O que não te deixa esquecer a sua natureza símia?

Últimos dias para participar do sorteio. Basta deixar um comentário nesse post aqui respondendo a pergunta acima. O sorteado irá ganhar o excelente O terceiro chimpanzé, de Jared Diamond.


O autor
Fonte: http://www.geog.ucla.edu

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O camundongo bissexual

ResearchBlogging.orgNaquela manhã, fora do consultório psicanalítico…

A doutora agendara sua próxima sessão em um café reservado e pouco frequentado nas proximidades do prédio onde atendia. Ela teve que abrir mão de atender em seu consultório por dois motivos. O primeiro é que o edifício havia sido recentemente desratizado e seu próximo paciente era justamente um camundongo. O segundo era que a doutora estava novamente sem secretária, a última havia fugido do consultório no dia que a doutora recebeu um leão que se sentia culpado por ter matado o próprio enteado. O camundongo agendara uma sessão de emergência sem antecipar para a doutora o motivo, mas parecia bastante perturbado.
Lá pelas tantas entra no café um sujeitinho de chapéu, óculos escuros e sobretudo, apenas sua cauda aparecendo através da fenda no sobretudo. Ele atravessa de maneira furtiva, esquivando-se pelos cantos do recinto, até a mesa em que a terapeuta se encontra e se senta, uma mesa isolada, nos fundos, distante dos garçons e do único outro cliente.
-Bom dia, doutora. – O camundongo abre o cardápio na frente do rosto e sussurra.
– O senhor quer me explicar do que se trata isso tudo? – Pergunta a analista reclinando-se sobre a mesa.
– Doutora, em toda minha vida nunca estive tão exposto e envergonhado. Tenho vontade de sumir, morrer, me mudar para bem longe e nunca mais voltar. Já discutimos minha orientação sexual, não é? Como eu me interesso por camundongos machos e fêmeas indistintamente.
– Sr. Mus, o senhor entra em looping, reincide nos mesmos assuntos. Achei que havíamos decidido não voltar nesse tema.
– Havíamos, sim. Eu havia prometido não mais me sentir culpado por isso. Nunca mais negar minha orientação sexual. Aceitar-me mais da forma que sou. E fui de certa forma bem sucedido nisso. Tomei consciência de que ninguém tem a ver com minha vida amorosa além dos maus parceiros, machos ou fêmeas, graças à senhora. – Afirmou o roedor.
-Então por que retornamos a esse assunto?
-Doutora, caiu na internet um vídeo meu em momentos de intimidade. Minha reputação está aniquilada! Como poderei voltar a olhar o mundo nos olhos?

-Como assim “caiu na internet”? Coisas não caem na internet sozinhas, elas precisam ser colocadas ali por alguém. – A doutora retorquiu.
-Sim, eu suspeitei que havia uma câmera ali, mas não vi quem a estava manejando.
-Você viu que estava sendo filmado?
-Vi, mas…
-E mesmo assim continuou?
-Continuei, mas…
-Sr. Mus, o senhor estava desejando ser exposto. – Sentenciou a Lacaniana.
-Jamais, doutora!
-O senhor queria dizer para o mundo que gosta de meninos e meninas e encontrou sua maneira. Nunca teve intenção de permanecer escondido e eu não o condeno por isso. Você quer mostrar sua identidade sexual, isso não é errado. Mas o senhor não pode continuar negando esse desejo. Existe uma área no seu nariz, o órgão vomeronasal, que percebe os odores sexuais de parceiros. Na maioria dos machos esse órgão só dispara seus sinais nervosos quando percebe o cheiro de uma fêmea. Não é o seu caso. Isso é tudo! O seu simplesmente não discerne entre machos e fêmeas, ambos o atraem. Você se interessa pelos dois e queria contar isso por aí. Do mesmo jeito que uma adolescente passa a se maquiar e muda a forma de se vestir mostrando aos outros que está sexualmente madura, você queria sair do armário.
-Mas, mas…
-Sr. Mus, foi uma quantidade imensa de informação por hoje. Sugiro que fiquemos por aqui no momento. Vá para casa, pense nisso tudo e podemos nos ver depois novamente, basta telefonar.
A psicanalista assistiu o camundongo se distanciando. Ele estava cabisbaixo, de vibrissas pendentes. Mas o futuro era promissor, ele havia tirado os óculos e o chapéu e já não se esgueirava pelos cantos.

