enfatizava o comportamento ético e moral em sociedade, priorizando atitudes de devoção, respeito e obediência, mas, também, de consciência crítica, solidariedade e equidade. As Recordação Rituais (Liji 禮記), ao longo dos seus capítulos, oferecia uma série de orientações sobre como se comportar nas mais diversas situações da vida, tais como nascimento, ritos fúnebres, luto, comensalidade, vestimenta, respeito aos indivíduos, entre outros. Contudo, o tom do livro era neutro, e as passagens específicas sobre o feminino (e seu papel) eram poucas. O texto de Ban Zhao poderia ser compreendido, portanto, como um conjunto de orientações específicas para as mulheres, em relação às leis e aos costumes vigentes, reforçando uma posição de inferioridade das mesmas dentro da sociedade chinesa.

As Lições para Mulheres foi também o ponto de partida para a construção de uma série de publicações no mesmo sentido, formando um grupo de quatro livros chamado Nu Sishu 女四書, composto pelo próprio Nujie 女誡, pelos Analectos Femininos (Nu Lunyu 女論語), Lições Domésticas (Neixie 内训) e Esboço de um modelo para mulheres (Nufan Jielu 女范捷录), todos escritos por intelectuais mulheres. Essa coleção, construída ao longo de mais de um milênio (só atingindo sua forma final em 1624) se inspirara na formulação do cânone confucionista dos Quatro Livros (Sishu 四書) feita por Zhuxi 朱熹 (1130-1200), mas não chegou a alcançar o mesmo status de leitura obrigatória. Contudo, a recepção do Lições para Mulheres e sua importância histórica e cultural precisa ser analisada mais profundamente.

As dimensões do Nujie na cultura chinesa

 

Para compreender as visões que envolvem a recepção da obra de Ban Zhao na China antiga, é preciso escapar de versões simplistas sobre a trajetória histórica dessa civilização. A concepção de uma cultura formalmente patriarcal e misógina é relativamente recente dentro da continuidade temporal da China, e representa o resultado não-concluído de um longo embate entre diversos estratos da sociedade, bem como de visões conflitantes sobre o papel do feminino. Diversas evidências apontam que as origens da civilização chinesa foram estabelecidas a partir de uma sociedade matriarcal, como demonstram os estudos de Ana Maria Amaro (1991), André Bueno (2013 e 2014) e Jack Goody (2008), e foi somente no início da urbanização pós-revolução agrícola que o processo de afirmação do masculino passou a permear a estruturação do tecido social e a escrita das narrativas históricas. Aparentemente, esse movimento se desenrolou em torno do terceiro milênio aec, e não ocorreu de maneira uniforme. Um grande número de comunidades agrícolas manteve seus cultos, rituais e práticas, preservando uma notável equidade entre os sexos e uma maior liberdade de costumes. Uma das provas dessa tese é a sobrevivência da comunidade Mosuo 摩梭 (Cai Hua, 1997 e Coler, 2008), situada no noroeste da China, que continua a manter sua estrutura matrilinear herdada de milênios. As camadas economicamente menos favorecidas da população chinesa também interagiram de forma variável em relação ao discurso patriarcal masculinizante, respondendo a ele com níveis diversos de apropriação e/ou recusa.

Por isso, cumpre salientar que as reconstruções históricas e culturais promovidas por Confúcio, no século 6 aec, visavam não apenas resgatar materiais produzidos por um determinado extrato social urbanizado, mas também envolviam uma série de idealizações relativas a um projeto de sociedade. É difícil determinar em que medida as ideias de Confúcio propunham literalmente uma radical separação e/ou submissão das mulheres – sua seleção do Shijing revela diversos poemas com mulheres fortes e ativas, bem como o Lunyu não é explícito sobre qualquer teoria misógina. Todavia, onde o silêncio prevaleceu, os comentaristas posteriores a Confúcio empreenderam todas as alterações que julgavam necessárias, e o confucionismo tornou-se uma doutrina filosófica essencialmente machista, patriarcal e hierárquica, que atendia aos interesses políticos das famílias mais poderosas da classe nobre.

No período da dinastia Han, as ideias de Confúcio foram adotadas como doutrina política oficial de governo (Cheng, 1985). Isso implicou em um forte incentivo à educação, com a abertura de escolas básicas e superiores, guiadas por um currículo calcado nas obras confucionistas. Como consequência imediata, a elite burocrática constatou a grande variedade de opiniões, hábitos e costumes entre a população, espalhada nas muitas províncias do império, que proporcionavam recepções diferentes ao projeto educativo. Ademais, a diversidade étnica ampliava-se com a entrada de grandes levas de gentes vindas de outros países, provenientes principalmente da Rota da Seda, que contribuíam para a formação de uma sociedade crescentemente multicultural.

