Brasil Ameaçado – Sauím de Coleira

Este lindo primata está ameaçado pela fragmentação de nossa maior floresta. (Imagem: Udo Schröter)

O sauím de coleira é um pequeno primata que vive próximo à cidade de Manaus. Como é comum entre os primatas, rios servem de barreira geográfica e isolam populações. O sauím de coleira está isolado ao norte do Amazonas, leste do Negro e sul do Cuieiras. Uma espécie aparentada, Saguinus midas cerca o sauím de coleira e parece estar excluindo nosso personagem de hoje por competição. O sauím de coleira vive em grupos de cerca de dez indivíduos, apenas uma fêmea do grupo se reproduz e dá à luz dois filhotes no início e no fim do ano. Mesmo assim sua população vem declinando nos últimos anos, o que deixou essa espécie criticamente ameaçada de extinção. Isso se deve principalmente à fragmentação do habitat na periferia de Manaus. O controle de natalidade é uma saída para o crescimento populacional humano que ameaça essa espécie, assim como para a maioria das que apresentei nessa série.

Brasil Ameaçado – Proceratophrys sanctaritae

Esse sapo folha é vítima do uso irracional da água, mas também do chocolate. (Imagem: Rafael Abreu)

Esse sapo folha é vítima do uso irracional da água, mas também do chocolate. (Imagem: Rafael Abreu)

Essa espécie de sapo-folha habita a Serra do Timbó, Bahia. São sapos diurnos que vocalizam em coro nos dias chuvosos para atrair parceiras. Acasalam em poças rasas onde seus girinos irão se desenvolver. Vivem quase o tempo todo no chão do interior de matas densas. Habita a floresta tropical semi-decidua em altitudes de 800 a 900 m acima do nível do mar. A principal ameaça à espécie é o desenvolvimento de culturas como a banana e o cacau, que ocupam as matas onde esses animais vivem. Secundariamente, as nascentes da Serra do Timbó estão secando devido à exploração exagerada nas cidades que cercam a unidade de conservação. Dessa forma, usar água com mais consciência é uma medida simples e que pode ajudar espécies como esse sapo-folha.

Brasil Ameaçado – Toninha Franciscana

Toninha franciscana, pequenas e encurraladas em águas rasas são alvo fácil da captura acidental em redes de pesca. (Imagem: Wurtz-Artescienza)

A Toninha franciscana é um golfinho marinho, mas que entra em estuários. São animais relativamente pequenos (1,80 m e 50 kg). Ele vive em águas rasas onde caça peixes como as corvinas. Essa espécie ocorre desde o norte da Argentina até o Espirito Santo onde a água e a alimentação são adequadas. Ao contrário da maioria dos golfinhos, as toninhas não formam grupos numerosos, vivendo geralmente isoladamente. Sua maior ameaça é a captura acidental nas redes de arrasto. Por isso, para preservá-las compre apenas peixes de pescadores que usam tecnologia dolphin safe. O lixo que jogamos nas praias também é frequentemente ingerido por esses animais.

Brasil Ameaçado – Jacu estalo

Ele imita porcos do mato, ele persegue formigas, ele está criticamente ameaçado. (Imagem: Le Jeune)

O Jacu-estalo é um parente dos abundantes anus, mas está criticamente ameaçado. Essa ave Cucculiforme tem uma distribuição bastante estranha, já tendo sido encontrada no Espirito Santo, Minas Gerais, Tocantins, Bahia e Maranhão, então há uma larga faixa onde ela nunca foi registrada e novos registros existem para o Acre, o Peru e a Bolívia. É possível que a espécie exista em terras intermediárias, mas nunca tenha sido registrada, alternativamente pode já ter sido extinta nessa faixa. Em todo caso, espécies de distribuição ampla ameaçadas de extinção são mais raras do que as fortemente endêmicas. A população mais ameaçada é a que se encontra na Mata Atlântica brasileira. São animais relativamente grandes (~54 cm) que andam no chão da mata atrás de insetos ou voam seguindo correições de formigas comendo as presas que a correição deixa escapar. O som que produz é um estalo seco que faz lembrar o bater de dentes de um porco do mato, daí alguns de seus nomes populares, como Taiassuíra (do Tupi ave porco do mato). Por dependerem de matas intactas para viverem, o jacu-estalo está criticamente ameaçado. Gosta de café? Então procure produtores dedicados a produzi-lo de maneira sustentável e preserve o Jacu-estalo. É que o café é muito produzido em locais onde antes havia Mata Atlântica primária. Preferindo produtores ambientalmente responsáveis você evita que mais matas sejam substituídas por cafezais.

