Reconstrução do mecanismo de Anticitera

O vídeo do modelo de Michael Right do mecanismo de Anticitera já é um dos mais vistos do canal de vídeo da NewScientist. Não é por menos, esta ilustre desconhecida peça do tamanho de uma caixa de sapatos é provavelmente um dos artefatos arqueológicos mais valiosos em todo o mundo.

Com mais de dois milênios de idade, o mecanismo inclui uma miríade de engrenagens, possivelmente um conjunto diferencial, e parte de mostradores com gradações bem definidas. É o mais antigo exemplo de um instrumento com mostrador. A sofisticação técnica envolvida no trabalho literalmente de relojoaria só seria vista novamente mais de mil anos depois.

Grosso modo, seria mesmo como encontrar evidências de aviões a jato na América pré-colombiana. Absurdo, inacreditável, e no entanto, real. Historiadores romanos de fato deixaram referência a mecanismos dessa sofisticação – e de fato, mesmo exatamente ao mecanismo de Anticitera – mas os historiadores modernos presumiam que eram exageros ou fantasias.

Em 79 AC, por exemplo, o orador e político romano Marco Túlio Cícero foi a Rodes, provável cidade onde o mecanismo de Anticitera foi construído, e descreveu em De natura deorum II:

“Suponha que um viajante leve a Cítia ou Bretanha o planetário recentemente construído por nosso amigo Posseidônio, que a cada revolução reproduz os mesmo movimentos que têm lugar nos céus a cada dia e noite o Sol, a Lua e os cinco planetas. Irá qualquer nativo duvidar que este planetário era o trabalho de um ser racional?”

A descrição de Cícero pareceria fantasia, mas agora indica a existência muito plausível de uma tradição de construção de planetários em Rodes. Por mais inacreditável que pareça, o mecanismo realmente existiu.

Escrevi um texto há alguns anos recheado de detalhes sobre o Mecanismo de Anticitera, e também traduzi na ocasião o artigo original de Derek Price a respeito. O artigo de Price é a referência a todos os interessados pelo mecanismo.

Carl Sagan costumava repetir que simplesmente descobrir que teríamos companhia em algum outro ponto do Universo já seria uma das informações mais importantes já descobertas pela ciências. Teríamos confirmação de que não somos únicos, que outras inteligências sobrevivem além da nossa, a despeito da capacidade tão tragicamente tentadora da auto-destruição. É aqui que reside a importância, e o alerta, do Mecanismo de Anticitera.

Como Price ponderava há exatamente meio século:

“É um pouco assustador saber que pouco antes do declínio de sua grande civilização os gregos antigos chegaram tão perto de nossa era, não só em seu pensamento, mas também em sua tecnologia científica”.

Talvez não seja mera coincidência que tão pouca atenção tenha sido dada ao mecanismo. Se há uma verdade inconveniente é que a ciência e tecnologia, por si só, não são capazes de evitar o colapso das mais sofisticadas culturas. O conhecimento fechado em caixas mágicas que leigos observam e mesmo historiadores registram com espanto e incompreensão é um indicador perigoso de que a relação simbiótica entre o avanço e acúmulo de conhecimento e a sociedade que permite tal não está andando muito bem.

Daqui a mil anos, historiadores podem descobrir surpresos que as referências de nosso tempo a caixas retangulares que como mágica acessavam um mundo de informação eram reais.

Discussão - 1 comentário

  1. diivino santos disse:

    e fantastico pemssar en tal tecnolgia nun passado distante, nao acha? divino de caldas novas goias

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