Conforme um dos paradigmas clássicos da historiografia chinesa, quanto mais prolífico é um discurso, maior a probabilidade dele se tratar de um projeto de imposição de ideias (Bueno, 2021: 9). Ou seja: os muitos textos que defendem uma determinada opinião não retratariam uma realidade mais abrangente, mas, sim, a percepção/intenção de um grupo em afirmar e disseminar a mesma dentro da sociedade e da cultura. Na prática, isso significava que a construção de diversos discursos sobre o feminino, como o Lienu Zhuan de Liu Xiang, pretendiam orientar sobre o que deveria ser uma ‘mulher ideal’, dentro de preceitos confucionistas já bastante transformados, numa sociedade que estava longe de atender a essas idealizações. Essa impressão foi confirmada pelas pesquisas de Yan Aimin 阎爱民 (2005), para quem o período Han marcou a fase de consolidação das teorias e iniciativas de instituição patriarcais.

Um exemplo importante foi provido pelo próprio irmão de Ban Zhao, o historiador Ban Gu, que escreveu uma coletânea de textos rituais chamada Pavilhão do Tigre Branco (Baihutong 白虎通). Em um desses ensaios, ele lançou uma ideia que se tornaria sinônimo da submissão feminina, as chamadas ‘Três obediências’ (Sancong 三從): ‘uma mulher solteira deve ser submissa ao pai; casada, deve ser submissa ao marido; viúva, deve ser submissa ao filho homem’ (1,1: 8). A frase, tradicionalmente atribuída a Zixia 子夏 (507-400 aec), um dos discípulos de Confúcio, ganhou popularidade nos escritos da família Ban, e se tornaria em um dos conceitos fundamentais da sociedade chinesa.

O mesmo pode ser dito da aplicação da teoria cosmológica yin-yang, presente no Tratado das Mutações (Yijing), ao plano dos relacionamentos humanos. Embora fosse uma tendência comum aos intelectuais do período Han (MacLeod, 2022), ela poderia render resultados substancialmente diferentes. Alguns confucionistas, como Dong Zhongshu 董仲舒 (179-104 aec) — um dos mais influentes pensadores do século 2 aec —, afirmavam que o homem, sendo yang (rígido, forte, positivo e impositivo) deveria dominar a ‘mulher yin’ (flexível, suave, negativa e receptiva) (Chunqiu Fanlu 春秋繁露, cap. 53); por outro lado, os textos daoístas sobre alquimia sexual descobertos em Mawangdui 馬王堆 (Ling e MacMahon, 1992; Cleary, 1999) defendiam que a harmonia equitativa entre ambos seria, justamente, a chave para o sucesso em um relacionamento, promovendo sabedoria, saúde e felicidade. Na interpretação cosmológica desses textos, a Terra, em seu aspecto gerador, seria feminina; por conseguinte, a mulher, assim como a terra, deveria ser cultuada e cultivada. Isso significa que, nesse mesmo contexto, visões amplamente divergentes confrontavam-se nos âmbitos literários e institucionais, em busca de uma redefinição dos espaços de poder e da consecução de agendas culturais.

Ban Zhao estava bem próxima ao epicentro desses conflitos, a corte imperial — local onde as políticas públicas eram planejadas, e a produção dos saberes era supervisionada. Seu período de atuação foi concomitante (embora não necessariamente dependente) ao governo da imperatriz Hexi, o que colocava em questão as aptidões femininas para administrar funções públicas. Hexi conseguira conduzir os negócios do império admiravelmente bem (Hou Hanshu, cap. 11 [皇后紀上]), revelando que mulheres bem preparadas poderiam ser capazes de desempenhar funções majoritariamente atribuídas aos homens.

Por essa razão, a introdução do Nujie apresenta uma justificativa vaga, que consiste em afirmar que o objetivo do livro é reforçar o papel de educar as filhas para prepará-las para a vida em sociedade. Nesse mesmo período, haviam vários escritos — todos produzidos por homens, e lidos majoritariamente pelos mesmos — que defendiam a sujeição feminina em função de vários argumentos, fossem tradicionais, éticos ou cosmológicos. As mulheres que porventura tivessem acesso à educação literária comum iriam entrar em contato com esse material; assim, o livro de Ban Zhao surgia como um instrumento específico, dedicado às mulheres — e para ser lido pelas mesmas, o que pressupõe desde o início que elas deveriam estudar, aprender a ler e a escrever.

