Que biologia deve saber um futuro professor de biologia?
As semanas que antecedem o início das aulas são características pela realização das reuniões pedagógicas. Essas reuniões podem ser maçantes e pouco produtivas, mas não precisam ser assim, é apenas uma questão de organização e proposição de objetivos. Aliás, para os leitores em algum grau ligados à realização de reuniões, sugiro o livro da série Você S/A “Administre seu tempo” e “Trabalho em equipe” e o livro de administração da vida acadêmica do Gilson Volpato. Há outras dicas boas neste site, de repente vale a pena mandar essas referências para seus chefes de um e-mail anônimo como uma crítica construtiva. Este ano, nossa coordenadora pedagógica nos sugeriu uma lista de reflexões que eu resolvi responder via Ciência à Bessa. Fica assim documentado que eu fiz o meu dever de casa.
Pergunta 1) Que biologia deve saber um futuro professor de biologia?
Acredito que o conhecimento que deva ser exigido de um futuro professor de Biologia seja como os oceanos do Cambriano, muito vastos, mas não necessariamente profundos demais. O profissional que se lança nessa carreira pegará amanhã aulas de ciências para a 5ª série fundamental sobre ciclo da água, depois um pré-vestibular em genética, a seguir botânica para o 1º ano, óptica para a 8ª série e por aí vai. A diversidade de temas cobrados será grande, portanto não será possível aprofundar-se em demasia.
Por outro lado, temo bastante as políticas do MEC para os cursos de licenciatura que preveem uma carga horária assombrosa de disciplinas pedagógicas enquanto que os assuntos daquela formação ficam resumidos a poucas aulas. Em biologia, por exemplo, o Conselho Nacional de Educação regulamentou acerca dos conteúdos mínimos para licenciados. Exige-se um mínimo de 400 horas de prática docente contra 40 horas de zoologia de vertebrados, a minha disciplina na UNEMAT. Acredito que esta medida visa formar excelentes professores, mas sabe-se lá do que! Pessoas pedagogicamente bem preparadas para lidar com a sala de aula, mas que terão muito trabalho em conhecer bem o conteúdo que ministrarão.
Qual a medida certa desta profundidade de conhecimentos então? Difícil responder, mas vou pela fala de uma professora minha que merece um pensamento de segunda. “O professor precisa saber, saber que sabe e saber acima de tudo que o aluno não precisa saber tudo o que ele sabe. O conhecimento do professor precisa ir até o ponto que lhe dê o conforto de saber tudo o que precisa ensinar e uma margem de segurança.” Era o que nos dizia a Prof. Sônia Lopes, autora de um dos livros-textos mais usados em Biologia.
No mais, acredito que o professor deva aprender sua própria maneira de encantar o estudante, mostrar como é belo o conhecimento, falar aos seus corações, além de seus cérebros. Sendo bem sucedido nisso, do resto o tempo toma conta.