Pi in the Sky

piepi

SPOILER: Em um final muito mais impressionante que a versão cinematográfica, em “Contato” de Carl Sagan a protagonista acaba descobrindo uma mensagem especial escondida nas infinitas casas decimais da constante pi.

Pois bem, se você escrever o pi com duas casas decimais, 3.14, e olhá-lo no espelho, verá a palavra PIE. Caso entenda inglês saberá que além de torta, a palavra é homófona, isto é, lê-se da mesma forma que… pi.

314pie

De onde se conclui que se Deus é brasileiro, fez curso de inglês. tudumpa. [via MLIA]

Discussão - 9 comentários

  1. Kentaro, dado que PI é infinito, considere sua expressão digital em zeros e uns. Como os matematicos acreditam (eles "tem fé" nisso, mas ainda não tem uma prova concreta) que PI é uma sequencia onde nenhuma subsequencia é proibida (ao contrário de outros números irracionais), então PI é equivalente a uma Biblioteca de Babel Borgeana. PI contém todos os livros, conversas, pensamentos e toda a informação do universo. Em particular, PI contém tanto o livro como o filme Contato, em formato digital (bem como todas as suas variantes).
    Isso significa que a "Prova da Existência de Deus" requerida por Sagan não funciona, pois já está satisfeita por PI mas é fruto de puro acaso.
    Fico pensando: Provar a inexistência de Deus não é logicamente possível (e portanto nem deve ser tentado), e não serve de argumento para os teístas. Mas provar a existência de Deus deveria ser possível. Entretanto, no caso de um Deus Deista tipo o considerado no livro Contato, que prova seria suficiente para um ateu mudar de opinião? Será que tais provas são testáveis ou cientificamente alcançáveis? A prova requerida por Sagan não passou no teste. Ela não é testável e nem mesmo constitui evidencia a favor, mesmo se a mensagem acontecesse no primeiro trilhão de bits da expressão de PI (afinal, isso também pode ocorrer por puro acaso).
    Ou seja, como eliminar a explicação "por puro acaso" da argumentação? Ou a explicação "por puro acaso" não é científicamente testável, dado que uma probabilidade de dez elevado a menos 500 não equivale a zero (e é realizada com quase certeza em um Multiverso de 10^500 universos tipo landscape das supercordas)?
    Engraçado que essa questão não ocorre no caso dos UFOs: basta um UFO aterrisar na Casa Branca que prova-se que existem, embora seja impossível provar que não existem (pelo argumento de impossibilidade lógica já comentado).
    Falando nisso, qual seria a evidência mínima que poderia produzir consenso na comunidade cientifica sobre a teoria de UFOs serem naves espaciais? Seria necessário uma nave completa ou bastaria um artefato tecnologico claramente ET. O que significaria "claramente ET"? Uma caneta ET seria uma prova consensual ou definitiva?
    (Observo que não acredito nessa teoria - prefiro a teoria de que são fenomenos naturais desconhecidos correlacionads com atividade sismica e geo-elétrica, ou talvez no limite máquina do tempo de historiadores do futuro).

  2. Kentaro Mori disse:

    Caro Osame,
    Mencionei a falha na prova divina de Sagan em 'Contato' em:
    http://www.ceticismoaberto.com/ciencia/2116/o-contato-de-sagan
    Sagan também menciona em um de seus livros que "Deus" poderia ter deixado trechos da Bíblia inscritos na superfície lunar, ou um crucifixo quilométrico em órbita... embora mesmo estas sejam provas de que seja possível duvidar -- no próprio Contato há essa discussão sobre evidência, e o paralelo entre a existência de ETs e a existência de Deus é ao final a reflexão final do livro.
    De minha parte, acredito que deus poderia provar sua existência de muitas formas. Assim como basta que um disco voador pouse na frente da Casa Branca, a rigor basta que Deus surja na frente da Casa Branca -- e faça feitos divinos, onipotentes. Rapidamente não restaria mais dúvidas de sua identidade.
    Quanto a provas de que alguém teve contato com ETs -- ou Deus -- estas também poderiam ser tanto conhecimentos técnicos ou científicos em grande quantidade, ou, o que seria literalmente mais sólido, evidências físicas, como uma amostra genética (de um ET com um código genético de outras bases moleculares, por exemplo) ou uma auréola de anjo 🙂
    Mas gosto de responder que as melhores provas de contato com extraterrestres -- ou, no caso, com deus -- são aquelas que mal podemos imaginar de antemão. E que, todavia, poderemos reconhecer e admitir prontamente uma vez que as conheçamos.