É preciso cuidar, logo no início, com as expressões usadas pela autora, ao dirigir-se a público na abertura: “Sou uma escritora indigna e pouco sofisticada, ignorante e por natureza pouco inteligente, mas sou afortunada por ter sido favorecida por ter um pai erudito, uma mãe culta e professoras que me proporcionaram uma educação literata e o treino adequado nas regras de cortesia” (Nujie, introdução). Embora essa possa parecer a abertura de texto feita por uma pessoa totalmente submissa, ela reproduz uma fórmula tradicional de expressar-se, em conformidade com as regras de etiqueta da época. Confúcio e seus discípulos se comunicavam de forma similar, afirmando ou escrevendo coisas do tipo ‘sou pouco inteligente, mas tentarei seguir seus conselhos’ ou ‘sou uma figura humilde, mas buscarei seguir seu conselho’, etc. Exaltar mestres (como a mãe e o pai) cumpria também o item de respeito às gerações anteriores e à figura educadora, o que afastava o risco do texto se propor pretensioso ou ‘ousado’ em demasia.

Algumas passagens do livro reforçam uma visão tradicionalista de que ele serviria aos propósitos da agenda misógina da elite chinesa: ‘a mulher deve sujeitar-se a humilhação’ (Nj1); ‘Se uma esposa não serve ao marido, então o relacionamento adequado entre homens e mulheres e a ordem natural das coisas são negligenciados e destruídos’ (Nj2); ‘assim como yang e yin, o homem é honrado por sua força, a mulher pela sua suavidade’ (Nj3); ‘a virtude feminina não precisa ser de uma habilidade brilhante, nem muito diferente de outras; as palavras femininas não precisam ser inteligentes, não devem ser discordantes nem ríspidas; a aparência feminina não precisa ser bonita nem de rosto e nem de corpo; o esforço feminino não precisa ser feito com mais habilidade do que outros’ (Nj4); ‘nos Ritos está escrito que um marido pode se casar novamente, mas não há nenhum texto que autorize uma mulher a se casar uma segunda vez’ (Nj5); (quanto ao sogro e a sogra) ‘Nada é melhor do que a obediência que sacrifica a opinião pessoal’ (Nj6); ‘Para conquistar para si o amor de seus sogros, ela deve garantir para si a boa vontade de cunhados e cunhadas mais jovens’ (Nj7). Esses fragmentos, extraídos do livro, constroem uma imagem asfixiante para a vida familiar e cotidiana das mulheres. Visto por esse lado, Ban Zhao estaria simplesmente servindo ao projeto educacional confucionista estatal, proporcionando um guia de comportamento em conformidade com as orientações masculinas.

No entanto, na sequência do texto, há fragmentos que apresentam considerações antitéticas a essas mesmas afirmações: ‘A mulher, sendo correta nos modos, firme no caráter e servindo ao marido; sendo casta, tranquila e discreta; que não se perca em maledicência ou deboche; que zele pela purificação das oferendas de vinho e alimento aos antepassados; quando uma mulher observa esses princípios, podemos afirmar que ela continua o culto ancestral’ (Nj1). Essas virtudes eram esperadas não apenas das mulheres, mas de homens também, e realizar a oferenda ancestral era um dos pilares da estrutura familiar, assim como uma honraria. Outro trecho — ‘Se um marido é indigno, ele não tem o direito de exigir nada de sua esposa’ (Nj2) — revela um certo grau de equidade no desenvolvimento da relação; na sequência, ela afirma que ‘apenas ensinar os homens e não ensinar as mulheres — isso não é ignorar a relação essencial entre eles?’ (idem), fazendo uma clara defesa de que as mulheres, seja no desempenho de qual função for, precisam de acesso à educação de forma plena, tal como os homens podiam receber. E continua: ‘um homem pode nascer como um lobo, mas teme-se que vire uma criatura débil; uma mulher pode nascer como um ratinho, mas teme-se que ela se transforme numa tigresa’ (Nj3), informando-nos do fato de que as mulheres repreendem seus maridos, admoestam os mesmos e debatem os assuntos íntimos de forma firme, ainda que dentro de limites, concluindo: ‘Se o amor e o respeito mútuo forem desfeitos, marido e mulher ficarão divididos’ (idem), revelando claramente que as tensões familiares existiam, e que a simples submissão feminina não era uma realidade determinante. Ademais, cumpre lembrar que a China antiga possuía leis de divórcio, que garantiam à mulher direitos sobre seus bens e dote matrimonial. As propostas qualificações femininas (Nj4) também são similares às virtudes confucionistas masculinas (com exceção de temas específicos, como virilidade, destemor ou força guerreira), e seu objetivo prático é garantir a harmonia familiar e doméstica, pois ‘há momentos em que o amor pode levar a diferenças de opinião entre as pessoas; e por consequência, a desentendimentos mais sérios’ (Nj5); por fim, uma mulher pode ser sábia, digna e perspicaz, capaz assim de atingir a perfeição (Nj7).

