Ficar de pé, expectativas e o bebê de oito meses

Vou começar o post desse mês recordando que cada bebê é único, portanto as coisas não acontecem sempre na mesma idade ou ordem e o excesso de ansiedade dos pais pode até inibir o comportamento do filho. Com meu bebê isso aconteceu com relação ao engatinhar. Eu tinha lido que por volta dos seis meses os bebês começavam a engatinhar e ficava observado meu bebê ainda meio imóvel cheio de esperanças. Ele até esperneava bastante, mas não saía do lugar. Com um tempo notei que ele se erguia nos bracinhos, empurrava o chão para trás e se deixava cair alguns centímetros mais adiante se arrastando de barriga mais ou menos como um leão marinho no cio. Esse modo bizarro de se locomover era até eficiente para o bebê, que perseguia agilmente nosso gato, mas em nada lembrava a propaganda da Johnson & Johnson que eu esperava.

Perseguir o gato, ir atrás de um carrinho, rolar uma bola. Tudo isso meu bebê fazia com desenvoltura, embora sem estética nenhuma, se arrastando de barriga. Não importava que eu o colocasse na posição (que eu julgava) correta de engatinhar, movesse suas perninhas e bracinhos da forma esperada e até demonstrasse como engatinhar provocando gargalhadas na minha esposa e até no pequeno. O que eu não percebia era que meu bebê havia aprendido algo muito importante, ele tinha alcançado um novo patamar de independência aprendendo a se deslocar por aí, muito embora eu não achasse que seu jeito de fazê-lo estava certo.

Acho que minha maior preocupação era com o restante do desenvolvimento dele. Ora, sem engatinhar, como e que ele iria aprender a ficar de pé e depois a andar? Pois aos oito meses veio a minha resposta. Independente de seu jeito diferente de se deslocar, meu bebê aprendeu a erguer seu próprio peso nos braços e a empurrar o chão com as pernas, meio que escalando móveis, até colocar-se de pé. Ficar de pé apoiando-se na mobília possibilitou ao meu filho ver o mundo de uma nova perspectiva, sua sede de exploração parece insaciável. Não existe uma forma apenas, ou uma forma correta, de um bebê se deslocar. O que meu bebê precisava era de liberdade para descobrir seu jeito de fazer as coisas. E de menos cobranças do pai.

O crescimento e o bebê de seis meses

Não sei se é porque fiquei muitos dias longe do meu bebê no sexto mês de vida dele, mas é espantoso ver como eles crescem depressa. Existem os chamados estirões na adolescência nos quais a pessoa cresce mais centímetros absolutos por unidade de tempo, mas em proporção ao tamanho total do corpo é nesse período que mais crescemos. Esse crescimento se deve a mudanças importantes no esqueleto do bebê.

Muita cartilagem torna os bebês mais flexíveis.

Muita cartilagem torna os bebês mais flexíveis.

São os ossos longos os principais responsáveis pelo crescimento do bebê. O esqueleto do feto é formado principalmente por cartilagens. A diferença desse tecido para o osso propriamente dito é que ele é bem menos mineralizado, a matriz que circunda as células na cartilagem é formada por fibras de colágeno, e não por carbonato de cálcio. Por isso o esqueleto do bebê é tão mais flexível que o de um adulto, a ponto dele poder colocar o pezinho na boca facilmente.

É na passagem de cartilagem para osso que ocorre o crescimento dos ossos longos. Primeiro vasos sanguíneos começarão a depositar cálcio no meio do osso longo, formando tecido ósseo em substituição à cartilagem. À medida que o centro do osso se torna tecido ósseo, as extremidades cartilaginosas se alongam. Com o passar do tempo dois pontos novos de formação de tecido ósseo surgem em cada extremidade do osso. O crescimento termina quando o tecido ósseo no centro do osso longo se encontra com aquele formado em cada extremidade, fazendo desaparecer o espaço cartilaginoso que existia antes, a chamada sínfise.