  3. Kentaro,
    Quanto aos deuses tradicionais, não há dúvida que a prova seria similar à dos ETs (tanto é que Spielberg faz um paralelo entre o Monte Sinai e o Monte do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau.
    Minha pergunta se refere não ao teismo tradicional, mas ao Deismo tipo Principio Antropico etc. Ou seja, o ajuste fino das constantes universais é um tipo de PI in the Sky? Não acredito que seja, pois existem explicações alternativas (Multiverso).
    A minha questão é: dado a hipotese do Multiverso, que torna possivel mesmo as coisas mais improváveis, em que sentido pode-se falar de evidencia a favor de um Deus (deista, não teista - um Deus criador que não interage com sua criação hoje via milagres, porém que tenha dotado de proposito este universo), ou seja, de que o universo tenha origem artificial em vez de natural?
    Que tipo de evidencia convenceria um cético do Deismo? Ou o ceticismo é, por definição, uma posição filosófica irrefutável?

  4. fabio disse:

    "PI é equivalente a uma Biblioteca de Babel Borgeana." Não só PI, como qualquer número irracional!!
    Ótimo comentário, Osame.
    "[...]basta que Deus surja na frente da Casa Branca"
    Mas no Deus do panteísmo isso não poderia ocorrer. A "vontade" de Deus não é pessoal.

  5. Kentaro Mori disse:

    O Deísmo do Princípio Antrópico só "explicaria" improbabilidades relacionadas com nossa própria existência. Caso se descubra uma improbabilidade absurda, que seja independente de nossa existência como observadores, havendo assim a princípio duas alternativas: a) mero acaso, e b) intervenção inteligente; penso que não seria irrazoável que se escolha a última.
    Mas é certo que céticos, e afinal, qualquer pessoa com senso crítico, continuarão buscando alguma outra solução. Talvez a esperança ateísta de que se descubra uma relação entre essa improbabilidade e a nossa existência alimente uma indecisão a respeito.
    O "novo ceticismo", o "ceticismo científico", definido por Kurtz et al, é em minha visão de leigo em filosofia algo bem pragmático. Como abordagem não penso que possa ser refutado. E como posição filosófica... não é bem uma posição filosófica, não pretende fazer grandes afirmações sobre o Universo. Não é nem mesmo incompatível com o Deísmo ou mesmo Teísmo. Existem cético teístas, religiosos.
    Talvez a única posição filosófica mais pretensiosa do ceticimo moderno é a de que nunca descubriremos uma verdade definitiva. Mas mesmo esta pode ser discutida -- isto é, nunca poderemos ter certeza de que descobrimos uma verdade definitiva.

  6. Kentaro Mori disse:

    fabio, Osame, aliás, vejam a Lei de RicBit:
    http://www.ricbit.com/2009/11/lei-de-ricbit.html