Essas passagens foram pinçadas do texto para mostrar um pouco da argumentação complexa que o compõe, permitindo retratos diferenciados para quem busca interpretá-las (Bueno, 2004). É possível que Ban Zhao estivesse, conforme os debates próprios da época, analisando e empregando a teoria yin e yang dentro do texto de maneira a determinar espaços de restrição e abertura para o feminino. De acordo com o Hou Hanshu, já na época do lançamento do livro, Ma Rong 馬融 (o destacado discípulo de Ban Zhao) elogiou amplamente o trabalho, fazendo com que sua esposa e filha aprendessem o Nujie (Hou Hanshu, 82: 19); já a cunhada de Ban Zhao, Cao Fengsheng 曹豐生, teceu duras críticas ao livro em uma carta aberta a corte (idem, 82: 20), documento este que perdeu-se, o que nos impossibilita saber de seu conteúdo. Essa discussão nos indica uma tensão clara sobre a recepção da obra nos meios eruditos.

Existe ainda a possibilidade do texto do Nujie ter sido adulterado ou sofrido acréscimos. Como pudemos observar, a versão de que dispomos foi preservada em um livro do século 5 ec, e não era nem um pouco incomum que intérpretes posteriores fizessem modificações que julgassem necessárias para adequar o texto a uma certa linha de discurso. Na prática, isso significa que partes do livro, principalmente no que tange aos seus conceitos ou orientações fundamentais, podem ter sido manipuladas. O texto do Nujie recolhido por Yan Kejun no período Qing é basicamente o mesmo do Hou Hanshu, mas possui algumas alterações: e não há uma explicação razoável dos motivos pelos quais Fan Ye, o autor do mesmo Hou Hanshu, não tenha incluído os outros escritos de Ban Zhao, como Yan fez. Esses outros sucintos fragmentos mostram uma mulher ativa, que se dirigia à corte respeitosamente, mas igualmente determinada, que fazia reflexões de viagem e poesias sensíveis, o que torna sua personagem uma figura de difícil reconstrução. Cai Hefang 蔡荷芳 (2009) demonstrou como Nujie passou por sucessivas edições e revisões, e que a prática literária de interpolar comentários entre as passagens do texto, comum na China tradicional, contribuiu para disseminar várias gralhas ao longo do mesmo. Wang Danni 王丹妮 e Li Zhisheng李志生 (2020) confirmaram essa avaliação, notando ainda que o momento de maior divulgação do livro ocorreu no período Ming 明 (1368-1644) e Qing 清 (1644-1912), quando houve o recrudescimento das pressões sociais, culturais e políticas sobre as mulheres, e um aviltamento generalizado de seus direitos. Não por acaso, esse foi o período em que mais se produziram edições comentadas da obra, em sua maioria de autores homens e enfatizando os aspectos de submissão do feminino das Lições para Mulheres. Disso poderíamos concluir que as intepretações que se impuseram sobre a obra, ao longo da história chinesa, foram em grande parte dominadas pela elite burocrática imperial, e contribuíram para o fortalecimento das instituições patriarcais e machistas. As análises mais recentes apontam, porém, para caminhos diferentes, como veremos agora.

Estudos recentes  

 

Os estudos chineses sobre as Lições para Mulheres tendem a concordar no seguinte aspecto: o livro estruturou-se, em conformidade com seus capítulos, em sete conceitos chaves que seriam a preponderância do masculino do ponto de vista cosmológico, a ética da virtude, a hierarquização das relações, as práticas de etiqueta, controle do sexo (castidade e pudor), relações domésticas e educação feminina. Esses conceitos estão disseminados pelos capítulos, e é possível que o arranjo dos materiais tivesse funções pedagógicas, coincidindo com os sete itens do programa ‘Três obediências, Quatro virtudes’ (Sancong Side); contudo, não há correspondência anatômica direta entre o conteúdo dos capítulos, as ideias centrais e esses sete ditames. De fato, os fragmentos textuais revestem esses núcleos essenciais em cada uma das partes, mas podem — e de fato, apresentam — contradições ou ressignificações possíveis de acordo com o pressuposto teórico e o sistema de leitura empregados.

