Margaret Cavendish

(1623-1673)

Márcio A. Damin Custódio

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)Lattes

Sueli Sampaio D. Custódio

Professora do Departamento de Humanidades, Chefe do Laboratório de Inovação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – Lattes

PDF – Margaret Cavendish

Imagem de Pieter Louis van Schuppen, after Abraham Diepenbeeck line engraving, late 17th century – National Portrait Gallery

Margaret Lucas (1623-1673), nome de família de Cavendish, nasceu em Colchester, Essex, em 1623, sendo a mais nova de oito crianças de Elizabeth Leighton Lucas e Thomas Lucas. Em seu texto A true relation of my birth, breeding and life [Sobre a Verdade de Meu Nascimento, Maternidade e Vida], reflexão autobiográfica publicada como posfácio da primeira edição de Natures Pictures [Retratos da Natureza, 1656], Cavendish exalta a importância de seus primeiros anos, nos quais aprendeu admirar o caráter e a capacidade de julgar de sua mãe, que manteve a família forte e unida após a morte de Thomas Lucas em 1625, momento em que a herança de família foi contestada, cabendo a Elizabeth Lucas a administração do patrimônio e o cuidado das crianças. Neste período, Cavendish relata também a proximidade com sua irmã, que em carta é referida como Pye (Cavendish, 1664, carta 200).

Os Lucas não gozavam de boa reputação entre a população por conta do apoio a Carlos I e às prerrogativas da realeza. Eles eram considerados realistas, termo cunhado por William Prynne em 1640 para designar os apoiadores de Carlos I (Prynne, 1643, p. 12) em oposição aos parlamentaristas, que defendiam que o monarca deveria responder ao parlamento, tanto no que diz respeito às prerrogativas legislativas quanto executivas (Wilcher, 2001, p. 5). Em 1642, o episódio de invasão de St. John’s Abbey, residência dos Lucas em Colchester, retrata bem a animosidade dos parlamentaristas, quando membros da família ficaram presos por algum tempo (Whitaker, 2002, p. 40–42). A postura política e social da família Lucas é relevante para a compreensão da trajetória pessoal e intelectual de Margaret Cavendish, sobretudo para entender sua defesa da realeza em alguns momentos. Os posicionamentos ambíguos da autora levaram parte dos estudos contemporâneos a caracterizarem-na pela aparente contradição de sustentar um feminismo radical para a época, e, ao mesmo tempo, defender um conservadorismo social feroz (Lilly, 1992; Trubowitz, 1992, p. 229; Gardiner, 1997, p. 53). Kate Lilly (1992), na introdução da edição contemporânea de Blazing World [Mundo Resplandecente], sustenta que a defesa da igualdade de gênero encontra-se seriamente comprometida em Cavendish, justamente pelo compromisso da autora com o privilégio hierárquico dos estamentos sociais e as prerrogativas da monarquia absolutista.

Contudo, a literatura mais recente tem se afastado da compreensão de que haveria uma ruptura comprometedora entre as posições políticas adotadas por Cavendish em sua obra. Mihoko Suzuki (2003) sustenta que embora fosse esperado que Cavendish se alinhasse completamente às posições da família e, posteriormente, do marido, não é isso que se verifica em sua obra. Margaret Cavendish apresenta uma disputa equilibrada entre as duas formas de governo e, em Natures pictures [Retratos da Natureza], afirma que “O sistema monárquico de governo das abelhas é tão sábio e feliz quanto a república (Republick Commonwealth) das formigas” (Cavendish, 1656, p.165). Ademais, acrescenta que nenhuma forma de governo pode ser considerada perfeita, uma vez que “não há segurança, nem felicidade perfeita, nem continuidade constante nas obras da natureza” (Cavendish 1656, p.166). Para Walters (2005, p. 15-16), a obra de Margaret Cavendish revela-se interessante precisamente por evidenciar as contradições características de uma escritora em seu contexto histórico.

