Além do “efeito da outra raça”

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Clique para uma versão em maior resolução. Mesmo para mim é difícil reconhecer muita diversidade nos rostos aí. Como comentaram, parece carimbo do Photoshop. Como sou oriental posso dizer isso sem soar racista.

Além do efeito outra raça, isso sugere que há algo em ação por aqui, e algo além de mera maquiagem e penteados uniformizados dos bizarros encontros ultra-nacionalistas da Coréia do Norte.

Pense sobre o assunto: caucasianos parecem exibir uma maior variação de traços. E ninguém menos que o Straight Dope endossa a impressão, embora note que “não exibam a maior variação de todos os traços, apenas alguns mais superficiais – cor e textura de cabelo, cor dos olhos, além de cor da pele que varia de muito clara a quase escura. Quando se trata de altura, por outro lado, caucasianos perdem para africanos, cuja estatura média varia de menos de 1,50m de pigmeus adultos a mais de 1,75m para Batutsis adultos. De forma similar, outras raças exibem maior variação na configuração do nariz, distribuição de gordura corporal e assim por diante”.

Segundo o mesmo onisciente Cecil Adams, “a teoria menos controversa para explicar tal é que caucasianos são a raça mais ‘hibridizada’ – isto é, tiveram a maior adição de genes a seu patrimônio genético como resultado de invasões, migração, tráfico de escravos, etc”. Racialmente explosivo, não?

Pois em um Straight Dope posterior, Adams indicou um estudo de Alvin Goldstein publicado em 1979 que descobriu que rostos de mulheres japonesas mostram maior variação do que os de irlandesas (!). De fato, segundo o estudo, as mulheres japonesas exibiram mais variação do que todos os outros grupos raciais estudados, incluindo negras e brancas. Ah, ciência, sempre destruindo mitos.

Ou não.

“Estudando o trabalho de Goldstein com mais calma, descobrimos que enquanto ele comparou um monte de traços faciais – circunferência da cabeça, altura da testa, “protrusão transversa do nariz” e assim por diante – ele omitiu algumas das características mais óbvias (ainda que efêmeras) como cor, estilo e comprimento do cabelo e tom de pele. Outro cientista social faz mais ou menos o mesmo ponto: ‘[Medidas faciais] podem não ser relevantes para discriminação perceptual, e a cor e estilo do cabelo podem ser usados mais prontamente como pistas de discriminação”.

Isto é, embora as cabeças japonesas medidas variassem mais – de acordo com esse estudo – elas podem estar variando em parâmetros que não são muito utilizados para diferenciar rostos. Um cabelo que varia de castanho para loiro parece uma diferença maior do que alguns centímetros de circunferência de crânio. A questão se torna ainda mais complexa quando se nota que diferentes grupos étnicos, diferentes culturas, podem dedicar mais atenção a determinados traços faciais do que outros, e todos podem diferir entre si. Talvez isto resuma o próprio “efeito da outra raça”: aprendemos a diferenciar rostos de determinada etnia pelos traços que mais os diferem, e sem surpresa, esses traços podem diferir em menor grau em rostos de outra etnia – que, contudo, podem estar variando tanto ou mais em outros traços.

Complicado? Confuso? Afinal, o que concluir? Não se culpe, em resumo pelo visto, dada a complexidade envolvida na questão, estudos científicos ainda não esclareceram a questão de se, além do “efeito da outra raça” os japoneses realmente são mais (ou menos!) parecidos entre si de forma objetiva e não apenas subjetiva. De forma subjetiva o “efeito da outra raça”, já bem documentado, mostra que tendemos a achar os rostos de outras raças (ou outras idades) “todos iguais”.

“Enquanto me desespero destilando 30 anos de pesquisas complexas e comumente contraditórias em uma ou duas sentenças, há motivos para acreditar que tanto fatores subjetivos quanto objetivos figuram na impressão comum de que pessoas de outras raças são todas parecidas”. E já que esta nota é pouco mais que um comentário sobre a pesquisa de Adams, encerremos com seu comentário sobre a questão racial aqui:

“A igualdade racial é dificilmente promovida insistindo que diferenças entre grupos não existem. Mesmo uma questão aparentemente elementar como identificar faces envolve um jogo sutil entre o que vemos e o que percebemos”, termina Adams. Tão poucos estudos sobre diferenças objetivas entre grupos étnicos, em contraponto à relativa abundância sobre o “efeito da outra raça”, centrando-se em um relativismo e suposta igualdade racial, provavelmente indica questões políticas e ideológicas afetando a pesquisa científica da questão. É notável também que os estudos sobre o efeito da outra raça também pareçam ignorar a possibilidade de que realmente existam diferenças entre a variação de traços faciais entre grupos étnicos.

Afinal, talvez japoneses (ou norte-coreanas) sejam grosso modo todos iguais.

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