O Universo Conhecido
São imagens poderosas, afinal, é todo O Universo Conhecido, um filme produzido pelo Museu Americano de História Natural em uma viagem do monte Everest e as gargantas do rio Ganges até os limites de todo o cosmo conhecido.
No caminho, enquanto nos afastamos do planeta vemos o azul profundo do Pacífico, a Terra como um todo, as órbitas de milhares de satélites que lançamos em órbitas baixas e então um anel daqueles em órbita geostacionária; rapidamente focando o brilho de nosso Sol, o sistema solar, a bolha de nossas transmissões de rádio com décadas de anos-luz de raio, a nossa galáxia, a estrutura filamentar de milhões de outras galáxias próximas até o limite do Universo observável, na radiação de fundo composta dos ecos do Big Bang.
Viajar pelo espaço nesta escala é também viajar no tempo, enquanto a esfera final do Universo conhecido marca também os primeiros instantes de tudo. Caso se sinta alguma vertigem, basta se segurar nos assentos porque logo fazemos todo o caminho de volta ao pálido ponto azul.
Esse tipo de visualização não é particularmente novo, e sua versão mais famosa é o clássico Potências de 10 (1977), sendo que uma versão recente particularmente bela inicia o filme Contato (1997). A diferença é que desta vez, “a estrutura de O Universo Conhecido é baseada em observações e pesquisas precisas e cientificamente acuradas”. Isto é, enquanto todas as outras versões anteriores contavam com uma boa dose de licença artística e imaginação, nesta versão a beleza é derivada diretamente de dados científicos concretos. É por isto que em certo momento a visualização de galáxias e quasares forma uma espécie de ampulheta, porque só podemos observar em grandes distâncias em planos perpendiculares ao disco de nossa Via Láctea – isto é, “para cima ou para baixo”, porque “dos lados” todas as estrelas de nossa galáxia bloqueiam a visão.
De traçar constelações no céu a olho nu a uma visão de todo o cosmo com bilhões de anos-luz, este é o poder, ou a potência, de O Universo Conhecido.
Longe de diminuir a fascinação, justamente por se centrar em dados observacionais esta visualização instiga mais beleza. Além dos limites do conhecido não se exibe nada. Não vemos a cabeça de Homer Simpson, o que seria algo cômico, mas que não se compara com o fato de que este vazio representa o incognoscível. De tudo que conhecemos sobre o cosmos, dentro da esfera, o que há além dela estaria por definição fora de nosso alcance. É grosso modo aquilo que teria ocorrido antes do Universo, com o detalhe de que antes de nosso Universo o tempo também não existia.
“Comparo o Universo Digital à invenção do modelo do globo terrestre”, diz Ben Oppenheimer, astrofísico do Museu. “Quando Mercator inventou o globo, todos queriam um. Ele teve encomendas adiantadas por anos. Deu a todos uma nova perspectiva de onde viviam em relação aos outros, e esperamos que o Universo Digital faça o mesmo em uma escala maior, cósmica”.
Haveria “outros” pelo Universo? Sem dúvida, a primeira e mais básica impressão que o filme deixa é justamente que, se estivermos sós, “será um grande desperdício de espaço”.
[O filme foi produzido por Michael Hoffman e dirigido por Carter Emmart, criado na plataforma Uniview, a mesma utilizada em outro trabalho fenomenal, Bella Gaia, abordado aqui em 100nexos há alguns meses]
Discussão - 22 comentários
Estava pronto para escrever sobre o vídeo e... pronto... o Mori já blogou. 🙂
Parabéns pelo texto! O vídeo é de tirar o fôlego.
Escreve também! O vídeo é bom demais, tinha que ser obrigatório...
É de chorar. :~ E de se sentir insignificante também.
Muito legal esse video! Me senti motivado a estudar ainda mais sobre o universo e o que ele contem.
Fez me lembrar aquela "arma" da série de livros do "Guia do Mochileiro das Galáxias", onde o Zaphod Beeblebrox foi condenado...
Douglas Adams inspirando novamente...
Boa parte do que mostra nesse vídeo dá pra fazer com o software "Celestia".
O diferencial é que nesse "O Universo Conhecido" dá pra ver os conglomerados de galáxias.
Engraçado é que o vídeo passa a impressão que o Sistema Solar/Via Láctea fica no centro do universo.
Será que estamos equidistantes das "paredes" de radiação de fundo que nos cercam? Estaríamos no "Ponto ZERO" ou em algum lugar "mais pro lado"? 🙂
e tem gente que ainda duvida da existência de Deus.
Só uma palavra: Fantástico!
Esse video me deixa triste, pq sei que não vou viver o suficiente para explorar td isso... Pena...
e tem gente que ainda duvida da existência de Deus.
Posted by: abner phillip | dezembro 18, 2009 10:48 AM
E o que diabos Deus tem a ver com isso???? rss
Simplesmente lindo!
O software Celestia também mostra galáxias, e tem um script pra ele que marca o desvio pra vermelho nelas. Pena que está um pouco desatualizado, muito mais já foram descobertas.
Essa impressão de que somos o centro do universo é porque somos os observadores. Tecnicamente qualquer outro lugar em galáxias distantes também veria o universo esférico com eles no centro. Isso seria legal de explicar detalhadamente em um post. 😉
Muito legal.
Fantástico o vídeo, só mostra o quanto somos insignificantes perante universo, me lembra outro vídeo que fala por si.
http://www.youtube.com/watch?v=HEheh1BH34Q
[]'s
Realente, antes deste o mais belo vídeo sobre o tema, na minha opinião, era o da introdução do Contato de Sagan.
Vendo isso me lembro das palavras inicias de Sagan em Cosmos - "The Cosmos is all that is or ever was or ever will be"...
E olha que isto tudo é somente o nosso horizonte cósmico... Imaginem todo o resto que "há lá fora" 🙂
Obrigado por compartilhar, e pelo texto que está muito bom, utilizei o início dele no meu blog, e coloquei um link para este post ao final.
Abs
raph
Quanto ao comentário final, "o grande desperdício de espaço", eu aposto na hipótese (ou teoria), que o universo foi feito todo assim ( e todas as suas leis )para que a humanidade pudesse existir.
É mesmo uma maravilha. Como o universo quando estamos é enorme e nossa visão tão limitada. Entre protozoários e baleias azuis estamos em escala distintas, nos considerando eleitos e distintos em nossa arrogância entorpecida enquanto talvez possa existir algo mais por aí e sejamos apenas outras bactérias ainda a serem descobertas.
Delirante!
Nossa... a nossa galáxia é uma formiga em 1 único formigueiro cercado por bilhoes de outros... nem da pra acreditar nisso...
parece ate SPORE
Imaginemos que fosse possível viajarmos na velocidade da luz, velocidade esta suficiente para percorrer 300.000km em um segundo. A fim de que o amigo leitor tenha uma melhor idéia desta dimensão de velocidade, entenda que poderíamos em um segundo dar 7 voltas em torno da terra. Porém para nossa nave chegar até a estrela mais próxima de nosso planeta, sem ser o nosso Sol logicamente (para ai são “só” 8 minutos), demoraríamos aproximadamente 4,5 anos isto viajando na velocidade da luz. Impressionante não é?
Muito bom esse video, é o melhor que eu vi até hoje sobre o nosso universo.
Prezado Kentaro Mori
Bom dia, boa tarde ou boa noite.
Parabéns pelo video e o texto.
Continue sempre.
Antonio Carlos Tavares
Observatório Astronômico Albert Einstein - CEU
São Paulo - capital - Brasil