Em 1643, Margaret Lucas torna-se dama de honra da Rainha Henrietta Maria e   acompanha a corte no exílio em Paris em 1644, quando Oxford já não era mais porto seguro em função da Guerra Civil (Fitzmaurice, 1997, p. xix). Henrietta Maria participava ativamente dos movimentos políticos e militares, controlando uma infantaria de 5.000 homens contra os parlamentaristas. Cavendish estava presente quando a rainha e poucos acompanhantes foram perseguidos pelas tropas parlamentaristas, que continuaram a perseguição em navios de guerra durante a fuga para o exílio em 1644 (Whitaker, 2002, p. 55-56). Henrietta Maria parece ser uma figura importante não só na formação de Cavendish em política da Inglaterra, mas também em letras, uma vez que a rainha comumente tratava de teatro e era versada em platonismo (Whitaker, 2002, p. 55-56). A família Lucas manteve-se realista mesmo durante a Guerra Civil, pagando alto preço por seu posicionamento. Em 1648, Sir Charles Lucas, irmão de Margaret, é executado no cerco de Colchester, e os cadáveres tanto da mãe, quanto da irmã de Margaret são vilipendiados por tropas parlamentaristas (Dolan, 2013, p. 452–64).

No exílio, em 1645, Cavendish encontra-se com William Cavendish (1592–1676), recém viúvo e com duas filhas, Jane Cavendish (1622-1669) e Elizabeth Brackley (1627-1663). Ambas citaram Margaret Cavendish em The concealed fancies [Fantasias ocultas, J. Cavendish, 2018]. Margaret, por seu turno, refere-se às enteadas em The Life of the Thrice Noble, High, and Puissant Prince William Cavendish [A Vida do Príncipe William Cavendish, Três Vezes Nobre, Elevado e Poderoso, Cavendish, 1667, p. 95]. Durante o período do exílio, os Cavendish mantêm vivo interesse pelas artes, escrevem poesia, peças de teatro, e dedicam-se especialmente à filosofia natural e às matemáticas. William e seu irmão Charles (1591-1654), que havia recebido alguma instrução de Hobbes (1588-1679), encorajam Margaret Cavendish a estudar filosofia.

Em Paris, os Cavendish, entre os anos de 1645 e 1648, se reúnem com os filósofos ingleses exilados, todos influenciados pela nova filosofia mecânica. O grupo ficou conhecido como círculo de Newcastle, e antes mesmo do exílio fora frequentado por Hobbes, Digby (1603-1665) e Walter Charleton (1619-1707), além do contato com Descartes (1596-1650), Gassendi (1592-1655) e Mersenne (1588-1648). Não é clara qual a real participação de Cavendish nas reuniões do círculo, mas ela própria informa que não se pronunciava na presença de Descartes e teve uma interação mínima com Hobbes, devido a sua timidez. Apesar disso, ela se interessou pelas noções de átomos e corpúsculos e sobre o materialismo, sendo Hobbes o autor de sua predileção (O’Neill, 2001, p. xiii).

Casados em dezembro de 1645, William e Margaret Cavendish mudam-se para Antuérpia em 1648, onde residem até o retorno à Inglaterra em 1660. No ínterim entre 1651 e 1653, Margaret e seu cunhado Charles viajam para Londres para peticionar uma compensação pela perda de patrimônio da família Cavendish durante a guerra civil. A viagem é mal sucedida, nenhum ganho é obtido com a petição e Margaret Cavendish retorna a Antuérpia, onde permanece com seu marido até o final do exílio. A vida cotidiana em Antuérpia, na casa que alugaram do pintor Peter Paul Rubens (1577-1640), é relatada em diversas cartas publicadas em Sociable Letters [Cartas Sociais], especialmente as cartas finais (Cavendish, 1664).

Em Antuérpia, Cavendish começa a publicar (Weststeijn, 2008), sendo Poems and Fancies [Poemas e Fantasias, 1653] seu primeiro livro. Mais tarde, no mesmo ano, é publicado Philosophical Fencies [Fantasias Filosóficas] com material que deveria ter sido incluído em Poems [Poemas], mas que não ficara pronto a tempo da impressão. Em 1655,  publica The world’s of Olio [O mundo de Olio], obra que contém sua crítica a Shakespeare e seu ensaio sobre a circulação do sangue, de William Harvey (1578-1657). No mesmo ano de 1655, a autora publica a primeira versão de Philosophical and Physical Opinions [Opiniões Filosóficas e Físicas] e no ano seguinte publica Natures pictures [Retratos da Natureza] acompanhado de um texto autobiográfico, A true relation of my birth, breeding and life [Sobre a Verdade de Meu Nascimento, Maternidade e Vida].