Liu, Y., Jiang, Y., Si, Y., Kim, J., Chen, Z., & Rao, Y. (2011). Molecular regulation of sexual preference revealed by genetic studies of 5-HT in the brains of male mice Nature, 472 (7341), 95-99 DOI: 10.1038/nature09822

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Bicho Bizarro: Kiwi


O que é o que é? Tem pena, mas não voa; é pequeno, mas bota um ovo gigante
Fonte: eol.org

O segundo bicho bizarro da série é o kiwi, ou quivi. Apesar desse animal constar de muitos livros didáticos de ensino básico, ele costuma passar despercebido. O kiwi é uma ave com asas apenas vestigiais e, portanto, incapaz de voar, tem hábitos noturnos e alimenta-se de minhocas e insetos sob a terra, mas também de frutos e sementes. Ele também é diferente de outras aves por possuir narinas na ponta do bico e um olfato bem desenvolvido. Para se reproduzir formam casais que duram diversas estações reprodutivas, embora ocorram divórcios. Tanto o macho quanto a fêmea cuidam do ovo que é um dos maiores entre as aves. Estão ameaçados não mais pelo desmatamento, mas por espécies introduzidas como gambás e cães.

ARKive video - North Island brown kiwi - overview
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Concurso cultural- O terceiro chimpanzé


O que não te deixa esquecer sua natureza símia?
Fonte: record.com.br

Recentemente fui convidado a resenhar o livro O terceiro chimpanzé, de Jared Diamond, pelo portal amálgama. Diamond é um excelente biólogo e escritor que já recebeu o prêmio Pulitzer por outra obra. No terceiro chimpanzé ele retoma a história da humanidade e suas peculiaridades sob a ótica de um naturalista. A leitura vale muito a pena.
Falando nisso, eu e a Editora Record, que publicou o livro, resolvemos dar uma força aos leitores do Ciência à Bessa. Sortearemos algum dos comentários para receber em casa um exemplar do terceiro chimpanzé. Para participar é só deixar nos comentários a sua resposta à pergunta:
“O que não te deixa esquecer sua natureza símia?”
Não deixem de preencher seu e-mail para que possamos entrar em contato depois. O prazo para submeter seu comentário e participar da promoção vai até 6 de julho, quarta-feira à meia noite. Boa sorte a todos!


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Uma cidade de fundir os miolos


Centro de Sao Paulo essa época do ano, o ar frio concentra a poluição próximo ao chão e ao seu nariz
Fonte: http://csm7anod.pbworks.com/

Essa semana a revista Nature publicou um estudo sobre os efeitos da vida nas megalópoles sobre o cérebro. Em 2006 eu deixei a enorme cidade de São Paulo para trás e a troquei pela pequenina Tangará da Serra, no interior de Mato Grosso. Nunca fui muito fã de grandes centros urbanos e a vida em Sampa frequentemente me dava desespero. Óbvio que adorava as agitações culturais, teatros, shows, bons restaurantes e livrarias; adorava acima de tudo meu reduto uspiano, o Instituo de Biociências. Nada disso, no entanto, me garantia um futuro ou amenizou as pressões para sempre, assim que fui aprovado na UNEMAT mudei-me para cá.
O número de seres humanos vivendo em cidades, que está em cerca de 3,3 bilhões de pessoas, deve atingir 70% da humanidade em quarenta anos. É sabido que serviços de saúde são mais frágeis fora das cidades e que as zonas rurais têm outros problemas (como as recentes descobertas de agrotóxicos no leite materno aqui em MT). No entanto a vida nos grandes centros reconhecidamente aumenta em 30% as chances de você desenvolver depressão ou síndrome do pânico e a sua chance de desenvolver esquizofrenia dobra se você mora ou nasceu e passou seus primeiros anos de vida numa megalópole. Provavelmente a alta densidade populacional que Tangará ainda não tem é que proporciona a saúde que eu busco e que São Paulo me negava.
O estudo de autoria de Florian Lederbogen correlacionou viver na cidade com atividade em áreas cerebrais relacionadas a doenças psiquiátricas e à violação da privacidade ou espaço pessoal sob estresse. Como o estudo só buscou correlações, e não causa e consequência, passos posteriores são necessários para saber como uma coisa leva à outra, mas os resultados são preocupantes. Quer dizer, preocupantes para aqueles que ainda vivem na cidade grande, eu estou feliz com a minha opção e satisfeito com a vida em Tangará.


