ORCAS – CAÇAR NO LIMITE
Como caçar no limite…mas quem não arrisca…
http://www.reuters.com/resources/flash/includevideo.swf?edition=US&videoId=80411
Imagem – Stuart Franklin/Magnum Photos
Video- Reuters
BORBOLETAS NO PÚBLICO
As borboletas do Lagartagis, no Jardim Botânico, vão poder ser observadas na Web, através do site criado pelo jornal Público, onde durante 24 horas elas são as estrelas.
Aqui
Informação recebida de Gabinete de Comunicação e Imagem
Fotografia de Vladimir Nabokov – Philippe Halsman/Magnum Photos
CHERNES E ORNITORRINCOS
(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 18/10/2007)
“A prova de que Deus tem sentido de humor é o ornitorrinco”, Woody Allen
A atribuição de características humanas a seres vivos ou a elementos naturais – antropomorfismo – é recorrente na literatura, pintura ou na linguagem do dia-a-dia. O inverso – zoomorfismo – que é designar ou conceder singularidades animais a pessoas ou instituições humanas, é frequente na vida política portuguesa. O mais recente caso compara a situação do maior partido da posição ao ornitorrinco – Ornithorhynchus anatinus.
Mas quais os motivos pelos quais o ornitorrinco exerce um fascínio tão grande?
Apesar de mamífero, as fêmeas ornitorrinco colocam ovos sendo as crias posteriormente alimentadas com o leite materno. Este animal apresenta ainda a mandíbula semelhante a um bico de pato, morfologia ímpar entre os mamíferos, morfologia que está na justificação etimológica do seu nome científico Ornithorhynchus – focinho de ave.É esta amálgama de particularidades reptilianas, avianas e mamiferóides que contribuem para que este monotrémato – grupo de mamíferos primitivos a que pertence o ornitorrinco – desempenhe um papel quase mitológico no imaginário colectivo.
Num dos capítulos de “A Feira dos Dinossáurios” do paleontólogo e historiador da Ciência Stephen Jay Gould, é feita a resenha histórica de como os naturalistas dos sécs. XVIII e XIX observavam o ornitorrinco. Primitivo, ineficiente e imperfeito foram alguns dos adjectivos utilizados então para descrever o mamífero australiano.
A Natureza, para aqueles cientistas, deveria apresentar divisões claras e inequívocas na sua diversidade de formas. Estas divisões seriam o resultado da sabedoria divina.
A miscelânea morfológica do ornitorrinco originava, assim, acesos debates não só biológicos mas também teológicos.

Os monotrématos (como o ornitorrinco) divergiram evolutivamente das linhagens de mamíferos marsupiais
(como o canguru) e placentários (como o ser humano) há mais de 100 milhões de anos. Assim, sempre se pensou que estariam desprovidos da fase REM do sono (nos humanos a fase do sono em que se sonha) pois esta seria uma característica moderna. Um estudo de 1998 veio desmentir aquela suposição – o ornitorrinco apresenta sono REM. A quem interessar…O aparente paradoxo, seja político, morfológico ou outro, materializado na forma do ornitorrinco, assenta na errada premissa evolutiva de que os organismos não devem apresentar fusão de características – um animal não deveria colocar ovos e alimentar as suas crias com leite produzido por glândulas mamárias, entre outras.
Gould contrapõe que é precisamente essa amálgama de especificidades que teriam concedido ao ornitorrinco vantagens evolutivas.
Um outro caso de zoomorfismo político envolveu, no passado recente, um conhecido político português e o poema de Alexandre O’Neill:
Sigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…
Adivinhem quem é…
Imagens (fontes) – links nas imagens
MUYBRIDGE
Após este relembrar pelo excelente The Loom, retomo a imagem que criei, a partir das de Muybridge e de uma outra inesquecível de Hillary Swank.
Imagem:
Imagem – montagem de Luís Azevedo Rodrigues a partir de “The Horse in Motion” (1878), Edward Muybridge e Hilary Swank (2005), Norman Jean Roy.
ESCALAS
Por vezes é necessário um terceiro elemento para dar escala aos restantes…
Imagem – Luís Azevedo Rodrigues
SEGREDOS NO ÂMBAR
Para quem perdeu a palestra de Romain Vullo no Museu Nacional de História Natural, organizada pela Doutora Vanda Santos e pelo Dr. Nuno Rodrigues, em Dezembro passado, aqui ficam algumas imagens dos restos de animais encontrados no âmbar das jazidas de Charentes bem como o resumo da notícia:
“Paleontologists from the University of Rennes (France) and the ESRF have found the presence of 356 animal inclusions in completely opaque amber from mid-Cretaceous sites of Charentes (France). The team used the X-rays of the European light source to image two kilogrammes of the fossil tree resin with a technique that allows rapid survey of large amounts of opaque amber. At present this is the only way to discover inclusions in fully opaque amber.
Opaque amber has always been a challenge for paleontologists. Researchers cannot study it because the naked eye cannot visualize the presence of any fossil inclusion inside. In the Cretaceous sites like those in Charentes, there is up to 80% of opaque amber. It is like trying to find, in complete blindness, something that may or may not be there.
However, the paleontologists Malvina Lak, her colleagues from the University of Rennes and the ESRF paleontologist Paul Tafforeau, together with the National Museum of Natural History of Paris, have applied to opaque amber a synchrotron X-ray imaging technique known as propagation phase contrast microradiography. It sheds light on the interior of this dark amber, which resembles a stone to the human eye. “Researchers have tried to study this kind of amber for many years with little or no success. This is the first time that we can actually discover and study the fossils it contains”, says Paul Tafforeau.
The scientists imaged 640 pieces of amber from the Charentes region in southwestern France.
