Cérebros jovens e o futuro da Ciência


obtido em: www.folha.com.br

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Os ganhadores do prêmio Nobel de física e química desse ano se uniram em um discurso em prol do estímulo à entrada de jovens na carreira científica. Vou aqui me unir à convocação deles. As grandes descobertas da ciência são, em geral, produto de dois fatores igualmente importantes: conhecimento e criatividade. O próprio Einstein já dizia que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Contudo, pelo menos em um diálogo do Einstein interpretado pela Cia. Arte e Ciência no Palco de São Paulo, alguém com muita imaginação e pouco conhecimento acabaria perdendo muito tempo com perguntas que já têm respostas. Na opinião desses laureados é entre os 25 e 40 anos que as pessoas têm um melhor equilíbrio entre o conhecer e o imaginar, de forma que seria nessa faixa etária que a ciência mais progrediria. É também nessa idade que famílias são construídas, portanto, sem segurança numa perspectiva de estabilidade, pouca gente se aventuraria a tornar-se cientista. É imprescindível que se ofereça bases para que os jovens cresçam dentro da carreira científica ou o mundo carecerá de idéias em breve.

 
 

 

 
 

 

Ciência cotidiana 4 – Por que o feijão cozinha mais rápido na panela de pressão?

Alguns alimentos mais duros freqüentemente têm que ser preparados numa panela de pressão, uma verdadeira arma dentro de casa, responsável por inúmeros acidentes todos os anos. É uma panelona mais robusta, feita em aço inox ou alumínio, com uma tampa que se fecha hermeticamente (sela com perfeição) e uma válvula no alto que fica girando e esguichando vapor pelos furinhos. Uma engenhoca e tanto.

Basicamente, o que acontece no interior da panela de pressão é que, à medida que o fogo aquece o material ali dentro, as moléculas começam e se agitar mais rápido (você deve se recordar disso do post sobre o microondas) e, com isso, aumentam a pressão ali dentro. Numa panela normal essa pressão vazaria pelas frestas entre a panela e a tampa, mas a panela de pressão é vedada.

A pressão ali dentro aumenta cada vez mais. Agora vem a grande sacada. Talvez o leitor se lembre da fórmula Clapeyron (P x V= n. R. T onde P é a pressão, V o volume do recipiente, n é o número de mols presentes no recipiente, R uma constante de conversão chamada constante internacional dos gases e T a temperatura). O que essa verdadeira sopa de letrinhas significa, e que quase nenhum professor de física consegue explicar de forma menos indigesta, é que a pressão é diretamente proporcional à temperatura. Quanto maior a pressão, maior a temperatura e mais rápido o cozimento, o que torna a panela de pressão um verdadeiro inferno portátil a serviço da culinária.

Mas a pressão dentro da panela não pode aumentar indefinidamente. Por isso existe a válvula no alto da tampa, além de permitir a evasão da pressão na hora de abrir a panela. Os acidentes ocorrem quando essa válvula deixa de funcionar por algum motivo. A pressão aumenta no interior da panela além do que o metal ou a tampa conseguem suportar e o conjunto todo explode, fazendo uma grande sujeira além de colocar em perigo alguém que esteja por perto.

Manchetes comentadas 7 – Já passa de 100 o número de mortos pela chuva em SC

Nos últimos dias Santa Catarina tem passado por muitos problemas devido às chuvas torrenciais, alagamento de ruas, deslizamentos de terra e diversos outros problemas decorrentes das chuvas, como saques a mercados e contaminação da água potável. Pode-se aventar a responsabilidade das mudanças climáticas ou do El niño, mas não é sobre isso que vou escrever. Foi o crescimento populacional descontrolado que me veio à mente quando li essa manchete.

Em termos de ocupação territorial nós humanos não progredimos muito desde tempos remotos. A busca por um rio ou o mar na hora de estabelecermos nossas tribos/cidades continua até os dias de hoje. Minha cidade atual, Tangará da Serra-MT, foge um pouco disso. Mas também, foi criada em 1979. Parece que a população brasileira concentra-se cinco vezes mais nas proximidades do litoral do que no restante do país. Isso deve-se à idade das cidades, facilidade de acesso aos recursos pesqueiros e ao transporte por mar, entre outros. Isso não é muito diferente de diversos outros países, mas aqui tem conseqüências específicas.

 

Acontece que a maior parte do nosso litoral é acompanhado por um maciço montanhoso granítico conhecido como Serra do Mar. Essa serra de grande declividade fica muito próxima do litoral, espremendo diversas cidades contra seus paredões. Com o crescimento populacional e inchaço das cidades, a população começa a assentar-se morro acima. É o que se vê nas favelas cariocas, por exemplo. Aí entra um segundo fator decisivo. Devido à mesma declividade a quantidade de terra acumulado sobre essas encostas é relativamente pequena, o que torna instável qualquer coisa que se construa sobre ela. A terra tende a ficar ali desde que haja raízes e vegetação contendo-a, mas basta subtraí-la para construir casas que os deslizamentos são quase inevitáveis.

A água da chuva percola a fina camada de terra que cobre a serra do mar, em seguida encontra o maciço granítico impermeável e corre sobre ele depressa, levando consigo a terra acima, casas, pessoas e tudo o mais. Essa terra ainda irá depositar-se sobre o que estiver imediatamente no sopé do morro, soterrando-o.

A figura mais tosca que eu consegui fazer em 10 minutos para explicar percolação

É isso o que estamos observando em Santa Catarina. Efeitos do aquecimento global, possivelmente, somado a um crescimento populacional, provavelmente, e a uma má política fundiária, certamente. De fato o Brasil até conta com legislação específica para evitar esse tipo de ocupação desordenada das encostas. Mas a fiscalização e punição dos infratores, como sempre, deixa a desejar.

Nossos cidadãos vivem como os famosos lemingues do jogo de computador. Um caso que de fato ocorre nos penhascos da Noruega onde esses roedores habitam. Com comida abundante e poucos predadores alcançando seu habitat, o crescimento populacional deles é tão explosivo que os bichinhos muitas vezes despencam dos paredões superlotados, morrendo em virtude da queda. Nós humanos somos capazes de controlar boa parte dos fatores ecológicos que limitam nosso crescimento populacional. Chega, contudo, uma hora em que algum fator nos limita. No momento essa limitação restringe-se ao litoral catarinense. Quem sabe se está próximo o dia em que toda a população humana atingirá sua capacidade de carga no planeta e nossa população terá um baque como a dos lemingues?

 

Eles pelo menos têm a desculpa de que não pensaram em planejamento familiar.

Eles pelo menos têm a desculpa de que não pensaram em planejamento familiar.


Imagens obtidas em estadao.com.br, wikipedia.org e brasilescola.com