Brasil Ameaçado – Noronhomys vespuccii

O personagem dessa semana está tão extinto que nem imagem dele sobrou. O rato Noronhomys vespuccii é o primeiro exemplo registrado de extinção de um animal devido às grandes navegações. A IUCN atribui inúmeras extinções a esse processo de colonização, mas poucos foram devidamente documentados como no caso desse roedor. O Rato de Noronha também seria o primeiro mamífero brasileiro extinto. Sua extinção é atribuída à introdução de um competidor voraz, o rato europeu, Rattus rattus. Paralelamente predadores introduzidos, como cães e gatos, e a caça aceleraram ainda mais o processo. Quase nada se sabe sobre a biologia dessa espécie. A única descrição deles vivos foi feita por Américo Vespúcio, que foi homenageado no nome desse roedor. Essa espécie mesmo já era, mas outras espécies nativas podem ser protegidas colocando um guizo na coleira do seu gato. Assim você o impede de atacar sorrateiramente um animal nativo.

Etologia de Alcova – Idolatria à castidade

Não largo, não largo, não largo! Alguns machos garantem a castidade de suas parceiras se agarrando bem a elas (Imagem: Rickard Ignell)

Engana-se quem pensa que a idolatria à castidade feminina é uma construção cultural humana, ou pelo menos apenas uma construção cultural nossa. Existem sim algumas influências biológicas nisso. Uma forma do macho de qualquer espécie garantir seu sucesso evolutivo é convencer uma fêmea a dar a ele alguns preciosos óvulos, já discutimos isso ao longo dessa série. Se, no entanto, aquele macho não tiver certeza se serão os seus espermatozoides a fecundarem os óvulos da fêmea, se eles competirem com o esperma de outros machos, então isso diminuirá o sucesso adaptativo daquele macho. Por isso, machos que consigam garantir a castidade de suas fêmeas tendem a deixar mais descendentes, uma medida de sucesso evolutivo.

Um exemplo de comportamento que ajuda a garantir a castidade da fêmea é a sua guarda. Machos de animais como a aranha papa-mosca ou o siri azul buscam fêmeas antes delas chegarem à idade adulta e ficam na cola delas até elas começarem a produzir óvulos. Assim que elas se tornam sexualmente maduras os machos copulam com essas fêmeas virgens. Ao serem os primeiros a copular, esses machos encherão a espermateca das fêmeas, uma espécie de reservatório de sêmen, e seus gametas poderão ser usados por muito tempo para fecundar os óvulos daquela parceira.

Em outras espécies, é mais importante para o macho evitar que sua parceira volte a acasalar. Nesses casos o tipo de guarda mais comum é a pós-cópula. Animais que vão de grilos a cervos não saem de perto de suas parceiras depois da cópula. Permanecem ali por um tempo equivalente àquele necessário para seu esperma fecundar os óvulos, evitando que qualquer concorrente se aproxime e reduza suas chances de ser pai. O problema dessa técnica é que ela toma tempo do macho, um tempo que poderia ser investido em localizar, cortejar e copular com outra parceira (em espécies nas quais o macho irá colaborar muito pouco no cuidado aos filhotes as fêmeas tendem a cobrar menos a fidelidade de seus parceiros).

Foi para evitar essa perda de tempo e de novas oportunidades reprodutivas que muitas espécies inventaram o cinto de castidade. É isso mesmo, a evolução favoreceu bizarrices que conhecemos como plugues sexuais. Parte do sêmen do macho se solidifica e obstrui a abertura genital da fêmea, impedindo-a de acasalar com outro macho. A tática é amplamente explorada, ocorrendo em moscas da fruta, primatas, borboletas, serpentes e aranhas, entre muitos outros. Um resultado interessante dessa guarda indireta de parceiras é que o macho não precisa ser grande e forte para defender a parceira se usar um plugue, então espécies que usam plugues não apresentam tanta diferença de tamanho entre machos e fêmeas.

