Sexo, carros, rebolados e… ciência?

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Cientistas atestam: carros de luxo excitam as mulheres (mesmo que elas não admitam). E você pode descobrir o prazer sexual de uma simplesmente olhando para seu rebolado. Quer saber mais? É claro que quer, revelações sobre sexo “comprovadas cientificamente” são irresistíveis. E por isso mesmo são comumente abusadas, como aqui. Apenas uma dessas duas histórias é apoiada por ciência de verdade. Pode adivinhar qual?

UM OFERECIMENTO HISCOX
Vejamos: o estudo sobre marias-gasolina foi conduzido por… uma seguradora de carros de luxo. Chamada Hiscox (em inglês, o nome tem mais de um sentido). Suspeito? Confira o press release da seguradora sobre a pesquisa (em inglês).

Tão interessante quanto o envolvimento da seguradora é descobrir que o psicólogo responsável, David Moxon, está acostumado a conduzir pesquisas patrocinadas por empresas que têm resultados muito convenientes às ditas cujas. Por exemplo, o psicólogo também descobriu que falar ao telefone ajuda as mulheres em uma dieta. Pesquisa gentilmente oferecida a você por uma companhia de telefonia. Moxon nem esconde que “trabalha em parceria com clientes oferecendo precisamente o resultado que necessitam, preservando a integridade acadêmica”. Como mágica.

Nenhum desses estudos foi publicado em um periódico científico, o que significa que não foram verificados por pesquisadores independentes. Nem mesmo seus métodos e resultados são divulgados em detalhe. A rigor, nada disso é ciência.

O que não significa por sua parte que os resultados indicados devam ser falsos, deve-se dizer. Não é absurdo supor que o barulho do motor de carros potentes possa excitar mulheres… Assim como homens. Mesmo o release da seguradora nota que “sons altos podem ter um efeito de excitação na fisiologia de uma pessoa”. Um estudo mais rigoroso poderia incluir o barulho de uma moto-serra, quem sabe retirado direto de um filme de terror. Deve excitar um tanto.

Além de tais reações fisiológicas, mulheres (e homens) sim podem ficar excitados por carros de luxo por uma série de outros motivos psicológicos. Só não foi desta vez, com este estudo, que o tema foi explorado de maneira realmente científica.

Aqui houve sim a exploração da idéia para vender seguros de carro de luxo. E funcionou – a nota recebeu ampla cobertura na mídia britânica, e na internet saiu mesmo na Wired. O que se pagou ao psicólogo com certeza rendeu muito mais em publicidade à seguradora.

CRÉÉÉÉÉU
A outra “notícia científica sedutora” dos últimos dias envolveu uma pesquisa com rebolados. E respondendo à pergunta do início, surpreendentemente, é esta história mais inusitada que possui ciência para apoiá-la.

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No trabalho bem direto ao ponto intitulado “A história de orgasmo vaginal de uma mulher é discernível a partir de seu andar”, publicado no “Journal of Sexual Medicine” os pesquisadores descobriram que:

“Na amostra de jovens mulheres belgas saudáveis (metade das quais eram vaginalmente orgásmicas), a história de orgasmo vaginal era diagnosticável com um acerto muito maior que o acaso (81,25% de acertos, Teste Exato de Fisher P > 0,05) por sexólogos apropriadamente treinados. Orgasmo clitoriano não possuía relação com ambas classificações e à história de orgasmo vaginal. Análises exploratórias sugerem que maior rotação pélvica e vertebral e comprimento da passada podem ser características do passo de mulheres que experimentaram orgasmo vaginal”.

O método?

“Mulheres com históricas conhecidas de orgasmo vaginal ou de anorgasmia vaginal foram filmadas andando na rua e seu status orgásmico foi julgado por sexólogos que desconheciam sua história”.

Em outras palavras: cientistas ficaram assistindo a vídeos de jovens e saudáveis mulheres belgas andando e adivinhando quais tinham orgasmos mais intensos apenas pela forma como andavam. E acertaram. E publicaram os resultados em um periódico científico.

Ao interpretar os resultados de tal pesquisa, é importante lembrar do mantra: correlação não é causação. Isto é, a relação não significa necessariamente que o prazer na cama (ou outros lugares) de uma mulher deva influenciar a forma como caminha, ou vice-versa.

Uma possibilidade é a de que tanto um como outro sejam facilitados por uma predisposição anatômica, por exemplo. “Músculos pélvicos bloqueados, que podem estar associados com limitações psicossexuais, podem afetar tanto a resposta orgásmica vaginal quanto o andar de uma mulher", sugere Stuart Brody, da University of the West of Scotland, líder do estudo.

Receber dinheiro para conduzir uma pesquisa com mulheres e homens ouvindo barulhos de motores de carro pode ser bom (para o bolso). Mas assistir a vídeos de mulheres requebrando pela rua e adivinhar que tipo de orgasmo têm e publicar tudo em um periódico científico revisado por pares?

Não tem preço. [via Wired, Gene Expression]

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Referência:
– "A Woman’s History of Vaginal Orgasm is Discernible from Her Walk", Journal of Sexual Medicine, Volume 5 Issue 9, Pages 2119 – 2124, Published Online: 15 Jul 2008

Discussão - 3 comentários

  1. Patola disse:

    O artigo é cobrado! Fala sério!!! US$ 29,95 pelo artigo. 🙁
    Primeira pergunta que me veio à cabeça: Se os sexólogos viram a mulher rebolando, como houve a dissociação do formato corporal da mulher com o andar dela? Como é que inferiram que, entre os múltiplos elementos visíveis em um vídeo desses, era justamente o andar o fator apropriado?
    Ah, e só uma correçãozinha no português:
    "Orgasmo clitoriano não possuía relação com ambas classificações..."
    É "ambas as":
    "Orgasmo clitoriano não possuía relação com ambas AS classificações..."
    O estudo é interessante mas mesmo sendo um entusiasta de psicologia evolucionista acho que esse pessoal às vezes leva a coisa longe demais...

  2. Shibumi disse:

    Deve ser um estudo deveras entusiasmático..

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