Licenciamento ambiental – Profissão Biólogo
Norberto Hülle – Coordenador de Estudos da ARCADIS
Trabalho com consultoria ambiental, especificamente na área de licenciamento ambiental. O nome da empresa onde trabalho é ARCADIS logos. Nesse mercado de trabalho há muitas oportunidades para biólogos!! O mercado de serviços ambientais está em expansão, precisando de pessoas com formação sólida, capacidade de raciocínio lógico e resolução de problemas. Uma característica indispensável é saber escrever textos técnicos, transmitindo informação de forma clara as informações. Essa é uma das coisas mais raras no mercado!
Hoje trabalho como coordenador de estudos. Preciso fazer o planejamento do estudo e o acompanhamento do prazo e da qualidade técnica dos textos que compõem os estudos ambientais, além de responder pela rentabilidade do projeto.
É ideal ter facilidade para escrever textos, agilidade na leitura e revisão de relatórios, habilidade em condução de equipe e gerenciamento de conflitos. Eu coordeno estudos ambientais, como EIA/RIMAs, contratando os especialistas que produzem os textos técnicos e consolidando os diversos textos em um estudo, além de conduzir as etapas de avaliação de impactos e proposição de programas ambientais. Teoricamente trabalho das 8 às 5, totalizando 40 horas por semana, mas sempre é estendido. Principalmente por conta de viagens e em épocas de finalização de projetos (hoje mesmo cheguei às 7:30 e não tenho hora pra sair…). O ambiente de trabalho é corrido e estressante, mas me dou muito bem com a equipe que inclui além de biólogos, profissionais de diversas áreas do conhecimento, por isso é agradável e enriquecedor.
Com relação à formação, sempre é bem vinda uma formação complementar. Fiz mestrado em ecologia e pós sensu lato em gestão ambiental. Para mim, ainda faz fata a gestão de projetos. As disciplinas de que mais gostava na graduação eram as de ecologia e genética/ biologia molecular. Dentre elas, hoje no trabalho tenho que lidar muito com as de ecologia, principalmente dos conceitos de ecologia de paisagem, que infelizmente não foram muito fortes na minha graduação. Na progressão da minha carreira comecei como um consultor autônomo, trabalhando em um projeto como apoio da coordenação de meio biótico, gradualmente fui trabalhando em outros projetos como especialista em mamíferos e posteriormente foi contratado na empresa, sendo promovido a coordenador de meio (biótico) e posteriormente a coordenador geral (vendo também textos relacionados aos meios físico e socioeconômico).
Com relação à minha realização profissional, me motiva saber que posso fazer diferença e minimizar o impacto da implantação e operação de empreendimentos de grande porte. Os maiores desafios, no entanto, são vencer uma ideia antiga de alguns empreendedores de que o licenciamento ambiental atrapalha o desenvolvimento. Vencer outra ideia antiga de alguns técnicos dos órgãos licenciadores de que os empreendedores são o mal encarnado. Atender os prazos curtos. Fazer todas as atividades que esperam de mim, sem abrir mão da minha vida pessoal.
Se prepare bem, fazendo cursos complementares, quando possível. Participe de consultorias voluntariamente para adquirir experiência. Ficar antenado com o que acontece no Brasil. Se for fazer consultoria, não encare como um trabalho temporário ou um pé de meia. Deve ser encarada como uma profissão, não um seguro desemprego enquanto a bolsa de doutorado não sai. E, principalmente, não encare como um trabalho menor ou menos digno que outros.
Técnico de Laboratório – Profissão Biólogo
Juliane Saldanha, Técnica de Laboratório
Trabalho num laboratório didático da Universidade de Cuiabá (UNIC) como técnica. Apesar de biólogos poderem e deverem ocupar esse mercado de trabalho, é muito frequente a concorrência com técnicos de nível médio.
No meu trabalho sou sempre cobrada de ter conhecimento nas diversas áreas laboratoriais, como microscopia, microbiologia, química e anatomia. Meu papel é organizar os horários das aulas e monitorias, preparar reagentes, meio de cultura, esterilizar e descartar materiais. Também faço orçamentos e compra dos produtos necessários. Trabalho as 44 horas semanais, no horário de aula da faculdade, de manhã e tarde, e se for preciso à noite. Sempre que alguém for utilizar algum laboratório tenho que estar presente! Cuido de 8 laboratórios, no setor de saúde. (Anatomia, química, microscopia, microbiologia, alimentos, manipulação, odontologia e análises clínicas).
Não precisei de uma formação extra formal para ocupar minha vaga de emprego atual, mas tive que aprender muitas técnicas por minha conta. Chega uma hora que ultrapassamos o que os professores da faculdade ensinam e temos que andar com as próprias pernas. Sempre é preciso ir além do que vemos na faculdade. Na faculdade, aliás, sempre gostei da área de microscopia e química, com citogenética e biologia celular, genética e histologia. Dessas, química, microbiologia, histologia, anatomia são as que eu mais uso no meu cotidiano profissional.
Para ocupar essa vaga entrei pelo método tradicional. Levei o currículo até o RH, passei por entrevista com o coordenador dos laboratórios e fui contratada. Fiz estágio curricular e não curricular no laboratório de citogenética da faculdade onde estudei, por isso já tinha alguma prática com laboratórios. Sabia que uma veterana já tinha trabalhado aqui, então deixei meu currículo caso precisassem, e na mesma semana minha antecessora teve que sair e eles me chamaram para a entrevista.