Um dos estudos mais recentes que impulsionaram a revisão ética e histórica do trabalho de Ban Zhao foi o artigo de Su Ping 苏萍, Análise das concepções educacionais nas ‘Lições para Mulheres’ de Ban Zhao (班昭 “女诫” 的教育思想探析) de 2005. Nele, a autora propõe que em um contexto de crescente opressão contra as mulheres, derivada das tensões étnicas, culturais e sociais que a dinastia Han enfrentava, Ban Zhao percebeu que era necessário preparar as mulheres intelectualmente para assegurar suas posições dentro da sociedade. Em sua visão, Ban Zhao defendia que a ideia de educação da mulher era uma forma de resistir à opressão, sobreviver, e paulatinamente reverter conceitos tradicionais de inferioridade e submissão em direção a uma verdadeira igualdade de gênero. O Nujie faria também uma importante contribuição ao processo de conscientização feminino, ensejando o reconhecimento da autonomia, da individualidade e da sororidade. Nesse sentido, as passagens textuais que reforçam a ideia de submissão poderiam ser ruídos na transmissão, ou deveriam ser lidos em contexto, não podendo ser considerados de forma absoluta e lidos literalmente. O artigo de Su Ping tornou-se uma referência no novo debate que se formou em torno da obra de Ban Zhao. No ano seguinte, Zhong Cuihong 钟翠红 (2006) seguiu a mesma linha de raciocínio, propondo que Ban Zhao estava buscando oferecer estratégias de resistência ao movimento de transformação das relações sociais que o período Han passava. Nesse sentido, as mulheres buscariam na educação meios de propiciar participação e mobilidade social; quanto ao sistema de submissão, Ban Zhao delinearia mecanismos de sobrevivência externos e superficiais, a serem desempenhados nas relações cotidianas e intrafamiliares, mas não correspondendo necessariamente à consciência e aos sentimentos individuais. Na sequência, Jin Wen 晋文 e Zhao Huiying 赵会英 (2007) apontaram o Nujie como uma das primeiras oportunidades de reavaliação ética e moral do papel feminino na sociedade, produzido por uma autora mulher, indicando uma nova visão de mundo e cultura, que clamava por uma maior participação no cenário político e cultural; e Gu Lihua 顾丽华 (2012) escreveu um extenso trabalho intitulado A vida das mulheres na Dinastia Han (汉代妇女生活情态), no qual propunha que o trabalho de Ban Zhao pretendia a reconstrução de um espaço feminino dentro da sociedade, buscando criar alternativas para evitar o aprofundamento das práticas e ideias misóginas. As lutas intersticiais das famílias que compunham a corte criavam tensões que se manifestavam em problemas sucessórios e no controle dos corpos e das descendências. Nesse cenário, a submissão feminina significaria igualmente o controle dos meios de reprodução do poder, expressos pelos matrimônios arranjados e pela supervisão (moral) de familiares atuantes em funções públicas.

Em sentido diverso desse, An Chunhuan 安春焕 e Wen Hangliang 温航亮 (2011) consideraram que o Nujie serviu para fundar uma visão estruturada do papel feminino na sociedade chinesa Han e pós-Han, acoplada ao projeto confucionista de submissão do feminino. A partir do estudo da aplicação das ‘Três obediências e Quatro Virtudes’ (Sancong Side 三從四德) nas Lições para Mulheres, An Chunhuan e Wen Hangliang defendem que o livro serviu para consolidar esse binômino como o sentido principal da condição feminina na sociedade imperial chinesa, estabelecendo uma concepção de ‘comportamento e personalidade ideal’. Wen Hangliang 温航亮 retomaria o tema em 2016, defendendo que a proposta do Nujie era a de compromisso com o patriarcado que se estabelecia, pretendendo negociar a posição das mulheres frente à nova sociedade através de suas qualificações educacionais e uma participação relativa e limitada nas transações do poder político. Em 2013, Wu Congxiang 吴从祥 retomou a ideia de que o livro de Ban Zhao se tratava, de fato, de um manual de etiqueta e boas maneiras, em conformidade com vários outros materiais do mesmo gênero produzidos pela escola confucionista. A novidade, nesse sentido, seria a de uma autora feminina incorporar essas orientações e produzir um escrito que defendia a própria submissão do gênero; e que a educação proposta por ela deveria ser extensiva, mas limitada em conteúdo — algo próximo a ideia das ‘escolas de boas maneiras para mulheres’, oferecendo conhecimentos limitados e técnicas voltadas aos problemas domésticos. Chen Taolan 陈桃兰 e Xia Xueyuan 夏雪源 (2015) deram continuidade a essa linha, considerando a proposta de educação feminina um precedente histórico na China antiga, e que principal objetivo das Lições para Mulheres era exortá-las a cultivar a moralidade, a castidade e prepará-las para a administração dos problemas familiares, ficando circunscrita a essa dimensão do existir. Nesse ponto de vista, o trabalho de Ban Zhao seria uma contribuição decisiva na reafirmação do masculino como centro do poder, esclarecendo sua função dominadora sobre as mulheres e a família.

