Brasil ameaçado – Lagartixa de areia

Tem brasileiro ameaçado na praia: Liolaemus lutzae. (Imagem: Karina Marques/ arkive.org)

A lagartixa de areia (Liolaemus lutzae) é um pequeno réptil de uns 8 cm que habita dunas em restingas do Rio de Janeiro.  Ela se alimenta de insetos quando jovens e apenas quatro espécies de plantas da restinga que acumulam água quando adultas. Sua reprodução ocorre uma vez só na vida e cada casal produz apenas quatro ovos, o que torna o crescimento populacional dessa espécie muito lento. A crescente ocupação urbana do litoral brasileiro tem empurrado essa lagartixa para mais perto do abismo da extinção. Então, troque o terreno naquele loteamento novo à beira mar que você queria comprar por férias num hotel já construído há anos e ajude a preservar essa e outras espécies da restinga.

O réveillon da sustentabilidade?

Passei a virada do ano em Copacabana. Tomei muita chuva e espumante, no momento não me lembro qual dos dois tomei mais, assisti ao show do Rappa e fugi antes que começasse o do Latino. No cômputo final me diverti. Mas algumas não pude deixar de me preocupar com o futuro da humanidade.

O céu do novo ano no Rio e sua chuva de poluentes no Réveillon da sustentabilidade. Fonte: oglobo.globo.com

Segundo a prefeitura do Rio a festa desse ano seria uma homenagem à Rio +20, evento que celebrará e discutirá os 20 anos da conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente que ocorreu aqui em 1992. O evento está agendado para os dias 20 a 22 de junho. Em menção à Rio +20 e à importância do comportamento sustentável o show pirotécnico começou tingindo de verde a primeira madrugada do ano.

Aí é que está o problema. Os fogos de artifício verdes utilizam em sua composição nitrato de bário, um sal solúvel altamente tóxico e poluente. O nitrato de bário causa irritação nas vias aéreas, olhos e pele, dores abdominais, vômito ou diarréia, convulsão, arritmia cardíaca e enrijecimento muscular. Os sintomas podem se manifestar até várias horas após a intoxicação. Ao entrar em combustão o nitrato de bário produz dióxido de nitrogênio, outro gás altamente irritante quando inalado e que combinado à chuva que caía essa madrugada transformou-se nos ácidos nítrico e nitroso, alguns dos formadores de chuva ácida, por outro lado o dióxido de nitrogênio também pode ter se combinado ao oxigênio, gerando óxido nítrico e ozônio; o óxido nítrico é outro gás irritante que pode provocar até efisema pulmonar e o ozônio, apesar de em grandes altitudes compor a camada estratosférica que repele parte da radiação solar ultravioleta, aqui rente aos nossos narizes é um forte oxidante que leva a dificuldade respiratória e mais irritação.

O próprio prefeito Eduardo Paes comentou acertadamente que “poluição é tudo aquilo que está em excesso” no ambiente. Nesse sentido o químico responsável pelos fogos e professor da PUC Wilson Bucker Aguiar Jr., calcula que as concentrações de todos os produtos químicos usados nos fogos serão baixas demais no ambiente para gerar problemas. De fato, os mesmos foguetes verdes já foram exaustivamente utilizados em anos anteriores sem problemas aos expectadores. O que me incomoda é apenas o verniz ambiental que esse réveillon (e outros inúmeros eventos e empresas) teve.

Será que as inúmeras garrafas verdes também eram um símbolo da sustentabilidade? Fonte: oglobo.globo.com

O festival pirotécnico verde não tinha a intenção de ser sustentável, ele pretendia apenas simbolizar a natureza e estimular no público a consciência ambiental. E é assim, de simbologias despropositadas em simbologias despropositadas, que lá se vão vinte anos. Tanta simbologia sem prática, parece, não surtiu muito efeito. Nessa manhã um exérctio de quase 4 mil garis coletou 370 toneladas de lixo da praia de Copacabana, 25% mais no réveillon da sustentabilidade do que ano passado. Muitas garrafas de vidro jogadas na areia resultaram num número quase igual de atendimentos médicos a ferimentos no pé e intoxicação alcoólica.

Muitos políticos relacionados ao evento mencionaram que haveria conpensação ambiental para toda a emissão de gases da festa. Em primeiro lugar ainda desconfio muito desses medidores de emissões. Em segundo lugar há que se perguntar quão inclusiva será essa compensação, será que compensarão minha viagem de avião ao Rio de Janeiro ou só aquela dos foguetes? Serão contabilizadas as mudas que não vingaram? Haverá cuidado posterior ao plantio? Por fim, gostaria de lembrar a esses políticos que árvores plantadas são uma compensação melhor definida para as emissões de gás carbônico, elas pouco podem fazer pela maciça entrada de ácido na baía de Guanabara proporcionada pelos fogos, por exemplo. Para tal melhor seria desviar o bicarbonato de sódio inútil contra o câncer para anular os ácidos de nitrogênio, desde que bem mensurado.

Entre meus desejos para o ano que nasce está o de uma humanidade que aja mais pelo efeito de seus comportamentos e menos pela imagem que aquilo passa. Feliz e verde ano novo a todos.

PS: Ah, falando no que parece, mas não é, a fundação cacique cobra coral afirmou que não faltou com seu dever no contrato assinado com a prefeitura do Rio para esse réveillon. O contrato previa, segundo a médium Adelaide Scritori, apenas a cessação dos ventos.

Mega-ciência a bordo

Quem estiver no Rio de Janeiro esse fim de semana poderá conferir uma expedição internacional de investigação da capacidade dos mares ajudarem na absorção do

CO2. O navio espanhol Hespérides está ancorado no pier Mauá e aberto à visitação no sábado, dia 15/1, basta agendar pelo e-mail malaspinario@gmail.com, a equipe também dará uma palestra sobre o projeto no Instituto Cervantes, em Botafogo. O projeto de quase 17 milhões de euros, que irá repetir a volta ao mundo de Alejandro Malaspina em oito etapas, inclui na equipe do projeto estão três brasileiros.

hesperida

Ciência a Bordo

Fonte: www.expedicionmalaspina.es