Sua pizza em dois dias, em (quase) todo o planeta
Se você subitamente se visse teletransportado a um ponto aleatório do planeta (e este fosse, para sua sorte, em terra firme), quanto tempo uma pizza demoraria para chegar?
Surpreendentemente, pesquisadores da Comissão Européia e do Banco Mundial estimaram que 90% das terras estão a menos de 48 horas de viagem terrestre ou marítima de uma grande cidade. Presumindo que toda cidade com mais de 50.000 habitantes tenha pelo menos uma pizzaria, podemos supor que sua pizza seria realmente entregue em dois dias em (quase) todo o planeta. Nada mal. E isso deixando de lado a via aérea.
Clique na imagem acima para conferir o mapa em maior resolução no sítio da Comissão Européia. Quanto mais escura a cor, mais tempo de viagem até a cidade grande mais próxima. E qual seria o ponto mais remoto da Terra?
34.7°N, 85.7°L
São as coordenadas de um ponto no Tibete, de onde você levaria quase um mês para viajar às cidades mais próximas de Lhasa ou Korla. Mais do que florestas, selvas, desertos ou tundras, pelo visto é a combinação de alturas extremas e clima correspondentemente inóspito que se mostram como maiores empecilhos. Não deve ser mera coincidência que enquanto comemoramos um século da conquista dos pólos, a escalada ao “topo do mundo” no Everest tem pouco mais de 50 anos. Claro que a Antártida nem está incluída no mapa, sendo um continente à parte.
Ainda assim, a extensão pela qual nos estendemos pelo globo é notável. Considere ainda que neste exato momento há três astronautas (um russo, um americano e um japonês) na Estação Espacial Internacional, a 350 km de altura dando 16 voltas ao redor do planeta ao dia, e mais do que nunca é um mundo pequeno.
Nem tudo é motivo de comemoração. A proliferação de homo sapiens por todos os recantos é, a propósito, uma das explicações para a impressão popular de que aconteceriam mais catástrofes naturais em tempos modernos, sinais dos tempos, talvez.
Embora sim haja indicação de que eventos climáticos extremos estariam se tornando mais comuns, devido justamente a todo o impacto ambiental de tantas pessoas; terremotos, por exemplo, devem ser tão comuns hoje quanto eram antes que inventassem a roda. Mas hoje há muito mais seres humanos espalhados por todos os confins do planeta, vulneráveis a todo tipo de evento.
Os dados e os métodos utilizados na pesquisa, bem como maiores detalhes, estão disponíveis: Travel time to major cities: A global map of Accessibility. A New Scientist compilou uma galeria comentada com algumas das principais surpresas. [via Fogonazos]
Como cortar o cérebro de Einstein
Você confere acima o que talvez seja uma das cenas mais inclassificáveis na história da ciência. O objeto branco dentro do pote de formaldeído é um pedaço do cérebro de Albert Einstein. Sim, Einstein. A faca e a tábua usadas são utensílios comuns de cozinha para cortar pão. Sim, pão. Pão de Thomas Harvey, o homem cortando o cérebro de Einstein para dar de souvenir para Kenji Sugimoto, um professor japonês fanático pelo físico alemão, que logo levará a relíquia para um bar de karaokê.
Mas como?
A história inacreditável do “como” é documentada em “Einstein’s Brain” (1994) de Kevin Hull. Você pode conferir uma detalhada (e hilariante) resenha em “O Cérebro de Einstein“, mas caso entenda inglês, pode e deve assistir ao documentário completo, com mais alguns comentários nossos sobre o desenrolar da história, a seguir.
Computador a água?
[imagem: sxc.hu]
Estamos mais acostumados a ver a água como terrível inimiga dos computadores, ou no máximo, como um sistema de refrigeração para componentes eletrônicos que podem se aquecer mais do que torradeiras. Nem sempre foi assim, e mais importante, nem sempre deve ser assim.
Computadores em que a água é componente essencial das operações são quase tão antigos quanto os semicondutores que dominaram toda a tecnologia de computação, e curiosamente podem ser mais simples de entender.
Em 1949 o economista Bill Phillips criou o MONIAC, acrônimo inglês de Computador Analógico de Renda Monetária Nacional, efetivamente um computador hidráulico de dois metros de altura. Clique na imagem para conferir um vídeo de demonstração (requer o plugin Quicktime):
Composto de vários tanques interligados em que água circula, hoje pode lembrar um grande projeto de feira de ciências do ensino médio, mas Philips mostrou que o MONIAC possuía uma precisão de ±2%, modelando sistemas e teorias econômicas não tão simples que computadores eletrônicos da época teriam um bom trabalho para simular. E nunca de forma tão visual e clara.