Mais duas considerações precisam ser feitas sobre as visões chinesas. A primeira é a de Feng Xiaotong 冯小桐, que em 2019 lançou um importante artigo intitulado ‘Uma Revisão da Literatura de Educação Moral das Mulheres Chinesas Antigas’ (中国古代女德教育文献综述). Sua proposta consiste em afirmar que a história das mulheres na China requisita uma necessária revisão conceitual e documental, tendo em vista o diálogo problemático entre as teorias tradicionais chinesas e a aplicação das teorias ocidentais no âmbito acadêmico e intelectual. Além de ampliar o levantamento das fontes disponíveis, de maneira a criar uma base de dados efetivamente funcional, que supere o colecionismo erudito (como o de Yan Kejun, por exemplo), a simples absorção de sistemas vindos do Ocidente não daria conta de compreender as especificidades da cultura chinesa. As teorias feministas europeias e americanas evidentemente são capazes de proporcionar novas formas de leitura sobre as tradições chinesas e seus documentos, como é o caso do Nujie; por outro lado, elas desconhecem os conceitos, expressões e fórmulas, tanto literárias como filosóficas e históricas que compõem as narrativas chinesas, criando o problema muito conhecido de impor uma perspectiva teórica sobre outra realidade cultura, e suscitando interpretações artificiais/superficiais.

O alerta de Feng Xiaotong sobre o uso e as apropriações dessas teorias fica claro quando analisamos a segunda consideração que queremos apresentar, o trabalho de Sun Zhe 孙哲 e Liu Linfu 刘立夫, intitulado ‘A conexão entre os direitos das mulheres e a moralidade das mulheres — Interpretação moderna do significado da educação familiar em “Lições para Mulheres” (女权与女德的会通—《女诫》家教意义的现代诠释, 2015). Os autores (homens) defendem que o movimento feminista ‘ocidental-chinês’ da década de 1980-1990 trouxe novos recursos ideológicos e morais que, congregados às teorias das virtudes tradicionais femininas chinesas, podem proporcionar uma nova e legítima educação moral para as mulheres chinesas, construindo uma nova cultura feminina na China contemporânea. Afirmando o papel das contribuições ocidentais no campo intelectual, eles partem do pressuposto que a redefinição do papel feminino na sociedade chinesa atual deve compreender uma fusão dialética dessas teorias com os conceitos e narrativas históricas nacionais, nos quais Ban Zhao e o Nujie cumprem um papel fundador, e torna-se um texto obrigatório e indispensável. O entendimento sobre a obra pauta-se, enfim, em uma releitura neoconservadora Novo-confucionista, que pretende resgatar na China contemporânea um projeto político baseado na conciliação das ideias antigas de Confúcio com as necessidades do mundo moderno e, nesse sentido, pretendem um feminismo chinês legítimo calcado nas concepções ‘originais’ de Ban Zhao. Como bem observou Cui Liping 崔丽萍 (2020), o emaranhamento na mentalidade chinesa entre feminismo, direitos das mulheres e moralidade feminina revela grandes dificuldades e limitações na apreensão e no diálogo entre conceitos chineses e ocidentais, proporcionando interpretações plurais que facilmente deslizam para inovações exógenas ou invocações revitalizadas do passado (um texto bastante interessante sobre as relações entre Confucionismo e Feminismo na China contemporânea pode ser visto em Lisa Rosenlee, 2021).

