Eduardo Bessa entrevista a Ariranha

Além da entrevista com o Johny e seus peixes-boi eu aproveitei a ida a Manaus para conversar com o Prof. Fernando Rosa, também do INPA. O Fernando é uma dessas pessoas que entrega o gosto que tem pelo seu objeto de estudo na primeira vez que fala deles, seja por um brilho nos olhos, seja pela disponibilidade em atender e conversar comigo. Nesta entrevista (que teve um pequeno probleminha técnico com relação ao som que eu não dei conta de corrigir, mas que não atrapalhará se você aumentar o som) conversamos sobre um acidente entre uma ariranha, uma criança e um bombeiro ocorrido no zoológico de Brasília que virou uma lenda urbana nacional, discutimos conservação das ariranhas, comportamento desses animais e os prazeres e agruras do trabalho com mamíferos aquáticos no Brasil.

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Pensamento de Segunda

Quando alguém mais velho for falar, ouça-o com atenção, mas não acredite nele por isso, por mais que possua cabelos brancos ou um prêmio Nobel. O progresso da humanidade depende de pessoas mais novas descobrirem o que há de errado com as ideias de pessoas mais velhas.

 

Linus Pauling

Um diálogo chato entre um cientista e um pós-modernista



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Pós-moderinista: Ei, cientista,
os conhecimentos científicos são só uma invenção humana.

Cientista: É, mas ela funciona.

Pós-modernista: E toda essa
história de suficiência amostral e método de coleta e muito mais é pura
arbitrariedade.

Cientista: Sim, mas uma
arbitrariedade que funciona.

Pós-modernista: Além disso, o
resultado de tanto trabalho não é definitivamente a verdade absoluta.

Cientista: Não, mas funciona.

Pós modernista: E vocês cientistas
não conseguem atingir a neutralidade que desejam nas pesquisas que fazem.

Cientista: Não totalmente, mas
ainda assim fnciona.

Pós-modernista: E esse
conhecimento que o povo acredita ser puro e imparcial é um produto da cultura
na qual vocês estão inseridos.

Cientista: É, mas ele funciona.

Pós-modernista: Além do mais, a
indução dos resultados necessária à generalização que vocês tanto valorizam
pode não acontecer sempre.

Cientista: Pode, mas em geral
funciona.

Pós-modernista: Com todos estes
defeitos, por que é que você continua fazendo ciência?

Cientista: Por que ela funciona.

Pós-modernista: Ai, não dá para
discutir com estes cientistas bitolados. Eles não têm profundidade de
argumentos.

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A milhafre obsessiva

ResearchBlogging.orgNaquela manhã, no consultório psicanalítico…

A doutora já esperava o aviso de sua secretária quando escutou um barulho na janela do consultório. Apesar de ter amplas janelas de onde se podia ver boa parte da cidade, raramente as cortinas estavam abertas, dando ao consultório um escurinho uterinamente aconchegante. Ao afastar as pesadas camadas de Blackout a doutora reconheceu a cliente marcada naquele horário, uma fêmea do milhafre preto, um gavião migrador, com duas sacolas presas às possantes garras. Na mesma hora a doutora contraiu ligeiramente o canto da boca num sinal reprimido de desaprovação.

-Bom dia, Sra. Milhafre, eu a esperava pela porta da frente.

-Bom dia, doutora. Vim direto do shopping, o caminho mais curto era pela sua janela. Me perdoe.

-Era o caminho mais curto ou a senhora estava evitando minha sala de espera? – Os olhos da ave, em geral ameaçadores, ficaram vazios e ela engoliu seco. Havia algum tempo a analista precisou reprimir esta cliente que estava decidida a redecorar seu consultório e antessala. Ela alegava que mudanças eram necessárias. Na falta de resposta a analista prosseguiu. -Fazendo compras novamente então? – Perguntou fitando as sacolas da Etna e Tok Stok.

-Pois é, doutora, mas juro que não foi por compulsão. Estávamos precisando de umas coisas para casa. Olha essa capa de almofada, que coisa mais linda! Combina com o tapete da mesa de centro e as flores secas. E estes quadros que vou colocar na cozinha, que mimos. Achei baratinhos dois jarros…– A doutora, que acabara de desistir de prestar atenção, certamente não conhecia o ninho da Sra. Milhafre, mas, dado o volume de presentinhos domésticos que ela trazia a cada sessão, ou morava em um palacete ou em um relicário abarrotado de quinquilharias.

