Mary Midgley
(1919 – 2018)
por José Costa Júnior, professor de Filosofia e Ciências Sociais
do Instituto Federal de Minas Gerais (Campus Ponte Nova) – Lattes
Biografia e formação
O objetivo deste verbete é apresentar a vida e o trabalho da filósofa britânica Mary Midgley, juntamente com o legado que deixou para a história recente da filosofia. Nascida como Mary Beatrice Scrutton em 13 de setembro de 1919 em Londres, no período pós-Primeira Guerra, viveu seus primeiros anos numa Inglaterra que vivenciava os últimos tempos do Império Britânico. Filha de Thomas Scrutton, que fora Capelão nas trincheiras da Guerra e, depois, responsável pela Capela do King’s College de Cambridge, e de Lesley Hay, Mary teve uma infância próxima do único irmão, Hugh Scrutton. Aos doze anos foi enviada para estudar em Downe House School, uma escola para meninas inspirada na visão do filósofo John Dewey, com ênfase no diálogo intergeracional, no estímulo à criatividade e nas atividades ao ar livre. O imóvel onde funcionava a escola foi residência de Charles Darwin no século XIX, naturalista que futuramente influenciaria o trabalho da então filósofa Mary Midgley. A escola proporcionava uma vasta área onde a jovem Mary podia explorar os espaços naturais. Sempre à vontade com a formação familiar anglicana liberal, e estimulada à reflexão e ao pensamento crítico, a jovem Mary nunca sentiu-se necessariamente atraída pela religião organizada (Kidd & McKinnell, 2016).
Aos 19 anos, Mary Scrutton chegou à Universidade de Oxford para cursar “Classics”, no Somerville College, um curso de graduação dividido em duas partes (“Mods and Greats”) e que envolvia Literatura, Filosofia, História e outros temas ligados às Humanidades. Naquele momento, a prestigiosa Universidade havia iniciado um processo de ampliação do acesso para mulheres, mas restrito a algumas áreas, num movimento comum ao contexto do ensino superior britânico da época. Lemos na sua biografia, intitulada The Owl of Minerva: A Memoir [A Coruja de Minerva: Uma memória] (2005), que a escolha do curso havia sido motivada pela leitura de Platão, principalmente o diálogo Fedro, com sua “visão imaginativa e cativante”, no qual “pensamento e sentimento não pareciam estar em conflito” (Midgley, 2005). Antes do início das atividades acadêmicas, fez uma breve viagem por Viena na primavera de 1938, interrompida pelas tensões políticas do processo de anexação da Áustria pela Alemanha Nazista.
Os estudos no Somerville College aproximaram Mary Scrutton de outras estudantes do curso, principalmente três jovens com idades comuns: Elizabeth Anscombe, Philippa Foot e Iris Murdoch, esta última de quem seria mais próxima. A proximidade entre as quatro estudantes cresceria e seria fundamental para o desenvolvimento das concepções filosóficas de cada uma delas (Lipscomb, 2021). Em 1939, com o início dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, muitos dos estudantes e professores homens foram convocados para a frente de batalha. Consequentemente, a situação abriu espaço para as vozes femininas, considerando também o modo como a filosofia era realizada naquele contexto, pautada por debates intensos sobre temas específicos e com pouca abertura para inovações. Num comentário ao jornal britânico The Guardian em 2013, a própria Midgley, respondendo a uma questão sobre a proeminência de mulheres filósofas daquele período, afirma: “Desculpe, mas a razão era de fato que havia menos homens naquela época”. Criticou também o incisivo modo pelo qual a filosofia era praticada ali: “O problema não são, é claro, os homens como tais — os homens fizeram filosofia boa o suficiente no passado. O que está errado é um estilo particular de filosofar que resulta do incentivo a muitos jovens inteligentes para competir em argumentos vencedores”.
A ortodoxia a ser criticada por Midgley envolvia a concepção filosófica do positivismo lógico, uma posição que compartilhava com as outras integrantes do grupo que passou a ser chamado de “Quarteto de Oxford” ou “Quarteto da Guerra” (Lipscomb, 2021). Foram críticas da visão positivista do Círculo de Viena, cada vez mais influente nos modos de filosofar e que tinha cada vez mais adeptos em Oxford e Cambridge. Tal posicionamento também seria fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos das quatro filósofas, principalmente no âmbito da filosofia moral. Uma grande influência filosófica foi o teólogo e filósofo Donald McKinnon (1913-1994), um dos tutores de Midgley e das filósofas do Quarteto em Oxford, que estimulou a leitura e o diálogo com a tradição filosófica, além de estimular dúvidas acerca da posição crítica à metafísica defendida pelo Círculo de Viena (Lipscomb, 2021).
