Como criar um culto – a conformidade Asch
Curta de Carey Burtt, “Mind Control Made Easy or How to Become a Cult Leader” (2000), legendado pelo pessoal do Clube Cético.
Não é comédia, e as frases e técnicas são encontradas facilmente em cultos (ou “religiões” e mesmo “ONGs humanistas”, os grupos de fachada).
Cultos exploram nossas vulnerabilidades, e uma boa demonstração de uma delas foi dada em uma série de experimentos feitos pelo psicólogo americano Solomon Asch nos anos 1950.
No vídeo acima você confere uma reprodução moderna do experimento. Nele, todos os participantes são “cúmplices” e apenas um é o desavisado sujeito avaliado.
Questionados sobre uma questão muito simples – qual traço na série à direita é idêntico ao da esquerda? – os participantes inicialmente dão respostas corretas, mas logo passam a declarar, de forma unânime, respostas incorretas.
O sujeito incauto irá ceder à pressão implícita do grupo e dar uma resposta incorreta?
Como se pode ver acima, e reproduções do experimento original confirmaram ao longo das décadas, a proporção dos que cedem à conformidade social é assustadora. Em mais de um terço das vezes o sujeito acabou cedendo ao erro coletivo, e até três quartos dos sujeitos eventualmente cederam em algum ponto do experimento.
“Que tenhamos encontrado uma tendência tão forte à conformidade em nossa sociedade a ponto de que jovens razoavelmente inteligentes e de boa fé possam chamar o Branco de Preto é algo preocupante. Levanta questões sobre nossos métodos de educação e sobre os valores que guiam nossa conduta”, ponderou Asch.
Além de seus principais resultados, os experimentos de conformidade de Asch também têm em seus detalhes informações valiosas.
Durante os testes, que mesmo um dos “cúmplices” manifestasse uma opinião diferente já tornava a conformidade muito menos prevalente (de 5 a 10% menos comum). E esse “cúmplice” nem precisava manifestar a opinião correta: bastava que manifestasse uma opinião diferente.
Mais. A conformidade cresce enormemente quando os cúmplices crescem em número de um até três. Nenhuma surpresa aqui. Mas de três até 10 ou 15 cúmplices, ela não aumenta significativamente. Esperaríamos que aumentasse linearmente à medida que o grupo se torna maior, mas aparentemente as coisas não funcionam assim. Isso pode se relacionar com uma lei de potência.
Finalmente, imaginamos que aqueles que cederam à pressão do grupo o façam muito contrariados, sabendo que dão a opinião errada. Mas aparentemente as coisas não funcionam assim. Os sujeitos não atribuíram suas respostas erradas à pressão do grupo, e sim a suas próprias falhas. Embora não estivessem plenamente confiantes em sua resposta, por outro lado não consideraram que ela estivesse claramente errada.
E, surpresa, uma versão do estudo contando com ressonância magnética funcional recente sugere que a conformidade social realmente altera a percepção da realidade. As áreas do cérebro ativadas nos casos cruciais de conformidade não foram as de alto nível, de conflito e planejamento (“eu sei a resposta correta mas irei concordar com a errada”), e sim as áreas mais elementares dedicadas à percepção (“mas não é que aquele risco parece mesmo com o outro?”).
Para mais sobre o experimento (que foi reproduzido no Brasil e em diversos outros países), confira esta meta-análise (PDF, em inglês), já paper com o estudo com ressonância magnética pode ser lido aqui (PDF, em inglês).
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