Com a restauração ao trono de Carlos II em 1660, os Cavendish retornam para a Inglaterra e retiram-se para as Midlands [Terras Médias, região central da Inglaterra], dedicando-se a reparar as propriedades da família. Distante da corte e da vida efervescente de Londres, Cavendish cada vez mais se ocupa em administrar as propriedades da família, repetindo um papel semelhante ao ocupado pela mãe. Na década de 1660, ela  pôde, ainda, dedicar-se aos estudos de filosofia natural, adotando como procedimento a leitura de seus contemporâneos, que acabou por levá-la a tecer críticas tanto à filosofia mecânica, quanto ao dualismo de Descartes e à filosofia experimental. Seu propósito era aproximar-se do debate público por meio de um domínio maior da linguagem predominante na filosofia natural de sua época. Durante esse período de estudos, consolida sua concepção materialista da natureza e desenvolve sua teoria da matéria, além de publicar seus principais textos de filosofia natural.

Em 1663, Cavendish reedita Philosophical and Physical Opinions [Opiniões Filosóficas e Físicas], originalmente publicado em 1655. Em 1664, publica Philosophical Letters: or, Modest Reflections Upon Some Opinions in Natural Philosophy [Cartas Filosóficas ou uma Reflexão Modesta Sobre Algumas Opiniões em Filosofia Natural], no qual o material de estudo sobre os filósofos que lhe são contemporâneos é aproveitado. Ainda em 1664, publica a edição revista de Poems and fancies [Poemas e Fantasias] como parte de seu projeto de revisão e organização de sua filosofia da natureza.

Em 1666, a autora atinge o ápice de sua publicação em filosofia natural com dois textos publicados conjuntamente, a saber, Observations upon Experimental Philosophy [Observações Sobre a Filosofia Experimental], e sua utopia The Description of a New Blazing World [A Descrição Sobre um Novo Mundo Resplandecente]. Em Observations [Observações], aparece seu estudo da filosofia da Royal Society of London [Academia Real de Londres], com especial atenção para Robert Boyle (1627–91), Robert Hooke (1635–1703), e Henry Power (1623–68). Em 1668, publica seu último livro, Grounds of Natural Philosophy [Fundamentos da Filosofia Natural], que considera a revisão final, mais organizada e sistemática de suas ideias dedicadas “a todas as universidades da Europa” (Cavendish, 1668, sem paginação). O texto não é completamente inédito, mas sim a revisão ampliada de Philosophical and Physical Opinions [Opiniões Filosóficas e Físicas], publicada primeiro em 1655.

A profusão de publicações da década de 1660 revela a intenção da autora em se inserir no debate público sobre filosofia da natureza. Cavendish deixa transparecer em seus textos, muitas vezes em prefácios, a recepção de sua obra, especialmente entre os filósofos naturais. Sua visita à Royal Academy [Academia Real] em 1667 é considerada por parte da literatura uma evidência da dificuldade da mesma em estabelecer interlocução com os membros. Para Sarasohn (2010), a recepção fria de Cavendish revela a aversão da sociedade exclusivamente masculina em admitir que uma mulher se posicionasse como filósofa da natureza (Sarasohn, 2020, p. 1-14). De fato, Cavendish não apenas se colocou como filósofa da natureza, mas também como crítica da filosofia experimental feita na Royal Society. Para ela, os filósofos modernos “fazem um grande barulho por quase nada, como cães que ladram para a lua” (Cavendish, 1666, citação no anexo Further observations [Demais Observações], p. 72). Há vários relatos de membros da Royal Academy [Academia Real] e contemporâneos desqualificando-a. Alguns a trataram como insana por conta de suas opiniões, sua escrita pouco formal e suas vestimentas consideradas masculinizadas. Esse qualificativo deu origem mais tarde, provavelmente no século XIX, ao designativo de Mad Madge [A Louca “Madge”], expressão usada por parte da crítica literária durante o século XX, sendo bastante conhecido o ataque que lhe é desferido por Virginia Woolf em 1929 e em 1945. Woolf afirma que o texto de Cavendish se assemelha a um jardim caótico, impenetrável e que cresce fora de controle: “como se um pepino gigante tivesse crescido sobre as rosas e cravos do jardim, asfixiando-as até a morte” (Woolf, 1994 (1929), p. 59).