Centro de Tangará essa época do ano, a seca estimula os ipês rosas a entrar em floração.
Fonte: diariodetangara.blogspot.com

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Bicho Bizarro: Társio


Társio, para os filhos dos anos 80, praticamente um Gremlim
Fonte: eol.org

O personagem inicial da série “Bicho bizarro” é uma pérola da zoologia, o társio. Este primata de distribuição restrita a algumas ilhas nas Filipinas ou Sudeste asiático possui uma aparência estranha e simpática: pelos castanhos, grandes orelhas arredondadas e enormes olhos. São noturnos e vivem em árvores. Para grudar-se nos troncos utilizam-se de garras (semelhantes às de um gato) em dois dedos dos pés, enquanto todos os outros dedos possuem unhas (semelhantes às humanas), também possuem estruturas nas mãos e pés para aderir melhor ao tronco. Se alimentam de insetos que saltam para apanhar usando os ossos dos pés (os tarsos, daí seu nome) e dos dedos alongados.

ARKive video - Spectral tarsier feeding

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Pensamento de Segunda

Dentro de alguns anos um aparelho simples e barato, capaz de ser transportado por qualquer um, permitirá receber  em qualquer lugar as principais notícias, ouvir uma palestra, um discurso uma música ou uma peça de um instrumento musical feita em qualquer outra região do planeta.

 

Nikola Tesla mostrando-se ou o novo Nostradamus, ou o mentor do Steven Jobs

Fotografias de tirar o fôlego

Saiu a exposição dos vencedores de 2010 da Nature’s best Photographies. Essa revista oferece anualmente um prêmio e uma exposição no Museu de História Natural Smithsonian, em Washington, EUA, com as melhores fotografias de vida selvagem de cada ano.
É uma coleção de cliques incríveis, tirados em momentos decisivos do dia-a-dia de animais em seu ambiente natural. Imagens de dar inveja em qualquer entusiasta dessa arte na qual a luz impressiona o sensor e a foto impressiona o expectador. A imagem campeã é esta abaixo de uma águia pescadora dando o bote em sua presa, mas neste link você acessa a exposição completa.

Fotografia vencedora de Peter Cairns, um Cartier-Bresson da vida silvestre
Fonte: naturesbestphotography.com

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Ciência à Bessa no Top Blogs Brasil

O Ciência à Bessa está pela primeira vez concorrendo ao Top Blog Brasil. Você que curte o blog pode me ajudar votando nele nesse concurso importante. Para isso é só clicar no link abaixo, fazer seu cadastro e entrar para votar. O Ciência à Bessa está inscrito na categoria “Animais e Bichos”. Não deixe de apoiar o blog!