Em 1942, Mary Scrutton concluiu o curso de graduação com destaque no Sommerville College e passou a trabalhar como funcionária pública junto ao Ministério da Produção em Londres. Assim como suas colegas, fez parte do esforço de guerra, durante a difícil situação imposta naquele momento. Após o final do conflito, iniciou um Doutorado em Filosofia em Oxford, sob a orientação de E. R. Doods, cujo tema era a filosofia de Plotino. No entanto, dois anos depois do início, o trabalho foi interrompido devido à dificuldades de elaboração da tese e por “não ter a disciplina normal do doutorado” (Midgley, 2005). Mesmo sem a conclusão da pós-graduação, o período do pós-Guerra foi de ricos diálogos sobre filosofia moral com as outras filósofas do Quarteto (Mac Cumhaill & Wiseman, 2022). Além da influência de McKinnon, a proximidade de Elizabeth Anscombe com a filosofia de Ludwig Wittgenstein também influenciou Midgley, Foot e Murdoch, principalmente em relação às considerações sobre o papel da filosofia para a compreensão da vida comum.
Mary Midgley obteve esse nome ao casar-se com o também filósofo Geoff Midgley (1921-1997) em 1950. Depois de uma breve passagem como Professora na Universidade de Reading, foi morar em Newcastle, onde o marido lecionava na Universidade local, e onde criou seus três filhos: Tom (1952), David (1953) e Martin (1958). Entre as décadas de 1950 e 1970, foi colaboradora regular do Third Programme da rádio BBC, abordando temas ligados à filosofia, e escreveu resenhas para a revista New Statesman. Num dos roteiros propostos à emissora, intitulado “Rings & Books”, Midgley argumentou que o problema com o cânone filosófico é que dificilmente qualquer um dos grandes filósofos tenha sido casado e tido filhos. E aponta que a tendência à introspecção e ao fechamento ao mundo, próprios da tradição filosófica, talvez possa se dever a essa falta de vida com outras pessoas. O roteiro foi negado, como uma “intrusão trivial e irrelevante de assuntos domésticos na vida intelectual”, conforme consta numa republicação desse roteiro em 2022.
Midgley tornou-se Professora na Universidade de Newcastle em meados da década de 1960 e publicou um relevante artigo em 1973 (“The Concept of Beastliness” [“O conceito de bestialidade”]). Este trabalho deu origem ao seu primeiro livro, intitulado Beast and Man: The roots of human nature [Besta e Homem: As raízes da natureza humana], publicado em 1978, e que é considerado por ela mesma como seu livro mais importante (Midgley, 2002). Nesse período, ampliou seus interesses por áreas como biologia, psicologia, ciências comportamentais e etologia, construindo diálogos (muitas vezes polêmicos) entre filosofia, ciência e religião.
Após a sua aposentadoria, Midgley continuou publicando artigos e livros, além de participar ativamente de debates públicos, como na sua crítica às políticas de austeridade do governo de Margareth Thatcher, que levaria ao encerramento das atividades do Departamento de Filosofia da Universidade de Newcastle. Também se envolveu numa discussão pública realizada em publicações acadêmicas com o biólogo Richard Dawkins, sobre o conceito de “gene egoísta” e suas implicações. Seu marido Geoffrey Midgley morreu em 1997 e Mary Midgley continuou seu trabalho, ampliando suas contribuições para jornais e revistas, como o The Guardian, New Scientist e Now Philosophy, tornando-se definitivamente uma “intelectual pública”, para quem a filosofia não era um luxo, mas “algo que todos nós precisamos em nossas vidas para construirmos imagens coerentes do mundo e de nós mesmos” (Midgley, 2018).
Após décadas de contribuição à filosofia, Mary Midgley morreu aos 99 anos em 10 de outubro de 2018, em Newcastle, poucas semanas após a publicação de What Is Philosophy for?, [Para que serve a Filosofia?] seu último livro. Com centenas de artigos e dezenas de livros publicados, Mary Midgley deixou uma vasta obra filosófica, que dialoga com muitos dos desafios do nosso tempo. Tendo participado de movimentos e transições importantes ao longo do século XX, vivenciado circunstâncias históricas e promovido diálogos com diferentes tradições e perspectivas, o trabalho diversificado e amplo de Mary Midgley promove importantes estímulos reflexivos sobre nosso lugar na realidade e sobre nossa curiosa forma de vida.
Trabalho filosófico
É comum descrevermos o trabalho de filósofas e filósofos partindo de sua área de especialização e seus interesses diretos. Entretanto, Mary Midgley é uma exceção a esse tipo de especialização e esse também é um dos motivos pelos quais seu trabalho seja tão distinto. Nesse sentido, é difícil realizar um levantamento sistemático do seu trabalho, uma vez que interliga questões de ciência, literatura, ética, política, história da filosofia, meio ambiente, entre outros. No entanto, além dessa amplitude de temas, existe no trabalho de Midgley uma preocupação constante em relacionar todos esses temas e aspectos dentro de uma visão mais ampla do nosso lugar na realidade (Kidd & McKinnell, 2016) e em como a filosofia pode nos ajudar a compreendê-lo. Há também uma preocupação constante com os métodos e práticas utilizados pela filosofia, isto é, uma metafilosofia.