A abordagem desqualificadora da obra de Cavendish passa por revisão no início do século XXI. Katie Whitaker (2002), por exemplo, recupera a relevância da recepção de Cavendish entre seus pares e revela ter havido recepção sofisticada e cuidadosa por parte de Joseph Glanvill (1636-1680). Whitaker sustenta que a obra de Glanvill seria, em grande medida, réplica à concepção de matéria de Cavendish (Whitaker, 2002, p. 324). Natalie Davis sustenta, por sua vez, que a obra de Cavendish influenciou outras autoras, dentre as quais Lucy Hutchinson (1620-1681) que a imitava abertamente (Davis 1984). Ademais, Cavendish alcança muito sucesso com sua publicação de Poems and fancies [Poemas e Fantasias], listado como um dos livros mais vendidos na Inglaterra em 1657 (Walters, 2005, p.5). Outro destaque da recepção de Cavendish é o trabalho de divulgação realizado por Walter Charleton e a correspondência com Robert Hooke (1665), especialmente sobre a observação VII Of some phaenomena of Glass Drops [Sobre Alguns Fenômenos das Gotas de Vidro] da Micrographia, 1665.

Margaret Cavendish morreu em 15 de dezembro de 1673 e foi enterrada na Abadia de Westminster em 7 de janeiro de 1674.

Obra: temas e conceitos

1. O encanto com o atomismo antigo

         O círculo de Newcastle, e depois o salão dos Cavendish no exílio de Paris, foi centro de debates e de propagação do materialismo antigo revisitado por filósofos da modernidade, como Walter Charleton (Hutton, 1997, p. 421-432). Segundo Charles Cavendish, em carta a John Pell de dezembro de 1644, esses filósofos por vezes “se reuniam com grande alegria para debates acalorados sobre o epicurismo” (Kroll, 1990, p. 133, nota 154). O círculo também era frequentado por Lucy Hutchinson (1620-1681), que mostrou sua tradução privada de partes do poema de Lucrécio para Margaret Cavendish, que dessa forma teve acesso direto à obra pela primeira vez, dado que lia apenas textos em língua inglesa (Wilson, 2008, p. 27-30).

         Os debates vividos em Paris parecem ter influenciado os primeiros textos publicados por Cavendish em seu período na Antuérpia. Este é o caso de Poems and Fancies [Poemas e Fantasias,1653], que remete à temática de Lucrécio, e Philosophical Fancies [Fantasías Filosóficas, 1653], texto complementar ao Poems [Poemas]. Em ressonância com Lucrécio, a autora sustenta a autonomia e independência da natureza como senhora de si, livre da opressão de déspotas arrogantes, livre da jurisdição dos deuses. Trata-se de uma noção de natureza que parece dispensar um princípio criador:      

Pequenos Átomos organizam por si mesmos o mundo que fazem,

Por serem sutis, adquirem qualquer forma;      

E conforme dançam ao redor, encontram lugares,

Das Formas que mais lhes agradam, fazem de tudo (Cavendish, 1664, p. 6).

Em World’s of Olio [O Mundo de Olio, 1655], o materialismo ganha contornos mais modernos, ficando mais evidente outra influência, mais duradoura para Cavendish: Thomas Hobbes (Hutton, 1997, p. 421-432). Em Olio, a autora sustenta que é preferível o ateísmo ao mundo das superstições, uma vez que os ateus cultivam a humanidade e a civilidade, enquanto os supersticiosos nutrem-se de crueldades sem fim. O ataque à superstição permite compreender a abrangência do materialismo no pensamento de Cavendish. Segundo a autora, a Filosofia não é o lugar para se tratar de espíritos, seres supranaturais ou substâncias incorpóreas. Do mesmo modo, o intelecto é concebido como a substância material do cérebro, organizado para perceber e apreender o mundo.