A castidade feminina permeia nossa cultura fortemente, mas não são só os machos humanos que se preocupam com a castidade de suas parceiras.

Brasil Ameaçado – Maçarico esquimó

O maçarico esquimó foi tão mal recebido no Brasil que resolveu não voltar mais. (Imagem: Le Jeune)

Sabe aquele lugar que você visita uma vez e decide nunca mais voltar? O Brasil é um desses para o maçarico esquimó. Essa ave migratória vinha ao Brasil em especial São Paulo, Mato Grosso e Amazonas, mas, com a ocupação dos campos pela pecuária e a agricultura, o habitat que elas visitavam aqui deixou de existir e elas pararam de vir ao Brasil. Na verdade a população dessa espécie como um todo foi muito caçada na América do Norte e declinou bastante, mas muitas dessas aves seguem vivendo em outros lugares do mundo, embora não venham mais ao nosso país. Seu bico longo e curvo a ajuda a revirar o solo em busca de alimento. Por isso mesmo evitar a compactação do solo seria uma forma de preservar essa espécie.

Brasil ameaçado – Phrynomedusa fimbriata

Não, essa não é a perereca do Brasil ameaçado de hoje, é uma espécie do mesmo gênero porque P. fimbriata está extinta. (imagem: Hugo Klaessen/Wikipedia)

Essa pererequinha só é conhecida pelo seu holótipo. Foi descoberta em Santo André, região metropolitana de São Paulo, mas possivelmente ocorria em outras matas de altitude superior a mil metros desde o Paraná até o Rio de Janeiro. É um animal arborícola que se reproduzia em corredeiras da Mata Atlântica, fora isso não sabemos quase nada de sua vida já que há 80 anos nenhum exemplar é avistado apesar de intensas buscas já terem sido feitas. A expansão urbana desordenada de São Paulo provavelmente é a principal responsável por esta extinção. Para evitar que outras espécies tenham o mesmo destino é importante reservar áreas verdes dentro das grandes metrópoles.

Brasil ameaçado – Peixe cachimbo (Micrognathus erugatus)

Um peixe cachimbo raro brasileiro, sua empadinha de camarão custa a vida dele (Imagem: Herald & Dawson, 1974)

Um peixe cachimbo brasileiro raro, sua empadinha de camarão custa a vida dele (Imagem: Herald & Dawson, 1974)

Essa espécie de peixe cachimbo foi descrita a partir de um único exemplar e sua coleta tem sido difícil desde então. É um peixe de fundo aparentado aos cavalos marinhos, mas com o focinho curto e o corpo alongado. São micropredadores, alimentando-se de pequenos invertebrados que vivem no fundo do mar entre algas, rochas e na areia. Os machos guardam os ovos até a eclosão numa dobra de pele ventral, o que restringe o número de filhotes e ameaça as populações. Por viver sempre junto ao fundo, esses animais são ameaçados pela pesca de arrasto muito comum para a captura de camarões. Para ajudar a salvar os peixes cachimbos consuma camarões de criação em vez dos provenientes da pesca no mar.

Brasil ameaçado – Pato mergulhão

Pato mergulhão, um brasileiro ameaçado por suas exigências. (Imagem: Claudio Dias Timm)

O pato mergulhão (Mergus actosetaceus) necessita de riachos rápidos e cristalinos para viver. É um animal migrador e encontrar locais que atendam suas exigências é cada vez mais difícil. Eles alimentam-se de caramujos, peixes e larvas aquáticas de insetos e fazem ninhos nos ocos de árvores próximas aos rios onde se alimentam. Por isso, o desmatamento das margens dos rios e a poluição dos recursos hídricos tem contribuído para seu desaparecimento. Só restam cerca de 250 desses animais no Paraguai, Argentina e Brasil, onde vivem no Jalapão, Chapada dos Veadeiros e Serra da Canastra. É na Canastra que os melhores resultados têm sido obtidos para a recuperação dessa espécie graças à qualidade da água nas cabeceiras do São Francisco. Novamente, é importante que não desmatemos a beira dos córregos para ela filtrar a água da chuva que chega aos rios e para proporcionar local de nidificação para o pato mergulhão e outros animais.