Midgley desenvolveu sua concepção de filosofia num artigo publicado em 1992, intitulado “Philosophical Plumbing” [Encanamento filosófico]. Nele, promove análises acerca dos métodos e do alcance da filosofia, que, ao lidar com os conceitos mais básicos que circunscrevem nossas vidas, não se trata de uma atividade “elevada” ou “distintiva”, mas sim de uma prática fundamental e necessária. Para isso, traça uma analogia: pede que imaginemos que moramos num local abastecido por água e equipado por processos de esgotamento sanitário; no entanto, em algum momento, esse complexo sistema de encanamentos que faz com que tudo funcione começa a apresentar problemas. Como são muitos tubos e conexões, alguns mais recentes e outros mais antigos, alguns já passaram por consertos e outros continuam com vazamentos, maiores ou menores, que demandam reparos urgentes. Como se trata de uma rede vital para a manutenção do nosso conforto e da funcionalidade de aspectos banais da sua vida, quando alguma parte ou a totalidade do sistema falha, sentimos seu efeito: falta de água em função de rompimentos de canos, mau cheiro devido a problemas no esgoto, água suja em função de algum problema na chegada da água. Trata-se então de um sistema complexo, amplo e vital, elaborado por seres humanos ao longo do tempo e de acordo com as nossas necessidades mais básicas. Quando falham, demandam reparos e revisões sob o risco de impactar decisivamente nossas vidas.
Segundo Midgley, é possível traçar uma analogia entre o papel da filosofia e as situações do problema hidráulico descrito. Os complexos sistemas de pensamento com os quais vivemos são como as redes e tubulações hidráulicas de nossas residências: enquanto funcionam bem, trazem estabilidade, segurança e conforto. No entanto, em algum momento, podem começar a funcionar mal, apresentar problemas e demandarem revisão e reparos. E essa seria a tarefa da filosofia: reparar e reestruturar nossos sistemas de pensamento, que muitas vezes possuem problemas que nos passam desapercebidos, mas que impactam decisivamente o modo como pensamos e lidamos com a realidade. Nesse sentido, a filosofia se parece com o “ofício de reparar sistemas hidráulicos e conexões” (Midgley, 1992) que formam nossos sistemas de pensamento. Sem tais reparos e revisões, corremos o risco de considerar e organizar as nossas vidas a partir de sistemas de pensamento pouco estruturados, que podem nos manter em situações insustentáveis.
Um exemplo para ilustrar a concepção de Midgley pode ser a nossa relação com os outros animais e com o meio ambiente: durante séculos, consideramos que o mundo natural estava completamente ao nosso dispor, numa visão da realidade que envolvia a superioridade e o domínio humano sobre o mundo. Assim, desenvolvemos modos de vida pautados numa estranha forma de extrativismo e no consumo dos recursos naturais. Porém, em algum momento, esse sistema de pensamento e o conjunto de crenças que sustenta passaram a ser, literalmente, insustentáveis, devido tanto às suas consequências (o crescente impacto ambiental), quanto à sua base (o alegado fato de que a humanidade possui uma superioridade em relação às outras formas vivas). Assim, uma revisão se faz necessária, uma reforma das bases do sistema de pensamento, que promova reparações conceituais básicas, e que produzirá mudança sobre nossas crenças e práticas.
Outro traço distintivo do trabalho filosófico de Midgley é seu apelo constante ao fato de que nossas vidas estão profundamente enraizadas e relacionadas com outras criaturas, lugares e ideias (McElwain, 2019). Tais “fios de relacionalidade” apontam que estamos relacionados com os animais humanos e não humanos com quem partilhamos o mundo e com o ambiente social e natural, por mais emaranhados e distantes que sejam. Também estamos relacionados com as estruturas mais amplas de conceitos e ideias que nos cercam e, mesmo que não o reconheçamos, tais elementos organizam o nosso pensamento, a nossa experiência e a nossa valoração, numa mistura de recursos científicos, éticos e imaginativos que convergem e guiam nossas existências. Esse apelo à rede de relações e ideias que fornecem a base de nosso pensamento e modo de vida também estão ligados à concepção de filosofia de Mary Midgley: muitos estudiosos dessa disciplina consideram que sua atividade envolve um distanciamento das circunstâncias em que estamos inseridos, porém, seria impossível compreender a realidade e a nós mesmos sem considerar a vasta teia de relações na qual estamos inseridos.
Outro traço da ampla gama de interesses filosóficos de Midgley envolve a preocupação com as diversas fragmentações produzidas no retrato comum de nossa natureza e condição. Distinções entre razão e emoção, eu e outro, mente e corpo, cultura e natureza, humano e animal, entre outras, produziram um estranho retrato da humanidade, uma forma de vida cindida entre guerras internas e externas. Acabamos por nos afastar de nós mesmos, do outro e do mundo natural, a partir de uma concepção questionável daquilo que somos e de nossas experiências. Boa parte do seu trabalho como filósofa envolveu a tentativa de superação de tais enquadramentos, promovendo um retrato mais amplo e coerente do que somos e como vivemos.