A fantasia envolvendo muitos mundos também aparece na obra inicial de Margaret Cavendish. Trata-se de uma característica do período, que se encontra em Pierre Borel (1620-1671) com seus Discours nouveau prouvant la pluralité des mondes [Novos Discursos Provando a Pluralidade dos Mundos, 1657], no qual argumenta que o Sol e a Lua são habitados, ou mesmo Cyrano de Bergerac (1619-1655) em sua Histoire comique des estats et empires de la Lune [História Cômica dos Estados e Impérios da Lua, 1657]. O texto é um conjunto de exercícios de imaginação que misturam elementos de epicurismo com a firme adesão ao Copernicanismo. No caso específico de Cavendish, o interesse pelos átomos tem predomínio sobre a astronomia, o que a faz imaginar mundos diminutos:

Assim como em um conjunto de caixas

Encontramos tamanhos diferentes em cada caixa,

Assim também neste mundo e em muitos outros,

Gradualmente menos e menos espessos;

Embora não seja sujeito aos nossos sentidos,

Um Mundo talvez não seja maior que uma moeda de dois pences (Cavendish, 1664, p. 6).

         Ao referir-se a pequenos mundos, Cavendish parece sugerir que a estrutura, segundo a qual a matéria se agrega para compor o mundo percebido por nós, segue certa ordem que se repete em todos os graus de tamanho dos agregados da matéria. A concepção de que há uma ordenação do mundo acompanha, no período, a ideia de que há muitos mundos, cada qual exibindo organização e variando principalmente em tamanho, se comparados entre si e ao mundo da nossa experiência. A ideia de micromundos também é recorrente em filósofos modernos, e podemos encontrá-la, por exemplo, em carta de Leibniz a Arnauld, de 9 de outubro de 1687: “Não há partícula de matéria que não contenha um mundo de inumeráveis criaturas todas bem organizadas” (Leibniz, 1989, p. 347). Para Cavendish, trata-se de compreender que, se há uma ordenação para as coisas no tamanho afeito aos nossos sentidos, essa mesma ordenação se multiplica pelos outros astros do mundo, se repete em uma ordem estelar de grandeza, e também se repete em uma ordem atômica de grandeza. O Sol, a lua, as montanhas e os vales e todas as ordenações de movimentos que percebemos, inclusive aqueles criados pelos homens, as cidades e as guerras, teriam seu análogo em tamanho atômico.

         O encanto e por vezes a obsessão com o materialismo antigo não era exclusividade dos Cavendish, como conta o químico Daniel Sennert: “Em todo lugar, entre os Filósofos e Físicos, Antigos e Modernos, é feita menção a estes pequenos Corpos de Átomos, a tal ponto que eu me pergunto se a Doutrina dos Átomos deveria ser tratada como Novidade” (Sennert, 1600 e 1618; publicado em inglês em 1660 bk. XI, ch. 1, p. 446).

2. O desencanto com o atomismo e com a filosofia mecânica

Margaret Cavendish rapidamente se desencantou com o atomismo ou, mais precisamente, assimilou dele vários elementos e o expandiu, de modo a superar aquilo que via como limitação na doutrina dos antigos. Essa crítica aparece em sua melhor forma nas Observations upon Experimental Philosophy [Observações sobre Filosofia Experimental, 1666], em que a autora sustenta que a Filosofia dos antigos carece de profundidade para tratar dos fenômenos.

Nas Observations [Observações], encontram-se as afirmações sobre cada parte da natureza ser substância viva, de igual poder e que raramente se unifica sob um mesmo governo, o que explica a variedade infinita da observação. Para ela, se equivocam aqueles que “reduzem a natureza a certo átomo proporcional, além do qual imaginam que a natureza não pode ir, porque seus cérebros ou sua razão particular finita não pode alcançar mais distante… [desse modo] cometem a falácia de concluir a finitude e a limitação da natureza a partir da própria estreiteza de sua concepção racional” (Cavendish 1666, citação extraída de 2003, p. 199).

