Teseu e o fio de Ariadne

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“Segundo a  mitologia grega um jovem herói ateniense chamado Teseu, ao saber que sua cidade deveria pagar a Creta um tributo anual composto de sete rapazes e sete moças a serem entregues ao insaciável Minotauro que se alimentava de carne humana, solicitou ser incluído dentre eles.
O Minotauro vivia em um labirinto, constituído de salas e passagens intrincadas do palácio de Knossos, cuja construção é atribuída ao arquiteto Dédalo.
Ao chegar em Creta, Teseu conheceu Ariadne, a filha do rei, que se apaixonou por ele. Ariadne, resolvida a salvar Teseu, pediu a Dédalo a planta do palácio. Ela acreditava que Teseu poderia matar o Minotauro, mas não saberia sair do labirinto.
Ariadne deu um novelo a Teseu recomendando que o  desenrolasse à medida que entrasse no labirinto, onde o Minotauro vivia encerrado, para encontrar a saída. Teseu usou essa estratégia, matou o Minotauro e, com a ajuda do fio de Ariadne, encontrou o caminho de volta”. [fonte]

Na fotografia, capturada em 14 de maio de 2010, vemos o ônibus espacial Atlantis em sua última viagem rumo ao espaço. A trilha que deixa desde o solo lembra o fio de Ariadne, ligando a Terra às grandes altitudes, em um tênue rastro de produtos de combustão que todavia logo irá se desfazer ao vento. Os herois que sobem ao vácuo do espaço devem encontrar seu próprio caminho de volta.

Mas há ainda outra interpretação no mito do fio de Ariadne e a exploração espacial: estamos em verdade dentro do labirinto do Minotauro, lutando e sacrificando milhões de jovens e moças em conflitos estúpidos e ultimamente fúteis nos meandros deste único planeta. Um Pálido Ponto Azul, como dizia Carl Sagan, um grão de poeira suspenso em um raio de Sol, um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica.

E, no entanto, jamais saímos dele. O mais longe a que enviamos herois foi a nossa própria Lua. Estamos presos em um labirinto e somos nossos próprios monstros, quando há um Universo infinito de possibilidades e conquistas aguardando para ser explorado.

Os fios de Ariadne que criamos com nossas naves espaciais indicam não o caminho de volta à Terra, mas o de destino ao Universo sem fim. [foto via Bad Astronomy]

Discussão - 7 comentários

  1. Andarilho disse:

    O Mori tava realmente inspirado ao escrever esse post. Assim como o Sagan, ele deixou vazar a sua veia poética 😉

  2. Chloe disse:

    Olá Kentaro!
    Eu já ouvi uma versão dessa lenda, em que o Teseu nunca teria conseguido sair do labirinto, pois o Minotauro seria na verdade uma maldição e quem conseguia matá-lo, transformava-se nele.
    Faz sentido...
    Abç. ; )
    C.

  3. QF disse:

    Ótimo texto!! =D Parabéns, Mori!
    @Andarilho realmente lembrou o Carl! ^^

  4. Haskell disse:

    Temos sorte que os Borg não tem interesse em nossa civilização primitiva.

  5. Joey Salgado disse:

    "Os fios de Ariadne que criamos com nossas naves espaciais indicam não o caminho de volta à Terra, mas o de destino ao Universo sem fim."
    Poesia pura.

  6. Ramon disse:

    Oi Kentaro!
    Só faltou contar que o Teseu abandonou a princesa depois de apenas uma noite.
    Também dá pra fazer uma analogia com esta parte, só que em vez de uma noite, seria apenas algumas décadas de corrida espacial.

  7. Kentaro Mori disse:

    hehe, eu omiti o final da lenda deliberadamente... como a Chloe comentou também há várias versões.
    Mas gostei muito de sua interpretação! Com a Lua foi só uma noite mesmo, coitada...

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