Considerando tais características mais gerais do trabalho da filósofa, no que segue seguimos a divisão histórico-temática proposta por David Midgley (2005) em sua análise e compilação das obras de Mary Midgley para apresentar suas hipóteses. Conforme apontado acima, não se trata de uma divisão temática rigorosa, como é comum na prática filosófica, dividida por áreas. Nesse sentido, tal divisão envolve mais recortes temporais, considerando as preocupações mais diretas em cada momento, do que necessariamente uma divisão por áreas que não dialogam entre si — mas sempre buscando uma aproximação, mesmo quando as temáticas parecem distantes entre si. Em cada uma dessas divisões são apresentadas algumas das publicações sobre os temas, além de uma apresentação mais geral das hipóteses envolvidas.
1. Raízes da natureza humana
O ponto de partida da filosofia de Mary Midgley é o efeito prejudicial que sistemas unidimensionais de pensamento têm sobre o nosso pensamento em geral e sobre o pensamento moral em específico (Midgley, 2005). Conforme apontado, Midgley é parte de um grupo de filósofas formado a partir da tradição de Oxford na década de 1940, tradição contra a qual o “Quarteto de Oxford” produziu críticas, tanto por sua tendência estreita e reducionista, influenciada pelo positivismo lógico, quanto pelo caráter hiperespecializado e distante da vida comum. Nesse sentido, Midgley e as integrantes do Quarteto promovem sua crítica, ao mesmo tempo em que estimulam um reconhecimento da riqueza e da diversidade humana e do mundo natural, circunstâncias às quais os pontos de vista redutivos e monolíticos não poderiam fazer justiça. No caso da filosofia da época, voltada para preocupações de ordem lógica e linguística, a filosofia moral não possuía o prestígio de outras áreas e muitos trabalhos realizados na área eram muito abstratos e distantes dos problemas da vida comum.
Nesse sentido, em Beast and Man: The roots of human nature [Besta e homem: As raízes da natureza humana], 1978) Midgley desenvolveu com clareza e profundidade um novo tipo de abordagem para a filosofia moral, sem se restringir a formas de discutir problemas fragmentados e locais ou oferecer simplificações, reducionismos ou princípios únicos e universais. Seu objetivo aqui é considerar um retrato mais equilibrado da vida social humana, inserindo-a num cenário mais amplo da vida como um todo. Essa busca nos ajuda a adquirir uma melhor consciência do nosso “lugar no mundo”, uma questão vista como central para o projeto da filosofia desde as suas origens. No entanto, em grande parte da filosofia do século XX, esse projeto foi abandonado em favor de uma teorização cada vez mais abstrata e especializada, contribuindo para graves confusões e enganos. Assim, além de colocar o conceito de natureza humana como centro das preocupações filosóficas, este primeiro livro de Midgley busca mostrar como as tentativas de colocar a humanidade como separada de suas origens naturais conduziu a grandes confusões. Busca também evidenciar a necessidade de abordar as questões filosóficas, notadamente em filosofia moral, em diálogo com a compreensão da nossa natureza como um tipo particular de mamífero social, e não como uma forma de intelecto racional puro, inserido num corpo maquinal.
No entanto, é importante distinguir essa abordagem naturalista e evolutiva de Midgley em Beast and Man [Besta e Homem] de outras abordagens, como a sociobiologia — contra qual a própria filósofa levanta objeções no livro – e a psicologia evolucionista — concepção mais recente, mas que envolve muitos dos pressupostos da sociobiologia. Os trabalhos de Edward O. Wilson e, mais recentemente, de Steven Pinker, embora tenham o mérito de reconhecer nossa continuidade com as outras espécies e conexão com o mundo natural, têm em suas bases concepções fortemente reducionistas, que distorcem a análise sobre a estrutura motivacional comum dos animais humanos e não humanos. Um exemplo disso é o modo como o egoísmo é tomado como elemento central das motivações humanas em tais abordagens, funcionando como um princípio fundamental da evolução. Tal premissa também foi a base do darwinismo social — que Midgley faz questão de destacar que não era uma posição de Charles Darwin, mas sim de Herbert Spencer, cujas suposições a priori envolviam noções místicas e estranhas ao próprio raciocínio evolutivo.
Além de ampliar as possibilidades do debate em filosofia moral, Beast and Man busca oferecer uma compreensão empiricamente informada daquilo que somos — mais uma espécie única, em contínuo com o mundo e com a natureza, assim como todas as outras. Ao mesmo tempo, critica e escapa das facilidades reducionistas das ciências influenciadas pelas perspectivas darwinianas, como a sociobiologia e psicologia evolucionista e suas explicações. Seu trabalho cuidadoso nos estimula a repensar nossa relação com o mundo natural, ampliando a sugestão feita por Darwin de que nós e os outros animais não somos tão diferentes assim. Também promove críticas relevantes para os debates éticos, principalmente em relação ao alcance de dicotomias como fatos e valores, razão e emoção, humano e animal, etc.