O fluxo de água representa o fluxo de dinheiro na economia, que pode ser controlado por válvulas e bombas, levando à acumulação nos tanques representando diferentes aspectos da economia, como saúde e educação. O computador hidráulico foi criado originalmente com fins educacionais, mas funcionava tão bem que foi usado também para simular idéias econômicas. De doze a catorze máquinas similares foram construídas, e o principal atrativo é que o primeiro MONIAC foi criado a um custo de 400 libras utilizando peças usadas de bombardeiros da Segunda Guerra.
Fabuloso, adorável, mas alguns diriam, com certa razão, não muito prático – afinal, a internet não deve ser “uma série de tubos”. Pois este não é o fim da história, conheça a fluídica.
Uma das principais vantagens da eletrônica de estado sólido integrando os nossos chips é que é uma… eletrônica de estado sólido, sem partes mecânicas ou componentes muito propensos a falhas como válvulas ou bombas. A fluídica é fascinante ao concretizar computação em que o único elemento que se move é o próprio fluido. Se na hidráulica alguns mais pedantes poderiam dizer que os computadores são também mecânicos, na fluídica são fluidos em interação que efetuam operações lógicas.
Como isso é possível? Isso é mesmo possível? Como fluxos de líquido podem fazer cálculos? Alguns diriam, “pensar”? Confira a imagem abaixo, é um computador fluídico rudimentar. Com LEGO:
E saiba mais lendo o excelente post do Murilo no Tecnologia Inteligente contando algo da história, aplicação e futuro desta área: Fluídica: Computação a Água.
Um transplante de cabeça (ou de corpo) para Stephen Hawking
Há alguns anos traduzi e publiquei um artigo contando “Uma Breve História das Cabeças de Cachorro Decepadas“. Envolvia as experiências do Dr. S.S. Bryukhonenko no Instituto de Fisiologia e Terapia Experimental na antiga União Soviética, nas primeiras décadas do século passado. Experiências com cabeças de cachorro decepadas, cortadas fora, mantidas vivas artificialmente por alguns segundos. Cabeças decepadas vivas. O tema é intrigante e perturbador.
O filme divulgando as experiências, com o singelo título de “Experimentos na Ressuscitação de Organismos“, inspirou mesmo um videoclipe recente da banda Metallica com nada menos que zumbis. Embora seja provavelmente apenas uma dramatização (e certo exagero) dos resultados reais, como Ken Freedman bem comenta no artigo, os soviéticos sim alcançaram certo sucesso na área, incluindo a criação dos cachorros de duas cabeças pelo também soviético Vladimir Demikhov. O doutor conectou a cabeça de um cachorro ao corpo de outro, e os dois (ou seria um?) viveram por certo tempo.
[Cachorros de Demikhov em exibição no Museu de História Médica na Letônia. Foto de Andy Gilham]
“Para quê criar cachorros de duas cabeças?”,você pode perguntar. E terá feito a mesma pergunta que um brilhante neurocirurgião americano chamado Robert White. Responsável por inovadoras técnicas de neurocirurgia, White sem dúvida explorou os limites mais extremos de sua área com uma idéia relativamente simples. Nada de cachorros de duas cabeças, White queria concretizar em seres bem humanos o transplante de cabeça (ou de corpo inteiro, dependendo de seu ponto de vista). E em busca de um modelo animal mais próximo de nós, concretizou seu objetivo com macacos.
Continue lendo para conferir um fascinante documentário apresentando uma entrevista recente com White, acompanhada de cenas de seus experimentos. Segundo ele, o transplante de cabeça (ou de corpo inteiro) seria possível hoje, e o físico Stephen Hawking poderia ser o primeiro a se beneficiar de tal técnica.
Aprenda a cozinhar um ovo… com ciência!
Cientistas noruegueses oferecem uma ferramenta online para cozinhar o ovo perfeito: com a gema exatamente no ponto em que você gosta. Clique para conferir.
As opções estão em norueguês, mas se as imagens não ajudarem aqui vai uma rápida tradução:
Primeira opção: O perímetro, a circunferência do ovo (multiplique o diâmetro por pi)
Segunda opção: Se você quer seu ovo com a gema dura (hard), mais ou menos (middels) ou mole (bløtt).
Terceira opção: A temperatura inicial do ovo.
