Cardeais em órbita
Cinco senhores veneráveis flutuam, em meio à ilusão de azul infinito criada pelos geradores holográficos de São Pedro Extra-Mundos, a principal basílica de Novo Vaticano, em órbita polar, neste momento passando sobre o Oceano Pacífico, rumo à Antártida e a mais uma volta pelos extremos da Terra.
Cardeal Mondego sente, agradecido, o relaxar dos músculos ao redor dos olhos e nos cantos da boca. O azul, mesmo com sua implicação de céu ilimitado, de queda iminente numa esfera sem fim, reconforta. Intimida menos que a decoração usual da basílica, as grandes esculturas de luz que reproduzem, em escala monumental e nas três dimensões, o teto da Capela Sistina – como alguém não se sentiria inconveniente ao flutuar bem entre o dedo de Deus e a mão suplicante de Adão? – e nem de longe é tão assustador quanto as imagens, ou o significado das imagens, que haviam antecedido o fundo cerúleo abismal.
Números. Gráficos. Estatísticas. Projeções.
Não há dúvida – diz o papa Paulo XII, que preside a reunião. – Hoje, completam-se dez anos desde que ocorreu a última canonização. Oito, desde a última beatificação. Não há mais santos. Os milagres simplesmente desapareceram do mundo.
Continue lendo o conto de Carlos Orsi Martinho no Le Monde diplomatique
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