Outro livro de Midgley, que dá continuidade ao projeto iniciado em Beast and Man de compreender a natureza humana que seja consistente com nossas origens evolutivas, é Wickedness: A Philosophical Essay [Maldade: Um ensaio filosófico] (1984). Porém, seu foco aqui é uma exploração “do lado mais sombrio de nossa natureza”, abordando o tradicional problema filosófico do mal. Nesse sentido, a filósofa busca compreender a natureza da maldade humana a partir dos pressupostos já explorados no livro anterior, defendendo que a maldade é essencialmente um fenômeno negativo, que envolve uma falha no acesso a alguns dos elementos positivos da nossa natureza. Em termos gerais, é essa falta de motivos complementares de equilíbrio de autoconsciência, simpatia ou humildade que possibilita práticas de violência e destruição tão comuns em nossas vidas e história.
Mais dois livros podem ser inseridos nessa fase inicial do trabalho de Midgley. Em Animals and Why They Matter: A Journey Around the Species Barrier [Animais e por que são importantes: Uma jornada ao redor da barreira das espécies] (1983), ela amplia o relato da relação entre a natureza humana e a animal oferecido em Beast and Man, com implicações para uma gama de questões éticas e práticas que envolvem as nossas relações com outras espécies. Essa negligência é um efeito óbvio da suposição de uma oposição radical entre a natureza humana e a animal, outra das fragmentações que Midgley busca superar. Já Women’s Choices: Philosophical Problems Facing Feminism [Escolhas das Mulheres: Problemas Filosóficos Enfrentados pelo Feminismo] (1983), escrito em co-autoria com Judith Hughes, defende, entre outros pontos, que visões femininas e feministas devem ser incorporadas ao pensamento filosófico, considerando suas diferenças, perspectivas e vivências. Como tais perspectivas e concepções não são comuns nos debates sobre problemas filosóficos tradicionalmente abordados na tradição fortemente masculina do debate filosófico, as autoras promovem uma defesa da diversidade, que será cada vez mais comum e necessária no nosso tempo
2. Críticas à fragmentação e ao cientificismo
Em 1981, Mary Midgley publicou alguns de seus artigos e textos inéditos na forma de livro, intitulado Heart and Mind: The Varieties of Moral Experience [Coração e Mente: As variedades da experiência moral]. Além de revisitar as questões da natureza humana, a filósofa busca se contrapor a uma visão comum da razão na história da filosofia, concebida essencialmente como uma capacidade de dedução lógica e como característica definitiva da constituição mental humana, além de ser aquilo que nos diferiria dos outros animais — possuidores de percepção e emoção, mas não de razão. Tal quadro era central no clima intelectual restritivo do entorno de Midgley, que levou a uma insatisfação da filósofa com o quadro da humanidade que emergia de tais pressupostos. Também não é irrelevante que se trata de uma visão que contrasta os homens com as mulheres — muitas vezes proposta ao longo da história — na qual as mulheres estariam mais próximas das emoções e os homens mais ligados à razão. Tais divisões, principalmente a fragmentação arbitrária entre razão e sentimento, levantam difíceis problemas para o âmbito da filosofia moral e é contra elas que Midgley direciona sua atenção.
Nesse sentido, Midgley busca mais uma vez enfatizar a unidade de nossa natureza, principalmente em relação às estruturas mais básicas de nossas motivações, que envolvem tanto a razão quanto a emoção. Tais motivações e seus elementos podem muitas vezes entrar em conflito, mas podemos lidar com tais circunstâncias também a partir de condições de nossa própria natureza. As divisões artificiais de tais processos, além de infrutíferas, não podem ser percebidas na prática e remetem a expectativas de um projeto reducionista, que visa a compreensão da realidade a partir de partes menores constituintes que se juntam e formam o todo — assim como outras divisões, como cultura e natureza, fato e valor, humano e animal, pensamento e sensação, racional e irracional, etc. A fonte dessas visões fragmentadoras e reducionistas na filosofia é, conforme Midgley sugere, a tendência generalizada de considerar a ciência, e em particular a física matemática, como o modelo para todo o pensamento racional. Tais questões também são abordadas por Midgley em Can’t We Make Moral Judgements? [Podemos fazer julgamentos morais] (1989) e The Ethical Primate: Humans, Freedom and Morality [O primata ético: Humanos, liberdade e moralidade] (1994).
Outro alvo das reflexões e críticas de Mary Midgley são as iniciativas de investigação científica que promovem discursos abrangentes sobre diversos temas, desconsiderando as limitações da própria natureza da ciência e que acabam por abordar temas e questões que estão além de seu escopo. Midgley descreve essa tendência como cientificismo, abordada em dois de seus mais conhecidos livros: Evolution as a Religion: Strange Hopes and Stranger Fears [Evolução como uma religião: Estranhas esperanças e estranhos medos] (1985) e Science As Salvation: A Modern Myth and Its Meaning [Ciência como salvação: O mito moderno e seu sentido] (1992). Neles, mostra que, muitas vezes, a ciência torna-se uma espécie de “divindade”, capaz de conceder respostas e salvações milagrosas, mas que não estão ligadas às respostas oferecidas pela própria ciência. Aqui, Midgley chama a atenção para os excessos da visão cientificista, e as difere da prática científica tradicional, valorizada pela filósofa, cuja obra tem como característica principal o fato de ser empiricamente informada.