Quarta opção: A sua altitude, em metros.
Na imagem capturada acima, as opções valem para mim – sim, eu medi o diâmetro de um ovo agora mesmo, e gosto da gema um pouco mole. O ovo deve sair direto da geladeira, e estou em São Paulo, a aproximadamente 750 metros acima do nível do mar.
Graças aos magníficos poderes da ciência, sei que basta ferver a água e então colocar o ovo por exatos 4:33. E como não devemos confiar cegamente na ciência – afinal, isso não seria muito científico – ainda preciso experimentar tudo isso.
A fórmula por trás da ferramenta oferecida pela Universidade de Oslo foi desenvolvida pelo Dr. Charles D.H. Williams, da Universidade de Exeter. É interessante brincar com a ferramenta norueguesa para ver que, por exemplo, para um ovo comum saído diretamente do congelador são necessários algo como 30 segundos a mais do que um ovo a temperatura ambiente. Claro, ele está mais frio. A diferença entre uma gema mole e uma dura é de dois minutos, mais do que eu imaginava. E no alto do Everest você levaria ainda mais 30 segundos para cozinhar seu ovo no ponto do que na praia.
Martin Lersch, comentando sobre a ciência dos ovos cozidos, lembra ainda que a casca dos ovos é porosa, e eles não devem ser guardados próximos de comidas com cheiro forte como cebolas. Mais curioso é que a questão das cascas trincadas durante o cozimento também já foi analisada e publicada em um estudo.
De fato, dois experimentos, “envolvendo aproximadamente 1.000 ovos“, foram realizados para averiguar se furar a casca na extremidade mais larga evita que ela trinque durante o cozimento. A prática realmente ajuda, principalmente os ovos mais velhos. O estudo publicado conclui que:
“Donas de casa devem furar os ovos antes de cozinhá-los, já que se estão frescos isso não causará problemas e se estão velhos isso prevenirá o trincamento”.
Como Lersch nota, “podemos presumir que o conselho também se aplica a homens!”.
Adicionar sal e vinagre à água também ajuda, fazendo com que a clara coagule mais rápido e feche qualquer rachadura formada.
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[via Lifehacker, com referências a Towards the perfect soft boiled egg]
A Assassina do Cotonete
“We won’t get fooled again!” – proclamam os Who ao início de cada episódio de CSI Miami. “Não nos enganarão de novo”. A vida real, entretanto, não é tão singela como Horatio Caine pinta. A polícia alemã acaba de por fim a um dos casos que lhes vem intrigande desde 1993. Naquele ano, uma mulher de 63 anos apareceu estrangulada na cidade de Idar-Oberstein sem que o assassino deixasse mais pistas que um pequeno traço de DNA.
Durante os anos seguintes, e em diferentes lugares da Europa, o mesmo rastro de DNA, pertencente a uma mulher, apareceu em até 17 assassinatos não resolvidos, sem que a polícia fosse capaz de encontrar um padrão de comportamento.
Quem era aquela misteriosa assassina procurada durante mais de quinze anos pela Interpol? A polícia científica acaba de chegar ao final da meada: a resposta está nos cotonetes utilizados pelos agentes para tomar amostras nas cenas do crime. Todos eles saíram da mesma fábrica e foram utilizados para investigar os 17 assassinatos.
Quase com toda probabilidade, a amostra genética da misteriosa mulher sem rosto pertence a uma trabalhadora que, quer por acidente ou por negligência, contaminou os bastões de algodão com seu próprio DNA durante o processo de fabricação.
Se este fosse um episódio de CSI, Horatio colocaria os óculos e pronunciaria alguma grande sacada.
Link: El fantasma de Heilbronn (DW) / Vía: Perogrullo
Tradução autorizada do imperdível Fogonazos
Os Gritos do Calor e os Espíritos do Tubo de Rijke
Com vocês, o alto e agonizante som de uma grade de metal aquecida dentro de um tubo. É uma demonstração do incrível mas pouco conhecido tubo de Rijke.
Descoberto em 1859 pelo físico holandês PL Rijke, dificilmente poderia ser mais fácil de reproduzir. Basta dispor de um tubo de certo comprimento, aberto em ambas as extremidades, inserir uma grade de metal na sua metade inferior e aquecê-la até que fique incandescente. E pronto. No vídeo acima foi usado um tubo de vidro para facilitar a visualização, mas qualquer tubo que resista ao calor serve.