Quanto às interpretações ocidentais sobre Ban Zhao, elas usualmente partem dos pressupostos epistêmicos europeus e americanos, projetando sobre a China categorias de análise com pretensões de universalidade que não raro entram em choque com o entendimento que a própria sociedade chinesa tem de sua história. Os estudos sinológicos estão impregnados de concepções orientalistas e, consequentemente, a leitura das narrativas chinesas oscila fortemente entre o repúdio e o preconceito ou a idealização ingênua. No que diz respeito à construção histórica da figura de Ban Zhao no imaginário ocidental, ela só passou a ser estudada com uma personagem significativa a partir do trabalho de Nancy Lee Swann, Pan Chao: Foremost Woman Scholar of China (Pan Chao: a erudita mais famosa da China), publicado originalmente em 1932. Swann apresentava uma pesquisa séria e abrangente sobre Ban Zhao, trazendo dados biográficos, análises históricas e a tradução de textos chineses, incluindo aí uma versão completa das Lições para Mulheres. Somente em 2003, Robin Wang fez uma coletânea de fragmentos textuais sobre o feminino na China tradicional (no caso de Ban Zhao, ela usou o texto de Swann), proporcionando um panorama mais amplo sobre a questão. O livro de Swann seria a base para todas as discussões sobre Ban Zhao até uma tradução mais recente, feita por Ann A. Pang-White em 2018 — esta, uma versão completa dos ‘Quatro livros femininos’ (Nu Sishu) e um detalhado estudo comparativo. Mais recentemente, especialistas em sinologia têm buscado debater o papel de Ban Zhao a partir de grades teóricas importadas dos debates feministas, conscientes dos problemas de adaptação conceitual à cultura tradicional chinesa, e concebendo algumas conclusões que se aproximam em vários aspectos dos estudos realizados na China. Uma apresentação mais ampla e atualizada desse debate sobre Ban Zhao e o Nujie nas pesquisas ocidentais pode ser visto no texto de Janyne Sattler (2021), que traz uma discussão profícua das leituras e problemas teóricos que envolvem a recepção dessa importante personagem histórica e sua obra; por fim, Jana Rosker (2020) fez uma análise pontual dos caracteres filosóficos da obra de Ban Zhao, buscando ressignificar as ideias dessa autora a luz das próprias tradições chinesas.

Referências

 

1.Obras da filósofa e traduções disponíveis

 

Pang-White, Ann A. The Confucian Four Books for Women: A New Translation of the Nü Sishu and the Commentary of Wang Xiang. Oxford: Ofxord University Press, 2018.

Swann, Nancy Lee. Pan Chao: Foremost Woman Scholar of China. Michigan: Center for Chinese Studies, 2001.

Wang, Robin. Images of Women in Chinese Thought and Culture: Writings from the Pre-Qin Period Through the Song Dynasty. London: Hackett, 2003.

Os documentos clássicos usados nesse verbete foram consultados no repositório https://ctext.org/ e seguem listados abaixo:

Ban Gu 班固, Baihutong 白虎通

Dong Zhongshu 董仲舒, Chunqiu Fanlu 春秋繁露

Fan Ye 范曄, Hou Hanshu 後漢書 (no qual se inclui a primeira versão do Nujie 女誡 de Ban Zhao班昭)

Liu Xiang 劉向, Lienu zhuan 列女傳

Yan Kejun 嚴可均, Quan shanggu sandai Qin Han Sanguo Liuchao wen 全上古三代秦漢三國六朝文

  1. Literatura secundária

 

Amaro, Ana Maria. ‘O Culto da Mulher no Neolítico chinês’. Macau: Revista de Cultura, (32) Jul. – Set. 1997, p.119-127.

An Chunhuan 安春焕 e Wen Hangliang 温航亮. 三从四德”与封建女性行为规范的形成 (“Três obediências e quatro virtudes” e a formação de normas comportamentais femininas feudais) 《铜陵学院学报》(Jornal da Universidade de Tongling), n.6, 2011: 78-80

Bueno, André. ‘Ban Zhao e a ética feminina na China Antiga’. Légein, v.3, 2002: 14-31.

Bueno, André. ‘Erótica Sínica’. Mais que Amélias, n.1 v.1, 2014, 1-12.

Bueno, André. ‘Inventar a história: ideias da historiografia tradicional chinesa para ler e ensinar o passado’. Projeto Orientalismo: SinoTextos, 2021, 5-15.

Bueno, André. ‘Para uma história da mulher na China Tradicional’. In: Kátia Pozzer. (Org.). Um outro Mundo Antigo. 1ed.São Paulo: Annablume, 2013, v. 1, p. 301-333.

Cai Hefang 蔡荷芳. 论班昭《女诫》的创作背景 (Sobre o bastidor da criação das “Lições para Mulheres” de Ban Zhao)《淮北煤炭师范学院学报:哲学社会科学版》(Revista da Universidade Normal de Huaibei: Edição de Filosofia e Ciências Sociais), n.4, 2009, p.73-80.

Cai Hua. Une société sans père ni mari. Les Na de Chine. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.