-A senhora quer me explicar por que é que estava “precisando” dos enfeites que trouxe desta vez? Convença-me de que estes artigos não são supérfluos. – À primeira vista a doutora teria rotulado esta paciente de leviana, mas ela sabia que ali havia um problema mais grave.

-Doutora, eu sei o que a senhora vai me dizer. Que eu uso isso de cuidar da casa para chamar a atenção do meu parceiro. Que é seleção sexual. Que minha obsessão é uma forma de chamar a atenção e ser mais amada. Que eu preciso encarar meus problemas de frente em vez de me esquivar. Mas dessa vez não é isso! – A analista a encarava curiosa de aonde a gavião queria chegar. – A senhora não entenderia, mas eu me sinto muito mais segura quando meu ninho está enfeitado. Lembro-me de quando era apenas uma mocinha e meu ninho era sem graça, nenhum enfeite. Meus filhotes demoravam séculos para se emplumar e vinham sempre de um em um. Sabe quantos ovos botei este ano? Três ovos, doutora! Todos nasceram saudáveis e estão crescendo lindos. Isso jamais aconteceria num ninho feio.

A Milhafre em momento nenhum olhava para a analista, ela não tirava os olhos de um quadro de Niko Timbergen que a psicóloga havia propositalmente entortado antes da sessão a título de teste. A ave tomou fôlego e prosseguiu. – E sabe do que mais? Até os engraçadinhos sem-teto que viviam invadindo meus ninhos antes de eu começar a enfeitá-los desistiram de se aproximar. É, de longe meu lindo lar demonstra que ali vive uma família sólida e decidida a cuidar do que é seu. Tenho muito menos trabalho com malandros hoje em dia. Só preciso evitar que alguém encontre e coma meus ovos, mas ladrões de ninhos, nunca mais.

– Estou convencida, Sra. Milhafre. A senhora está de alta! – Sentenciou a doutora.

– Quer dizer que estou curada?

– Não precisa mais voltar aqui. – Concluiu a analista sem responder diretamente à pergunta.

A milhafre antes de retornar ao consultório para pegar suas sacolas

Fonte: rezowan.wordpress.com

A doutora acompanhou a cliente até a janela de onde ela alçou voo com uma sacola em cada pé. Seu voo era livre e confiante como a doutora nunca havia visto, mas por dentro ela se perguntava. Se toda aquela racionalização estivesse correta, então sua obsessão pelo ninho era boa e deveria ser mantida. Se fosse apenas um subterfúgio, a analista já estava cansada de assistir sua cliente se justificando e repetindo os mesmos erros. Para se enganar era melhor que ela economizasse nas consultas. De todo modo o mais correto era dispensá-la das sessões.

Sergio, F., Blas, J., Blanco, G., Tanferna, A., Lopez, L., Lemus, J., & Hiraldo, F. (2011). Raptor Nest Decorations Are a Reliable Threat Against Conspecifics Science, 331 (6015), 327-330 DOI: 10.1126/science.1199422

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Pensamento de Segunda

Meu pecado prodigioso foi, e continua sendo, ser um inconformado.

 

Charles Chaplin

Doutores demais?