Ao retirar a fonte de calor, um som muito alto e com um comprimento de onda igual ao dobro do tamanho do tubo será emitido enquanto a grade estiver suficientemente quente. Parece mágica – ou magia negra! – mas é apenas um efeito termoacústico, explicado alguns anos depois, em 1879, pelo Lorde Rayleigh.
A grade aquece o ar que tende a subir por convecção, mas enquanto ele o faz há uma interação entre a pressão cambiante no interior do tubo e a freqüência de ressonância do mesmo. Forma-se uma onda estacionária que reforça a si mesma a cada ciclo, enquanto ar quente e ar frio entra e sai por ambas as extremidades. O resultado é o grito do tubo de Rijke. Saber disso permite que se produza um som contínuo se usarmos uma resistência elétrica para aquecer a grade. Também leva a aplicações práticas em combustores que aproveitam as ondas estacionárias em seu interior para queimas mais eficientes e que poluam menos.
Interessante, não? Pois há mais. Muito mais, de espíritos e fantasmas à religião.
Darwinspeak
Não bastou formular a Teoria da Evolução. Nem que sua teoria estivesse correta fosse válida. Charles Darwin promoveu-a acima de tudo como um formidável escritor. A Origem das Espécies (PDF) é uma leitura surpreendentemente acessível, o que só se torna mais impressionante considerando sua relevância. Em retrospecto, que seja tanto seminal quanto acessível não deve ser mero acaso, isto é, que algo tão revolucionário seja exposto de forma compreensível a todo leitor educado com algum esforço explica em grande parte seu sucesso.
E que sucesso. Ben Zimmer, do Visual Thesaurus, vasculhou o Oxford English Dictionary para descobrir as contribuições do naturalista inglês para o léxico de sua língua. Darwin foi o primeiro a utilizar nada menos que 144 novas palavras. Em comparação, é em torno de um décimo das contribuições de Shakespeare. Nada desprezível. Abraham Lincoln, nascido no mesmo dia que Charles, e muito mais famoso por sua eloquência, é tido como fonte primária de uma única palavra (e uma nada notável, “Michigander“, um sujeito de Michigan).
Além de termos como seleção natural, filogenia e fertilização cruzada, o inglês que celebramos este ano levou a palavra “alfalfa” da Espanha para os anglófonos, garantindo um nome para um dos Batutinhas, assim como “rodeo”.
Vale notar que “a sobrevivência do mais forte”, como é mais conhecida em português, ou “a sobrevivência do mais bem-adaptado”, são expressões que Charles curiosamente não cunhou. O original em inglês é de Herbert Spencer, que comentou a seleção natural e sua relação com idéias econômicas.
A maior surpresa encontrada por Zimmer é sem dúvida como Darwin foi o primeiro a utilizar uma palavra para descrever os críticos religiosos de suas teorias. Em 1859, escreveu em uma carta:
“Que piada seria se eu lhe desse um tapinha nas costas quando ataca alguns criacionistas obstinados”.
Isso mesmo. Charles Robert Darwin foi o primeiro a utilizar o termo “criacionista”. “Creationism”, ou Criacionismo, já havia sido cunhado e Darwin não deve ter precisado de muito esforço para o neologismo. Mas ele o fez.
Mais algumas palavras cunhadas por Darwin podem ser conferidas nesta lista. Como Ben nota, “quem diria que Darwin foi também um pioneiro na evolução das palavras?” [via blog do irmão do Ben Zimmer]
A Evolução de Vida em 60 segundos
“A Evolução da Vida em 60 segundos é um experimento em escala: ao condensar 4.6 bilhões de anos de histórias em um minuto, o vídeo é um instrumento de tempo em si mesmo. Como um relógio especializado, proporciona uma noção de perspectiva. Tudo – da formação da Terra, passando pela Explosão do Cambriano até a evolução de camundongos e esquilos – é proporcional a todo o resto, mostrando a Humanidade em uma fração de segundo, quase indiscernível no transcorrer da história.
Cada evento na Evolução da Vida desvanece gradualmente ao longo do minuto, deixando traços tipográficos que ecoam até o tempo presente. Exatamente como nosso sangue ainda contém a água salgada de nossos ancestrais evolucionários mais antigos.”
Produzido por Claire L. Evans, este “minuto da vida” lembra o Calendário Cósmico popularizado por Carl Sagan, e como ele, pode começar um pouco lento, mas o final em compensação é repleto de ação. Vale ressaltar: o ritmo da passagem de tempo é constante. [via cgr v2.0]