Brasil ameaçado – Pato mergulhão

Pato mergulhão, um brasileiro ameaçado por suas exigências. (Imagem: Claudio Dias Timm)

O pato mergulhão (Mergus actosetaceus) necessita de riachos rápidos e cristalinos para viver. É um animal migrador e encontrar locais que atendam suas exigências é cada vez mais difícil. Eles alimentam-se de caramujos, peixes e larvas aquáticas de insetos e fazem ninhos nos ocos de árvores próximas aos rios onde se alimentam. Por isso, o desmatamento das margens dos rios e a poluição dos recursos hídricos tem contribuído para seu desaparecimento. Só restam cerca de 250 desses animais no Paraguai, Argentina e Brasil, onde vivem no Jalapão, Chapada dos Veadeiros e Serra da Canastra. É na Canastra que os melhores resultados têm sido obtidos para a recuperação dessa espécie graças à qualidade da água nas cabeceiras do São Francisco. Novamente, é importante que não desmatemos a beira dos córregos para ela filtrar a água da chuva que chega aos rios e para proporcionar local de nidificação para o pato mergulhão e outros animais.

Brasil Ameaçado – Lambari Astyanax eremus

Astyanax eremus, um lambari solitário com um futuro duvidoso. (Foto: Neotropical Ichthyology/scielo.br)

Uma das coisas mais tristes dessa lista de espécies ameaçadas do ICMBio foi ver tantas espécies recém-descritas, é o caso do lambari Astyanax eremus dessa semana, que foi descoberto pelos cientistas apenas ano passado (2014). Isso significa que tem grande chance de que espécies estejam se extinguindo antes mesmo de serem descobertas. Astyanax eremus só foi descrito pelos cientistas e reconhecido como uma espécie diferente, quase nada se sabe sobre seu papel na natureza. Não conhecemos de que eles se alimentam, quem se alimenta deles, como é sua reprodução, é um ilustre desconhecido. E quem me dera Astyanax eremus fosse uma exceção, ao contrário, muitas espécies estão assim e teremos outros exemplos até o final do ano. Um dos principais problemas que levou esse lambaria à situação em que se encontra foi sua distribuição geográfica restrita. Ele vive num córrego de cabeceira afluente do Rio Iguaçú no Paraná, num trecho curto de rio isolado por duas cachoeiras e margeado por um capão remanescente de Mata de Araucária. Era o único peixe presente ali (daí o eremus, de eremita, em seu nome científico), uma paisagem muito frágil e efêmera, que numa ação de um fazendeiro pode dizimar toda a espécie. Mesmo assim, ainda podemos fazer alguma coisa por ele, valorizem o trabalho dos cientistas taxonomistas e não desmatem as margens dos rios obedecendo ao código florestal.

Por que o código florestal que tramita no congresso não pode ser aprovado: Matas ciliares

A proposta de código florestal entregue ao congresso sugere a redução nas áreas vegetadas às margens de rios com menos de 5 m de largura. A redução das matas ciliares legalmente protegidas será de 30 m a partir da margem do rio na cheia para 15 m a partir da margem do rio na seca para cada lado. Os rios mais afetados por esta mudança seriam os de cabeceira, rios já muito degradados por pastagens e assoreamento.

ciliar Metade das espécies de anfíbios da Mata Atlântica são restritas a este ambiente, 45 espécies de peixes ameaçados de São Paulo só ocorrem nestes riachos de cabeceira, sem falar em borboletas, mamíferos semi-aquáticos e plantas restritos a este ambiente. As matas ciliares servem de corredores para a dispersão de vegetais e conexão de populações isoladas pela fragmentação da paisagem, impactos em áreas de cabeceira descem os rios com a correnteza afetando-os como um todo. Impactos aí podem resultar em epidemias de dengue e hantavirose, entre outras doenças.

A preservação das matas ciliares e seu referencial a partir da margem do rio na cheia são essenciais para a manutenção destes ambientes e de outros que dele dependem. Em vez de reduzir a área de reserva às margens dos rios o novo código florestal deveria estimular sua recuperação.