Para Midgley, essa situação se deve à tendência para a especialização na educação científica nos últimos séculos, que levou a uma valorização cada vez maior daquilo que é “científico” em detrimento daquilo que não é. Assim, essa tendência à fragmentação e à atomização se espalhou pelos diversos campos de investigação, inclusive pela filosofia, cujos praticantes buscam enquadrar-se em critérios cada vez mais restritos acerca do que seria rigoroso e do que vale a pena ou não ser investigado — como no caso da posição do positivismo lógico e sua valorização da ciência. As causas e efeitos dessa estruturação do conhecimento também são tratados em Wisdom, Information and Wonder: What Is Knowledge For? [Sabedoria, informação e admiração: Para que serve o conhecimento?] (1989) e, dialogando com questões contemporâneas, em Utopias, Dolphins and Computers: Problems of Philosophical Plumbing [Utopias, Golfinhos e Computadores: Problemas de Hidráulica Filosófica] (1996).
3. Imaginação, natureza e humanidade
Para além das concepções fragmentadas e dos limites de visões de mundo unidimensionais, no início do século XXI Mary Midgley passa a abordar a diversidade das formas de ver a realidade, e um dos pontos fundamentais de seus interesses é o papel da imaginação na construção de nossas concepções. Aqui, imaginação não se refere à capacidade de representar coisas e situações que não existem, mas à capacidade de formar uma visão conectada de uma série de fenômenos, do quadro de relação entre eles e dos princípios envolvidos. Midgley aborda este tópico nos livros Science and Poetry [Ciência e Poesia] (2001) e em The Myths We Live [A presença dos mitos em nossas vidas] (2003). Partindo novamente de uma cisão de viés cartesiano, agora entre imaginação e razão, Midgley aborda o elemento fundante de uma tradição que tendeu a minimizar a importância da imaginação, equiparando-a à fantasia e à desrazão e distante de formas válidas de conhecimento.
Segundo sua concepção, a imaginação não deve ser considerada como um elemento acessório do nosso equipamento mental, mas como elemento essencial para o nosso conhecimento do mundo, principalmente na tentativa de atribuir sentido a qualquer aspecto do mundo que nos rodeia. Nesse sentido, “mitos” são fundamentais na elaboração da nossa compreensão da realidade, uma vez que oferecem sentido e coesão para os vários elementos do mundo, e não simples elucubrações fantasiosas, distantes da verdade e do conhecimento, como aponta a tradição dita racionalista. Além disso, a imaginação também é muito importante porque molda os nossos valores e motivações, nossas posições e concepções de mundo. Desprezar tais elementos seria desconsiderar elementos fundamentais da humanidade, numa visão cindida da nossa natureza própria de enquadramentos fragmentadores tão comuns na compreensão que temos de nós mesmos.
Outros traços dessa fragmentação estão nas origens dos diversos problemas graves das sociedades atuais, principalmente nas relações entre humanidade e natureza. A ênfase excessiva nas satisfações individuais, próprias de um mundo atomizado, construiu um modo de vida pautado em isolamentos. Para Midgley, a concepção individualista tão comum no nosso modo de vida distorce as relações sociais, pois implica uma visão da natureza humana como fundamentalmente egoísta. Juntamente com visões atomísticas do mundo natural, que concebem a natureza como um elemento em separado e distante de nós, surgem visões de mundo que negligênciam de forma catastrófica a dimensão da totalidade e das relações orgânicas que constituem o sistema no qual estamos inseridos.
Tais questões foram abordadas também em Earthy Realism: The Meaning of Gaia [Realismo Terrestre: a Teoria de Gaia] (2007), livro que Midgley organizou e no qual revisita a Teoria de Gaia, uma visão holística do planeta promovida por James Lovelock, que chama a atenção para as relações de equilíbrio entre os processos físicos e químicos e os organismos viventes do planeta. A visão imaginativa que a noção de Gaia envolve se enquadra na visão mais abrangente que Midgley nos propõe, além de evitar fragmentações e separações próprias de um pensamento científico pouco pluralista, dito analítico, atomista e reducionista e, incapaz de ver o todo. Nesse sentido, além de criticar os pressupostos metafísicos subjacentes à ciência reducionista, a Teoria de Gaia apresenta um desafio ético fundamental às visões individualistas projetadas na esfera social. Essa proposta de reintegração da nossa compreensão da sociedade humana na nossa visão do nosso lar terrestre pode ser entendida também como uma continuidade da tarefa iniciada em Beast and Man, mostrando a importância de uma compreensão sólida da natureza humana relacionada com suas origens no mundo natural.