They discovered 356 fossil animals, going from wasps and flies, to ants or even spiders and acarians. The team was able to identify the family of 53% of the inclusions.
Most of the organisms discovered are tiny. For example, one of the discovered acarians measures 0.8 mm and a fossil wasp is only 4 mm. “The small size of the organisms is probably due to the fact that bigger animals would be able to escape from the resin before getting stuck, whereas little ones would be captured more easily”, explains Malvina Lak.
The surface features of amber pieces, like cracks, stand out more in the images than the fossil organisms in the interior when using synchrotron radiation. In order to solve this problem, scientists soaked the amber pieces in water before the experiment. Because water and amber have very similar densities, immersion made the outlines of the amber pieces and the cracks almost invisible. At the same time, it increased overall inclusion visibility, leading to better detection and characterization of the fossils.”
Notícia – daqui e daqui (com vídeo)
Legendas da imagens – na notícia
Imagens – M. Lak, P. Tafforeau, D. Néraudeau (ESRF Grenoble and UMR CNRS 6118 Rennes
DINO POR ELEFANTE?
Em linguagem comum: como confundir um elefante com um dinossáurio!
Resumo da notícia da Reuters:
“A police officer displays a fossil jawbone they found while investigating a suspicious package on a bus in the mountains of Peru, during a news conference in Arequipa March 25, 2008. The fossil, initially identified by acheologist Pablo de la Vera Cruz of the National University as possibly that of a triceratops, weighs some 19 pounds and was found in the cargo hold of an interprovincial bus.”
O que parece da foto é que o arqueólogo em causa não sabe o mínimo de anatomia comparada, confundindo um dinossáurio pela mandíbula de um qualquer Proboscidea fóssil…
Moral da História:
1- se queres aparecer na Reuters diz-lhes que encontraste seja o que for de dinossáurio, nem que seja um leitor de MP3;
2- em caso de dúvida sobre um fóssil pergunta sempre a um arqueólogo, assim como assim, o Indiana Jones sabia de tudo.
3- Não perguntes a opinião a um paleontólogo porque o nome é muito difícil de ser dito;
4- O Dumbo era um dinossáurio, toda a gente sabe…;
5- só espero que a credibilidade do resto das notícias da Reuters não seja aferida por esta.
Agora comparem a imagem da uma mandíbula de mamute norte-americano com a de uma mandíbula de um Triceratops.
Notícia – daqui
Comentário – daqui
Imagens – Reuters/Stringer; mandíbula de mamute – daqui; Triceratops – Kris Kripchak
GRAVIDEZ VEGETAL
(gravidez vezes dois, em fundo e em primeiro plano)
Palo borracho – árvore do género Chorisia (agora Ceiba speciosa).
Escultura de autor desconhecido.
Imagem – Luís Azevedo Rodrigues, Córdoba, Argentina, 2006.
A importância de se chamar primata ou Teilhardina magnoliana
O Teilhardina magnoliana é um pequeníssimo vertebrado com 55.8 milhões de anos (MA).
A sua importância reside em ser o mais antigo primata do sub-continente norte-americano.
Para além de dar informações sobre a história evolutiva dos nossos parentes mais próximos (este é um antepassado comum a todos os seres humanos, chimpanzés, gorilas e outros primatas) permite inferir o seguinte:
-sobre o “campeonato” dos mais antigos primatas, neste momento “liderado” pelo Teilhardina asiatica, espécie descoberta em 2004 na China e de um género já conhecido a partir de exemplares descobertos na Bélgica – Teilhardina belgica.
Apesar de ter suscitado alguma controvérsia aquando da sua descoberta, o T. asiatica permitiu avançar com a hipótese de uma passagem entre a Ásia e a Europa, já que este animal apresentava muitas semelhanças com a espécie belga.
Há cerca de 55MA, a Europa encontrava-se separada da Ásia pela existência de um mar interior, actualmente desaparecido, que se estendia de norte a sul.
A espécie asiática, para além da sua idade provecta, apresentava ainda outra característica peculiar: as suas órbitas eram de tamanho reduzido, permitindo assim avançar com um modo de vida diurno, ao contrário da maioria dos primatas primitivos.
-sobre as migrações destes ancestrais primatas. Terá existido uma passagem continental entre a Ásia e a América que permitiu à nova espécie T. magnoliana migrar da Ásia para a América, numa zona que corresponderá aproximadamente ao estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca.
Estas espécies de primatas primitivos viveram numa época da história da Terra em que se verificou um máximo de temperaturas, o denominado Máximo Térmico do Paleocénico/Eocénico – os dois períodos em causa – e que terá sido um dos factores que originaram a extinção de muitos animais e plantas entre o períodos referidos.
Em resumo:
-registo do mais antigo primata norte-americano;
-informações bio e paleogeográficas sobre uma passagem entre a Ásia e a América, que actualiza a informação anterior sobre a chegada dos primatas à América – da Ásia via Europa (pela Gronelândia).
Referências
Beard, C. 2008. The oldest North American primate and mammalian biogeography during the Paleocene-Eocene Thermal Maximum. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 10.1073/pnas.0710180105
Ni X, Wang Y, Hu Y, Li C.2004. A euprimate skull from the early Eocene of China. Nature. Jan 1;427(6969):22-3.
Thierry Smith, Kenneth D. Rose, and Philip D. Gingerich. 2006. Rapid Asia-Europe-North America geographic dispersal of earliest Eocene primate Teilhardina during the Paleocene-Eocene Thermal Maximum. PNAS vol. 103 no. 30, 11223-11227
http://caisdegaia.blogspot.com/2006/07/de-salto-em-salto-da-sia-at-amrica.html
Ilustrações – Mark A. Klingler/Carnegie Museum of Natural History; Smith et al. 2006