  7. Kentaro, não sei se ficou claro: mesmo a surgimento por puro acaso de Boltzmann Brains (ou seja, por puro acaso os atomos se juntam formando um cerebro, sem passar por fase evolutiva biologica) pode ser quantificada e, em um Multiverso, sua probabilidade é considerável.
    Me referindo ao ateismo (minha questão é uma duvida se o ateísmo é filosofia ou se podemos falar de um ateismo cientifico) e não ao ceticismo em geral, minha duvida é a seguinte: o que faria o papel da evidencia decisiva de Sagan no caso de um Deus Panteista ou Panenteista não pessoal, ou mesmo na hipotese de universos-bebe artificiais criados por civilizações em universos-mãe (hipotese que eu acho fascinante, como vc bem sabe!).
    O que seria uma evidencia decisiva neste caso para um cético na teoria do Universo-Mãe?
    Ou seja, seguindo um criterio Popperiano, seria possível que esse ateu, de antemão, dissesse em que condições consideraria seu ateismo refutado. Ou o ateismo é irrefutável, de modo que seria mais uma posição filosofica (de modo que isso explicaria sua longa história, desde seitas hindus ateistas no seculo V A. C., ver o livro Historia da Duvida) do que uma posição científica.
    Outra maneira de perguntar seria: o quanto tem de ciência e o quanto tem de filosofia (e de politica) no livro "Deus, um Delirio".
    Caso o ateismo seja uma posição filosofica, seria possivel "deduzir" uma posição filosofica (ateismo) da ciência? Isso não a tornaria científica (e portanto não-filosofica)?
    Sob outro aspecto: dado que a teoria do Universo-Mãe é viavel cientificamente (vários fisicos importantes estão apostando nela), e que é compativel com tudo o que conhecemos da Cosmologia (e que prove respostas que a teoria do Multiverso não prove), em sentido poderia ser dito que o ateismo (no sentido de ausencia de criador ou plano ou proposito no Universo) é a unica visão compativel com o conhecimento cientifico atual?
    E o principio cetico de que não deveriamos acreditar em algo na ausencia de evidencias não funciona aqui, porque os defensores dessa teoria diriam que tanto o fine tunning das constantes universais como a questão da intelegibilidade da cosmologia para cerebros finitos - melhor dizendo, a estranha eficacia da matematica em descrever a receita para se fazer um universo-bebe, são evidencias sim da teoria, evidencias para as quais o ateismo clássico fica mudo.
    Então eu retorno a pergunta: o que seria, modernamente, o PI in the SKY, a evidencia cosmologica que poderia ser aceita por todos de que nosso universo teria origem artificial?

  8. Kentaro Mori disse:

    Não penso que ninguém (sensato) defenda que o ateísmo em si mesmo seja científico, nem o Dawkins. Quando há oportunidade e ocasião, Dawkins explica melhor que a abordagem científica pode refutar os teísmos que conhecemos, mas concede que o ateísmo em si mesmo não é uma conclusão "científica".
    Não li "Deus, um Delírio", nem pretendo ler tão cedo. Apóio o neo-ateísmo mas me interesso muito mais pelo movimento cético moderno, e então pela ciência... então não posso discutir a respeito (não que possa discutir muito sobre os outros temas, hehe).
    Acho ótima a discussão que você sugeriu, Osame. Seria interessante se a radiação de fundo codificasse uma mensagem arbitrária (quem sabe fosse mesmo o infame "rosto de deus"...). Se não me engano foi o próprio Andrei Linde sugeriu algo assim.
    Relacionado ao tema, há as idéias de Victor Stenger contra o "fine tuning" do Universo, são bem interessantes. Pretendo ler o livro dele sobre o tema qualquer dia -- prioridade bem maior do que o "Deus" de Dawkins.

  9. No livro "A Voz do Mestre", melhor ler em ingles "His Master Voice", Stanislaw Lem discute a questao de uma evidencia ou mensagem em uma radiação de fundo biofílica como a que voce sugeriu. Ele mostra no final que tudo vira especulação filosofica, ou seja, que ateus, agnosticos e animistas cientificos a la Dyson ficariam, depois de tudo, na mesma.
    Um otimo livro, talvez o melhor do melhor autor de FC e filosofo da segunda metade do seculo XX, o Borges da Polônia (ou será que Borges é o Lem da Argentina?)

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