         Apesar da crítica e de não abraçar a doutrina atomista, Cavendish nunca deixou de debater com os autores que recepcionaram esta filosofia na modernidade. Sabe-se que estudou as paráfrases da History of Philosophy [História da Filosofia] de Thomas Stanley (1660), obra na qual há cerca de cem páginas dedicadas a Epicuro, e sabe-se também de sua proximidade com Walter Charleton, responsável pela introdução da obra de Gassendi na Inglaterra. A materialidade plena do mundo é, para Cavendish, constatada pela experiência cotidiana, que exibe inegável variedade na natureza: “prova de que há infinita variedade na natureza, e que a natureza é corpo em perpétuo automovimento, dividindo, compondo, formando, transformando suas partes por movimento figurativo corpóreo” (Cavendish 1666, citação extraída de 2003, p. 85).

         Para Cavendish, os fenômenos produzidos pelos homens são igualmente considerados como fenômenos naturais, cujo princípio é material. A infinita variedade na natureza abarca indistintamente fenômenos naturais como as cores dos pássaros, os caprichos dos homens, as diferenças no entendimento das coisas do mundo, a imaginação, o juízo, as carnes, as pedras e o céu. A consideração sobre a infinita variedade do mundo resulta não só em seu afastamento do atomismo dos antigos, mas também de um afastamento de explicações puramente mecânicas do mundo, o que se dá pela consideração de que não é razoável que tamanha variedade seja explicada pela simples mecânica dos corpos, ou seja, sua figura e seu movimento.

3. A matéria e sua percepção

O afastamento do materialismo antigo não significa o retorno a alguma teoria das formas, o que fica claro em seu tratamento da percepção dos fenômenos naturais. Cavendish se afasta de explicações que se valem de um princípio oculto, do espiritualismo ou do vitalismo, e apresenta noções de padronização e imitação como atributos da matéria (James, 1999, p. 235). Ela  sustenta que a percepção é “propriamente feita por padronização e imitação, pelos movimentos figurativos inatos das criaturas animais, e não pela recepção, seja das figuras dos objetos exteriores nos órgãos dos sentidos, ou mesmo pelo envio de algum tipo de raio invisível do órgão para o objeto, e muito menos por pressão e reação” (Cavendish, 1666, citação extraída de 2003, p. 15).

         Em Cavendish, a infinita variedade na natureza, tal qual a percebemos, com seus padrões e movimentos, não pode ser nem tratada como um fenômeno de observação, inexistente na coisa observada, nem explicada pelo movimento e figura dos átomos. Essa admissão de complexidade na natureza parece apontar para dois caminhos explicativos possíveis. O primeiro requer sustentar que há alguma forma de imaterialidade e de divindade como princípio garantidor da complexidade, o que não é o caso para Cavendish. A segunda possibilidade requer a admissão de que a complexidade na natureza é decorrente daquilo que nela há de mais complexo, ou seja, a própria intelecção humana. Esta, não é a produtora ou imaginadora de tal complexidade. Ao invés disso,  serve de modelo para que a totalidade da natureza seja ao modo do observador.

         Nos termos da autora, tudo está vivo, atento e é sensível: “Não há parte da natureza que não tenha sensação e razão, que não tenha vida e conhecimento; e se todas as partes infinitas tem vida e conhecimento, a natureza infinita não pode ser tola e insensível” (Cavendish, 1666, citação extraída de 2003, p. 82). Isto não quer dizer que haja substância imaterial na natureza. Tudo que há é matéria que se transforma o tempo todo, sem que haja qualquer perda ou aniquilação: “o que é chamado de morte é somente a alteração dos movimentos naturais corpóreos de uma figura para os de outra figura” (Cavendish, 1664, p. 223).

4. Política e sociedade

         A utopia Blazing World é escrita para um público mais amplo que aquele leitor dos ensaios ou tratados filosóficos. O texto apresenta questões de filosofia natural e críticas a filósofos experimentais da recém-fundada Royal Society of London, e se organiza em um prefácio e três seções. A primeira, descreve um mundo utópico e sua organização política. A segunda apresenta diálogos sobre teorias científicas e busca esclarecer os debates filosóficos presentes à época. Por fim, a terceira, introduz uma narrativa fantasiosa em que a personagem viajante leva consigo o modelo do mundo novo para o mundo de origem e o impõe justificando a unificação política por conta do argumento da estabilidade. A estabilidade é o aspecto central na construção do novo mundo, sobretudo porque, em um estado de natureza, as pessoas estariam em perpétuo medo e não seriam capazes de viver muito tempo, ou viver em paz, além de não poderem atualizar suas potencialidades.