O crescimento dos ossos longos ocorre do centro para as pontas. Fonte: naturalheightgrowth.com

O crescimento do bebê é motivo de preocupação para muitos pais. Ele é um bom indicador da qualidade alimentar do bebê, mas é importante ter calma na análise da curva de crescimento, aquela que o pediatra vai marcando mês a mês. Os pais tendem a ver a linha média de crescimento como uma meta para o bebê. Ora, uma média significa matematicamente um ponto no qual metade da população localiza-se acima e metade abaixo, pelo menos considerando-se uma distribuição normal de dados. Estar abaixo da média é esperado para metade dos bebês. Outro problema é que alguns pediatras usam curvas de crescimento importadas. Não faz sentido esperarmos que no meio da zona tropical nossos bebês respondam a uma curva de crescimento escandinava. A pessoa mais indicada para dizer se o crescimento do seu bebê está ou não normal (e o que fazer a respeito) é o pediatra. Recentemente um extenso estudo propôs uma curva de crescimento universal. Fico um pouco desconfiado dessas generalizações, mas o volume de dados é assombroso, então aponta uma perspectiva confiável.

Outra transformação interessante que ocorre no esqueleto do bebê durante o crescimento é a mudança no número de ossos. No esqueleto axial (crânio e coluna) ocorre a fusão de ossos como os do crânio e do sacro, na bacia. Já no esqueleto dos membros surgem novos ossos no pulso e tornozelo. Ao todo o esqueleto do bebê passa de 270 ossos para 206 até por volta dos dois anos.

Nem sempre o crescimento nesses primeiros meses interferirá na estatura final da pessoa. Não deixe de acompanhar o desenvolvimento do seu bebê, mas evite ficar paranoico com ele. A amamentação proverá o bebê do cálcio tão importante para seu crescimento.

Visão, audição e o bebê de um mês

O mundo sensorial que cerca o bebê muda radicalmente do primeiro mês em diante. Ele, que nasceu altamente dependente do tato e do olfato, vai passar por um grande desenvolvimento da visão e da audição nesse período. Estes dois são os sentidos mais importantes para todo grande primata diurno, daí a importância das mudanças que ocorrem no 2º mês de vida.

A audição dos bebês já nasce bem desenvolvida, mas está praticamente igual à do adulto a partir da 6ª semana de vida. É nesse período que o bebê realiza sua primeira audiometria, ou teste da orelhinha. O pediatra ou fonoaudiologista irá checar se as diferentes frequências de som já são percebidas pelo ouvido, mesmo em volume baixo. Isso é um indicador da atividade da cóclea; sons mais agudos ativam as células sensoriais que ficam na entrada da cóclea; sons mais graves ativam as células sensoriais do fundo desse órgão.

O som atinge o pavilhão (1) e é direcionado ao tímpano (2), nos ossículos do ouvido médio sofre amplificação até chegar à cóclea (3). As células sensoriais no início da cóclea são sensiveis a sons agudos, as do final aos sons graves. Essa informação é levada ao cérebro pelo nervo auditivo (4) (Imagem: Schweiz)

Já a visão ainda tem um longo caminho a percorrer e só estará semelhante à visão de um adulto por volta do 8º mês. Mesmo assim, os progressos do 2º mês de vida são marcantes. Enquanto no primeiro mês o bebê tinha dificuldade em coordenar a movimentação dos dois olhos simultaneamente, o que frequentemente o deixava com um olhar vesgo, agora a coordenação é maior e ele passa a seguir objetos com o olhar. Paralelamente, o campo de foco começa a ultrapassar os 20 cm iniciais, permitindo que o bebê comece a enxergar objetos mais distantes. Isto se deve ao amadurecimento dos músculos oculares, tanto os que movimentam o globo como um todo quanto o que traciona o cristalino.

Anatomia de um olho infantil. (Imagem: oculos.blog.br)

Outra mudança é o amadurecimento da retina. A vitamina A, que era até proibida em produtos estéticos para a gestante, agora pode ser receitada pelo pediatra ao bebê. Essa vitamina irá permear os bastonetes da retina na forma de retinol e melhorar a visão com pouca luz, entre outras funções da vitamina A na pele e mucosas. A percepção de cores primárias pelo bebê irá melhorar, o que pode ser notado pelo crescente interesse pelo móbile, por exemplo, devido a essas mudanças biológicas.