Em obras mais recentes, Midgley passou a abordar a natureza de nossa constituição moral para desafiar a visão que reduz a motivação humana ao interesse próprio. Em The Solitary Self: Darwin and the Selfish Gene [O Eu Solitário: Darwin e o Gene Egoísta] (2010), Midgley argumenta que relatos simples e unilaterais da motivação humana, como a hipótese do “gene egoísta” própria do pensamento neodarwinista recente, buscam oferecer descrições cientificamente informadas da nossa natureza, mas são irrealistas e implicam em formas de individualismo reducionista pouco adequadas. Já em Are you an Illusion? [Você é uma ilusão?] (2014), Midgley promove uma defesa da importância dos nossos pensamentos, sentimentos e experiências e de que somos muito mais do que a “confusão de células cerebrais” que certo retrato reducionista tenta nos impor. A rica variedade de nossa vida imaginativa não pode ser contida nos limites de um materialismo ingênuo que muitas vezes equipara o cérebro ao rico e complexo eu. E mostra também que as fontes subjetivas de pensamento — as nossas próprias experiências — são tão importantes para ajudar a explicar a realidade como as fontes objetivas.
Aos 99 anos e alguns meses antes de falecer, Midgley publicou seu último livro, um manifesto em defesa da filosofia intitulado What Is Philosophy For? [Para que serve a filosofia?] (2018). A proposta do livro é mais uma vez a crítica do conjunto de crenças que envolve o reducionismo, o cientificismo e o mecanicismo e que continua a distorcer constantemente a imagem do mundo de muitos de nós. Esse credo muitas vezes ainda ostenta o lisonjeiro nome de mentalidade “moderna” e é reverenciado como alternativa única, situação que limita o nosso pensamento e que pode, muitas vezes, desprezar o questionamento e a reflexão tão próprios da filosofia. No entanto, é provável que o raciocínio filosófico se manterá, na medida em que ninguém nem algo pensará por nós. Será preciso pensar na forma de melhor pensar acerca destes novos e difíceis tópicos e desafios que envolvem nosso tempo — como imaginá-los, como visualizá-los, como inseri-los numa imagem do mundo coerente e estruturada. Assim, mesmo à sombra dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, ainda precisamos da filosofia para nos ajudar a pensar sobre as grandes questões de significado, conhecimento e valor.
Referências Bibliográficas
- Livros de Mary Midgley (ano de publicação original entre colchetes):
Midgley, M. (2002) [1978] Beast and human: The roots of human nature. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2003) [1981] Heart and mind: The varieties of moral experience. Londres: Routledge.
Midgley, M. (1983) Animals and why they matter: A Journey Around the Species Barrier. Londres: Penguin.
Midgley, M.; HUGHES, J. (1983) Women’s choices: Philosophical problems facing feminism. Londres: Weidenfeld and Nicolson.
Midgley, M. (2001) [1984]. Wickedness: A Philosophical Essay. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2002) [1985] Evolution as a religion: Strange hopes and stranger fears. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2017) [1989] Can’t We Make Moral Judgements? Londres: Bloomsbury.
Midgley, M. (2002) [1986] Wisdom, information and wonder: What is knowledge for? Londres: Routledge.
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Midgley, M. (1994) The Ethical Primate. Humans: Freedom and Morality. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2003) [1996] Utopias, Dolphins and Computers: Problems in Philosophical Plumbing. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2013) [2001] Science and poetry. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2003) The myths we live by. Londres: Routledge.
Midgley, M. (2005) Owl of Minerva: A Memoir. Nova York: Routledge.
Midgley, M. (Ed.). (2007) Earthy Realism: The Meaning of Gaia. Londres: Societas.
Midgley, M. (2014) [2010] The solitary self: Darwin and the selfish gene. Routledge.
Midgley, M. (2015) [2014] Are you an illusion? Routledge.
Midgley, M. (2018) What is Philosophy For? Bloomsbury.
- Livros de Mary Midgley traduzidos para português e espanhol:
Midgley, M. (1989) Bestia y Hombre: Las raíces de la naturaleza humana. Tradução de Roberto Mazzoni. México: Fondo de Cultura Econónima.
Midgley, M. (2002). Delfines, sexo y utopías. Doce ensayos para sacar la filosofía a la calle. Tradução de Jesús Izquierdo. Madrid: Turner.
Midgley, M. (2014) A presença dos mitos em nossas vidas. Tradução de Alzira Allegro. São Paulo: EdUnesp.
Midgley, M. (2019) ¿Podemos formular juicios morales? Tradução de Pepa Linares. Madrid: Alianza Editorial.
Midgley, M. (2019) Para que serve a filosofia? Um manifesto. Tradução de Pedro Vidal. Temas & Debates: Lisboa.
Midgley, M. (2023) Ciência como salvalção: O mito moderno e seu sentido. Tradução de Lucas Bernardes. Campinas: Vide Editorial.