Trabalho na área de saúde, ajudando na formação profissionais de qualidade para melhorar a saúde de todos, isso é muito motivante. Mas o trabalho do técnico nem sempre aparece, é como se os professores e alunos chegassem e a aula já estivesse montada como que por mágica. Frequentemente não somos reconhecidos.
Minha recomendação é ir sempre além. Participem de cursos e estudem além do exigido na grade curricular da graduação. É assim que vocês irão se destacar em meio a tantos biólogos. A Biologia é uma carreira muito ampla e sempre é preciso complementar seus conhecimentos.
Biotecnologia – Profissão Biólogo
Fernando Nodari
- Fernando Nodari, especialista de aplicação de produtos em Biotecnologia
Trabalho na área comercial de uma empresa de Biotecnologia chamada Affymetrix. O mercado de trabalho em que atuo tem espaço para biólogos no futuro. Em meu cotidiano profissional são exigidos raciocínio lógico, bom relacionamento com clientes, inglês fluente e conhecimentos de biologia molecular.
Aqui na Affymetrix sou o especialista de aplicação, responsável pelo suporte pré e pós venda dos produtos da empresa na América Latina. Ministro palestras em eventos e participo de reuniões com clientes antes da venda para tentar definir qual o melhor produto para sua pesquisa. Após a compra, treino os pesquisadores a utilizar o equipamento e a realizar os ensaios. Se o cliente encontra algum problema, eu o ajudo a encontrar a fonte do problema e a solucioná-lo.
Em teoria trabalho 40 horas semanais, mas eu acabo sempre trabalhando mais que isso. Meu regime é de home-office, então sou eu quem faço os meus horários. Porém, como meus clientes estão trabalhando no horário comercial, preciso estar disponível nesse horário. Quando não estou no laboratório de um cliente, eu trabalho de casa. Devo dizer que, como tudo, tem suas vantagens e desvantagens trabalhar em casa. Vantagem: não pegar trânsito numa cidade caótica como São Paulo; estar em casa e poder resolver pequenas coisas do dia-a-dia. Desvantagens: não ter muita hora para parar de trabalhar, se bobear você acaba ficando até tarde trabalhando. Exige muita disciplina.
Na graduação gostava das disciplinas da área de zoologia, mas atualmente meu trabalho está muito voltado para as de biologia molecular e bioquímica. Depois da graduação fiz mestrado em genética. Isso me ajudou a conseguir meu emprego porque aprendi as técnicas dos produtos que passaria a representar e conheci pessoas que me levaram ao cargo que ocupo. No entanto, o mestrado não foi uma exigência do contratante, era apenas desejável.
Durante meu mestrado percebi que não queria seguir carreira acadêmica e assumo que só entrei no mestrado pela inércia das faculdades públicas de biologia. Mas, isso foi bom, porque foram os conhecimentos do mestrado que me permitiram chegar aonde cheguei hoje. Bom, quando depositei minha dissertação comecei a procurar emprego. Anunciei meu CV na Catho e, nos sete dias gratuitos, fui chamado para uma entrevista na Uniscience (empresa nacional distribuidora de equipamentos e reagentes de biologia molecular) para uma vaga de vendedor. Fui selecionado e trabalhei por três meses nessa função. Em pouco tempo pude ver que eu não sou um vendedor. Então, abri o jogo com minha chefe. Falei que eu não estava me adaptando ao cargo e queria saber se a empresa poderia me aproveitar em outro setor. Como ela tinha gostado do meu trabalho, me indicou para a equipe de suporte. Consegui a transferência e, na equipe de suporte, passei a cuidar dos produtos da Affymetrix (na época, representada pela Uniscience no Brasil). Permaneci no mesmo cargo por dois anos e meio até que consegui uma vaga de especialista de produto na Perkin Elmer. Trabalhei lá por dois meses quando tive uma “crise dos 30 anos”; larguei tudo e comecei a dar aula de biologia para o ensino médio.
Após quatro meses, vi que tinha feito um movimento errado. Foi então que a Affymetrix decidiu abrir um escritório no Brasil e, graças ao bom trabalho e aos bons relacionamentos que desenvolvi na Uniscience, eles entraram em contato comigo para que eu ocupasse a vaga de especialista de aplicação. A “crise dos 30” foi essencial para que eu tirasse uma dúvida antiga da minha cabeça: como seria minha vida como professor? Sempre gostei de ensinar e achei que a minha felicidade estivesse nas aulas. Porém, quando me vi tendo que ser mais disciplinador do que professor, vi que esse caminho me reservaria mais estresses do que alegrias. Essa experiência também me ajudou a valorizar muito meu atual trabalho. Estou trabalhando na Affymetrix há seis meses e pretendo construir uma carreira longa e de muito sucesso aqui.
Me motiva em minha profissão estar sempre atualizado sobre a biotecnologia e encontrar a fonte do problema onde ninguém encontra. O que invariavelmente ajuda os pesquisadores das mais diversas áreas. Com relação às dificuldades que alguém como eu encontra na carreira estão duas principais: as viagens constantes e competição desleal com os concorrentes. Se você pretende seguir uma carreira como a minha tenho três conselhos: estudar, networking e estudar.
*Um agradecimento especial do autor do Blog ao Gabriel Cunha que me apresentou o Fernando Nodari