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A marmota fóbica

ResearchBlogging.org

Naquela manhã, no consultório psicanalítico…
-Doutora, acho que o próximo cliente chegou. – Avisou a recepcionista. -Acho melhor a senhora vir recebê-lo.
A terapeuta se perguntava de que adiantava ter uma recepcionista que não recebe os clientes quando se lembrou quem estava agendado para aquele horário, um jovem machinho magricela da marmota de barriga amarela. O bichinho era um caso de fobia daqueles de ilustrar livro-texto! Jamais ficaria a sós na sala de espera com a recepcionista novata. Sua última secretária foi dispensada depois de exigir um altíssimo adicional por insalubridade. Ela se apavorou com a antessala do consultório coberta de serpentes de jardim num frenesi sexual grupal. Não adiantou dizer que as serpentes eram totalmente inofensivas, exceto para as lesmas.
Na recepção a marmota enfiava lentamente a carinha pela porta sem tirar os olhos da secretária, assim que ela olhava para o cliente, este fugia guinchando apavorado.
-Pode entrar, Sr. Marmota, está tudo seguro por aqui. – Gritou a psicóloga sem perseguir o cliente. O animalzinho entrou se esgueirando pelos cantos, o mais distante que conseguia da secretária e sem desgrudar os olhos desconfiados dela.
Dentro do consultório o roedor sempre ficava mais confortável, subiu no divã e encarou a doutora.
-Seu coração está disparado e a respiração ofegante. Está tendo um ataque de pânico?
-Nada disso, doutora. É que subi de escadas.
-Ao 16° andar!?
-É que tenho medo de elevador.
-Sim, me recordo. E como foi a vinda para o consultório hoje?
-Tensa como sempre, né doutora. Detesto caminhar pela cidade. Cada rua que atravesso tenho certeza de que serei atropelado. Cada pedestre que cruzo penso que é um bandido. Mas sei que preciso vir, senão nunca mais sairia da minha toca.
-Compreendo. Que bom que você enfrentou seus receios e veio me ver hoje. Já faltou a duas sessões recentemente, não? Deixe-me consultar minha agenda…
Ao abrir a gaveta o móvel soltou um rangido que foi suficiente para iniciar o rebuliço. Seu cliente saltou de cima do divã numa fração de segundos, enfiando-se no estreito vão sob uma cômoda de madeira sobre a qual a doutora deixava um busto de porcelana do Freud e outro do Lorenz. Com o solavanco os dois pensadores despencaram espatifando-se no chão. A psicanalista correu de sua cadeira em socorro aos bibelôs quando já era tarde demais, mas seu rompante fez a marmota fugir novamente, dessa vez para baixo da poltrona da doutora.

Machos jovens são tanto mais responsivos a gritos de alarme quanto mais susceptíveis à predação

Fonte: http://ecobirder.blogspot.com/

-Que bagunça! Olha o que o senhor fez com meu consultório! O que foi que houve?
-Um grito! Escutei alguém emitir um grito de alarme. Um coiote deve estar por perto, fuja doutora. – sussurrava o roedor apavorado.
-Não há nem coiote nem grito de alarme, Sr. Marmota. Foi só minha gaveta que está emperrada. E olha o estado que ficou a minha sala! Saia já de baixo da minha poltrona. -Exigiu a psicanalista enquanto puxava de seu esconderijo o cliente que se segurou como pode.
-A senhora tem certeza? Nenhum coiote? -Perguntava a marmota de olhos arregalados e garras cravadas no chão.
A terapeuta, cenho franzido e olhos vidrados, segurou o cliente pelo que seria seu colarinho enquanto observava o caos que se instalara ao redor.
-Senhor Marmota, eu até compreendo que, sendo um macho jovem e não estando na sua melhor forma física, o senhor tem motivos para se preocupar. Mas o senhor sabe que aqui no consultório está seguro. Por que fez essa bagunça toda? Você quebrou meus enfeites!
A doutora colocou seu cliente amedrontado no chão, já meio arrependida do rompante. Ela juntou os cacos dos bibelôs com os pés, recolocou a poltrona no lugar e esticou o tapete no chão. Enquanto isso a marmota recobrava o fôlego de volta ao divã. Na hora em que foi devolver a agenda para a gaveta a psicanalista esqueceu do barulho. O Sr. Marmota saiu pela porta como um foguete, mas a doutora não o seguiu. Melhor assim, mas preciso lubrificar essa gaveta.

Lea, A., & Blumstein, D. (2011). Age and sex influence marmot antipredator behavior during periods of heightened risk Behavioral Ecology and Sociobiology DOI: 10.1007/s00265-011-1162-x

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