- Capítulos e artigos de destaque de Mary Midgley:
Midgley, M. (1972) “Is ‘Moral’ Dirty Word?”. Philosophy, Vol. 47 , n. 181, pp. 206-228.
Midgley, M. (1973) “The concept of beastliness: Philosophy, ethics and animal behaviour.” Philosophy, Vol. 48, n. 184, pp. 111-135.
Midgley, M. (1974) “The Game Game”. Philosophy, Vol. 49, n. 189 pp. 231-53.
Midgley, M. (1974) “The Neutrality of the Moral Philosopher”. Supplementary Volume of the Aristotelian Society, pp. 211-229.
Midgley, M. (1979) “Gene Juggling”. Philosophy, Vol. 54, n. 210, pp. 439-458.
Midgley, M; Clark, Stephen. (1980) “The Absence of a Gap between Facts and Values”. Supplementary Volume of the Aristotelian Society, pp. 207–223.
Midgley, M. (1983) “Selfish Genes and Social Darwinian”, Philosophy, Vol. 58, no. 225, pp. 365‐77.
Midgley, M. (1983) “Human Ideals and Human Needs”. Philosophy, Vol. 58, n. 223, pp. 89-94.
Midgley, M. (1991) “The Origin of Ethics”, in: SINGER, Peter (Ed.). A Companion to Ethics. Oxford: Blackwell.
Midgley, M. (1992) “Philosophical plumbing”. Royal Institute of Philosophy Supplements, Vol. 33, pp. 139-151.
Midgley, M. (1994) “The End of Anthropocentrism?”, in: ATTFIELD & BELSEY (Ed.). Philosophy and the Natural Environment. Cambridge: Cambridge University Press.
Midgley, M. (1994) “Darwinism and Ethics”, in: Fulfor et al (Eds.). Medicine and Moral Reasoning. Cambridge: Cambridge University Press.
Midgley, M. (1995) “The Mixed Community”, in: Sterba, James (Ed.). Earth Ethics, Environmental Ethics, Animal Rights and Practical Applications. Nova Jersey: Prentice Hall.
Midgley, M. (1996) “Can Education be Moral?” Res Publica, Vol. 2, n. 1, pp. 77-85.
Midgley, M. (2000) “Human Nature, Human Variety, Human Freedom”, in: Roughley, N. (Ed.). Being Humans: Anthropological Universality and Particularity in Transdisciplinary Perspectives. Berlin: Walter De Gruyter.
Midgley, M. (2000) “Why Memes?”, in: Rose & Rose (Eds.). Alas, Poor Darwin: Arguments Against Evolutionary Psychology. Londres: Jonathan Cape Rosenthal.
Midgley, M. (2009) “Purpose, Meaning and Darwinism”, Philosophy Now, Vol. 71, pp. 16-19.
Midgley, M. (2011) “Why The Idea of Purpose Won’t Go Away”. Philosophy, Vol. 86, pp. 545‐61.
Midgley, M. (2011) “The Mythology of Selfishness”, The Philosophers’Magazine, Vol. 53, pp. 35‐45.
Midgley, M. (2022) [1950] “Rings and books”. The Raven. Issue 2, Primavera de 2022.
- Livros e trabalhos sobre Mary Midgley:
Costa Jr, J. (2024) “Alguém (ou algo) pensa por nós?: Resenha de What is Philosophy For?, de Mary Midgley”. In: Revista Crítica na Rede, Disponível em:
https://criticanarede.com/naturfilosofia.html
Kidd, J. & McKinnell, L. (2016) Science and the Self: Animals, Evolution, and Ethics: Essays in Honour of Mary Midgley. Nova York: Routlegde.
McElwain, G. (2020) Mary Midgley: An introduction. Nova York: Bloomsbury.
Midgley, D. (Ed.) (2005) The essential Mary Midgley. Nova York: Routledge.
Rivera, N. (2016) The Earth is Our Home: Mary Midgley’s Critique and Reconstruction of Evolution and Its Meanings. Londres: Andrews.
- Sobre o “Quarteto de Oxford”:
Costa Jr, J. (2024) “Histórias de animais metafísicos: Resenha de The Women Are Up to Something: How Elizabeth Anscombe, Philippa Foot, Mary Midgley, and Iris Murdoch Revolutionized Ethics e Metaphysical Animals: How Four Women Brought Philosophy Back to Life”. In: Revista Crítica na Rede. Disponível em:
https://criticanarede.com/animaismetafisicos.html
Mac Cumhaill, C.; Wiseman, R. (2022) Metaphysical animals: How four women brought philosophy back to life. Doubleday, Nova York.
Krishnan, N. (2023) A Terribly Serious Adventure: Philosophy at Oxford 1900-1960. Londres: Profile Books.
Lipscomb, B. (2021) The women are up to something: How Elizabeth Anscombe, Philippa Foot, Mary Midgley, and Iris Murdoch revolutionized ethics. Oxford: Oxford University Press.