Chen Taolan 陈桃兰 e Xia Xueyuan 夏雪源. 班昭《女诫》中的女性教育智慧 (A Sabedoria da Educação Feminina no “Lições para Mulheres” de Ban Zhao). 兰台世界 (Mundo Lantai), n.24, 2015, 72-74.

Cheng, Anne. Etude sur le confucianisme Han. L’élaboration d’une tradition exégétique sur les classiques. Paris: Mémoires de l’Institut des Hautes Etudes Chinoise, vol. XXVI. Paris, Institut des Hautes Études Chinoises, Collège de France, 1985.

Cleary, Thomas. Sex, Health, and Long Life: Manuals of Taoist Practice. London: Shambhala, 1999.

Coler, Ricardo. O reino das mulheres: o último matriarcado. São Paulo: Planeta, 2008.

Cui Liping 崔丽萍. 20世纪中西方女权与女德的发展历程及其关系探讨 (O processo de desenvolvimento e a relação dos direitos das mulheres e a moralidade das mulheres na China e no Ocidente no século XX)《宝鸡文理学院学报:社会科学版》(Revista da Universidade de Artes e Ciências de Baoji: Edição de Ciências Sociais), n.5, 2020, p.101-107

Feng Xiaotong 冯小桐. 中国古代女德教育文献综述 (Uma Revisão da Literatura de Educação Moral das Mulheres Chinesas Antigas)《社会科学动态》”Tendências das Ciências Sociais”, n.4: 2019, p.110-119.

Goody, Jack. O Oriental, o Antigo e o Primitivo: Os Sistemas de Casamento e a Família nas Sociedades Pré-industrais da Eurásia. São Paulo: Edusp, 2008.

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Rosker, Jana. ‘Ban Zhao and the question of female philosophy in China’. Asian and African Studies, v.29 n.2, 2020, p.239–260.

Sattler, Janyne. ‘Ban Zhao e suas Lições para Mulheres’. Germina, Março de 2021. Link: https://germinablog.wordpress.com/2021/03/24/licoes-mulheres-filosofa-chinesa-ban-zhao/

Su Ping 苏萍, 班昭《女诫》的教育思想探析 (Análise das concepções educacionais nas ‘Lições para Mulheres’ de Ban Zhao).  妇女研究论丛 (Jornal de estudos sobre mulheres chinesas) V.1, 2005, p.42-46.

Sun Zhe 孙哲 e Liu Lifu 刘立夫. 女权与女德的会通—《女诫》家教意义的现代诠释 (A conexão entre os direitos das mulheres e a moralidade das mulheres – Interpretação moderna do significado da educação familiar em “Lições para Mulheres”)《湖南大学学报:社会科学版》(Revista da Universidade Hunan: Edição de Ciências Sociais), n.5,  2015, p.144-148

Wang Danni 王丹妮 e Li Zhisheng 李志生.《女诫》的刊刻、注释与流传 (A Publicação, Anotação e Divulgação das “Lições para Mulheres”)《山东女子学院学报》(Jornal da Universidade das Mulheres de Shandong), n.1, 2020, p. 76-85

Wen Hangliang 温航亮,  女性在封建文化中的出场及《女诫》的价值重估 (O aparecimento da mulher na cultura feudal e a revalorização das “Lições para mulheres”)  西部学刊 (Revista do Oeste), n.9, 2016, p.28-31

Wu Congxian 吴从祥. 汉代女性礼教研究 (Pesquisa sobre a ética das mulheres na dinastia Han) 山东 Shandong: 齐鲁书社 Qilu Editora, 2013.

Yan Aimin 阎爱民. 汉晋家族研究 (Pesquisa sobre as famílias em Han e Jin).上海 (Shanghai):上海人民出版社 Shanghai People’s Publishing House, 2005.

Zhong Cuihong 钟翠红.《女诫》之女性观透视及其历史意义 (A perspectiva da visão feminina e seu significado histórico em “Lições para Mulheres”)《中华女子学院学报》(Jornal da Universidade das Mulheres da China), n.5, 2006, p.73-77

  1. Outros materiais

 

Ban Zhao e as Mulheres, com Janyne Sattler, Julia Souza e Kelly Ferreira. Link: https://www.youtube.com/watch?v=bw-Jbq8Etpg

[1] Nesse caso, AEC = Antes da Era Comum e EC = Era Comum. Essa terminologia é adotada em respeito a culturas não cristãs, acompanhando os marcos cronológicos comuns. Nesse caso, a dinastia Han surge no século 3 AEC e só se encerra no século 3 EC.