         Para Cavendish, a estabilidade da sociedade não é um fim em si mesmo, mas uma condição necessária para que as pessoas possam alcançar seus próprios objetivos. Ao apresentar o mundo novo, Cavendish expõe o problema das guerras e insurreições civis, ao mesmo tempo em que aponta para a necessidade de ordenação. Nessa medida, o relato dos debates da personagem da imperatriz em  Blazing World pode ser interpretado como uma versão fictícia que se quer real, sobretudo porque o relato de viagem pode ser interpretado como uma crítica à sociedade política constituída e às suas imperfeições. O diálogo da personagem Duquesa de Newcastle, alter ego da própria Cavendish, com a Imperatriz, evidencia bem essa posição:

um mundo miserável como aquele do qual eu venho, onde há mais soberanos que mundos, e mais falsos governantes que governo, mais religiões que deuses e mais formas de pensar naquelas religiões que verdades; mais leis que direitos e mais subornos que juízes; mais políticas que necessidades e mais medos que perigos; mais cobiça que riqueza, mais ambição que mérito; mais serviços que recompensas, mais linguagens que inteligência, mais controvérsias que conhecimento, mais relatórios que ações e mais presentes por parcialidades que acordos por mérito; tudo isso é uma grande miséria (Cavendish, 1666, trad. Silvia Baldo, 2014, p. 252)

          Percebe-se, na passagem acima, que a autora adota uma posição bastante crítica e ao mesmo tempo inédita sobre a sociedade em que vive, sobretudo quando propõe que tanto a personagem da Duquesa quanto qualquer outra pessoa tem o direito de criar e organizar mundos paralelos ordenados em suas mentes conforme suas escolhas e ações. Esse construto ficcional não só sinaliza a insatisfação da autora em relação aos usos e costumes do período, mas também visa incluir as mulheres no mundo restrito das sociedades científicas e políticas:

se alguma alma gostar do mundo que criei e estiver disposta a ser súdita, pode imaginar-se dessa forma e o será, quero dizer, em sua mente, fantasia ou imaginação; mas se não suportar ser súdita, pode criar seu próprio mundo e governá-lo como lhe aprouver (Cavendish, 1666, trad. Silvia Baldo, 2014, p. 298).

         Nesse mundo criado, há defesa de poucas leis no reino, uma vez que a existência de muitas leis só causa divisões ou facções. Curioso notar que, a despeito da autora escolher a Monarquia como forma de governo, ela defende o uso da persuasão e não da força para obter obediência dos membros da comunidade:

ela (imperatriz) bem sabia que crer era algo que não deveria ser forçado ou imposto sobre as pessoas, mas incutido em suas mentes por meio de uma afável persuasão. Dessa forma, encorajou-os também a submeterem-se a todos os outros deveres e ocupações; pois o medo, embora faça com que as pessoas obedeçam, ainda assim não dura muito tempo, nem é uma forma tão certa de mantê-los em suas funções, como o amor (Cavendish, 1666 trad. Silvia Baldo, 2014, p. 277).

         Na utopia cavendishiana, o exercício do poder e a forma de governo são apresentados de forma dúbia. Se por um lado a monarquia é vista como sendo mais natural ao corpo político por ter apenas um governante, por outro lado a autora defende limites ao poder do monarca quando trata dos direitos e liberdades de atuação dos indivíduos, como fica evidente na sequência de diálogos entre a Duquesa de Newcastle e a personagem Fortuna. A autora apresenta sua insatisfação com o confisco do patrimônio do marido e de seu alijamento da vida política na corte de Carlos II. O diálogo é iniciado pela Fortuna, que representa Carlos II:

Nobres amigos, nós aqui nos encontramos para ouvir a causa relacionada às diferenças entre mim e o Duque de Newcastle. […] saiba que este Duque que reclama ou exclama tanto contra mim tem sido sempre meu inimigo, pois ele preferiu a Honestidade e Prudência a mim e desprezou todos os meus favores, ou melhor, não só isso, como lutou contra mim e preferiu sua inocência a meu poder (Cavendish, 1666, trad. Silvia Baldo, 2014, p. 242).

