Dinossáurios de Portugal…pegadas
É com enorme alegria que vejo que o primeiro paleontólogo de vertebrados português (neste caso uma paleontóloga) a adaptar a sua tese e a publicá-la sob a forma de obra de divulgação científica.
É um livro sobre o registo de pegadas de dinossáurio em Portugal, onde é abordado o seu valor científico e patrimonial.
Para além de todas as jazidas portuguesas, individualizadas, é feita introdução sobre os diversos tipos de dinossáurios e os processos geológicos que proporcionaram a sua fossilização.
Acima de tudo, um livro muito pedagógico, com excelentes ilustrações de Mário Estevens, também ele doutorado em Paleontologia.
“Em Portugal existem pegadas e pistas de dinossáurios em zonas
litorais e em antigas pedreiras. O estudo destes icnofósseis permite
conhecer a anatomia dos pés e das mãos dos dinossáurios
que os produziram, o seu modo de locomoção, o seu comportamento
individual e social, os ambientes que frequentaram,
entre outros aspectos. As jazidas com pegadas de dinossáurios
são, assim, uma importante fonte de informação sobre este
grupo de animais já extintos há 65 milhões de anos e constituem,
igualmente, locais privilegiados para o ensino de temas
relacionados com a Geologia e a Paleontologia.
O presente trabalho pretende divulgar o conhecimento científico
adquirido com o estudo destas jazidas, realçando o seu
valor científico, cultural, pedagógico e patrimonial, e contribuir
para a sua preservação.”
Páginas do livro
FOTOS DE TRABALHO
Neuquensaurus australis e humanos
Museo de Historia Natural de La Plata, Argentina, 2005.
(auto)Imagem – Luís Azevedo Rodrigues
PALEOPUBLICIDADE
Nada como ver os colegas em anúncios…Xu Xing e a Toyota…
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=ykQD9-NQxyM]
DINO POR ELEFANTE?
Em linguagem comum: como confundir um elefante com um dinossáurio!
Resumo da notícia da Reuters:
“A police officer displays a fossil jawbone they found while investigating a suspicious package on a bus in the mountains of Peru, during a news conference in Arequipa March 25, 2008. The fossil, initially identified by acheologist Pablo de la Vera Cruz of the National University as possibly that of a triceratops, weighs some 19 pounds and was found in the cargo hold of an interprovincial bus.”
O que parece da foto é que o arqueólogo em causa não sabe o mínimo de anatomia comparada, confundindo um dinossáurio pela mandíbula de um qualquer Proboscidea fóssil…
Moral da História:
1- se queres aparecer na Reuters diz-lhes que encontraste seja o que for de dinossáurio, nem que seja um leitor de MP3;
2- em caso de dúvida sobre um fóssil pergunta sempre a um arqueólogo, assim como assim, o Indiana Jones sabia de tudo.
3- Não perguntes a opinião a um paleontólogo porque o nome é muito difícil de ser dito;
4- O Dumbo era um dinossáurio, toda a gente sabe…;
5- só espero que a credibilidade do resto das notícias da Reuters não seja aferida por esta.
Agora comparem a imagem da uma mandíbula de mamute norte-americano com a de uma mandíbula de um Triceratops.
Notícia – daqui
Comentário – daqui
Imagens – Reuters/Stringer; mandíbula de mamute – daqui; Triceratops – Kris Kripchak
Para quê estudar Dinossáurios e outros fósseis que tais?
Retomo um texto que publiquei no jornal Diário de Aveiro em Agosto de 2004.
Para que não me esqueça…
“Tenho tanta curiosidade da Terra…traz-me coisas da Terra.”
Este trecho do livro “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner, paradoxalmente ou não, fez-me pensar que nos tempos que correm é cada vez mais difícil explicar às pessoas o porquê e para quê serve a Paleontologia.
A Paleontologia não é uma história da vida que esteja escrita nos manuais e nos artigos científicos da especialidade; é contada antes pelos fósseis e pelos estratos rochosos. Estes, são pequenos fragmentos de uma história muito maior e complexa que necessita ser interpretada e explicada. É aqui que a Paleontologia poderá ir buscar motivos para a sua existência. Certo é que os fósseis existem por si; poder-me-ão dizer que não necessitam de mais explicações. A verdade é que eles ganham “vida” quando os colocamos no “sítio” certo, no “filme” que foi, é e (provavelmente) será a vida neste planeta. Este filme, apesar de cada vez mais completo, nunca passará de um conjunto pequeníssimo de fotogramas. É a Paleontologia que faz a análise do “filme projectado” ao longo dos milhões de anos da história da Terra. Este “filme” da vida ora acrescentou ora fez sair de cena personagens da trama, de uma maneira acidental e imprevisível, condicionando evolutivamente a actualidade biológica.
A Paleontologia vai buscar as suas ferramentas quer à Biologia quer à Geologia. Esta ciência, ao contrário da biologia ou química, não é uma ciência experimental. Os paleontólogos raramente são capazes de testar as suas hipóteses através de experiências laboratoriais; contudo, e apesar disso, conseguem testá-las.A descoberta de Archaeopteryx (fóssil animal do Jurássico que “representa” um dos elos de transição evolutiva entre os dinossáurios e as aves, com características anatómicas de ambos) fez ampliar a hipótese, já anteriormente proposta, da relação de parentesco entre aqueles grupos animais. Descobertas posteriores, especialmente as feitas no séc. XX, vieram acrescentar mais provas ao processo hipotético-dedutivo de testagem daquela hipótese.
As comparações feitas por Georges Cuvier no século XIX entre os Mamutes e os elefantes actuais não proporcionaram apenas evidências das extinções em massa (acontecimentos originados por causas geológicas, biológicas ou mesmo extra-terrestres que originaram o desaparecimento em grande escala de fauna e flora); originaram igualmente implicações sócio-políticas, em que revolução e substituição eram mensagens implícitas. De igual modo, a história da Terra e a das nações pareciam sofrer de processos semelhantes.
Os fósseis são parte das “coisas da Terra” que nos são contadas… Dão-nos a conhecer o que não podemos experimentar pelos sentidos – o passado, o desaparecido, aquilo que foi, quando não estávamos cá.
Imagem – “A menina e o mar” ©2005-2007 renatoalvim)
FRACASSO CHINÊS
“China reassures scientists not to fear failure
(Reuters) – China will tolerate experiment failures by its scientists to ease pressure, encourage innovation and cut the chances of fraud, a top official said on Thursday.”
Sempre pensei que o erro e o fracasso constituiam componentes fundamentais do “processo científico”.
Agora o governo chinês vem descansar os seus cientistas para que não temam o falhanço e o fracasso.
Esta desculpabilização institucional visa fomentar a “criatividade”, aliviar a enorme “pressão” bem como evitar a “fraude científica”.
Quando por lá trabalhei e contactei com diversas realidades de investigação paleontológica, verifiquei a enorme tensão produtiva em que viviam os meus colegas chineses.
Parecia-me que esse comportamento semi-obsessivo se devia mais ao carácter laborioso típico dos asiáticos do que, mais pragmaticamente, aos enormes “incentivos” financeiros concedidos pelo governo sempre que, por exemplo, uma nova espécie de dinossáurio é descoberta ou um paper na Nature é publicado.
Por respeito e pudor não avançarei valores.
Agora constato que não era nenhuma produtividade típica dos asiáticos.
A pressão oficial devia ser tanta que, oficialmente, tiveram que a conter.
Fonte da notícia – aqui