Ao Rafael, que nada disso o aflija

Algumas semanas atrás saiu na Nature (Jenifer Rohn, Give postdocs a career, not empty promises. Nature 471, 7 (2011); doi:10.1038/471007a) uma matéria acerca do que fazer com os doutores que se formam sem que haja vagas suficientes para absorvê-los. A autora sugere abrir uma nova carreira de pesquisador auxiliar em um laboratório já estabelecido e reduzir o número de pessoas aceitas para o doutorado ou o pós-doutorado em função do número de vagas disponíveis no mercado de trabalho, evitando assim as falsas esperanças referidas no título. O texto desencadeou uma onda de comentários que eu nunca tinha visto em matérias desta coluna. Boa parte deles fizeram dos comentários um consultório sentimental dando vazão a seus medos e experiências ruins. No entanto, não me senti de todo confortável com a posição da autora, ao que responderei aqui.
O principal temor da autora era a escalada de buscas por cursos de pós-doc como uma alternativa à falta de um emprego formal para os pesquisadores (e tenham em mente que no exterior a indústria tem muito mais olhos para os cientistas do que no Brasil, ampliando a área de atuação do cientista). De fato, outra matéria da Nature aponta que 43% dos doutores formados procuram um pós-doutorado, 16% fazem um segundo pós doc e 3,6% um terceiro. Não se sabe quantos destes o fazem em busca de maior conhecimento, incremento das redes de trabalho ou para aprender uma nova técnica, mas a autora acredita que a maioria é levada ao pós-doutorado simplesmente por falta de emprego. Felizmente o Brasil passa por um período diferente deste anunciado nas duas matérias, pelo menos em comparação com o passado recente. A crise financeira ainda afeta o orçamento de muitas instituições de pesquisa nos EUA e na Europa, enquanto que a política brasileira tem investido fortemente nas universidades, inclusive em contratações. Desta forma, talvez estejamos em situação menos desesperadora. E é exatamente por aí que vai minha discussão.
Se uma coisa é certa nesse mundo é que as coisas irão mudar. Se estão boas irão piorar, se estão ruins uma hora melhoram. Então, se reduzimos hoje as vagas de doutorado e pós-doc, o que nos garante que em breve o número de empregos não irá aumentar e então teremos escassez de pessoas aptas a ocupá-las? Cercear a qualificação em relação à disponibilidade de empregos seria um tiro no pé. Imagine se quando o mercado mudasse os cursos de pós reabrissem suas vagas de doutorado. Vagas não podem esperar por quatro anos para serem preenchidas, elas terminariam por ser ocupadas por pessoas com menor qualificação e os doutores formados dali a quatro anos permaneceriam sem emprego. Assim como a instituição que teve que se dobrar e contratar mestres teria de abrir mão deles em seguida para que estes se qualificassem.
Em conclusão, formar profissionais que terão que duelar a faca as vagas existentes pode ser uma boa maneira de obter os melhores, mas não é por isso que vale a pena manter as taxas atuais de pós-graduados. Flutuações que virão com o tempo têm que ser previstas e supridas pelos pensadores que devem ser formados na pós graduação.

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Pensamento de Segunda

Eu prefiro a crítica mais afiada de um único homem à aprovação impensada das massas.

 

Johannes Kepler

Arte e Ciência 3- Escher no Rio

Que tal usar conceitos de geometria e neurofisiologia para compor obras de arte? É isto que M. C. Escher fez em suas obras que estão em uma exposição no CCBB do Rio de Janeiro até o dia 27 próximo. A exposição conta com um conjunto de obras do artista, um vídeo 3D sobre seus sólidos impossíveis e um conjunto de instalações sobre as obras que usam ilusões. Tudo muito bem feito e organizado, vale a visita.


Por trás de todo homem existe uma grande mulher.

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Pensamento de Segunda

Pesquisa científica é algo que se aprende majoritariamente com um mentor. Apenas em associação estreita é possível aprender como ele raciocina, opera e planeja de forma a atingir e manter a posição de liderança. Um aluno com talento apenas moderado pode ser potencializado de forma a atingir resultados importantes ao associar-se com o orientador certo.

J. E. Oliver

Eduardo Bessa entrevista o Peixe-boi

Nesse início de ano participei do Encontro Brasileiro de Ictiologia, em Manaus. Aproveitei a oportunidade para passear por todas as atrações da cidade que vocês podem ver melhor nos textos da Thanuci. Mas fiz uma coisa diferente dela, fui ao INPA entrevistar algumas pessoas lá. Este post traz a primeira destas entrevistas com Jone Fernandes, biólogo da associação dos amigos do peixe-boi (AMPA). Ele nos fala um pouco sobre esses simpáticos mamíferos brasileiros, seu estado de conservação e o trabalho da AMPA. Espero que vocês gostem como eu adorei a experiência de amamentar os bichinhos. Tem coisas que só a vida de biólogo permite.

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