Após a fala da Fortuna, a Imperatriz pede a palavra e responde a favor do Duque:

sendo de natureza honrável, assim como honesta, não poderia confiar à Fortuna aquilo que valorizava acima de sua vida, que era a sua reputação, em razão da Fortuna não tomar parte com aqueles que eram honestos e honrados, mas renunciá-los; e como não poderia estar em ambos os lados, escolheu ser daquele que era agradável tanto para sua consciência quanto para a natureza de sua educação (Cavendish, 1666,  trad. Silvia Baldo, 2014, p. 243-244).

Na sequência, Cavendish expõe os limites da monarquia, quando a Imperatriz reitera a defesa do Duque frente à Fortuna, expondo que o mesmo servirá a Monarquia desde que observadas certas condições e virtudes: “Ele está pronto a qualquer momento para servi-la desde que honestamente e prudentemente” (Cavendish, 1666, trad. Silvia Baldo, 2014, p. 244). Cavendish esclarece ao leitor que a responsabilidade moral do monarca sobre o reino está intimamente correlacionada à noção de sabedoria, prudência e ao seu conhecimento das mais diversas ciências.   

         Por fim, buscando esclarecer seus objetivos com o texto, a autora, no Epílogo, esclarece:

Por meio desta descrição poética, podeis perceber que minha ambição não é apenas ser uma Imperatriz, mas a autora de todo um mundo e que os mundos que construí, tanto o Blazing World quanto o outro mundo filosófico, mencionados na primeira parte dessa descrição, são moldados e compostos de maior pureza, ou seja, as partes racionais da matéria, que são as partes de minha mente, o que foi uma criação mais fácil e rapidamente efetuada que a conquista de dois monarcas mais famosos do mundo: Alexandre e César (Cavendish, 1666,  trad. Silvia Baldo, 2014, p. 297).

Percebe-se na passagem que Cavendish vincula suas reflexões políticas ao mundo plenamente material de sua filosofia natural, e não se isenta de apresentar publicamente suas convicções sobre o mundo e sobre a sociedade em que vive.

Bibliografia

Obras de Margaret Cavendish

CAVENDISH, Margaret. (primeira ed. 1653). Poems and Fancies. London: J. Martin and J. Allestrye.

CAVENDISH, Margaret. (1653). Philosophical Fancies. London.

CAVENDISH, Margaret. (1655). The Worlds Olio. London: J. Martin and J. Allestrye.

CAVENDISH, Margaret. (1655). The Philosophical and Physical Opinions. London: J. Martin and J. Allestrye.

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Outras Edições

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Tradução para o Português

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SILVA BALDO, Milene Cristina. (2014). O mundo resplandecente, de Margaret Cavendish, estudo e tradução. Dissertação de Mestrado, Orientador Carlos E. O. Berriel. Universidade Estadual de Campinas: Campinas.

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Outros Materiais

Verbete da Stanford Encyclopedia of Philosophy escrito por David Cunning

https://plato.stanford.edu/entries/margaret-cavendish/

Verbete do Project Vox

https://projectvox.org/cavendish-1623-1673/

The International Margaret Cavendish Society

https://www.margaretcavendishsociety.org/

https://www.facebook.com/Margaret-Cavendish-Society-135112673212390/

Projeto de digitalização de Philosophical and Physical Opinions (1663), Institute for Digital Research in the Humanities, University of Kansas

https://idrh.ku.edu/digital-humanities-projects/margaret-cavendish-philosophical-and-physical-opinions

Material sobre Cavendish do Projeto Uma Filósofa por mês

​​Videoconferência de Sueli Sampaio D. Custódio, Margaret Cavendish e o Atomismo.

Videoconferência de Janyne Sattler, Margareth Cavendish por Janyne Sattler, Rede Brasileira de Mulheres Filósofas